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Será que existe DEUS ?
Escrito por: Fernando Cassola (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 12:25

Olá, como vão todos?

Antes de mais quero saudar-vos a todos os participantes e dar os meus parabéns, como o já referi algumas vezes, aos criadores deste excelente site (Luis e Suzete).

Além de católico praticante, dirigente do CNE, sou catequista (10º Ano), e neste fim de semana, os meus "miudos" colocaram-me a seguinte questão (um pouco pertinente), que quero partilhar convosco:

- Onde está Deus que deixa (faz) um tremor de terra (Itália) e mata tantas crianças? Porquê?
- Onde está a justiça de Deus?
- Então e se Deus existisse não faria com que nada disso acontecesse?


Deixo-vos aqui estas questões para um desenvolvimento teológico, racional e acima de tudo que seja pacífico e respeitando as opiniões de todos, por favor.

Um abraço fraterno a todos

Fernando Cassola

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 12:54

A existência de Deus...penso que é algo que não tem a ver com a ciência, uma vez que a ultrapassa. Tem a ver com a Fé.
Infelizmente, os homens são mais tentados a acreditar que Ele não existe, pois são muito poucos os que se deixam invadir pelo Amor de Cristo e dar o seu testemunho.

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 15:17


Olá Fernando, Sempre Alerta para Servir! :o)

Boa resposta Ana! ;o) A questão vai mesmo por aí. Os que se dizem cristãos não vivem como tal, e aqueles que procuram saber afinal que "raio" de argumentos existem para acreditar em Deus, acabem por ficar desiludidos e revoltados com as hipocrisias causadas pela falta de santidade de quem é suposto ser exemplo. Por outro lado, a questão da existência de Deus tem conotações primordialmente filosóficas e introspectivas, sendo algo constantemente debatido, e hoje em dia em voga nos círculos intelectuais académicos próprios.

Podemos considerar que "ultrapassa" a ciência pois Deus é inapreensível... Se soubéssemos tudo o que há a saber sobre Ele, seríamos como Ele. De facto, acreditamos que chegará esse dia em que o Seu amor nos consumirá por inteiro. E é essa a questão: devemos acreditar e, de facto, só podemos mesmo confirmá-lo com a nossa vivência de fé, que é o mesmo dizer, de fidelidade.

Querer arranjar argumentos ABSOLUTOS para a existência de Deus é em boa parte uma perda de tempo. Porquê? Porque Deus é amor, e não se pode alcançá-Lo sem desde logo nos predispusermos a amá-Lo, venha o que vier, esperando ser surpreendidos pelas verdades encontradas ao longo de toda a história da nossa vida com Deus. Ou seja, desde o início da nossa existência e em particular a partir do momento em que nos entendemos como pessoas. É essencial procurar argumentos que excluam as nossas dúvidas e nos aliviem o coração para a fé. A isso, remover todos esses obstáculos, chama-se apologética e é hoje cada vez mais necessária, pois cada vez mais se coloca em causa todo o tipo de argumento que nos precipite numa relação de amor total e incondicional com alguém, ainda para mais quando isso implica toda uma conduta moral e o próprio Transcendente, com Quem nos relacionamos pessoalmente.

Antes de mais, devo afirmar que esta é uma questão puramente actual e que estes desafios à fé são excelentes para não só educar numa fé verdadeira, mas que nos leve a uma vivência forte e autêntica de tudo o que ela implica, tornando-nos capazes de dar testemunho, num mundo avesso a crenças absolutas e verdades dogmáticas (essenciais e misteriosas). É preciso compreender Deus como parte integrante do nosso modo de viver, amando-O sempre, muito para além da sala de catequese.

Quanto a ver em Deus um milagreiro que oportunamente e muito a nosso favor nos priva de todos os males e horrores, é algo em que, inevitavelmente, acabaremos por desacreditar pois não só essa não é de todo a concepção de Deus que é acolhida pelos cristãos, como, consequentemente, não é a verdadeira! Vejam lá que até as crianças o entendem... Neste caso, jovens adolescentes numa fase tão turbulenta das suas vidas, estão prestes a ENCONTRAREM-SE com Deus e precisam, muito mais de ouvir falar de Deus, de FALAR COM ELE!

