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Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 18 de January de 2003 01:52


E acerca do Credo de Niceia, vê este artigo se achas que esse Concílio não foi um Concílio CATÓLICO.

[www.angelfire.com]

Só mais duas citações, retiradas do Volume I - Padres Apostólicos, da colecção "Patrística" da editora Paulus:

Carta de Inácio de Antioquia aos Romanos (início do séc. II):

Saudação

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela bondade daquele que quis todas as coisas que existem, segundo a fé e amor dela por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai. (...)

- pág. 103

Carta de Clemente aos Coríntios (séc. I): [Clemente I foi Papa em Roma]

59. (1) Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não poucos perigos.


João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 18 de January de 2003 02:00


Aproveitem para ler as partes do Catecismo que dizem respeito a este assunto, particularmente de 874 a 896 e de 2030 a 2040.

Gostava de saber o que têm a dizer em relação a TUDO isto.

Será curioso se ainda acharem que têm argumentos para rejeitar o primado petrino... :o)

João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 18 de January de 2003 02:05


Antes das objecções, aqui fica um artigo interessantíssimo sobre a interpretação destas citações:

[members.aol.com]

Para que tenham menos escapatórias... ;o) Afinal, ficar deslumbrado pela verdade de que temos um múnus pastoral visível instituído, ainda por cima quando é tão bom humanamente falando quanto o de João Paulo II, é motivo de grande libertação e alegria!

João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 02:33


Continuo à espera que confirmem a vossa honestidade intelectual e espiritual.

Entretanto, aqui deixo as primeiras linhas do Prólogo da Constituição Apostólica "Universi Dominici Gregis", acerca da vacância da Sé Apostólica e da eleição do Romano Pontífice, de João Paulo II.

Inclui precisamente esta citação de S. Ireneu de Lião.

"TODO O REBANHO DO SENHOR tem como Pastor o Bispo da Igreja de Roma, onde, por soberana disposição da Providência divina, o bem-aventurado Apóstolo Pedro, pelo martírio, prestou a Cristo o supremo testemunho do sangue. Assim, é bem compreensível que tenha sido sempre objecto de particular atenção a legítima sucessão apostólica nesta Sede, com a qual, por ser «mais excelente por causa da sua origem, deve necessariamente estar de acordo toda a Igreja»(1). (...)"

(1) S. IRENEU, Adv. haeres. III,3,2: SCh 211, 33.


[www.vatican.va]


João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 21:25

João,

Vou estar bastante ocupado o resto da semana, pelo que só vou poder responder com detalhe (e algum tempo) durante o fim de semana.

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 10:00


Mais uma citação patrística, de Sto. Agostinho. Comparem-na com aquela que aqui colei, do mesmo autor, em 29/11/02. Verão as diferenças de interpretação que o próprio Sto. Agostinho dava a Pedro, que em tudo confirmam o que a Igreja ensina hoje definitivamente sobre o Papa, estando contudo aberta a uma reflexão para o seu ministério actual ser mais eficaz.

Incluo no final comentários meus ao primeiro parágrafo desta citação.



.Segunda Leitura do Ofício (Liturgia das Horas) da Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos - 29 de Junho

Dos sermões de S. Agostinho, bispo (Séc. V)
(Sermão 295,1-2.4.7-8: PL 38,1348-1352)

Estes mártires deram testemunho do que viram


"O dia de hoje é para nós dia sagrado, porque nele celebramos o martírio dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo. Não falamos de mártires desconhecidos. A sua voz ressoou por toda a terra e a sua palavra até aos confins do mundo. Estes mártires deram testemunho do que tinham visto: seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.

S. Pedro é o primeiro dos Apóstolos, ardentemente apaixonado por Cristo, aquele que mereceu ouvir estas palavras: E Eu te digo que tu és Pedro. Antes dissera ele: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo. E Cristo respondeu-lhe: E Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Sobre esta pedra edificarei Eu a mesma fé de que tu dás testemunho. Sobre a mesma afirmação que tu fizeste: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, edificarei Eu a minha Igreja. Porque tu és Pedro. «Pedro» vem de «pedra»; não é a «pedra» que vem de «Pedro». «Pedro» vem de «pedra», como «cristão» vem de «Cristo».

