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Deus Regressa?
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 13 de January de 2003 21:32

Deus Regressa?

Jornal Público de Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2003
Por Luís Salgado de Matos

As exéquias do comunista João Amaral obrigam-nos a reflectir sobre o papel da religião na nossa sociedade

João Amaral era comunista. Faleceu sexta-feira passada. O seu corpo ficou em câmara ardente na Basílica de Estrela, em Lisboa. A Basílica da Estrela é uma igreja católica. O comunismo é ateu. Alguém estranhou a incongruência?

É inquestionável o direito de, seja quem for, pedir para ser acolhido numa igreja católica - vivo ou morto. Por isso, não cuidaremos de saber qual foi a última vontade do combatente político que acaba de nos deixar.

Está em causa outro tema: é normal que o féretro de um comunista ateu repouse numa igreja católica? A cobertura televisiva e da imprensa escrita acharam banal. Camaradas do ilustre parlamentar falecido foram ao templo neoclássico elogiar-lhe a obra.

Não é normal um comunista ser católico. O comunismo de João Amaral e da «Renovação Comunista» não era o de S. Bento: era marxista e ateu.

Claro que católicos desconhecidos portugueses votam comunista. Depois do 25 de Abril, o PCP, na esteira de Togliatti e dos comunistas italianos, absteve-se de hostilizar a Igreja - excepto no caso da Rádio Renascença. Mas nem aqueles católicos têm a estatura de João Amaral nem a sua religião tem a dimensão pública do acto deste velório cristão.

A anormalidade exige que nos interroguemos sobre o facto de descansar numa igreja o esquife de um dirigente comunista conhecido. Comecemos pelo que não aconteceu: como passou desapercebida a incongruência?

Não foi por falta de visibilidade. O enterro de um vulto conhecido atrai atenções e tem sempre um forte simbolismo religioso: a Maria da Fonte foi feita também para reivindicar o enterro nas igrejas; a propaganda católica na primeira República valorizava os funerais religiosos de ex-ateus.

A distracção pode ter ocorrido porque o visco no olhar impede-nos de distinguir entre o humano, no qual é indiscutível o último acto de João Amaral, e o social, no qual devemos comentá-lo.

Porquê, então? Vejamos duas explicações contraditórias. Primeira: os portugueses de hoje atribuem tão pouca importância à religião que lhes é indiferente a presença numa igreja do ataúde de um ateu. Por isso caem a prática dominical ou as vocações sacerdotais.

Segunda: temos mais fé do que supomos. Deus talvez ainda esteja silencioso na Europa, mas a espiritualidade estará de volta. Por a velha ordem estar em escombros. Mas as causas palestina ou antimundialização são demasiado limitadas e negativas para conseguirem ser um novo sucedâneo de religião, herdando esse papel do proletariado que o comunismo mistificou a partir da primeira grande sangueira moderna, a primeira guerra mundial.

Ou, simetricamente, a procura de religião resulta de a sociedade ter atingido a perfeição, consubstanciada no «modelo social europeu»: obediências maçónicas francesas, tendo realizado o seu programa social, parecem hoje sentir o vazio e voltam ao espiritual.

Para o leitor, aquela nossa distracção é melhor explicada pela indiferença? Pela fé? Por ambas?

Re: Deus Regressa?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 13 de January de 2003 23:06

Suzete,

nunca ouviste: "Graças a Deus que sou ateu"?

ou o secretário geral do PC dizer que algo irá correr bem, "se Deus quiser"?

Estamos em Portugal, um país laico numa nação católica.

É a quadratura do círculo ou "Portugal no seu melhor"

João (JMA)

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de January de 2003 00:47


LOL

Curiosamente, o pensamento de ironia e o sorriso esboçado atravessaram-me quando li no roda-pé de um dos jornais televisivos que o corpo do Sr. Freitas do Amaral (que Deus o tenha em paz!), que reconhecia como um histórico comunista e ateu da nossa praça, estava em câmara ardente na Basílica da Estrela...

Achei apenas curioso, mas agradável. Terá sido uma conversão tardia, um mero pedido dele realizado por qualquer motivo, ou uma opção familiar? Não sei...

O que sei é que, realmente, esta cultura já deu o que tinha a dar! A humanidade quer mais, está pronta para aprofundar o amor que nunca conheceu e que as ideologias políticas e as teorias liberais, com as suas promessas de satisfação dos "direitos" de todos, não dão.

