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Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 02 de October de 2002 15:18


Ontem aconteceu a celebração de uma das (poucas) Doutoras da Igreja. Chama-se Sta. Teresa de Lisieux, mas também é conhecida por Sta. Teresinha do Menino Jesus. Acho que também a apelidam de "Pequena Flor de Jesus".

É, para mim, um exemplo evidente de como a sabedoria não escolhe idades: mas a Graça de Deus concede-a a quem Ele chama e O ama profundamente. E se Ele a chamou a Si "cedo de mais" (na nossa - sempre! - humilde opinião), então mais inquietos ficamos nós com o que ela nos poderia ter feito descobrir, ou interrogarmo-nos sobre o porquê de não a ter Deus deixado vier mais, para nos ensinar. Quem sabe o que sairia daquela "cabeça"? :o) Mas talvez não seja esse o plano de Deus...

Surpreendente... Esta "sabedoria", que bem podia ser uma "filosofia" da meninice, atinge mais a verdade sobre a essência do ser humano que qualquer outra "ideia". Deus sabe que devemos amar como crianças e Sta. Teresa ensina-nos muito sobre isso.

É que acontece estarmos a falar de SOFRIMENTO. Se, como ouvi dizer, amar é sofrer, então estamos perante uma das maiores amantes de Deus. (A maior, sem sombra de dúvida, é Maria, Mãe de Nosso Senhor e Nosso Deus.)

Passo a citá-la de uma obra admirável de outro autor, François Varillon, S.J.. O título é apropriado: "O sofrimento de Deus" (Editorial A.O. - Braga). Trata-se de uma obra muito especial, que em pouco mais de 100 páginas se tornou, para mim, num manancial inesgotável para a compreensão de toda a minha existência, da existência de todo e qualquer ser humano. É certamente um daqueles livros que surpreendem pela sua concisão, que nos deixa ávidos de mais explicações... Mas na verdade o que queremos é que nos tornem mais "confortável" a leitura, sem compreendermos que o caminho que a obra aponta é um de emancipação espiritual, que pode durar toda uma vida... São palavras intensas, inspiradoras e directas.

Aqui fica a descrição que se encontra na contra-capa desta edição e em seguida dois parágrafos pelo autor, aos quais se seguem as já anunciadas palavras de Sta. Teresa (que são precisamente os últimos parágrafos da obra).

"Um Deus impassível que, do alto da sua glória, contempla o mal e a infelicidade do mundo! Esta é uma imagem que continua viva nas profundezas do inconsciente. Mas se nada O afecta na sua eterna serenidade, Deus é indiferente e insensível ao drama da humanidade.
Será que devemos esquecer o sofrimento da humanidade para cantar os louvores do Deus três vezes santo? Mas o sofrimento permanece! Actualmente, alguns teólogos interrogam-se sobre o sofrimento de Deus diante do mal que assola a terra. Com a sua coragem intelectual e a audácia da fé, o P. Varillon percorre os caminhos deste mistério.
Depois da leitura deste livro, é difícil não estar de acordo com o P. Jacques Guillet: «Pessoalmente, não posso conceber Deus senão com estes traços». Porque estes traços coincidem claramente com aqueles que a Bíblia revela."


"Aquele que não sofre só ajudará a meias aquele que sofre. Cada um de nós sente-o, ainda que confusamente, e por isso hesitamos, quando estamos a sofrer, em recorrer a vizinhos bem instalados, porque, apesar de vizinhos, não são próximos. Em caso de necessidade, fazemos a tentativa, mas de má vontade: não há sintonia. Quando as cordas de dois violinos estão bem afinadas, se uma vibra, a outra canta. Mas a piedade condescendente, mesmo concretizada em socorro espontâneo e generoso, não toca musicalmente a alma do necessitado.
Deus contacta connosco «musicalmente». A Graça é vibrante. «Senhor, tem piedade» é ambíguo. É um coração batendo dolorosamente que nós invocamos.

(...)

A unidade do sofrimento e da beatitude é o segredo de Deus. S. Teresa de Lisieux entreviu-o e desejou participar nele. Desejo que foi, cá na terra, começo de realização. Sem dúvida que a maior parte das pessoas necessita duma longa caminhada bíblica, especulativa e poética, para saborear a incomparável candura com que ela enuncia, em palavras muito simples, aquilo que em linguagem académica chamamos a «coincidência dos opostos». O dom da sabedoria ultrapassa o da inteligência e mais ainda o da ciência:

«Cheguei ao ponto de já não poder sofrer, porque todo o sofrimento é suave para mim.»

«O pensamento da felicidade celeste não me causa nenhuma alegria, e até me pergunto, por vezes, como será possível ser feliz sem sofrer. Sem dúvida Jesus vai mudar a minha natureza; doutro modo vou ter saudades do sofrimento e do vale de lágrimas.»

«Encontrei a felicidade e a alegria na terra, mas unicamente no sofrimento, porque sofri muito neste mundo... A partir da primeira comunhão, depois que eu pedi a Jesus que me mudasse em amargura todas as consolações da terra, tinha um perpétuo desejo de sofrer. Não pensava, contudo, em fazer disto a minha alegria; foi uma graça que me foi concedida mais tarde. Até então, era como uma centelha escondida debaixo da cinza e como as flores de uma árvore que se devem transformar em frutos a seu tempo. Mas vendo sempre cair as minhas flores, quer dizer, deixando-me cair em lágrimas quando sofria, dizia a mim própria, com assombro e tristeza: Mas tudo isto não será nunca senão desejos!»