Bastaria dizer que os sofrimentos têm um sentido, pois são eles que dão dignidade e respeito à nossa vida, que nos faz vencedores, heróis, exemplos a seguir... Mas... olhem para a CRUZ! É essa a verdade acerca de Deus: Ele está tão intimamente relacionado connosco, que por nós sofreu como um de nós... Os cristãos olham a Cruz como o exemplo a seguir e se a catequese não envolve no seu centro uma pedagogia de amor em tudo o que é difícil e doloroso, então desculpem mas não se está a fazer nada de significativo na vida dos catequizandos... Pior, estaremos a dar-lhes um mau testemunho, de modo a que em vez de os orientarmos para os braços de Deus, eles passam a considerá-los totalmente desadequados a um modo autêntico de viver, com todas as alegrias e tristezas, e vão repudiá-Lo. É preciso ter muito cuidado com quem somos, bem antes de começarmos a ensinar.

Mas quem seria um "Deus" que ao menor abalo sísmico viria lá do Céu com o seu dedo salvador e depressinha voltaria a colocar tudo no lugar, sem ninguém se magoar? Acho que essa é uma visão demasiado à "Harry Potter" e é por essa concepção de um "Deus" mágico que muitos fazem, de onde advém tanta falta de fé. Estamos a criar caricaturas de um Deus que NÃO EXISTE, para depois facilmente o desconsiderarmos e viver à margem de toda e qualquer proposta que não dignifique o Homem (que sendo Deus é um super-homem, sem qualquer critério moral ao qual obedecer), segundo uma visão "humanista" que considera o Homem como a "entidade" a satisfazer, caindo em hedonismos sem fim e até na própria alienação daquilo que é realmente SER HUMANO. Logo, seja o "nosso Deus" o Deus dos sofrimentos, das lutas, da humildade, da caridade, do AMOR!

Deus não "vale" pelo que nos dá (até segundo o que entendemos disso), mas por QUEM É! Ele é Pai, e um cristão sabe que não se ama mais um Pai porque nos dá muitas coisas nem pelo contrário o deixa de amar por nos fazer sofrer muito, mas por QUEM É. Ainda que nos faça sofrer, porque não sofrer... por amor? Porque não crescer nos sofrimentos que de repente nos fazem a todos apercebermo-nos de que a vida é frágil e fugaz, saindo das ilusões em que vivemos e tornando-nos mais fraternos? Porque é que haveria Deus de nos poupar a uma experiência tão HUMANA?

Apesar de tudo isto, Deus actua de facto por vezes, naqueles milagres inexplicáveis a que já nos habituámos a atribuir à fé, pois é avassaladora a documentação nesse sentido. Jesus no-lo prometeu e encaramos que essa é "apenas" mais uma promessa bem cumprida.

Agora, porque é que Deus cura alguém de uma doença e não evita catástrofes naturais? Essa é uma reflexão longa, sobre o problema do mal, sobre o propósito dos milagres... Aliás, o problema do mal é algo tão complexo que tem a sua própria "cadeira" na Teologia: a Teodiceia.

Fernando, espero ter-te dado "material" suficiente para uma reflexão tua, que depois possas partilhar com os teus "miúdos". O testemunho é o essencial, só pode mesmo ser o mais autêntico que anelamos! Deixa-me dizer-te também que a pedagogia escutista compreende também muitas destas questões, do sobreviver em equipa às dificuldades ao "impela a tua própria canoa".

João

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 15:53


Ora bem, ficou muito (tudo!) por dizer. Providencialmente, quando eu entrei no fórum vinha lançado para colar algo que vi num sítio da Internet sobre um livro intitulado, precisamente "Será que Deus existe?"... Por isso, podem imaginar a minha surpresa ao visitar o fórum e encontrar um tópico com um título idêntico (fora uma troca ortográfica)... Colarei isso na mensagem seguinte.

Um "àparte": eu já me habituei em não acreditar em "meras coincidências" (são tantas!!) e o meu percurso de vida é certamente marcado por um pendor cristológico tão avassalador que apenas me posso maravilhar ao sentir-me "guiado"... :o)

A Igreja dedicou (e continua...) boa parte da sua reflexão à resposta a concepções críticas de forma oposta aos dogmas. Até hoje foram sendo encontradas várias respostas. Actualmente, a opção de fé, quando realizada razoavelmente, é tomada como algo de digno, autêntico e interpelador.

