Re: “Abrir as portas à ordenação de casados e não o casamento de padres”
Escrito por:
Alef (IP registado)
Data: 28 de October de 2005 03:50
Não, tony, o resultado não seria exactamente o mesmo.
«Abrir as portas à ordenação de casados» significa que, como no caso dos actuais diáconos permanentes, se ordenam presbíteros «viri probati», «homens provados», já casados. São ordenados já casados, mas se enviuvarem não podem voltar a casar.
É o que acontece com os actuais diáconos permanentes que são casados. Se enviuvarem, não voltam a casar. Também há alguns diáconos permanentes celibatários. Esses eram celibatários no momento da ordenação diaconal e não podem casar.
Se se abrisse a porta a esta possibilidade e não ao «casamento dos padres», isso significaria que os actuais padres celibatários teriam que continuar a ser celibatários, enquanto começariam a ter como «colegas» padres casados, já casados antes de serem padres...
Ou seja, não haveria essa imagem que alguém sugeriu por aqui de repentinamente começarmos a ter todos os padres à procura de namorada, porque agora já poderiam casar... Ou seja, neste caso diríamos que a Igreja permitiria a ordenação presbiteral de homens casados (como permite actualmente que homens casados sejam ordenados diáconos permanentes), mas não quereria padres namoradeiros ;-)
A «fórmula» do título deste tópico poderá ser a mais provável, ou, pelo menos, a «próxima» (mesmo que falte muito tempo): aos seminaristas dar-se-á um tempo depois de terminados os estudos para se casarem e depois de casados serão ordenados. É o que acontece entre os católicos de rito oriental. Também acontecerá que homens casados que nunca foram seminaristas comecem a estudar teologia e depois venham a ser ordenados.
Claro que imagino a dificuldade que os bispos sentirão já em aceitar uma tal mudança: poderão temer que os actuais seminaristas se «reservem» para uma «segunda oportunidade»... Mas esta não será, certamente, a maior dificuldade. Queiramos ou não, o facto de toda a hierarquia actual ser celibatária tem um enorme peso na decisão. Implicitamente admitir que a partir de agora os padres possam ser homens casados pode ser uma admissão que até agora se trilhou um caminho de alguma forma errada. E, tendencialmente, mesmo aqueles para quem o celibato é um peso, não quererão ver outros livres do seu peso. Um mecanismo psicológico bem conhecido.
Mas há outras dificuldades. Muitos bispos pensam que, ao contrário do sentir comum, não é totalmente claro que a ordenação de homens casados resolva o problema o problema da falta de vocações, porque há crise de vocações também entre os católicos orientais... Muitos bispos pensarão também que é mais difícil a disponibilidade em termos de mobilidade de padres casados ou que os problemas familiares dos padres podem causar sarilhos nas comunidades... Não sei se alguns religiosos também não preferem o estado actual de coisas, porque se o celibato passasse a ser opcional, eventuais candidatos a padres na vida religiosa iriam mais facilmente para o clero diocesano, enquanto as coisas actualmente permitem uma «escolha mais equitativa»... Mas são conjecturas minhas...
Portanto, e resumindo: até agora a Igreja Católica tem permitido a ordenação de homens casados da seguinte forma: como presbíteros no rito oriental e como diáconos permanentes no rito latino. Em nenhum caso permite o casamento de padres. A «fórmula» do título significaria o alargamento do caso da Igreja oriental ao rito latino: casados podem ser padres; padres não podem casar.
Alef