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Virtudes vs. Pecados
Escrito por: Manuel (IP registado)
Data: 13 de April de 2005 01:27

Olá!

Um assunto que debatia num destes dias com um amigo meu era como a Igreja (Católica Apostólica Romana, à qual pertenço) fazia a sua pedagogia (chamem-lhe Pastoral, se desejarem).
Tendo ele formação em teologia, achei curioso a dificuldade em enumerar as sete virtudes capitais, em contraposição aos sete pecados capitais.

Já agora, a título informativo (se estiver errado, por favor corrigam-me):

Pecados Capitais - Virtudes Capitais
- orgulho - humildade
- avareza - generosidade
- inveja - caridade
- ira - mansidão
- luxúria - castidade
- gula - temperança
- preguiça - diligência

Que pensam disso?
Será nos dias de hoje adequado fazer uma pedagogia pela "negativa" ou pela "positiva"?

P.S. - Não sou apologista de qualquer corrente teológica de libertação, etc., só do que fomenta um desenvolvimento são e harmonioso ao ser humano como indivíduo e como comunidade.

Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: José Avlis (IP registado)
Data: 13 de April de 2005 06:07

Prezado Manuel

Já agora, tenho a honra de dar-te a minha sincera opinião sobre o que pretendes neste oportuno tópico, que fizeste o favor de abrir.

A pedagogia/pastoral dos Sete Pecados Capitais, versus Virtudes Essenciais, tanto se pode fazer pela "negativa" (a partir da pregação contra os respectivos pecados), como pela positiva (através da apologia das concernentes virtudes).
E isto pelo seguinte:

a) Se quiseres falar da soberba, poderás referir a doutrina evangélica dos fariseus que, para fingirem que eram bons e justos, exibiam-se como tais na praça pública; ou a oração do Fariseu e do Publicano no Templo.
Se preferires ensinar sobre a virtude da Humildade poderás optar pela referência do Nascimento do Senhor Jesus num curral de animais, ou pela vida oculta e abnegada de Maria Sua Mãe.

b) Se pretenderes falar da avareza, poderás referir, p. ex., a parábola do Rico Avarento. E, pelo contrário, se resolveres falar da Liberalidade (despojamento ou solidariedade) poderás aludir, p. ex., a parábola da Mulher pobre que generosamente ofereceu no Templo todos os bens que possuía (um simples dracma), ou os Discípulos que renunciaram a todos os seus bens para seguirem o Divino Mestre.

c) Se preferires falar da inveja, poderás ilustrá-la com a parábola dos Trabalhadores da Vinha. Se optares por falar da virtude oposta, a Caridade, então poderás apresentar a parábola do Bom Samaritano.

E assim sucessivamente...
Não é por acaso que para não pecarmos, ou para sermos cada vez mais puros, perfeitos e santos, tanto poderemos servir-nos do infinito Amor e Misericórdia de Deus, através do prémio da Vida Eterna (Paraíso), como poderemos recorrer, alternativamente, à imagem real do suplício eterno (o Inferno), para todos aqueles que rejeitarem consciente e voluntariamente o Amor e a Graça de Deus - tal como ensinava Jesus Cristo, e, à imitação d'Ele, como faziam todos os Santos, sobretudo através do seu bom exemplo.

Há, efectivamente, o imprescindível processo da conversão e santificação pessoal - evitando o pecado e todo o mal, vs. praticando a virtude e todo o bem -, através da doutrina do Amor Divino, por um lado, e, complementarmente, a do santo Temor de Deus, como legítimo e positivo meio dissuasor (por receio da eterna condenação).

Avlis





Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: Inês C. (IP registado)
Data: 13 de April de 2005 11:44

Olá Manuel,

a tua pergunta parece-me bem pertinente. À primeira, assim que li o que escreveste, a minha reacção foi pensar que negativismos já temos de sobra, às vezes especialmente dentro da própria Igreja. Não são raras as vezes em que se vê uma pedagogia orientada no sentido da condenação, da proibição, da "reprimenda", em detrimento de palavras de esperança e do apontar de novos caminhos. - Eu sei que, por mim, também enumero com facilidade os pecados capitais mas que não sei bem as virtudes correspondentes.
Já vivemos, além disso, num mundo suficientemente cheio de guerras, egoísmo, para ainda nós, enquanto Igreja, contribuirmos para o tom negativo geral.
Também, falando a jovens, não são especialmente receptivos à mensagem sobre a forma de condenação, acho que isso todos sabemos.

Num segundo momento, sei que também não é tudo assim tão linear. Vivemos num mundo negativo mas também de desresponsabilização, em que regras e certos conteúdos morais são tidos quase como "acessórios".
Somos humanos. Pecamos. Os pecados capitais são uma realidade, e se calhar cada vez mais banalizada. O que quero dizer é que mesmo uma pedagogia positiva não pode ser "ingénua": temos efectivamente que tomar consciência de que somos falíveis e não somos imunes ao pecado. É exactamente desta consciência que pode nascer a força das virtudes capitais, enquanto modo de perseverar no bem.

Mas frente a esta tomada de consciência não pode faltar a mensagem positiva nunca!
Pecados e virtudes capitais, de certo modo, complementam-se (para termos de pedagogia, digo) mas que faceta quero sublinhar?
Eu prefiro sublinhar a mensagem de esperança das virtudes enquanto manutenção do caminho para Deus, mais que o anúncio “negativo”, chamemos-lhe assim, dos pecados capitais enquanto caminho de perdição.

Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 13 de April de 2005 21:28

Para complementar o que já aqui foi dito, sempre que falamos de pecado, devemos falar também da graça de Deus e do perdão dos pecados.

Durante anos e gerações, a pedagogia mais usada foi, aquilo que eu chamo, a pedagogia do medo: «Não faças isso, porque vais para o Inferno. Não faças aquilo que é pecado.», quando deveria ser a pedagogia do amor: «Não faças isso porque Deus te ama, e porque nos convida a também amá-lo, a Ele e a todos os nossos irmãos.»

Luis

Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de April de 2005 09:48

Só queria introduzir uma nuance nestes ensinamentos tão ordenados...
SE tudo fosse assim tão simples e básico... Se todos os sentimentos e comportamentos humanos pudessem etiquetar-se com esta lógica infantil do preto e do branco, do bonzinho e do mauzinho...

O problema é que em nome de muitas virtudes se cometem muitos pecados e e que há muitos actos que parecem ser pecados mas são virtudes evangélicas ...

Por exemplo, pode haver um profundo orgulho em actos de humildade...
E a autaocastração em nome da castidade pode dar um gozo de luxúria...
Pelo contrário a luxúria pode ser uma virtude..

A mansidão e apatia podem até ser um pecado em certas circunstãncias e a ira sinal de santidade ( lembrem-se da ira de jesus no templo,,,)

A "diligência" pode ser um grave pecado - estou a pensar nos dependestes do trabalho...
e apreguiça - o saber para e apreciar a doçura da vida pode ser uma virtude...

Em suma, o discernimento interior é um processo complexo e pessoal...

Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de April de 2005 16:56

Um exemplo concreto :
Em nome do amor a Deus e da mais profunda convicção religiosa, e, nome do cumprimento das leis bíblicas deve deixar-se morrer uma pessoa??



"A importância de uma transfusão de sangue

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida prepara um parecer para que seja possível aos médicos realizar transfusões de sangue a testemunhas de Jeová, sobretudo nos casos em que o doente é menor.

O parecer começou a ser elaborado depois de um pedido do ajuda do hospital Padre Américo, em Vale de Sousa, onde estava internada uma criança de 14 anos a quem os pais, testemunhas de Jeová, impediam uma transfusão que lhe podia salvar a vida.

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida já ouviu representantes da Associação das Testemunhas de Jeová e prepara um parecer que pode levar a uma decisão histórica.

Por uma questão religiosa, e mesmo nos casos em que a vida está em perigo, as testemunhas de Jeová recusam receber qualquer transfusão "


Re: Virtudes vs. Pecados
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 16 de April de 2005 16:44

Olá a todos

Há já algum tempo que visito este site e este fórum em particular. Aproveito a oportunidade para congratular a iniciativa e os seus participantes pela coragem que demonstram em debater questões tão sérias e profundas num local tão público, sujeitando-se ao contraditório por parte de desconhecidos.

Este tema despertou em mim a ousadia de partilhar algo que, recentemente, me disseram sobre o pecado, o qual me fez e faz muito sentido.

Em conversa sobre este tema, o meu interlocutor, disse-me que o pecado é: “a ausência de Bem. Isto é, sempre que em pensamentos, palavras, actos e omissões estamos a perturbar o equilíbrio do Bem instalado, ou seja, estamos a desequilibrar aquilo que é suposto ser o bem e o correcto, prejudicando-nos nós próprios e aos outros.” Ainda em conversa, alertou-me para o facto de muitas vezes a nossa capacidade inteligível criar justificações mais ou menos plausíveis, que nos cega os olhos, e deixarmos de ver a verdade por detrás daquilo que causou ou não o desequilíbrio do bem. E é por isto devemos fazer o tal exame de consciência, avaliando devidamente o que fizemos ou não fizemos e porquê, mas principalmente, avaliando o grau de consciência de cada um dos nossos actos, palavras, pensamentos e omissões. (Esta última parte, não terá sido exactamente por estas palavras, mas o conteúdo é este).

Era isto que queria partilhar convosco. Esta curta e profunda conversa que resultou num processo de auto-avaliação quase imediato, o qual ainda decorre,...e acreditem que comecei a olhar para mim própria com outros olhos, um olhar ainda mais crítico sobre a minha pessoa.

Quero ainda acrescentar, que todo este raciocínio me fez lembrar o tal ditado português:”De boas intenções está o inferno cheio”. Exactamente por isto, porque todas as virtudes tem o seu complementar (o seu oposto), e porque aquilo que para mim é Bem, para outro pode ser Mau. Lembremo-nos da parábola daquela velhinha que no templo dá uma moeda, mas isso é tudo o que têm, enquanto o homem rico dá o que não lhe faz falta, para mostrar que tem possibilidades para dar. Na realidade ambos dão ao templo o seu dízimo, mas a forma como o fazem e porque o fazem é diferente.

Relativamente ao perdão, sabemos que Deus olha para nós com olhos cheios de Amor, e portanto creio que nos perdoará mais facilmente a nós, do que nós a nós próprios. É meu entendimento, de que a tónica deve ser colocada neste ponto. Devemos aprender a olhar para nós, para os outros e para Deus com olhos cheios de Amor, pois só o Amor nos permite ver a realidade que Deus nos quer revelar, e assim também avaliar os nossos pensamentos, actos, palavras e omissões.

Espero que esta nota, sobre o que é para mim o pecado, faça algum sentido ao Manuel e que o ajude na sua busca interior, bem como aos outros participantes deste fórum.


Antonieta






Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

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