Mas vamos aos "argumentos", às "fontes"...

Posso deixar desde já a ligação para duas Cartas Encíclicas do Papa João Paulo II, bastante interessantes:

FIDES ET RATIO (Sobre as relações entre Fé e Razão):

[www.vatican.va]

VERITATIS SPLENDOR (Sobre algumas questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja):

[www.vatican.va]

Em Portugal, a Faculdade de Filosofia de Braga ( [www.facfil.ucp.pt] ), da Universidade Católica Portuguesa é prestigiadíssima nesse domínio do saber entre nós, editando a Revista Portuguesa de Filosofia ( [www.facfil.ucp.pt] ), algo de admirável entre nós no âmbito da Filosofia.

Ressalva-se então a profunda ligação entre fé e razão/cultura. Resta-nos descobri-la e discuti-la por nós mesmos, reflectindo sobre tudo aquilo que a Igreja e os seus colaboradores nos ensinam.

Compreendemos que a fé é algo de profundamente íntimo (quando não intimista) que se presta à nossa adesão pessoal. Neste sentido, é um "conjunto de crenças" a que nos "associamos". A meu ver, em relação ao Cristianismo, é para mim o reconhecimento de que nada sou sem essas verdades essenciais à minha existência, que me fazem compreender a mim mesmo e me vivificam, que desde sempre fizeram parte de mim e agora me reconcilio com elas, sendo capaz de as entender, preparando-me para as testemunhar.

Mas também é assunto intelectual, sobre a Verdade. Ou seja, não nos serve a nós, mas servimo-la nós com as nossas explicações, teorias e vivências. Não é vivê-la e dizer que nos sentimos felizes com "a nossa fé", mas explaná-la amplamente a nós próprios e aos outros, buscando a própria Verdade, usando todas as nossas capacidades intelectuais, em diálogo com os demais sobre estes assuntos.

Portanto, vamos "atirar" para este tópico as nossas ideias!

Algumas questões:

.Será que Deus existe?
.Será possível provar essa existência, a existir?
.Se não, fará algum sentido pedir "provas"?
.E o que é uma prova?
.Será suficiente a nossa vivência autêntica da fé que professamos, sem que ninguém tenha nada a ver com isso?
.Será que existem verdades absolutas que nos conduzem a Deus (que é a Verdade), ou as religiões não passam de tentativas aproximadas de alcance a uma transcendência da qual somos inteiramente ignorantes?
.Como justificar a perspectiva cristã da existência se Jesus não é Deus para todos mas apenas para aqueles que nisso acreditam?
.Será que devemos ser coniventes com tal perspectiva e permanecermos autênticos à nossa fé ou não passará isso de um argumento laicizante que procura afastar a ideia de Deus (bem como de preceitos morais), qualquer que seja, pois afasta também a ideia de verdades absolutas?
.Como dizer que Deus nos ama se existe tanto mal?
.Quais serão os limites de Deus a responder às nossas necessidades de bem-estar?
.Se tem limites, não é omnipotente; ou será que concebemos mal a noção de omnipotência?
.Será que Deus responde às orações ou tudo acontece por acaso?
...

João

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Fernando Cassola (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 15:57

João,

Muito obrigado pela excelente informação e óptimo ensinamento profundo e sério que nos deste. Concordo plenamente contigo e algumas das tuas ideias aqui colocadas eu também as tenho presentes.
O facto de ter colocado esta questão no forum, não quer dizer que não tivesse resposta e fundamento teológico para a mesma, pois eu mesmo ando a formar-me em estudos Superiores de Ciências Religiosas. No entanto coloquei-a para isto mesmo, para suscitar em nós todos que andamos por estas encruzilhadas pensarmos neste assunto, e para eu próprio obter mais "conhecimento" acerca deste tema, como é lógico, pois eu sou daqueles que pensa que não sabe tudo, e tenho a plena consciência que quanto mais leio e estudo menos sei. É uma curva exponencial, conhecimento versus sabedoria.

Muito obrigado mais uma vez pelo excelente texto, parabéns.

Boa caça ...


Um abraço fraterno para todos

Fernando Cassola

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 17:19


Para reflexão, aconselho ainda a leitura dos (excelentes) artigos sobre Filosofia da Religião que se encontram em:

[www.criticanarede.com]

Leiam com particular atenção aquele intitulado "Será o cristianismo um terrível desastre?". Interessantíssimo...