Já "não há pai", como diria o outro, ou "pais", como antigamente; hoje os filhos exigem ser educados e ter alguém perto deles para os amar a sério. Já sabemos que o contrário não funciona e apenas aniquila o nosso futuro.

Hoje vemos o sucesso das obras de Tolkien, aclamadas como das maiores entre todas as que a literatura já nos ofereceu. Que era, como se sabe, um homem genial que baseava toda a sua existência num pilar inabalável: a sua profunda catolicidade e devoção ao Santíssimo Sacramento. O seu primogénito é padre católico.

Simultaneamente, vemos por exemplo na música uma Avril Lavigne (ouçam o CD, músicas como "Losing Grip", "I'm With You", "Tomorrow", "Too Much To Ask", etc., para ouvirem aquilo de que estou a falar) que, apesar de toda a sua infantilidade, quebrou com as insuportáveis cargas sexuais e mensagens estereotipadas que as "popstars", Spears, Aguileras, Shakiras e que tais, nos vinham atirando aos olhos, mais às suas mensagens de diversão e fútil emotividade. Os jovens querem divertir-se, mas não querem estragar os seus corações. Já estão fartos de sofrer, na família, nas parvas e imaturas relações amorosas, na dificuldade de vencer na vida, no entregarem-se às drogas, aos vícios...

A autenticidade ganha terreno, e a integridade de vida é admirada como algo que nem todos podemos ter, mas que gostaríamos de ter tido. Se quem o tem aje humilde e servilmente, estou convencido de que muitos entregarão os seus corações a Deus sem hesitar, mas apenas chateados por não lhes terem falado assim de Deus há mais tempo.



Acho que estamos a abrir os olhos. Finalmente estamos a querer ler grandes obras e a maravilharmo-nos com grandes planos para o futuro. Um futuro que abarca a eternidade, que cada vez nos faz mais sentido... finalmente!

Só há agora que purificar estas necessidades, guiando-as para a plenitude da Igreja Católica, dando a conhecer as obras dos nossos teólogos e pensadores, doutores e mestres espirituais (bem como outros cristãos, principalmente), e veremos realmente o que é ser católico no "espírito" do Vaticano II! :o)

A heresia provoca a Verdade!

João

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de January de 2003 01:03


E a Luz sempre brilhou de forma mais evidente no meio das mais profundas Trevas!

João

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de January de 2003 00:21


Ah! Não é "Sr. Freitas do Amaral", como disse, mas João Amaral, claro.

João

Re: Deus Regressa?
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 15 de January de 2003 13:11

A vida não se resume a "luta de classes". Até acho que essa teoria é um bocadito fora de moda.


Anna

Re: Deus Regressa?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 15 de January de 2003 18:49

por acaso já conheci ateus convictos que tiveram funerais religiosos por opção da família... e por uma questão social- faz parte da nossa cultura portuguesa que o ritual á volta do morto seja um ritual religioso católico.
Por isso é que nem sequer foi sentida esta "incongruência".
Não sei se esta coisa da basílica foi opção consciente do João Amaral ou da sua família.
Sensibilizou-me a sua morte e a forma digna como enfrentou a doença.
Uma frase dele - " O dia da tua morte é apenas mais um dia da tua vida. "
As minhas homenagens.



ana

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de January de 2003 00:38


Se fui eu que dei a entender alguma "luta de classes", não estava mesmo nada a pensar nisso. Não acho que esteja a lutar contra nada, muito menos classes.

Quem o faz são os comunas, e de forma bastante insistente. Eu estou cá pelo Reino dos Céus...

Não sei qual foi a ideia do Sr. Luís Salgado de Matos (autor do artigo), mas pareceu-me que estava a tentar ser "politicamente correcto" ao pegar nesta questão. Acho que fez bem e até gostei do seu tom. Principalmente porque a questão levantada foi a de se estar a "profetizar o regresso de Deus", que a mim me parece evidente. Acho que somos muito ambíguos ainda: os "católicos" portugueses são muito pouco católicos... Se é que me entendem... :o) Ele apenas apontou o óbvio, e acho que todos sabemos que a culpa é nossa, nós que não fomos evangelizados e que não evangelizamos os nossos irmãos.

