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Eleições católicas?
Escrito por: Pinto (IP registado)
Data: 02 de October de 2002 23:46

Para quando, eleições na igreja católica?

Quando terá o povo católico, o direito de livremente votar nos seus dirigentes espirituais, tais como: Papas, Cardeais Bispos e Priores?

O Espírito Santo, age em todos os que acreditam em Cristo e formam a sua igreja.

Saudações!

Re: Eleições católicas?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 10:31

Para os mais distraídos, a Igreja Católica não é propriamente um governo de um país, ou uma empresa multinacional onde é por votação que se elegem os seus líderes.

Jesus escolheu Pedro de entre os doze, pois foi ele que, sem hesitação, respondeu que Jesus era o Messias. Teria feito sentido, Jesus ter pedido aos doze para eleger um dos doze por votação? De forma alguma...

Todavia, a eleição do Papa é feita por votação democrática entre os possíveis eleitos (cardeias).

Não é por os leigos não votarem para a eleição dos líderes da hierarquia católica que tem menos importância na vida da mesma. Os leigos desempenham uma papel fundamental na Igreja Católica, e esse papel tende cada vez mais a ter maior importância. Porém, é necessário que os leigos interiorizem esta importância e a assumam com a devida responsabilidade.

Luis

Re: Eleições católicas?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 17:02


Concordo inteiramente contigo, Luís... E quanto a Pedro, Jesus escolheu-o por razões que podemos apenas definir por aproximação... As finalidades sim, são óbvias: uma única família do Deus vivo, assente na Igreja que é pilar e fundamento da verdade. Jesus já o tinha escolhido ainda antes de ele o proclamar como Messias (ver o princípio do Evangelho segundo S. João), sabendo de antemão que ele O haveria de negar, mas ainda assim decidiu escolhê-lo para apascentar as suas ovelhas. Ensinou-nos assim que a sua instituição eclesial não depende sequer da santidade imaculada de um homem, que não é impecável mas muitas vezes infalível, sendo guiada e protegida pelo Espírito Santo (e vejam a história de Abraão e Moisés e identifiquem os pecados deles - ainda assim, Deus os escolheu!).

A Igreja Católica não é "mais uma" instituição onde se vêm reclamar direitos, poderes e "cidadania" nem onde se vêm propagandear ideologias "modernas". Os "progressistas" e as feministas radicais também estão equivocados nesse ponto.

No entanto, existe certamente a participação do povo enquanto parte do Corpo místico.

Ah! E ainda "para os mais distraídos", a Igreja tem renovado e aceitado cada vez mais a voz dos fiéis desde que a prática religiosa se vem a personalizar ou mesmo individualizar, o que começou lá atrás no séc. XV. Se os fiéis exigirem mais e melhor de si, exigirão mais e melhor de toda a Igreja.

Basta ler os documentos do último Concílio (mas cuidado com as ambiguidades!) e o próprio Catecismo para identificar a dimensão do "poder" que cada fiel tem.

Mas acho que falta falar de uma coisa: nós somos Igreja para nos servirmos mutuamente. Logo, não é com o anonimato de um voto que se muda algo na Igreja, pois é necessária a colaboração. Nem tal seria possível porque a Igreja existe para servir e oferecer a todo o ser humano a mais profunda e autêntica comunhão com Deus possível. Isso é muito diferente de uma opção particular neste ou naquele assunto.

Devemos incentivar o diálogo com a hierarquia de forma ordenada mas que isso não se confunda com votações - porque a Igreja não vai pela maioria (ou não devia de ir...) mas sim pelo que é verdadeiro para Deus.

Devemos todos rivalizar numa só coisa: o amor. Se assim for, certamente que os sacerdotes exigirão mais santidade dos leigos e estes daqueles, pois fazem parte da mesma FAMÍLIA (e não "organização")!

João

Re: Eleições católicas?
Escrito por: Pinto (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 20:24

Com esta mentalidade, não sei como a igreja católica consegue participar da democracia dos paises onde ela está instalda.

Verdadeiro fascimo no coraçõo da igreja de Cristo.

A propósito, na era e no país em que Cristo viveu, praticava-se a democracia?

Paz e bem!

Re: Eleições católicas?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 08 de October de 2002 06:56

Ora aqui está um bom tópico provocador e interessante, mas parece-me incorrecto o tom da última mensagem do Pinto. Numa discussão que se pretende minimamente séria e responsável fica mal atirar afirmações gratuitas como a de que a alegada falta de democracia na Igreja é “verdadeiro fascismo no coração da Igreja de Cristo”. Ou se desconhece o que é o fascismo (e isso é uma forma de o banalizar) ou se pretende apenas atirar pedras à Igreja (e nesse caso a tónica do debate muda muito). Há que evitar fundamentalismos, também na forma.

Penso o seguinte: a Igreja não deve ser uma democracia (“tout-court”), mas deve ser mais “democrática”, isto é, tem que ser maior a PARTICIPAÇÃO de todos.

A grande questão é, de facto, a da participação. Com o andamento dos séculos a Igreja tornou-se, no seu modo de funcionar, demasiado clerical. O Vaticano II foi uma grande lufada de ar fresco, não para trazer coisas novas, mas para recuperar o que já existia no princípio. Há ainda muito a fazer.

É preciso manter os dois pólos da questão, sem nunca esquecer nenhum deles: 1) a Igreja não é uma democracia (tal como dizem o Luís e o João), mas 2) é necessário haver mais espaço à participação de todos os baptizados. Tendo isto em mente, prossigamos. A Igreja não é, não pode ser uma democracia, já que o fundamento da Igreja não é o mesmo que o de um estado. Nem a relação entre os líderes da Igreja pode ser a mesma que as de um estado ou de uma empresa. Os padres não são os empregados dos bispos, nem estes os agentes do Papa.