Entre aqueles artigos, encontro os seguintes, referentes à obra "Será Que Deus Existe?" de Richard Swinburne. Livro inteiramente actual e aconselhável... Podem adquiri-lo através do sítio citado.


UM ARGUMENTO A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Richard Swinburne
Universidade de Oxford

Nos últimos vinte ou trinta anos, assistiu-se, na comunidade filosófica britânica e norte-americana, ao renascer do debate sério acerca da existência de Deus — debate que tem sido conduzido com um alto nível de rigor intelectual. Reconheceu-se que a matéria é não só da maior importância, mas também de grande interesse intelectual. Os pensadores cristãos têm tido destaque neste debate, que tem conduzido a um crescimento considerável do número de estudantes de filosofia a assistir a cursos sobre filosofia da religião. No entanto, quase nada disto chegou ao grande público, que tem sido levado a pensar pelos jornalistas e apresentadores de rádio e televisão que a existência de Deus é, intelectualmente, uma causa perdida e que a fé religiosa é uma matéria inteiramente não racional.

O pensamento público acerca destas questões foi influenciado por diversos livros da autoria de cientistas de renome, entre eles "O Relojoeiro Cego" de Richard Dawkins (1986), e "Uma Breve História do Tempo" de Stephen Hawking [escritor de "O Universo numa casca de noz"] (1988). As teorias científicas defendidas nestes livros suscitam-me relativamente poucos motivos de discussão — resta-me admirar a profundidade da intuição física de Hawking e a clareza de exposição de Dawkins. Mas estes livros contêm a sugestão de que as suas teorias científicas mostram que não existe um Deus que de algum modo seja o garante do mundo. Estes autores não estão, no entanto, familiarizados com o debate filosófico e desconhecem frequentemente até que ponto as suas perspectivas acerca de Deus estão sujeitas a crítica. O meu objectivo ao escrever este livro é ajudar a remediar esta situação, apresentando a um público mais vasto uma versão abreviada dos argumentos a favor da existência de Deus apresentados no meu livro anterior, The Existence of God (1979).

A estrutura básica do meu argumento é esta: os cientistas, historiadores e detectives observam dados e avançam a partir deles em direcção a uma certa teoria acerca do que melhor explica a sua ocorrência. Podemos analisar os critérios que usam ao chegar à conclusão de que uma certa teoria acomoda melhor os dados do que outra — isto é, que tem mais probabilidades, com base nesses dados, de ser verdadeira. Usando esses mesmos critérios, descobrimos que a perspectiva de que Deus existe explica tudo aquilo que observamos e não apenas um conjunto limitado de dados. Explica o próprio facto de haver universo, de as leis científicas actuarem nele, de ele conter animais conscientes e seres humanos com corpos intricadamente organizados e muito complexos, de termos oportunidades em abundância para promover o desenvolvimento, nosso e do mundo, bem como factos mais específicos, como o de os seres humanos relatarem a ocorrência de milagres e terem experiências religiosas. Na medida em que as causas e as leis científicas explicam algumas destas coisas (e, em parte, explicam), estas mesmas causas e leis carecem de explicação; a acção de Deus explica-as. Os mesmíssimos critérios que os cientistas usam para chegar às suas próprias teorias levam-nos a avançar para além dessas teorias, em direcção a um Deus criador, que garante a existência de tudo.

Richard Swinburne

Texto retirado de "Será Que Deus Existe?", de Richard Swinburne (Tradução de Desidério Murcho, Ana Cristina Domingues e Miguel Fonseca, Gradiva, 1998)


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[Comentário do Público]

Mesmo que um debate seja inconclusivo, pode ter a grande virtude de ser esclarecedor. O debate sobre a existência de Deus talvez esteja condenado a permanecer sem conclusão, mas quando é bem conduzido torna-se esclarecedor em muitos aspectos. Isto não é surpreendente. A questão da existência de Deus leva-nos a examinar as diversas tentativas de explicar a ordem do mundo natural, compreender o lugar da mente humana no universo, encontrar razões para a existência do mal. Em "Será que Deus Existe?", o filósofo da religião Richard Swinburne considera todos estes temas. O seu objectivo é mostrar que há boas razões para acreditar que Deus existe.