O ciclo repete-se e estamos nisto hoje, com "espiritualidades" malucas a varrer o país, com "feiras do oculto" em vez de encontros mais expressivos e visíveis de uma fé desempoeirada e profunda e astrólogos a substituir a confissão, por exemplo, etc.. Tudo depende de nós, e não podemos esperar que os outros olhem para nós com respeito quando não damos um testemunho autêntico do rosto de Cristo (ainda por cima quando não sabemos o que isso é, e para cúmulo há muitos "católicos" assim!).

Ainda assim, não estou a ver a necessidade de grande polémica em relação a um filho de Deus que, por mais que tenha rejeitado essa condição, à altura da sua morte, por motivos desconhecidos (?), tenha sido velado numa igreja. Voltou ao amor, e ninguém nos pode separar do amor de Deus, que nos foi revelado em Jesus Cristo.

Deve estar bem feliz, agora na eternidade, pelo que fizeram com o seu cadáver e pelos que rezaram por ele. Estou mesmo a ver um comunista ou outro a esquematizarem mentalmente uma oração... :o) Era bonito...

João

Re: Deus Regressa?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 17 de January de 2003 18:18

No artigo diz-se que:
"Não é normal um comunista ser católico. O comunismo de João Amaral e da «Renovação Comunista» não era o de S. Bento: era marxista e ateu. "

É o que dá importar conceitos e discussões estrangeiros para dentro de portas, aplicá-los a um caso concreto, e de seguida extrapolar para a habitual generalização. É assim como que uma "dialéctica de mudanças automáticas"

Desde logo é normal um português ser católico. Mesmo aqueles que o afirmam não ser têm consigo todo o referencial cultural e ético do catolicismo.

Se estão recordados do último censo, 95% dos portugueses são católicos (e aqui sem distinguirmos em católicos de primeira e católicos de segunda, sff).

Basta fazerem as contas aos resultados eleitorais, para perceberem que tem de haver muitos comunistas católicos. Eventualmente a maioria.

Não é uma "questão social" ou "ritual" nem "os católicos portugueses são muito pouco católicos".

Acontece o contrário: a nossa matriz fundamental é verdadeiramente católica, mesmo quando publicamente não o demonstramos.

Nos momentos em que verdadeiramente se decide, a verdade aparece. Sem complexos, apesar do aparentemente despropositado da situação.

E o nosso catolicismo aguenta bem estas aparentes(???) contradições.

Afinal a Fé que move montanhas, não havia de ultrapassar estes pequenos obstáculos?

João (JMA)

Re: Deus Regressa?
Escrito por: Herminio (IP registado)
Data: 20 de January de 2003 18:22

Porque somos um pouco julgadores formamos juizos.
Quantos católicos haverá? Não perguntemos...
Quantos não vão à missa? Não façamos preconceitos.
Deus não Regressa. Está.
Ele é Pai de Misericódia.
Quem sabe da ultima hora?
Deixemos Deus ser Deus e não queiramos ser Esse Ente.
Cristo um dia disse: "Deixai vir a mim as criancinhas"...
E depois mais tarde: "Aquele que tratr mal um destes inocentes, melhor fôra não ter nascido, ou então que atassem uma mó de moinho ao pescoço e o lançassem no fundo do mar". Mas não disse para o fazerem, repito porque é o Pai juntamente co o Pai e o Espírito.
Por vezes é conveniente que Deus não exista, mas não é por isso que Ele Deixa de existir.
Concordo plenamente com a sua ultima frase. A fé move montanhas e move pessoas acrescento eu. Deus enviou o Seu filho para salvar todos os homens de Boa vontade e salvar o homem todo.
NFH

Re: Deus Regressa?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 04 de February de 2003 12:52

Preconceitos....

Concordo consigo, Hermínio.

E são muitas vezes esses preconceitos que afastam as pessoas.

De facto a distinção entre católico "praticante" e "não-praticante" é unica e exclusivamente preconceituosa.

Cria no designado por "não-praticante" uma sensação de afastamento em relação à Igreja, que desemboca muitas vezes no alheamento total e completo do crente em relação à Igreja.

Como me disse um padre é a história do homem (ou mulher!) que vai dar um passeio. Cada vez se afasta mais. E de cada vez lhe é mais difícil voltar.

