Luís, a verdade é que ninguém sabe bem o que são os Protestantes... Nem eles...
Quanto a chamar-lhes irmãos, por não saber realmente em que é que acreditam, não os posso tratar como tal, ainda por cima quando tantos o repudiariam se eu o fizesse... Mas é claro que Deus nos irmana a todos, independentemente daquilo em que acreditamos.
Dizes que "estão no bom caminho para chegarem à Verdade"? Então acreditas que se vão aproximando a toda a Verdade na medida em que se aproximam da fé católica? Pois é precisamente isso que eu tenho dito! Eles até podem manter as suas igrejas e liturgias: mas que o façam em comunhão com o Bispo de Roma.
Temos por um lado o Protestantimo histórico, que mesmo esse, entre "ortodoxias" e "liberalismos", se vai diluindo e repartindo em formas cada vez menos cristãs (apesar dos seus doutrinadores estarem convencidos de que estão a purificar, a re-reformar a fé "realmente bíblica"), e por outro os diversos grupos, de variegados matizes, a que se costumam chamar "seitas".
Assim, não me parece que os próprios Protestantes tenham reflectido realmente sobre a sua concepção de Igreja. Em questões de autoridade, como referiste e bem, veriam que a sua forma de encarar a Escritura (que tomam como a única e suficiente fonte para a doutrina cristã e moral -- apesar disso não estar na Escritura...) leva a extremos como os das seitas com as crenças mais absurdas. Precisamente porque cada um, não sendo infalível, não tem autoridade para corrigir os outros, a não ser que o convença... E é esta a base do sectarismo.
Em relação ao teu parágrafo final, concordo plenamente, mas já viste o escândalo que é existirem pessoas que, não tendo "religião" nem conhecendo a Deus se afirmam como "católicas", e a ligeireza com que o afirmam perante um Censo (pois só assim é possível termos os resultados que temos!)? "A corrupção do melhor é o pior"...
Mas eu queria falar especificamente sobre esta questão dos cristãos "não-denominacionais", que me parece ser o passo seguinte ao Protestantismo. Ou seja, arrancou-se a Bíblia do seu lugar sagrado, da sua interpretação infalível, transformando-a num conjunto de livros sobre os quais se PODE (e atenção que foi esta auto-legitimização de autoridade pessoal que a Reforma Protestante possibilitou, politicamente) interpretar livremente a doutrina em que se crê. Agora (e isto não é recente), já com uma noção de Igreja completamente esbatida, dar nome à Igreja perde o sentido. Por isso, nem "Igreja Católica", nem "Igreja Ortodoxa", nem "Igreja Evangélica 'Daqui e Dali'", nem "Igreja Luterana", nem "Igreja Metodista", nem "Igreja Presbiteriana", nem "Igreja Adventista", nem "Igreja Universal do Reino de Deus", nem "Casa da Bênção", etc., etc., etc. (mais de 30.000 etcs.)...
Portanto, estes crentes, que acham ridículo este conjunto enorme de diferentes "Igrejas", entendendo que a Igreja de Deus é só uma, acham que eles (uma nova denominação "não-denominacional") tem a autoridade para, indo às fontes da fé, purificar todas as doutrinas defendidas por essas igrejas e agora, sem nome, promover a união de todos os cristãos, que devem abandonar as suas instituições religiosas. Assim, as igrejas passam a ter o nome do seu pastor, passando-se a chamar "ministério João Oliveira" ou "ministério Simplesmente cristão" (ou "Apostolado"), por exemplo, como se fosse um serviço desempenhado a todo o povo de Deus sem excepções nem entrar em questões de doutrina mais aprofundadas que de algum modo impliquem uma tomada de posição que os aproximaria a uma denominação.
O mais estranho entre estes crentes é que acham absolutamente inadmissível que outros lhes digam que aquilo que eles crêem ter sido o Cristianismo original não tivesse sido realmente assim como eles agora o entendem e recuperam. Cabe salientar que já existem diversas interpretações "não-denominacionais" sobre aquilo em que acredita uma "não-denominação"... Estão a ver a confusão? Tomam como garantido doutrinas bastante Protestantes na sua origem (como a Salvação "só pela fé" e a "só a Escritura") e partem daí para esclarecer a todos os outros quão simples e perceptível é o Evangelho que, agora recuperado ao "não-denominacionalismo" que eles pensam ser o original desde o primeiro século do Cristianismo, prescinde completamente de "tradições humanas".
Depois, fazendo parte desta mentalidade "só a Bíblia", temos diversos "cristãos" que não frequentam nenhuma igreja. Nem sequer uma "não-denominação"... E antes disso temos Protestantes que, já que o culto dominical é apenas a pregação e a leitura da Bíblia (além do aspecto comunitário e musical, mas que não interessa à Salvação), mais vale ficar em casa a ler um livro sobre a Bíblia e a própria Bíblia por si mesmo... No fundo, vemos quão interligadas estão todas estas posições. Desde a divisão eclesial à não-praticância, passando pelo sectarismo, tudo se baseia numa só heresia (também forçada pelo tempo e espaço), instituída finalmente por Lutero (aqui fica em inglês):
"Unless I am convinced by the testimony of the Scriptures or by clear reason (for I do not trust either in the pope or in councils alone, since it is well known that they have often erred and contradicted themselves), I am bound by the Scriptures I have quoted and my conscience is captive to the Word of God. I cannot and I will not retract anything, since it is neither safe nor right to go against conscience. May God help me. Amen."
Martin Luther at the
Diet of Worms
Outro sítio "não-denominacionalista", para além deste
"Simplesmente Cristão", é o
"Cristianismo Primitivo", espanhol, que é bastante popular. Tem bastantes recursos, mas uma perspectiva demasiado tendenciosa da História, como os Protestantes costumam ter (e isto é mesmo assim, não é ofensa minha, basta lerem os livros deles, as "provas" que eles apresentam, e o estilo com que os escrevem...).
João