Swinburne tem uma obra influente na filosofia da religião. Com "Será que Deus Existe?" procura apresentar a sua defesa do teísmo a um público vasto. Neste livro, Swinburne está longe de ser indiferente à história da filosofia, mas exclui a discussão de alguns argumentos teístas conhecidos. O argumento ontológico não recebe qualquer atenção. O mesmo sucede com o argumento de Pascal, que tentou fazer da crença em Deus a aposta inteligente de um jogador interesseiro. Swinburne não está interessado em argumentos puramente a priori nem em considerações pragmáticas. Segue uma abordagem mais empírica e naturalista, associada ao argumento do desígnio. "Os mesmíssimos critérios que os cientistas usam para chegar às suas próprias teorias", declara, "levam-nos a avançar para além dessas teorias, em direcção a um deus criador, que garante a existência de tudo."

Nos dois primeiros capítulos, Swinburne prepara terreno para apresentar os argumentos principais. Começa por discutir o que significa a afirmação de que Deus existe, examinando as propriedades que o teísta toma como propriedades essenciais de Deus. Defende, por exemplo, que o facto de Deus ser perfeitamente bom resulta do facto de ser perfeitamente livre e omnisciente. Defende também que Deus, embora seja omnisciente, não pode prever o resultado das acções humanas genuinamente livres. De seguida, Swinburne analisa a noção de explicação e propõe vários critérios para justificar e comparar explicações. Para mostrar como funcionam esses critérios e esclarecer a sua importância, recorre à história da ciência, usando como exemplos as teorias de Kepler e Newton.

Swinburne atribui uma importância especial ao critério da simplicidade que implica que, entre várias explicações que dão conta dos mesmos dados, devemos escolher a mais simples. Assim, devemos preferir explicações que não postulam entidades desnecessariamente, e, enquanto explicação última, o teísmo é a "hipótese mais simples que poderia existir", pois uma explicação simples postula poucas causas, e "não poderia existir uma explicação mais simples do que uma que postulasse uma única causa." Ao defender a simplicidade do teísmo, Swinburne contrasta-o com o materialismo e tenta mostrar que a concepção cristã de Deus é preferível a outras concepções alternativas. Mas, para além da sua simplicidade, o teísmo tem o mérito de nos levar "a esperar os factos que encontramos realmente æ factos que, de outro modo, não seria de esperar." Um desses factos é a ordem do mundo natural. Swinburne defende que a intuição básica do argumento do desígnio está correcta, concluindo que o próprio "êxito da ciência, ao mostrar-nos o carácter profundamente ordenado do mundo natural, constitui uma forte razão para acreditar que há uma causa ainda mais profunda para essa ordem." O teísmo permite ainda explicar a existência de seres humanos. Sobre este tema, Swinburne começa por sustentar, utlizando experiências mentais, que a mente é uma substância diferente do cérebro, e conclui que a acção de Deus é a melhor explicação última para a ligação entre corpo e alma. Quanto ao problema de saber por que razão Deus permite o mal, desenvolve a defesa do livre arbítrio, afirmando que tanto o mal moral como o mal natural resultam do bem que consiste em possuir a capacidade de fazer escolhas livres e responsáveis.

"Será que Deus Existe?" é uma defesa interessante e inteligente do teísmo. A sua tese principal, a de que o teísmo é a melhor explicação para os dados disponíveis, mantém-se controversa, mas o livro deixa bem claro que a crença em Deus não tem de ser uma simples questão de fé.

Pedro Galvão
Público, 21 de Novembro de 1998

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[Apresentação]

Esta obra é uma eloquente demonstração da vitalidade e amplitude da filosofia analítica contemporânea. O rigor argumentativo e lógico não são sinónimos de uma atitude redutora, insensível à dimensão religiosa do ser humano; são, antes, sinais da seriedade intelectual que marcou, desde Sócrates, a genuína atitude filosófica. A questão da existência de Deus pode e deve ser avaliada criticamente pelo filósofo, em vez de ser pressuposta como um facto evidente ou reduzida a uma mera atitude emocional. É essa avaliação crítica que Richard Swinburne nos oferece nesta obra.