O Senhor Jesus, antes da sua paixão, escolheu, como sabeis, os discípulos a quem chamou Apóstolos. Entre estes, só Pedro mereceu representar em toda a parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus. Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja única. Assim se manifesta a superioridade de Pedro, porque ele representava a universalidade e unidade da Igreja, quando lhe foi dito: Dar-te-ei. Era-lhe atribuído nominalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do reino dos Céus, ouvi o que o Senhor diz noutro lugar a todos os seus Apóstolos: Recebei o Espírito Santo. E logo a seguir: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.

No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor confiou a Pedro o cuidado de apascentar as suas ovelhas. Na verdade, não foi só ele, entre os discípulos, que recebeu a missão de apascentar as ovelhas do Senhor. Mas, referindo-se Cristo a um só, quis insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque entre os Apóstolos, Pedro é o primeiro.

Não estejas triste, ó Apóstolo. Responde uma vez, responde outra vez, responde pela terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que três vezes o temor venceu a presunção. Tens de soltar por três vezes o que por três vezes ligaste. Solta por amor o que ligaste por temor. E assim, uma vez e outra vez e pela terceira vez, o Senhor confiou a Pedro as suas ovelhas.

Num só dia celebramos o martírio dos dois Apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só; embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; seguiu-o Paulo. Celebramos a festa deste dia para nós consagrado com o sangue dos dois Apóstolos. Amemos e imitemos a sua fé e a sua vida, os seus trabalhos e sofrimentos, o testemunho que deram e a doutrina que pregaram."



[NOTEM: Leram a Bíblia (NT)? Não (eles mesmos escreveram parte dela, suas palavras infalíveis)... Foram salvos "somente pela fé"? Não, foram salvos somente pela graça e viveram como cristãos, "seguindo a justiça" e "morrendo pela verdade". Tinham autoridade - humana, já que oral - infalível? Sim, pois "proclamaram a verdade" - quando ainda não existia a Bíblia: proclamaram "o que tinham visto", a Revelação de Deus em Jesus Cristo, que é A palavra de Deus! Assim como S. Agostinho, aqui, oralmente dava a conhecer as Escrituras e as explicava com a autoridade da Igreja Católica.]


João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 11:35

Espero ter tempo para um (?) dia destes ler este tópico de fio a pavio... Pela leitura "diagonal" apercebo-me de desnecessárias leituras extremadas do tópico. A seu tempo darei o meu contributo.

Para já, fica-me uma curiosidade. João, como ou onde consegues estes textos patrísticos? Estão on-line na versão portuguesa? Ou digitas estes textos?

Alef

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 19:36


Os três textos que citei que começam com a indicação "Segunda Leitura do Ofício (Liturgia das Horas) ..." foram digitados por mim pessoalmente a partir dos volumes do Ofício.

Em relação aos outros, está indicado como fonte o sítio na Web ou o livro (no único caso em que isso aconteceu, citações do volume I da colecção "Patrística" da Paulus).

João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 21:43

Sobre as três linhas do catecismo, aproveito para relembrar o parágrafo 838 do Catecismo da Igreja Católica:
"... Quanto às Igrejas Ortodoxas, estas comunhão é tão profunda «que bem pouco lhes falta para atingir a plenitude, autorizando uma celebração comum da Eucaristia do Senhor» (Paulo VI, discurso de 14 de Dezembro de 1975)".

Eu tinha mencionado "três linhas", o CIC diz que "esta comunhão é tão profunda que bem pouco lhes falta".

Em que ficamos?

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 22:01

«professar um credo não é o mesmo que acreditar nele completamente» (João Oliveira, 18/01/03 00:32)

Qualquer dia, ainda se organiza um tópico com as frase mais curiosas que se vão escrevendo neste fórum ;-)

João, então o que estendes tu por um 'Credo'? Se precisares de ajuda, aqui fica um link. É legítimo que nós católicos interpretemos o Credo de Niceia-Constantinopla de forma diferente dos demais cristãos, sobretudo no que diz respeito ao significado do termo 'católica'. Mas não é por isso que os cristãos ortodoxos e algumas Igreja Protestantes aos proferirem o Credo acreditem menos nele. Um Credo é uma profissão de fé: se não se acreditam completamente nele, não é um credo.

