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Alexandrina mistica
Escrito por: Afonso Rocha (IP registado)
Data: 05 de September de 2004 15:46

ALEXANDRINA MÍSTICA
Razão deste tema
Estudar a mística vivida pela beata Alexandrina de Balasar é um prazer ao qual não posso resistir. Como não desejo que este estudo ― humilde, diga-se ― seja um assunto apenas pessoal, desejo partilha-lo com aqueles que no Fórum das Paroquias de Portugal se possam interessar por tal fenó-meno, que não sendo corrente, faz parte integrante da vida cristã. Pena é que ― eu falo pelo que vejo em França ― este estudo importante não faça já parte dos estudos nos seminários e infelizmen-te, são pouco s agora aqueles que sejam ou possam ser « doutores » nesta matéria delicada.
Eu não sou teólogo, claro está, mas apenas um pequeno “especialista” de mística e de ascética.
Por aqui, já me interessei em alguns casos: Nicolas Roland, fundador duma Congregação religiosa e que foi o Director espiritual de S. João Baptista de La Salle; o padre Paul Warnier (1900-1966), páro-co de uma das maiores paroquias da cidade francesa de Reims ― onde vivo ― sem falar no caso vivido actualmente por uma senhora, mãe de família, e que eu sigo atentamente, deixando à Igreja a decisão que melhor lhe convier neste ultimo caso.
Depois de muito ter lido e estudado os autores mais conhecidos nesta “arte” ― S. João da Cruz, san-ta Teresa de Ávila, a beata Angela de Foligno, santas Catarina de Sena e de Génova, Afonso Rodri-guez, santa Maria Madalena de Pazzi e alguns mais ― pensei que seria bom, no caso da nossa re-cém beata Alexandrina Maria da Costa, compor um simples trabalho e neste fazer salientar as simili-tudes existentes entres os mestres da mística citados e a nossa Bem-aventurada de Balasar.
Mas, comecemos pelo principio...
Que é um místico?
O místico não é só aquele ou aquela que beneficia de visões sensíveis ou imaginativas; de locuções interiores, levitações, bilocações ou quaisquer outros dons sobrenaturais excepcionais; o místico é também, e sobretudo, aquele que vive uma vida interior cheia de recolhimento, cheia de amor de Deus; o místico é ainda aquele que vive exclusivamente para Deus, de Deus e em Deus, conforman-do a sua vida, tanto quanto lhe é possível, aos ensinos evangélicos, ensinamentos deixados pelo próprio Jesus, que os viveu ao mais alto grau, de maneira que, seguindo o seu exemplo, todos se reconheçam nele.
O místico é portanto aquele que faz dos dois primeiros mandamentos de Deus uma regra de vida e que os vive plenamente, sem se preocupar minimamente de qualquer outra atracção que a vida ou as circunstâncias desta colocam na sua frente.
O verdadeiro místico pensa só em Deus, exclusivamente; nada mais procura fazer do que a vontade de Deus em todas as coisas, mesmo ao risco de sofrimentos, mesmo se por isso ele deve oferecer a sua própria vida. Isto é pois o primeiro mandamento: “adorar à Deus e ama-lo acima de todas as coi-sas”.
O verdadeiro místico preocupa-se da salvação das almas e aceita, sem qualquer receio, humilde e amorosamente, participar na redenção do seu próximo. Eis aqui o segundo mandamento: “amar o próximo como a si mesmo”.
O místico não é fanático, mas sim aquele que, habitado pelo amor de Deus, uma só coisa deseja, de nada mais precisa, de nada mais se interessa que deste amor cioso e amorosamente possessivo que é o amor de Deus, para o qual ele pende continuamente.
O místico é aquele que, ao mínimo chamamento se encontra todo inteiro na presença do se bem amado, que responde sempre presente ao mais pequenino apelo da Sabedoria infinita, à mínima solicitação da Misericórdia divina.