Apesar de a reflexão filosófica sobre a existência de Deus ser tão antiga quanto a própria filosofia, os avanços recentes da ciência levantam novos desafios a esta área tradicional da reflexão filosófica. O filósofo não pode já evitar perguntar se ainda estamos autorizados a pensar que Deus existe face aos resultados científicos mais recentes, como as doutrinas que explicam a origem do universo, da vida e dos seres humanos. Numa linguagem clara e acessível, Richard Swinburne, um dos mais proeminentes filósofos contemporâneos da religião, defende que a existência de Deus é uma conclusão que resulta do mesmíssimo tipo de raciocínios e métodos usados nas ciências.

"Será Que Deus Existe?" é do máximo interesse de todos os que se preocupam com as questões religiosas, como teólogos e filósofos da religião, mas também do público em geral. A linguagem clara e acessível faz desta obra uma excelente introdução à filosofia da religião, imprescindível para estudantes e professores de filosofia.

Richard Swinburne é professor de Filosofia da Religião Cristã na Universidade de Oxford e um dos mais prestigiados especialistas daquela área. Da sua obra destaca-se "The Existence of God" (1979), "Faith and Reason" (1984), "Responsibility and Atonement" (1989), "Revelation: From Metaphor to Analogy" (1991), "The Coherence of Theism" (1993), "The Christian God" (1994) e "The Evolution of the Soul" (1997).

© Desidério Murcho


Textos originalmente publicados em www.criticanarede.com


João

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 18:12


Obrigado Fernando e também agradeço a tua iniciativa! É de louvar igualmente a tua dedicação à formação da juventude, em todos os domínios promovidos pelo Escutismo, incluindo o espiritual, que é muitas vezes menosprezado... Espero em Deus que o teu trabalho frutifique! :o)

Bem, estou babado... Pela primeira vez, sinto-me apreciado neste fórum... LOL

Enfim, podemos fazer muito mais e melhor em conjunto, por isso espero que o diálogo sobre este assunto continue vivo.

Para mim estão também sem resposta, de momento, questões para as quais, fora Deus, nenhuma resposta autêntica e satisfatória encontro (e também ainda não estou à vontade com os argumentos teístas que conheço, o que é interessante!), como estas:

.Porque é que os seres humanos têm a capacidade de nutrir sentimentos de amor?
.Porque é que as pessoas não amam? Porque é que se peca (falha em amor)?
.Porque é que o mundo é inteligível? Porque é que o mundo "se fez" para que nele se pense, para que seja entendido, para que nos sintamos emocionados por ele?
.Qual é o sentido da minha existência? O que é que eu ando aqui a fazer, se tudo o que quero é amar profundamente? Como alcançarei isso em plenitude?
.Porque é que me sinto angustiado quando não amo, desesperado quando o amor não me parece possível e aterrorizado com a perspectiva do fim? Não servirá isto como forma de entendimento racional através da qual compreendemos a Revelação e realizamos a fé?
...

Bem, hoje estou com uma "pedalada"...!! :o) Mais interessante ainda é ser capaz de fazer perguntas cruciais como estas sem superficialidade e não me sentir muito abalado pela falta de respostas que não sejam o AMOR, por viver com isto na cabeça quotidianamente! Será este o caminho para a santidade?

João

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 18:14

Deus existe!
( Já que mais não seja na mente dos seres humanos.. AS experiências de transcendência e misticismo parecem ser uam constante em todas as raças e culturas, ligadas como é óbvio ao terrível drama da condição humana - a de um ego consciente da sua finitude... se não tivessemos esta terrível consciência da morte e a absurdidade da nossa finitude....
Recentemente parece que se descobriu a zona do cérebro humano responsável por experiências místicas....)

ana

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Fernando Cassola Marques (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 18:54

Eu também li isso numa revista portuguesa e até a comprei ...

Fernando

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 19:31

è interessante não é ? Haver uma espécie que tem "marcadores cerebrais" para experienciar o conceito de divindade..... Mas atenção, o facto de eu experienciar algo não faz com que esse algo exista de per si, independentemente da minha experiência....
Cientificamente a existência de Deus não é demonstrável. embora intelectualmente se possam construir silogismos que demonstrem a sua existência. Vários teólogos tentaram ultrapassar a clivagem razão emoção em questões de fé, tentando demonstrar a existência de DEUS COM ARGUMENTOS LÓGICOS...