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 22:41

Resposta ao Luis 16/01/2003:
Tens toda a razão na tua crítica.
Quanto ao livro é realmente interessante.
Pensa na hipótese de criar uma página onde os interessados pudessem inserir o título de um livro e sua apreciação sobre o mesmo (só penso em dar-te trabalho, mas pronto ...)

João (JMA)

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 23:22

Depois de ler todos os textos de alguns Padres da Igreja que aqui foram colocados, fico com a sensação que nada de novo foi dito (com o devido respeito e admiração que tenho pelos Padres da Igreja e toda a época Patrística). Neste tópico não se está a discutir se o Papa - Bispo de Roma - é ou não o pastor da Igreja, ou sucessor do Apóstolo Pedro que, em boa hora, foi o primeiro a reconhecer o Messias. Nisso todos concordamos. Aquilo que se está a discutir é o conceito de 'primado' de Pedro. O Papa preside à Igreja de Cristo sem ser o seu 'Presidente'.

O facto do Papa deter o Primado - Primus inter Pares - é tão óbvio, não só para nós católicos, como pelos visto o é para alguns protestantes (Ver link). Aquilo que nos temos dito é que não é o Papa que decide sozinho aspectos doutrinais. Estes devem ser decididos em Concílio, e de preferência Ecuménico, com a participação de representantes Ortodoxos e Protestantes (entenda-se Igrejas da Reforma).

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 23:47

Resposta ao João 17/01/2003:
Primeiro começa por explicar a fundação do cristianismo por Cristo, da forma que o descreves.

Quanto ao "imobilismo" não disse que o promovias, mas que confundias plenitude da revelação efectuada em Cristo, com o facto de nós homens através da reflexão e do avanço intelectual conhecermos cada vez melhor essa revelação.
Com contributos de todos e não apenas do que é considerado ser a hierarquia da Igreja.

Porque cada vez que confrontamos essa Revelação com novas abordagens ficamos mais enriquecidos.
Para te dar um exemplo desta minha última afirmação, basta pensarmos no que significou a escrita dos Evangelhos em grego e nos contributos para a nossa fé de hoje que os conceitos gregos, mais avançados filosoficamente que os povos semitas, vieram dar.


"Além disso, a Igreja primitiva era chamada "Católica" devido à sua comunhão com o Bispo de Roma, que tem as chaves do Reino dos Céus. Foi Jesus que o disse, não fui eu, desculpem lá..."
Não encontrei o local donde retiraste esta afirmação de Jesus. Agradeço informação.


Há uma questão (penso que) ainda não respondida: Primado em quê? ou seja, de que forma e sobre que matérias se exerce o referido primado?

João (JMA)

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 00:07


Luís, "três linhas" não é sinónimo de "bem pouco"? :o) De qualquer forma, já te tinha dito que essas três linhas não são necessariamente... literais. Vários livros se poderiam escrever entre as nossas diferenças. No entanto, como está no Catecismo, «bem pouco lhes falta para atingir a plenitude, autorizando uma celebração comum da Eucaristia do Senhor». Ou seja, apesar de tudo, manteram válido o Santíssimo Sacramento. Em relação a variados outros aspectos doutrinários falta pouco para a plenitude (i.e. comunhão com Roma), mas é sempre tanto para os homens...

Reitero o que disse. Tens tanta gente por aí que se diz católica e tem arrepios se pensa naquilo que professa no Credo que "recita" quando vai à Missa (quando o sabe), que até se admira com a falta de compreensão que tem daquilo que acabou de dizer.

Portanto, podes "professar" algo não "acreditando" nisso completamente. Achas estranho? Parece-me que já constataste essa realidade não?

Além desta situação, temos algo mais estranho. Cristãos a pegar nos Credos, que são todos católicos, e a interpretá-los como querem. "Católico" quer dizer "mundial", dizem eles, por exemplo. E com isso negam a verdade daquilo que é professo quando se crê na Igreja una, santa, católica e apostólica.

Não somos nós que interpretamos o Credo de forma "diferente"!! Nós interpretamos o Credo verdadeiramente porque o vivemos autenticamente. Os outros é que o interpretam de forma "diferente"!