O místico é aquele que, ouvindo pronunciar “o Nome que está acima de qualquer Nome” (S. Paulo aos Filipenses: 2, 9), o nome do seu bem amado, se sente ligeiro como o ar, sente o seu coração cavalgar, arde de amor pelo “esposo”, e, por pouco que não consiga dominar-se, sente seus olhos chios de lágrimas de alegria, aperta o seu peito e grita: “Jesus! Jesus, eu amo-te, sou todo teu!” Ele tem como a impressão de já não viver neste mundo e, o seu único e mais veemente desejo è o Céu.
E a beata Alexandrina?
Na autobiografia da beata Alexandrina de Balasar, podem ler-se esta linhas, logo no inicio da mesma:
“Pelos quatro anos e meio de idade, punha-me a contemplar o céu (abóbada celeste) e perguntava aos meus se poderia chegar-lhe se pudesse colocar umas sobre as outras todas as árvores, casas, linhas dos carrinhos, cordas, etc., etc.”
Está aqui marcada a primeira época da sua caminhada mística que durará por mais de cinquenta anos ainda: o desejo do Céu.
Este desejo continuará, ao longo dos anos, a crescer, a tomar forma, a concentra-se de maneira pe-rene no coração da bem-aventurada menina de Balasar, até atingir o apogeu na primeira morte místi-ca e por fim na entrega total e sem reservas ao Esposo celeste, em 30 de Outubro de 1955.
Depois desta primeira etapa, inocente e incompreensível para ela mesma, nessa época, vamos vê-la depois, a quando da primeira comunhão, sentir nela aquela Presença indiscritível que jamais a aban-donará: a presença de Jesus.
Ouçamos o que ela nos diz desse momento feliz em que pela primeira vez recebeu Jesus em sei peito:
“Quando comunguei, estava de joelhos, apesar de pequenina, e fitei a Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira que me ficou tão gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus para nunca mais me separar d’Ele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu sentia era inexplicável”.
E como explicar o inexplicável?
As palavras humanas deixam de ter sentido quando nos é necessário falar das coisas celestes. Não porque elas faltem ou sejam inadequadas, mais simplesmente porque as coisas do Céu não se po-dem explicar com palavras humanas.
Foram legião aqueles que tentaram dar-nos uma ideia dessas maravilhas divinas, mesmo aquelas e, sobretudo aquelas que se produzem no coração das almas escolhidas ― como a Alexandrina ― mas por mais cultos que fossem por mais iluminas que fossem, nada mais conseguiram ― e isto já é mui-to ― do que nos deixar famintos e desejosos de mais saber, desejosos de mais explicações, de mais detalhes sobre esse além-vida que desconhecemos e, na maior parte dos casos, tentamos adivinhar.
Leia-se um S. Tomás de Aquino ― o maior de todos ― S. Bernardo de Claraval, S. João Crisóstomo et tantos outros, sem esquecer santo Agostinho e, depois de lê-los, mesmo se esta leitura nos encan-ta, ficamos todavia famintos: o que gostaríamos de conhecer, ficou muito para além das nossas espe-ranças.
Os místicos ― portanto aqueles que mais perto estiverem do Sol de justiça ― não sabem eles mes-mos explicar aquilo que viram ― para alguns ― aquilo que sentiram ― para outros. Eles não encon-tram nas palavras humanas o vocabulário adequado para tais explicações.
“Oh, Senhor! Se me désseis estado para dizer isto em altas vozes! Não me acreditariam ― como fazem a muitos que o sabem dizer de outro modo do que eu ― mas, ao menos, sentir-me-ia satisfei-ta”.
Isto grita ao Senhor santa Teresa de Ávila ― grande mestra de teologia mística ― impossibilitada de descrever aquilo que sentia ou tinha visto!
Deus é infinito e eternamente presente. Como pode um espirito humano ― criado portanto por Deus ―, compreender aquilo que se encontra fora do seu alcance, fora das suas medidas restritivas?
* * *
Em Vila do Conde onde Alexandrina recebeu o Sacramento da Confirmação, uma vez mais ela vai sentir nela a presença de Deus:
“Lembro-me muito bem desta cerimónia e recebi-a com toda a consolação. No momento em que fui crismada, não sei o que senti em mim; pareceu-me ser uma graça sobrenatural que me transformou e me uniu cada vez mais a Nosso Senhor. Sobre isto, queria exprimir-me melhor, mas não sei.”