«Os anjos não podem sofrer e por isso não são tão felizes como eu. Mas como ficariam espantados por sofrer e sentir o que eu sinto! Sim, ficariam muito admirados, porque eu também estou!»

«Não posso pensar muito na felicidade que me espera no céu. Uma só expectativa faz bater o meu coração: é a do amor que eu receberei e poderei dar.»

«Sentia que nesta matéria a minha alma era nova. Era como se pela primeira vez se tivessem tocado cordas musicais esquecidas até esse momento.»

Estes textos, para quem sabe ler, não contradizem «o murmúrio contínuo do meu coração» (Sl 19, 15):

«Existe a alegria, que é a mais forte.»


João

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 02 de October de 2002 15:39


Fica assim aberta a oportunidade para pensarmos, orarmos e depois partilharmos sobre isto do "sofrimento de Deus".

Será um tema inquietante e problemático para aqueles que ainda não tinham pensado sobre ele.

Deixo aqui algumas questões...

Será que Deus sofre?

Será concebível que não sofra?

Não incluirá a perfeição do amor de Deus o próprio sofrimento, que tanto nos provoca a nós, humanidade, o amor?

Como pode Deus sofrer e o que acontece quando Ele sofre?

Recomendo a todos a leitura daquele livro. Em breve, na mailing list do [br.groups.yahoo.com] começarei a enviar excertos dele a cada dia ou par de dias, citando todo o texto da obra. Espero não estar a fazer nada de ilegal... :o) Bem, já sabem que é só para leitura privada e que os direitos de autor são da Editorial A.O.!

Quem estiver interessado, entre no grupo e faça-se membro.

Com essa leitura tornar-se-á certamente mais fácil compreender o tema e sentir algo para partilhar.

N'Ele,
João

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 04 de October de 2002 01:09

Deus sofre com o sofrimento de cada ser humano.

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 08 de October de 2002 07:00

Estou de acordo: este livro de François Varillon, «O Sofrimento de Deus», é uma verdadeira maravilha.

Alef

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 09 de October de 2002 01:20

Permitam-me que discorde :-)
Não conheço o autor, François Varillon, nem o livro em causa, pelo que não posso dar a minha opinião. Apenas posso dar a minha opinião sobre o "Sofrimento de Deus".

Não acredito que Deus sofra!

Eu explico. Deus é Amor. Deus é a perfeição. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e dotou-o de livre arbítrio, de livre vontade. Todavia, disse-lhe o que era bom e o que não era bom, mas é o homem que decide o que fazer.

Deus é omnipotente. A Deus tudo é possível, sem Ele nada existiria, nada acontece contra a Sua vontade. Se Deus sofresse é porque algo estaria a acontecer contra a sua vontade. Ora isso não é possível...

Mas então, se Deus não sofre... como é possível que Deus não sofra com tudo o que de mau existe à face da Terra? Fome, miséria, morte e tudo o que de errado existe?

Tudo o que existe de bom e de mau à face da Terra é porque o homem assim o quis. Bem ou mal, foi essa a sua vontade. Poderíamos não ter pessoas a passar fome em todo o mundo, bastaria para isso investir menos de metade do dinheiro que se investe em armamento nos EUA, ou o que se gasta em perfumes em todo o ocidente.

Como já devem ter reparado, não sou muito apologista do sofrimento. Acho que a mensagem de Deus nos dá é uma mensagem de Amor, não de sofrimento. Embora, Jesus alerte para o sofrimento «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.» (Mt 16,24) , Jesus mostra-nos também que a glória que nos espera não tem comparação com os sofrimentos do tempo presente (Rm 8, 18-30).

Acredito que ao longo da nossa vida vamos encontrando alguns obstáculos, mais ou menos difícieis de ultrapassar, causando maior ou menos sofrimento. Mas é isso a nossa vida, e Jesus convida-nos a seguir em frente, pegando a cruz e seguindo-o.

Luis

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de October de 2002 20:37


:o)

Só te posso dizer uma coisa Luís: LÊ O LIVRO! ;o)

São só umas 100 páginas...

Mas acredita, Deus é compassivo, Deus sofreu por nós enquanto também era carne, chorou e sangrou... Existirá tanta perfeição no amor que Deus nos tem, se Ele não sofre por nós...? Essa é uma concepção demasiado aristotélica, de um Deus supra-sumo, não a de um Deus que se deixa humilhar e crucificar.

João

Re: Sta. Teresa de Lisieux e o sofrimento de Deus
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 28 de October de 2002 20:11


Em relação ao sofrimento de Deus, esta passagem do Catecismo pode ajudar. Explica a intimidade que existe em Cristo entre a alma racional humana (natureza humana) e o Filho de Deus (natureza divina). De facto, a Encarnação do Verbo.

468 - (...) Tudo na humanidade de Cristo deve, portanto, ser atribuído à sua pessoa divina como seu sujeito próprio; não só os milagres, mas também os sofrimentos e a própria morte: «Aquele que foi crucificado na carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e um da Santíssima Trindade».

João



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