Curiosamente, algumas pessoas parecem não sentir esta necessidade de Deus e encaram a vida e a morte com uma filosofia muito própria....



ana

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Pinto (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 19:47

Fernando Cassola, leia aos seus "miudos", esta passagem de Mateus 24:

E, QUANDO Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. 24:1
Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada. 24:2
E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? 24:3
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane; 24:4
Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. 24:5
E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. 24:6
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. 24:7

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 20:09

Pinto:
isso é para dizer que o fim do mundo está próximo???????

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Fernando Cassola Marques (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 20:29

Pinto:

Sinceramente, não consegui atingir o conteúdo da mensagem, nem onde pretendes chegar, se puderes esclarecer mais a tua ideia, agradeço.

Porque a minha interpretação é semelhante à da ana, mas creio, não ser essa a tua mensagem, verdade ?

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 04 de November de 2002 20:41

Podes crer que é. Com sotaque brasileiro...

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Pinto (IP registado)
Data: 05 de November de 2002 20:25

Não lhes fale do fim do mundo, porque o nosso belo mundo nunca terminará. Fale da próxima vinda de Cristo, com base em :

Mt. 24,3 - E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? 24:3

Repara na resposta que Cristo deu:

...................................E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. 24:6 Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. 24:7

De acordo com a resposta de Cristo, guerras, rumores de guerras, pestes, terramotos, nao sao sinais do fim do mundo, mas subentende-se, que são os sinais da sua próxima vinda.

Possívelmente, os seus miúdos, colocarar-lhe-ão outra questão do género:
é necessário morrer tanta gente só porque Cristo vai voltar ao mundo?
Aí é preciso explicar, que as guerras, as pestes e os terramotos, são consequências do pecado dos homens e Cristo vem salvar a todos exactamente no momento mais crucial da história da humanidade, para que todos creiam, que existe realmente, um Salvador para a humanidade.
Todos serão salvos, mesmo os que morreram vítimas das guerras, pestes e terramotos. O nosso Deus, vai provar ao mundo, que todo aquele que nele crê, mesmo que tenha morrido, terá a vida eterna, passando pela ressurreição.

A paz de Cristo!

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 05 de November de 2002 21:14


Ai, que pena puxarmos este assunto tão insipiente... Bem, também eu conheço essa questão da experiência mística localizada no cérebro. Até lhe chamam "neuro-teologia".

Dizer que o nosso cérebro "produz" religião é a mesma (e pior) estupidez que dizer que um piano "produz" música.

Quem advoga estas disciplinas são aqueles que, para além do fervor de uma nova área (que até gera emprego), vê aqui a oportunidade de desmitificar todo e qualque sentimento que nos aproxime da transcendência. Fora da investigação e já como conclusões subjectivas da maior parte desses investigadores, vem a noção de que todo o escrito sagrado e "Revelação" é uma experiência que permanece acessível apenas a alguns "iluminados". São hoje feitas experiências para simular tal "sensação", para que todos o possam sentir. Eventualmente, é do seu interesse compreender que, nos domínios antropológicos e neurológicos, a crença evoluiu com a Humanidade. Ou seja, o Homem criou Deus e n'Ele acredita para explicar um mundo confuso e para lhe trazer sentimentos de paz.

Depois diz-se que os monges budistas (acho que é porque está na moda - afinal, o budismo é a religião "sem Deus") costumam ter "mais sensação" desse tipo, muitas vezes desconsiderando a experiência mística de cristãos como, por exemplo, as freiras carmelitas em oração contemplativa. Este assunto também parece ser tratado como se de um mero "prazer espiritual" se tratasse. Ora, isto é muito mais uma concepção secularizada do que cristã. O que hoje se procura em coisas como a "meditação transcendental" e na "gnose" é um refúgio sob a forma de "iluminação superior" para os "stresses" quotidianos. Para os cristãos, o encontro com Cristo dá-se de forma absolutamente alegre e libertadora, numa confiança que nos enche que de arrependimento e amor, motivando-nos à conversão. Depois, na intimidade do amor e com uma prática de oração intensiva, podemos deixar Deus (para tais "cientistas" é um "deus" sem correspondência objectiva) actuar, envolvendo-nos na compreensão da nossa existência e impelindo-nos à acção caritativa.

Aquela concepção mundana faz apontar para que a experiência religiosa, embora repleta de significado, não tem significante, ou seja: o próprio Deus não existe, tudo se trata de processos bioquímicos e nervosos que resultam em sentimentos.