Acontece é que se pega na óbvia autoridade do Credo e dele se quer haurir uma autoridade que pertence apenas aos católicos. Daí as interpretações do Credo, como as da Bíblia, estranhas à própria Igreja que os canonizou. Estranha ainda é a tua interpretação dessa interpretação.

Quando se fala em "presidência" da Igreja há que ganhar uma mentalidade católica no trato desta questão. O Papa não preside no sentido político por ser meramente humano, mas preside pontificamente, entre o Céu e a terra, como instituição divino-humana. Como mais nenhuma assim existe, é normal que as generalizações e as simplificações não entendam o ministério único do Sumo Pontífice.

Claro que o Papa como "Primus inter Pares" é óbvio. Acontece é que não são os protestantes que são, em sentido restrito, os seus "pares" mas sim os bispos católicos que estão unidos a ele. Mas por extensão, os "pares" serão todos os "homens e mulheres de boa-vontade", expressão tão típica do Vaticano II.

É claro que é o Papa sozinho que decide aspectos doutrinais! Que isso fique bem claro!! Ele não é mais infalível por ter as costas quentes por contributos ecuménicos! Nada disso, a sua infalibilidade é-lhe pessoal e particularíssima. Lê o Evangelho e o Catecismo as vezes que quiseres para te convenceres disso. Contudo, o seu ministério é de comunhão pois ele não se serve a si mesmo, mas a toda a Igreja. Assim, nele se realiza e ganha forma a fé da Igreja toda.

Ou como diria Sto. Agostinho, "só Pedro mereceu representar em toda a parte a personalidade da Igreja inteira".

Terás tu um entendimento, meramente humano e particular, diferente deste?

João

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 04:31

Ai, ai...

«É claro que é o Papa sozinho que decide aspectos doutrinais» - diz o João...

Não me parece ser tão «claro»! É necessário ter cuidado com este tipo de afirmações. Que eu saiba, o papa apenas invocou o dogma da infalibilidade papal para duas situações: a definição dos dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Nossa Senhora. Ora, em nenhum destes casos o papa decidiu sozinho. Até porque a infalibilidade é pessoal mas enquanto em comunhão com os bispos do mundo inteiro. Afirmações destas levam a interpretações ingénuas ou maldosas de alguns protestantes, quando dizem que os católicos crêem que tudo quanto o papa diz é infalível.

Veja-se ainda outro elemento fundamental: as maiores contendas doutrinais foram resolvidas em concílios, não por um "papa sozinho". Basta pensar em Niceia, Éfeso, Calcedónia ou Trento. Nenhum papa decidiu sozinho nenhum artigo do credo.

Depois, não nos esqueçamos que, pelo menos um papa, Honório (século VII), foi declarado herético (monotelismo) por um concílio (e condenado por um outro papa, Leão II)... Também não nos esqueçamos que o título de “Pontifex” era usado pelos imperadores... Aliás estes usavam o título de “vigário de Cristo”, enquanto que os papas eram “vigários de Pedro”. Com a decadência do império romano os papas foram assimilando um modelo imperial. A Idade Média vive uma luta enorme entre os “conciliaristas” e os “papistas”. O prestígio institucional e moral que os papas têm hoje na Igreja é relativamente recente. Hoje fala-se na prepotência da Igreja em relação aos poderes políticos e da Inquisição, etc., mas o contrário também é verdade. Vem-me imediatamente à mente a “farsa” de Napoleão que obrigou o Papa a coroá-lo Imperador... Curiosamente é com a prisão do Papa Pio IX que a “devoção” pessoal ao Papa cresceu enormemente. O papado debilita-se politicamente e fortalece-se moralmente.

Gostaria de chamar a atenção para algo mais, relativamente à frase: «Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja». Em muitos websites apologéticos católicos se pretende dizer que esta “pedra” é Pedro. Basta ler os textos patrísticos que o João citou aqui para ver que esta “interpretação” não corresponde à intenção da palavra escrita, pois, que se saiba, nunca esse argumento foi usado nos primeiros séculos. Creio que antes do século IV ninguém usou este texto para supostamente argumentar pelo primado do papado.