E de novo esta impotência diante do quadro que em sua alma se expôs: ela não sabe explicar o que nela se passou nesse momento...
Esta insatisfação ― o não saber explicar ― vai criar nela uma outra situação: querer aprender, querer orar mais e mais, esperando talvez que pela oração irá encontrar explicação aos sentimentos ressen-tidos na sua alma juvenil. Eis o que diz na sua Autobiografia:
“À medida que ia crescendo, ia aumentando em mim o desejo da oração. Tudo queria aprender.”
Depois, já mais crescida, a sua vida mística começa a tomar forma, a desenhar-se melhor: começa a meditar:
“Pelos nove anos, quando me levantava cedo para ir trabalhar nos campos e quando me encontrava sozinha, punha-me a contemplar a natureza. O romper da aurora, o nascer do sol, o gorjeio das ave-zinhas, o murmúrio das águas entravam em mim numa contemplação profunda que quase me esque-cia de que vivia no mundo. Chegava a deter os passos e ficava embebida neste pensamento, o poder de Deus! E, quando me encontrava à beira-mar, oh, como me perdia diante daquele grandeza infinita! À noite, ao contemplar o céu e as estrelas, parecia esconder-me mais ainda para admirar as belezas do Criador! Quantas vezes no meu jardinzinho, onde hoje é o meu quarto, fitava o céu, escutando o murmúrio das águas e ia contemplando cada vez mais este abismo das grandezas divinas! Tenho pena de não saber aproveitar tudo para começar nesta idade as minhas meditações.”
Estão aqui os primeiros passos no que diz respeito à sua vida contemplativa, mesmo se ainda incer-tos, mesmo se ainda apenas balbuciantes: ela admira na natureza a grandeza de Deus.
Depois destes primeiros passos, ainda trémulos, ainda incertos, Alexandrina vai ser “forçada” ― os desígnios de Deus são insondáveis ― a dar um passo em frente, a ir mais longe neste caminho que ela começou, ainda que ingenuamente, mas caminho que lhe fora traçado desde sempre por Deus: a entrega total.
Que vai acontecer ?
Primeiramente o salto pela janela para preservar a sua inocência e, como consequência deste a sua doença que virá obrigá-la a guardar o leito para sempre.
Nesta situação pouco confortável, diversas soluções se oferecem a ela: esperar pacientemente que as coisas se passem, fazendo confiança aos médicos; passar o seu tempo em conversas inúteis e a jogar as cartas ― ela o fará durante algum tempo ―; recorrer aos santos e pedir uma eventual cura « milagrosa », o que ela fará igualmente… Mas, depois de tudo isto, que mais lhe resta ?
Oferecer-se !...
Aqui, a meu ver, parece necessária aquela afirmação de S. Paula na sua epistola aos romanos, capi-tulo 8, versículos 28 a 30:
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”.
Depois de ter recorrido a todas as outras, note-se bem, vai ser esta a solução que do mais profundo do seu coração ela vai escolher. Ouçamo-la:
“Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima...”
Que coragem, que heroicidade!...
Oferecer-se como vitima pelos pecadores é um acto de fé extraordinário que só as almas predestina-das podem fazer. Dar a vida pelos outros é a maior prova de amor, nos diz o Evangelho, mas, na história da humanidade, excluindo Jesus, poucos houve que o fizessem; poucos que tivessem tal coragem, eu diria mesmo: uma tal ousadia! Alexandrina de Balasar fê-lo, pois ela “vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento”.
E porque a sua oferta foi sincera, porque o seu acto de amor foi grande, “Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor, toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava”, diz ela na sua Autobiografia.
E continua a explicar: “Com a perda das forças físicas, fui deixando todas as distracções do mundo e, com o amor que tinha à oração ― porque só a orar me sentia bem ― habituei-me a viver em união íntima com Nosso Senhor”.
Esta união era por vezes interrompida, não por culpa dela, mas porque recebia visitas, então, explica ela: “Quando recebia visitas que me distraíam um pouco, ficava toda desgostosa e triste por não me ter lembrado de Jesus durante esse tempo”.