Resta dizer que seja na Super Interessante seja na Quo, o assunto foi tratado de forma superficial. Gostei mais de um artigo na revista das Selecções do Reader's Digest que já transcrevi e comentei, mas está no meu PC avariado... Depois falamos mais sobre isto...

Quanto a mim, surge uma conclusão óbvia: se somos corpo e alma, existindo os nossos pensamentos também no cérebro, mas para além dele, no conceito difícil que é "a mente", assim as experiências religiosas também demonstram actividade cerebral. Dá-se um afastamento do real e temporal e ficamos mais ligados ao "infinito", mas porque só assim podemos realmente amar mais profundamente. Queremos mais do que o que temos, em amor. Também não deixa de ser curioso a forma como estes cientistas reduzem o amor a algo equivalente a grandes doses de chocolate... Para mim, sempre senti que "oramos com o corpo", com tudo o que somos... Gosto de me mexer na oração, mudar de posição, em adoração, por isso também assim me parece natural que o meu cérebro se "prostre" diante de Deus e me possibilite amá-Lo. Aliás, acreditamos que foi para isso que Ele nos criou.

João

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 05 de November de 2002 23:21



João:
Somos o nosso corpo, isso é verdade. Oramos com o nosso corpo. Se estivermos em coma ou morte cerebral, não podemos fazer poesia ou experimentar o transcendente ou sentir a paixão ou inventar fórmulas matemáticas. Se tivermos uma demência de alzheimer em estado terminal não podemos debater filosofia ( nem sequer tomar banho sózinhos)....
A velha clivagem platónica corpo/espírito não tem sentido. Isto se quiseremos ter uma concepção holística do ser humano. Há quem não tenha - e veja o ser humano fragmentado, dividido ou reduzido a uma dimensão.... Dizer que os nossos pensamentos existem não apenas no cérebro mas para além dele não tem grande sentido... A não ser que os partilhemos com outros da nossa espécie, através desta coisa fantástica que é a linguagem....
Eu não disse que Deus não existe - disse que as experiências religiosas são universais e as neurociências trazem dados interessantes sobre o assunto. Sobretudo quando estão implicadas alterações dos estados de consciência relacionadas com experiências místicas - como as alucinações, um fenómeno muito descrito por místicos.
Quanto ao prazer espiritual,basta ler com atenção Santa Teresa de Àvila para ver como ele é real...
è verdade que as experiências comtemplativas são qualitativemente diferentes mas também muito parecidas...


ana

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 06 de November de 2002 00:23

Pinto:
Setodos vamos ser salvos aleluia. Não vale a pena inquietarmo-nos.

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: Pinto (IP registado)
Data: 06 de November de 2002 02:08

Cada um será salvo pelas suas obras, não pela quantidade de pecados que não cometeu.

Quando Cristo disse: Pai perdoai-lhes porque não sabem o que fazem, ele estava a pedir perdão por aqueles que não acreditaram nele, não para os que acreditaram, porque esses não necessitavam de perdão. Com aquele acto de perdão, Cristo realizou o perdão de todos os pecados cometidos e a cometer pela humanidade. A dívida que toda a humanidade tinha com Deus-Pai, foi saldada por Cristo. Todos serão salvos, o amor de Deus, é uma maravilha e deve ser interpretado de duas maneiras: a primeira aquela a que atrai para Cristo um grupo de pessoas que o escuta e o aceita e é salvo pela aceitação do filho de Deus. A outra que atrai um outro grupo de pessoas, que rejeita o filho de Deus e o leva para a cruz. Esse grupo de descrentes(aparentemente), é perdoado e salva-se através daquele acto de rejeição, que fez despertar a piedade de Cristo para com eles pedindo o perdão de Deus para eles.

Aqueles que dizem que só uns (os bons) se salvam, estão a anunciar um Deus preconceituoso, intolerante, sem amor, sem misericordia.

O meu Deus e o Deus de Cristo é o Senhor da vida, aquele que dá a salvação sem olhar defeito deste ou daquele.

Re: Será que existe DEUS ?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 06 de November de 2002 09:10

Pinto:
Isso com sotaque brasileiro tem mais impacto..
Se somos todos perdoaods e todos vamos ser salvos está-se bem.

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