Espero um dia arranjar tempo para escrever um texto um pouco mais organizado sobre estas questões, mas por agora reagi por uma questão de “urgência” ;-)

Não pretendo com esta breve nota negar ou desvalorizar o primado papa. Acho é que exagerar o primado é um mau serviço que se faz à Igreja. Já nos esquecemos que no princípio as Igrejas particulares eram muito mais autocéfas? Seria interessante revisitar uma polémica de há cerca de um ano, entre o Cardeal Ratzinger e o Cardeal Walter Kasper. Kasper reagiu, e com razão, a uma certa interpretação que Ratzinger dá à relação entre os bispos e o papa, dando a impressão que as dioceses são uma espécie de sucursais de Roma. O Papa João Paulo II já disse várias vezes que queria que o assunto do papado fosse repensado. É que o primado não significa que o papa tenha que actuar em organigrama piramidal e autocraticamente; não significa que o papa seja uma espécie de chefe de uma multinacional nem que tenha que ter um colégio de cardeais, que tenha que ser chefe de estado ou que supostamente nos consideremos melhores que os outros. Todos, católicos e não católicos, somos chamados à conversão. É por aqui que passa o ecumenismo e não por uma desdenhosa atitude de superioridade. Afinal, a nossa fé é apostólica.

Pretendo deixar claro: o primado de Pedro é inegável. Ele tem sempre o primeiro lugar nas listas dos Apóstolos, toma a palavra em nome de todos (não sozinho), tem a missão de "confirmar os irmãos"... Mas não me parece que o ministério de Pedro se reveja em algumas formas de papado, como a que levou um determinado papa a afirmar: "A Tradição sou eu". Afinal, "no princípio não foi assim"...

Ainda em relação ao ecumenismo e seus problemas, não basta dizer "eles (os não católicos) que venham e se 'submetam' à fé católica". Afinal, não esqueçamos que há culpas de parte a parte, concretamente no que levou à separação entre o Oriente e o Ocidente...

Alef

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 05:04

A propósito das tais "três linhas", aquilo que separa os católicos e ortodoxos, aqui fica um "link" interessante, a exposição das diferenças apresentadas por um ortodoxo: [www.fatheralexander.org].

Vale a pena ver, tendo, contudo, em conta algumas correcções:

- não é verdade que para a Igreja Católica a Tradição seja mais importante que a Bíblia (veja-se a «Dei Verbum»);

- a Igreja Católica não tem nenhuma definição doutrinal sobre o limbo; esta foi uma criação teológica, que hoje já ninguém leva a sério;

- o sacramento da Unção dos Doentes pode ser administrado nas mesmas circunstâncias previstas pelos ortodoxos;

- a comunhão sob as duas espécies também acontece em muitas comunidades católicas, sobretudo nos países de tradição anglo-saxónica; também acontece em alguns sítios em Portugal;

- que eu saiba, actualmente não se fala de ordens menores na Igreja Católica;

- a explicação sobre a enumeração dos mandamentos está errada. De facto, sabemos que os mandamentos são 10, mas não há duas enumerações iguais no AT e não é fácil perceber como exactamente como se "agrupam" para dar dez. Se bem me lembro, a ordem que seguimos hoje vem de Santo Agostinho. Importa dizer que o símbolo mais antigo do Cristianismo não é uma cruz, mas imagens do bom pastor e o peixe ("ichthys"), existentes em muitas catacumbas.

Alef

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 05:15

Já agora, aindda sobre a Igreja Ortodoxa, vale a pena ver os muitos materiais no website de que indiquei um documento na msg anterior. vale apena navegar em [www.fatheralexander.org].

Alef

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 10:12

João,

Se é o Papa que decide os aspectos doutrinais sozinho, então para que servem os Concílios? Para que servem os Sínodos dos Bispos?

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 10:32

Alef,

Só agora reparei naquilo que tinhas escrito sobre o primado de Pedro. De facto, aquilo que eu penso sobre o primado de Pedro enquadra-se naquilo que acabas de afirmar. E a alusão que fazes aos primeiros Concílios da Igreja não podia ser mais apropriada para evitar algumas conclusões menos correctas que se poderiam fazer da leitura dos textos dos Padres da Igreja que aqui foram colocados.