E assim, pelos meses, pelos anos fora, a Alexandrina vai dar forma, vai progredir nos caminhos do Senhor, naqueles caminhos que muitas e muitas vezes vão ser escarpados. Mas ela vai preparar-se aos poucos e, aos poucos “torcer o pescoço” aos defeitos próprios, às imperfeições inerentes aos pecadores.
O sistema utilizado ― sistema ensinado nas escolas de espiritualidade, particularmente no século XVII ― é aquele do sacrifício livremente consentido por amor. Ela explica :
“Por amor de Jesus e da Mãezinha, fazia sacrificiozinhos como: deixava de me ver ao espelho, che-gando a tê-lo muitas vezes na mão; não falava quando me apetecia, e vice-versa; deixava de dormir durante a noite para fazer companhia a Jesus. Comungava sacramentalmente poucas vezes, mas vivia unidinha a Ele o mais possível. Consentia que as moscas me mordessem, etc., etc. »
CONTINUA (se tal for vosso desejo!)
A vossa apreciação a este humilde trabalho me regozijaria. Obrigado.



Afonso Rocha

Re: Alexandrina mistica
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 06 de September de 2004 11:01


Amigo Afonso Rocha

Ainda só li muito por alto o seu trabalho. Quando tiver ocasião de o ver mais em pormenor, então me pronunciarei sobre ele com mais fundamento; à partida, classifico-o de bom.
Tenho algumas importantes notícias relativas à Beata Alexandrina, que depois exporei. Até breve.

José Ferreira


Re: Alexandrina mistica
Escrito por: Afonso Rocha (IP registado)
Data: 06 de September de 2004 15:55

ALEXANDRINA MISTICA
ABANDONO TOTAL A DEUS
“Abandonai-vos à conduta de Deus; voltai-vos para ele com muita simplicidade, sem retorno sobre vos mesmas.” Era este o conselho que dava às suas filhas espirituais o bem-aventurado Nicolas RO-LAND (Manuscrito 5 A ; Carta 30), de quem já falei acima.
Foi exactamente o que aconteceu com a nossa bem-aventura de Balasar. Pouco antes da sua gene-rosa oferta, ela escrevia: “Compreendi que a vontade de Nosso Senhor era que estivesse doente. Deixei de pedir a minha cura”.
Nada mais tinha de esperar da parte dos homens e, da parte de Deus, compreendeu ela o que tinha de compreender: Deus queria ter necessidade dela para a salvação de muitas almas.
Depois nasceu nela aquela formidável devoção para com os sacrários onde Jesus se encontra tantas e tantas vozes só.
O coração da Alexandrina não iria mais cessar de bater, e de bater forte e amorosamente às portas dos sacrários do mundo inteiro, onde o “seu” Jesus vivia tantas e tantas injustiças, tantos e tantos sacrilégio.
Para o consolar, ela orava, pedia, suplicava e, cada manhã, a sua primeira preocupação era aquela de desagravar, dirigindo-se a Jesus sacramentado:
“Ó meu querido Jesus, quero ir visitar-vos aos Vossos sacrários mas não posso, porque a minha do-ença obriga-me a estar retida no meu querido leito de dor. Faça-se a Vossa vontade, Senhor, mas, ao menos, meu Jesus, permiti que nem um momento se passe sem que à portinha dos Vossos sacrários eu vá em espírito dizer-vos:
Meu Jesus, quero amar-vos, quero abrasar-me toda nas chamas do Vosso amor e pedir-vos pelos pecadores e pelas almas do Purgatório”.
Este estado da Alexandrina pode ser confirmado por esta afirmação de uma outra mística, santa Ca-tarina de Sena, a qual diz nos seus Diálogos: “Uma alma que deseja ardentemente honrar a Deus e deseja a salvação do próximo, aplica-se primeiramente aos exercícios ordinários” (Diálogos, I-1). Isto fez Alexandrina desde o começo da sua vida espiritual.
Da mesma maneira que para os sacrários, ela concebeu uma devoção sem limites à Virgem Maria, a “Mãezinha”, como a chamava com tanta ternura.
