Bem a propósito...
Alef
Oração de Taizé Já Se Reza em Lisboa
Nuno Mira, 29 anos, esteve em Taizé (França) em 2001 e está "radiante" porque o encontro europeu de jovens promovido anualmente por aquela comunidade de monges decorre "finalmente", e após 27 edições, na capital portuguesa. Será entre 28 de Dezembro e 1 de Janeiro que, de toda a Europa e de outros continentes (e de Portugal), milhares de jovens virão a Lisboa, onde serão acolhidos por portugueses, para fazer uma experiência de oração e encontro com outros.
"No centro do encontro não há um 'grande acontecimento' ou algo de muito espectacular . Há, sim, a descoberta da vida interior. Encontra-se tempo e espaço para rezar". A ideia está expressa num guião de apresentação da iniciativa que está já a ser distribuído aos milhares pelas dezenas de paróquias de Lisboa, Santarém e Setúbal que acolhem o encontro.
É essa experiência que se faz já, desde segunda-feira passada, na Igreja de São Nicolau, em Lisboa. Será assim, de segunda a sexta-feira, às 19h15, até 18 de Janeiro (a oração continuará depois do encontro). São três quartos de hora preenchidos apenas com cânticos e um texto bíblico em diferentes línguas, e um grande tempo de silêncio. "A sobriedade dos gestos e das palavras cria um espaço de liberdade, onde se torna possível encontrar paz interior."
Uma melodia simples, harmoniosa, é entoada enquanto as pessoas vão chegando. Da frente do altar-mor foram retirados alguns bancos e há quem se sente no chão, à volta dos monges vestidos de hábito branco. Há algumas velas em cima do altar, dois grandes ícones orientais - a Trindade, de Rubliov, e a Virgem de Kazan - e algumas folhas penduradas num candelabro lateral da igreja, com os números dos cânticos usados em cada dia.
O ambiente de interioridade está criado. "Vem Espírito Santo", canta-se em latim. Uma guitarra introduz o tom, junta-se depois a delicadeza da flauta transversal. "Deus, sumo bem, no calor és brisa, és no pranto doce alívio". Depois de outro cântico, uma pequena leitura bíblica é dita em várias línguas - além dos monges, há algumas Irmãs de Santo André e voluntários de vários países que vieram ajudar a preparar o encontro. E um grande silêncio toma conta da igreja e da centena, centena e meia de pessoas que esta semana diariamente ali tem acorrido. Da rua chega, em surdina, o bulício da Baixa de Lisboa. "Muitas pessoas fazem a experiência de que a oração pode transformar o quotidiano", diz ainda o guião de preparação.
No final da oração, muitos participantes ficam à porta a combinar pormenores da preparação. Centenas de pessoas estão há envolvidas nesta fase prévia ao encontro. Há equipas paroquiais em constituição, é preciso prever quem se dispõe a ceder dois metros quadrados para acolher os jovens que virão, divulgar a iniciativa em mercados e lugares públicos - é o que Nuno Mira diz que a equipa da sua paróquia, São Domingos de Benfica, vai fazer.
É necessário ainda montar um esquema de informação (para já, disponível pelo telefone 219 449 200, no endereço
info@taize-lx.net ou em
http://www.taize.fr), fazer mapas que indiquem o itinerário de cada lugar até à FIL, no Parque das Nações (onde decorrerão os actos principais do encontro), prever as refeições para o primeiro acolhimento, os passes de transporte para os dias do encontro e, ao mesmo tempo, manter a dinâmica de oração diária em São Nicolau.
Haverá também tempo para rezar amanhã, 27, em Cascais, dia 28 em Alverca, a 29 no Campo Grande (Lisboa) e em Corroios dia 30 (sempre às 21h30). Além de duas tardes, em São Nicolau, para ensaio de cânticos (dia 23 de Outubro) e de oração para todas as equipas de preparação (27 de Novembro).
A filosofia de Taizé
A comunidade de Taizé, fundada em 1940 pelo irmão Roger, actual prior, é constituída por uma centena de monges de origem católica e protestante, oriundos de 25 países. Acolhe anualmente milhares de jovens que passam pela pequena aldeia da Borgonha (100 quilómetros a norte de Lyon). O encontro europeu, que se realiza anualmente, insere-se naquilo que a comunidade chama "peregrinação de confiaça sobre a terra".
É um modo de "deixar cair barreiras entre povos e pessoas", diz ao PÚBLICO o irmão David, um dos dois monges portugueses de Taizé. Que exemplifica: "Achamos que os romenos são todos ciganos, que os ucranianos são todos imigrantes que vêm para cá trabalhar. Encontrando jovens que vêm aqui partilhar experiências - católicos, ortodoxos, protestantes, muitos deles vindo juntos em autocarros a partir dos seus países - será possível criar laços e dar um rosto às pessoas."
Por ANTÓNIO MARUJO
«Público», Domingo, 26 de Setembro de 2004
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