Ao pensarmos em tudo o que se passou de Niceia a Calcedónia, ou mesmo Constantinopla (681), vimos que muitos dos avanços teológicos foram fruto de muitas pessoas que não apenas o Papa. Um exemplo prático e rápido, veja-se a importância de Cirilo de Alexandria e Nestório de Antioquia logo após o Concílio de Niceia, entre muitos outros para se perceber que não é o Papa que decide questões teológicas sozinho.

Luis

Re: O Primado de Pedro e a Igreja Católica
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 28 de January de 2003 22:52


Vamos lá a ver uma coisa...

Eu coloquei (ou quis colocar) o ênfase na DECISÃO e não na SOLIDÃO do Papa. Aliás, o facto do Papa não ser um ermita ditador e, muito pelo contrário, viver rodeado de cardeais que podem a qualquer momento virem a ser o próximo Papa, apenas lhe dá maior credibilidade e aceitação.

Obviamente, teremos teólogos eminentes que se destacam pelo seu entendimento das questões fundamentais da fé, decididas canonicamente pela Igreja sob o Magistério Petrino.

Isto em nada anula nem deixa de anular a eminência e presidência do Papa a toda a Cristandade.

Concordo plenamente na descentralização em termos de organização eclesial para com Roma, mas não na separação da fé, na qual o Papa terá sempre a maior autoridade.

Quanto ao entendimento de a "pedra" ser "Pedro" ou não, penso que as coisas se equivalem: Pedro confissou como sua a fé de todos os cristãos e nessa medida é ele o fundador do Cristianismo. :o) Já me vão chatear por causa desta afirmação, mas pensem nisso. Hoje e sempre como então, sob a fé total em Cristo, professada por Pedro, está o nosso rochedo de Salvação. Linda esta equivalência da Pedra/Pedro "in persona Christi"!

É necessário referir que, devido às diversas eclesiologias da Igreja primitiva e sua falta de centralidade única como a temos hoje, que se foi realizando consequentemente com a estabilização originada pela aceitação oficial do Cristianismo pelo Império Romano (não sem os conhecidos abusos - no entanto, úteis cristãmente de diversas formas), as interpretações por parte dos Padres da Igreja dependem sempre de uma autoridade maior, a do sucessor de Pedro. Têmo-la hoje claramente definida, havendo apenas que discernir os dados do passado neste sentido pleno para o qual caminha, e para o qual o próprio Papa requisita a nossa colaboração.

Portanto, em resposta ao Luís, os Concílios e Sínodos servem para dar voz aos pastores em relação às diversas questões levantadas (saber por exemplo, quais as heresias dos nossos tempos propagadas em determinado lugar), haurir das contribuições dadas a melhor forma para a compreensão do intelecto humano das questões doutrinárias em causa, e (especialmente nos Sínodos) tratar de questões pastorais. Isto, com o Papa como Sumo Pontífice.

Agradeço a "urgente" resposta do Alef!

Tenho apenas um reparo a fazer; disseste: "Creio que antes do século IV ninguém usou este texto para supostamente argumentar pelo primado do papado." Mas parece-me que algumas destas citações roçam, pela sua ambiguidade, precisamente a interpretação de que já falei há pouco, apesar de parecer que falta sempre "aquela" frase que o diga clara e inequivocamente. Se as houvesse, certamente que haveriam muito menos protestantes, por haver menos onde duvidar, não é verdade? :o)

Continuemos o diálogo...

Quanto às Igrejas Ortodoxas, as questões que o Alef corrige são as mesmas que sempre precisam ser corrigidas, aparentemente... Parece que estas objecções são sempre as mesmas e nunca se sai da cepa-torta... Leia-se: há quem não esteja mesmo virado para o entendimento ecuménico da verdade sobre as diferenças doutrinárias, por não querer a comunhão.

Já agora, cito de novo um sítio que indica um resumo (que não deixa de ser parcial) das ambiguidades que suscitam a interpretação da Escritura e dos textos patrísticos fundamentais usados para defender o papado:

<[members.aol.com];

É preciso ter cuidado com os ênfases que são dados às "ambiguidades" dos textos antigos, que pretendem apenas forçar e inflar a divergência doutrinária pela "impossiblidade" de compreender a exactidão do sentido das fontes...

João

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