Em seu louvor, cada ano celebrava muito festivamente o mês de Maio e escrevia mesmo uma carti-nha à sua “Mãezinha” tão querida.
Como é de notoriedade publica, amar Maria não impede de amar Jesus, visto que dois corações que oficiam como vasos comunicantes, não podem senão comunicar: amar Maria é pois amar Jesus e vice-versa. Não parece possível amar um, sem amar o outro e amar a Mãe é por conseguinte ter a certeza que esse mesmo amor é depositado no Coração do Filho. Alexandrina parece ter compreen-dido bem depressa esta “comunicação” automática entre os dois Corações de Jesus e Maria. Sirva de prova esta pequena oração:
“Ó minha querida Mãe do Céu, vinde apresentar ao Vosso e meu querido Jesus, nos Vossos sacrários, as minhas orações e fazer mais valiosos os meus pedidos. Ó Refúgio dos pecadores, dizei a Jesus que quero ser santa! Sim, Santíssima Virgem? Ah, dizei-lhe também que quero muitos sofrimentos, mas que não me deixe sozinha nem um momento, porque só tenho que confundir-me, porque nada sou, nada possuo, nada valho. Dizei-lhe que O amo muito, mas que O quero amar ainda muito mais. Quero morrer abrasada no amor de Jesus e no Vosso. Sim? Dizei-lhe muitas coisas de mim; fazei-lhe todos os meus pedidos. Confio, confio em Vós! Ó Maria, dai-me o Céu!”
Este mistério de amor ― entre a Mãe e o Filho ― foi compreendido por todos os místicos e, todos recorreram a Maria, para melhor atingirem Jesus.
Um bom filho poderá por ventura recusar um pedido de sua mãe? Lembremo-nos as bodas de Cana ― primeira intervenção de Maria nos “negócios” de seu Filho ―, uma das únicas registadas nos Evangelhos.
Parece oportuno e justificado o emprego de mais uma pequena oração da Alexandrina, para melhor documentar esta devoção aos dois queridos amores da sua via: Jesus e Maria.
“Jesus, vou convidar a Mãezinha! É Ela quem Vos vai falar por mim. Vou e já venho, sim, meu Jesus?
Ave Maria, cheia de graça, eu vos saúdo, cheia de graça! Mãezinha, vinde comigo para os sacrários, vinde cobrir o meu Jesus de amor. Oferecei-lhe tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer, tudo quanto se possa imaginar, como actos de amor para Nosso Senhor Sa-cramentado”.
E esta ainda:
“Ó Jesus, cá está a Mãezinha, escutai-a, é Ela quem Vos vai falar por mim.
Ó querida Mãezinha do Céu, ide dar beijinhos aos sacrários, beijos sem conta, abraços sem conta, mimos sem conta, carícias sem conta, tudo para Jesus sacramentado, tudo para a Santíssima Trin-dade, tudo para Vós. Multiplicai-os muito, muito e dai-os de um puro e santo amor, dum amor que não possa mais amar, cheios de umas santas saudades por não poder ir eu beijar e abraçar a Jesus sa-cramentado e à Santíssima Trindade a Vós, minha Mãe querida. Pois não sois Vós a criatura mais amada e mais querida de Jesus? Oh! dai-os então em meu nome, com esse amor com que amais e sois amada”.
Mas os sacrários são, sem sombra de dúvida, a predilecção da Bem-aventurada flor de Balasar. O hino que compôs é uma obra prima, não tendo no mundo qualquer que se lhe possa assemelhar:
“Ó meu Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que respirar, cada segundo das horas que passar, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu quero que cada movimento dos meus pés, das minhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir os meus olhos ou os fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada tristeza, cada atribulação, cada distracção, contrariedades ou desgostos, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu quero que cada letra das orações que reze, ou oiça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça pronunciar, que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que conte ou oiça contar, sejam
actos de amor para com os vossos Sacrários.