Pessoalmente considero tal designação completamente farisaica. Atende-se à forma, não ao conteúdo.

E sabemos o pensamento de Cristo quanto aos fariseus, não sabemos...

João (JMA)

Uma nota: vá ao Lugar Sagrado. O que se diz aí - logo no início - quanto ao ritmo e forma da oração fez-me pensar.
«»

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 05 de February de 2003 03:53


João, depende do que se entende por "praticância".

Praticante do amor ao próximo? Seria bom, mas isso não faz de ninguém um católico... E isso mais o Baptismo? Seria suficiente, mas... não o é.

Acontece que o afastamento sacramental de Jesus Eucarístico é também afastamento da Igreja enquanto Corpo. Se não se acredita "nessas coisas", enfim, já estamos a falhar ao Catolicismo que dizemos professar.

Reparemos que ser católico é algo bastante concreto.

Se se quiser ser cristão à moda protestante, "só a Bíblia", força. Mas isso não é ser católico, seja lá onde for que se tenha sido baptizado.

Ser católico é algo mais, é comungar da fé da Igreja.

Aqui não estou a ligar a formas, mas sempre a conteúdos: a fé. Como referiram aqui, a fé mobiliza-nos. Aliás, qualquer força de esperança, manifestação humana da capacidade de ser fiel a Deus (que se pode ficar por diversas idolatrias), pode mover-nos.

Ora, comungar da fé da Igreja orienta-nos para uma mobilização diferente, porque é a concretização da Igreja que somos todos numa missão comum.

Portanto, a não-praticância refere-se a maneiras diversas de falsas mobilizações, de idolatrias.

Se ir à Missa todas as semanas é por vós considerado como algo "exterior", entristeço-me: ir à Missa aos Domingos com essa disposição é ser não-praticante!

É a fé que nos faz praticantes. Na medida em que nos afastamos dela, vamos "praticando" menos. E é só assim que alguns "praticantes" são afinal "não-praticantes", ainda que estejam de corpo, mas não de alma, na Santa Missa.

Daqui a deixar de ir, de todo, e pensar que se tem uma boa justificação, é uma parvoíce. Falta de evangelização, certamente imputável aos pastores, mas também a cada fiel em particular, que não se abrindo ao Espírito não exigiu ver mais a Cristo na Igreja e conhecer mais d'Ele no seu Corpo.

Preconceitos? Em todo o lado, onde a ignorância e a má vontade abundam!

João

Re: Deus Regressa?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 05 de February de 2003 10:51

João,

O que tu escreves terá razão de ser mas tem pouco a ver com o que eu escrevi.

Eu chamei a atenção para o facto de existir no seio da Igreja uma designação "praticante" vs "não praticante" com a qual discordo, e apelido de farisaica.

Não fiz, nem faço, a apologia da não participação regular na missa.

O que fiz e faço é não lançar um anátema sobre aqueles que são católicos apesar de não irem regularmente à missa.

É que a dita designação é utilizada como "arma de arremesso" sobre os ditos "não-praticantes" querendo deles fazer católicos de segunda.

E tal procedimento, que para além do mais não é católico, nem cristão, é completamente negativo porque acentua ainda mais o afastamento dessas pessoas e provoca ele mesmo um maior afastamento.

O que eu digo a essas pessoas é que não tem sentido o afastamento em que se vão colocando e que, independentemente das situações que os tenham levado a isso, há sempre lugar para eles na Igreja (em 1ª classe - aliás classe única existente) e esta está sempre de portas abertas para os receber.

Que é nessa comunidade que devem alimentar a sua fé e que, independentemente das questões que eles tenham com a Igreja ou que achem que a Igreja tem com eles, nenhuma razão é suficientemente forte para provocar ou justificar esse afastamento.

E que se não deixem desmotivar por aqueles elementos da Igreja que cumprem todos os preceitos religiosos da boca para fora, que se acham os únicos com direito a salvação, e que muito facilmente rotulam os outros de "não praticantes" : os "fariseus"

E sugiro-lhes as comunidades paroquiais que penso melhor adequadas às suas vivências e preocupações.

Onde sejam recebidos sem rótulo nem discriminação.

João (JMA)

Re: Deus Regressa?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 05 de February de 2003 21:29


Ok... Precisamos daqueles espaços abertos para introdução e familiarização na fé, como já tenho dito.

João



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