Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Arquivo - Geral

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Tolerância...?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 17:39


Deixo-vos este artigo para análise.

Partilho inteiramente desta posição e poderia acrescentar mais alguns pontos, em particular relacionados com o relativismo religioso, que pede também "tolerância", ou seja, permissão para aderir livremente ao erro, se for essa a opção do indivíduo.

[continua no final]

------------------------------------------------------------------------------------------------

SOU CONTRA A TOLERÂNCIA...

Porque não gosto da palavra nem do que ela insinua.

Habituámo-nos tanto à intolerância nas relações humanas que até achamos que a tolerância é uma virtude: Quando um Caim do nosso tempo mata um Abel, inocentemente desprevenido, a reacção é: devia ter dialogado mais em vez de se declarar simplesmente inocente, devia aceitar algumas desculpas por ser bom ou ser melhor, se calhar até devia implorar tolerância porque o Caim, do alto da sua arrogância e do seu poder, se prepara para feri-lo de morte. E é melhor estar vivo, embora humilhado, do que morto.

Proclamar a tolerância, declarar, solenemente, o Ano Y como o Ano da Tolerância, leva o sujeito desprevenido a aceitar que os homens não são todos iguais, que há homens superiores, de primeira categoria, e outros de categoria inferior e que estes devem esperar dos primeiros tolerância, a benfazeja tolerância, a tolerância humildemente desejada, quando não implorada.

Sou contra.

Componho um conceito de relação humana de uma extracção diferente.

A identidade essencial dos seres humanos não é fácil de ver; o que mostra, por aí, é a diferença que, sendo meramente superficial, passa por essencial a olhos menos argutos. Até a roupa serve para dar visibilidade a suposta diferença - vejam as fardas, os galões, as togas, os hábitos talares. O hábito não faz o monge, diz-se; mas imita-o, digo eu; e na imitação, o que se pretende inventar é a diferença.

A Humanidade é teimosa, insiste e persiste em louvar a diferença. Foi preciso mudar de milénio para todos sabermos que somos iguais no que nos identifica como Hómo, que é o genoma humano finalmente decriptado.

Será o genoma o equivalente secular da alma?

A pergunta não é tola e foi feita por Alex Mauron, Ph. D. em Biologia Molecular e professor de Bioética na Faculdade de Medicina de Genève. É o título de um seu artigo publicado na conceituadíssima revista "Science", em 2001.

A argumentação é curiosa e não vou aqui expô-la.

Direi, apenas, que a noção de um programa genético poderá ser aproximada da noção de eidos em Aristóteles, que era o princípio organizador de todas as coisas vivas. Para Tomás de Aquino este princípio é a alma - vegetativa, nas plantas, sensitiva, nos animais, e intelectual, nos seres humanos.

Sendo o genoma o eidos, ou forma, ou alma, o zigoto humano é uma forma humana; todos os zigotos são iguais, são irmãos no genoma, formem-se eles no Alasca, nos trópicos ou em Nova Iorque.

Curiosamente, Alex Mauron diz que o esforço gigantesco para descodificar o genoma e conseguir ler o Livro do Homem faz-lhe lembrar a saga da procura do Santo Graal, o que teria escondida a explicação da verdadeira natureza dos humanos. Parece que os grandes mitos sempre têm alguma verdade, embora oculta à curiosidade dos profanos. Pressinto que este afã pela tolerância é um embuste e não quero cair nele.

Não tenho nada que tolerar o outro; tenho de amá-lo porque ele é, na sua essência, igual a mim, mesmo sendo eu um prof. aposentado e ele o toxico dependente que me pede um euro quando arrumo o carro num parcómetro. Euro que não dou porque não tenho de o tolerar. Nem tolero e dar-lhe dinheiro não é amá-lo.

No seio de instituições justas, a tolerância é um absurdo e um inutilidade. Se as instituições são injustas, a solução não será, nunca, a tolerância e será, sim, o combate permanente pela instauração da justiça, como equidade.

Onde há justiça não pode haver tolerância.

E se não há espaço para a intolerância, para que servirá falar de tolerância?

Não. Decididamente não gosto da palavra nem do que ela insinua.

DANIEL SERRÃO
Membro do Comité Director de Bioética do Conselho da Europa
in "Revista Humanidades", n.º 5, Janeiro/Março 2002

------------------------------------------------------------------------------------------------

Aqui ficam os meus comentários...

Qualquer cristão só pode mesmo crer que Jesus Cristo é O Caminho, a Verdade e a Vida. Ou seja, não é "um" deles, mas o Único Verdadeiro e Pleno. Para a Igreja, as outras crenças são tão mais verdadeiras na medida em que mais se aproximem do seu depósito de fé.

Como vivemos numa sociedade plural, devemos conviver saudavelmente com uma fé tão... verdadeira! :o) Isso é possível com um diálogo desinteressado (nunca proselitista - e aqui inclui-se o proselitismo do relativismo!), de partilha e edificação da verdade que sempre existe no outro, apesar da diferença. Devemos ser capazes de discordar uns dos outros em termos religiosos, conservando o que é autêntico no seu lugar (se és católico romano, és católico romano, se és protestante, és protestante - e boa sorte na confusão! ;o) -, se tens crenças "New Age" - Nova Era -, és "aquariano", se segues o Espiritismo, és espírita, etc.) e não entrar em sincretismos.

Devemos fazer todos um esforço por, no meio de tanta diversidade, prevalecermos pela autenticidade da nossa opção de fé. Não é por eu dizer que a Igreja Católica Romana é a verdadeira "religião" (Cristo sendo verdadeiro Filho de Deus, Ressuscitado, e sendo Pedro o Príncipe dos Apóstolos, detentor das chaves do Reino do Céu) que todas as outras crenças se sintam frustradas: estudem, orem, e considerem tudo por vós mesmos, pois nada é imposto. Se sentirem que ainda assim a verdade é relativa, pois bem, a Igreja está em paz com as religiões. Aliás, tomámos passos exemplares ultimamente e até já cometemos algumas concessões perigosas... Só podemos exigir uma coisa: que respeitem a autenticidade da fé católica tal como qualquer um a exige para a sua crença. Assim será possível a harmonia.

João

Re: Tolerância...?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 17:56


Ah... só mais uma coisa. Se a Igreja exige MAIS em relação à protecção do seu depósito de fé, é porque simplesmente é algo de muito precioso a respeitar ao mais alto grau. Afinal, não dizemos nós que é a Verdade? :o) Assim, talvez deva mesmo ser a Igreja a estabelecer a magnitude do respeito para com cada crença: e todas poderão então exigir para si o mesmo respeito... Ainda que por mais incrível que pareça sejam crenças absurdas e incongruentes, em nada dignas do mesmo respeito: porque em estados laicos não existe "verdade religiosa" a defender, cada um acredita no que lhe apetece...

Enfim, vivamos em paz e procuremos ardentemente a Verdade! Ninguém é "dono" dela mas eu já encontrei, pelo menos, o maior depósito das que estão "disponíveis" (ou alcançáveis...) por esse mundo fora, numa unidade visível, mundial, em forma de família! ;o)

João



Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.