De resto, pensemos na importância do aspecto doutrinal. O facto de a maioria pensar uma determinada coisa em matéria de religião não faz dessa coisa que seja verdadeira. Não é o número que dá autoridade. A autoridade vem de Jesus Cristo e do seu evangelho transmitido pelos Apóstolos. Nada me garante que a opinião da maioria é a verdade, até porque numa sociedade tão volátil como a nossa, onde o peso das sondagens e da publicidade tudo tende a ser “relativo” e opinável. E sabemos que a maioria não está necessariamente certa. Será um líder mais popular necessariamente o melhor?

[Um aparte: De resto, mesmo no campo político a democracia “pura” é um mito. Como dizia há dias numa conferência o Dr. Pacheco Pereira, a democracia funciona porque contém no seio dela elementos não democráticos. Certo. Nem tudo se pode referendar ou colocar sob o voto, sob o risco de nada se fazer. Não podemos eleger os nossos políticos cada mês e um governo não pode ser demitido por cada medida impopular que publicar.]

Mas é preciso que haja maior PARTICIPAÇÃO dentro da Igreja. Como baptizados somos em Cristo uma família de irmãos, não uma sociedade de castas ou de classes onde uns são nobres e outros plebeus. Com isto limito-me a parafrasear S. Paulo. Creio que hoje há de facto um défice de participação, sobretudo por parte dos leigos, em importantes decisões nas comunidades cristãs (paróquias e dioceses). Não é necessário que a condução dos destinos da paróquia seja decidida por voto, mas é importante que o Conselho Pastoral Paroquial (quantos existem?) funcione. Não é necessário que sejam os leigos a eleger os bispos, mas isso não tira que eles não tenham uma palavra importante a dizer sobre os bispos que querem. Nos primeiros tempos da Igreja muitos bispos foram eleitos pelo povo. Basta lembrar que Santo Ambrósio (século IV), o grande bispo de Milão, foi eleito bispo, por aclamação do povo, quando ainda era apenas catecúmeno! Com o tempo e por causa de abusos aqui e ali as coisas tenderam a centralizar-se, demasiado. A participação dos leigos deverá ser mais do que dizer em coro um mais ou menos solene “Amén”.

A Igreja não tem medo da democracia (não deve ter), até porque os princípios de uma sã democracia não se contrapõem aos valores cristãos. Ou será?

Finalmente, a propósito de “saber” se na era e no país de Jesus se praticava a democracia, para não carmos em anacronismos, convém notar que a sociedade onde Jesus viveu é o resultado de cruzamentos de grandes “ondas” civilizacionais. Destaquem-se duas: por um lado temos uma sociedade claramente patriarcal e, por outro, a influência greco-romana. “Oficialmente” a democracia começou na Grécia de Péricles, uns séculos antes de Cristo. Uma democracia onde curiosamente havia uns mais iguais que outros (mudámos um “pouquinho”), pois era uma sociedade esclavagista. O Cristianismo traz a novidade de todos sermos filhos no Filho, pelo que já não há homem nem mulher, judeu ou grego, escravo ou homem livre. O que falta é fazer o Cristianismo acontecer, não esquecendo a tensão que mencionei.

Alef
aleftau777@hotmail.com

Re: Eleições católicas?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de December de 2002 18:58


Coloco aqui o texto que já tinha utilizado para criar o tópico NEM TUDO PODE IR A VOTOS.


Excelente artigo, faz referência aos processos de discernimento sobre os valores, apontando para a impossibilidade da discussão se "o aborto está certo ou não" (em relação ao qual omito a citação -- ver no tópico indicado), e acabando com uma referência esclarecedora sobre a "democracia" na Igreja.


NEM TUDO PODE IR A VOTOS

"(...) A força da democracia está na aceitação do voto para fazer maiorias que governem, mas necessariamente em jogo de alternância. Hoje governam uns, amanhã podem governar outros, mas uns e outros com igual legitimidade, por respeito para com a opção da maioria, em cada consulta popular.

Mas nem tudo pode ficar dependente de maiorias democráticas, sob pena de se cair na insegurança do relativismo e até no império da mentira. Não se pode cair no extremo de pretender que só valha no mundo aquilo que uma certa opinião pública democraticamente decidiu que valesse.
Ninguém se lembra de consultar um país sobre se a verdade vale mais do que a mentira, o amor mais do que o ódio, e a justiça mais do que a injustiça. E assim por diante. Há valores morais e culturais que são universais e permanentes, não podendo ficar ao sabor dos gostos de ocasião.

(...)

Vem a propósito advertir que o recurso ao voto numa assembleia sinodal ou conciliar da Igreja não pode equiparar-se à votação num referendo popular ou num parlamento democraticamente eleito.
Nas votações formalmente democráticas, inquire-se qual seja a vontade da maioria, para dar validade a uma decisão legislativa.
Numa votação sinodal ou conciliar, na Igreja, o que se procura é verificar qual seja a tradição comum e o que será mais conforme com ela. A verificação do consenso na Igreja ou entre Igrejas é apenas critério da verdade recebida por tradição, e não o fundamento da sua validade.
Uma votação nem dá para tudo nem tem sempre o mesmo sentido."


in Boletim da Família Paroquial de Nossa Senhora do Amparo (Benfica - Lisboa)
N.º 310, Julho - Setembro 2002


João



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