Eu quero que cada beijinho que Vos der nas vossas santas imagens ou da vossa e minha que-rida Mãezinha, nos vossos santos ou santas, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu quero que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo encerra, oferecida às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu Vos ofereço as folhas das árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florzinhas ofere-cidas pétala por pétala, todos os grãozinhos de sementes e cereais que possa haver no mundo, e tudo o que contêm os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas das avezinhas, o gorjeio das mesmas, os pêlos e as vozes de todos os animais, como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grandezas, riquezas e tesouros do mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer-vos, tudo quanto se possa imaginar, como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, aceitai o Céu, a terra, o mar, tudo, tudo quanto neles se encerra, como se esse «tudo» fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-vos como
actos de amor para os vossos Sacrários”.
Tanto amor, tanta devoção sincera, não poderiam deixar indiferente o Coração divino e por isso mesmo, a resposta vinha, cada vez mais frequente, cada vez mais perceptível.
Escutemos o que diz a Alexandrina:
“Nestas ocasiões em que fazia estes oferecimentos a Nosso Senhor, sentia-me subir, sem saber como, e ao mesmo tempo um calor abrasador que parecia queimar-me. Como não compreendia a causa deste calor, ponha-me a observar se estava a transpirar, porque me parecia impossível, sendo dias de grandes frios. Sentia-me apertada interiormente, o que me deixava muito cansada.
Não tenho a certeza, mas deveria ser numa dessas ocasiões que eu senti esta exigência de Nosso Senhor: SOFRER, AMAR e REPARAR”.
Eis traçado o programa de vida da Alexandrina: Sofrer, amar, reparar.
João de Ruysbroeck, grande místico holandês ― e um dos maiores de Igreja católica! ―, no seu livro “Os sete graus do Amor, capitulo 1, diz o seguinte: “Aquele que é dotado de boa vontade, promete-se a ele próprio, e deseja ardentemente amar a Deus e servi-lo, não somente nesta vida, mas durante a eternidade”.
Esta máxima pode aplicar-se à Alexandrina que, como vimos, se ofereceu a Deus, não só para o honrar, não só para lhe mostrar o amor ardente do seu pobre coração, mas também para a salvação de muitos dos seus irmãos: ela era “dotada de boa vontade” e “desejava ardentemente amar a Deus”.
Aqui começa a verdadeira vida mística da Alexandrina.
Aqui termina o período que S. João da Cruz chama dos “principiantes”, para começar nela uma nova acção divina que vai ir crescendo, à medida que o divino Jardineiro vai trabalhar aquela terra inculta e nela semear as plantas que mais tarde plantará e que darão as lindas flores que todos conhecemos na Alexandrina de Balasar. Assim, ela disse o santo Padre Pio de Pietrelcina ― recentemente canonizado pelo Papa João Paulo II ― : “A Alexandrina é uma violeta cujo odor embriagará muitos daqueles que dela se aproximarem”.
Santa Teresa de Ávila, no livro da “Vida”, capitulo XI, diz o seguinte, falando desta etapa na vida de uma alma “trabalhada” por Cristo:
“Há-de fazer conta, quem principia, que começa a plantar um horto em terra muito infrutífera, que tem muito más ervas, para que nele se deleite o Senhor. Sua Majestade arranca as más e vai plantando as boas”.
Assim vai acontecer na alma da nossa Bem-aventurada:
Jesus vai trabalhar no seu jardim e tratar aquela terra ainda inculta, se bem que disposta a ser ulteri-ormente cultivada e, para isso, vai também servir-se de um ajudante: o Padre Mariano Pinho.
Este Jesuíta que se encontrou a Balasar na ocasião dum triduum, vai ser, sem que o pensasse ele mesmo, o ajudante do Senhor, aquele que vai arrancar as primeiras ervas e preparar “os caminhos do Senhor”, tal como S. João Baptista.
Alexandrina precisava de director espiritual; ela não conhecia nenhum, nem mesmo sabia, como ela própria confessa, que fosse necessário um.
Escolher um pai espiritual, não é simples tarefa. Veja-se a esse respeito o que diz santa Teresa de Ávila:
“Tenho visto por experiência que é melhor ― sendo virtuosos e de santos costumes ― não ter nenhumas [letras]; Porque nem eles se fiam de si sem perguntar a quem as tenha boas, nem eu me fiaria; e bom letrado nunca me enganou” (S. Teresa de Ávila: Vida; capitulo V).
Um outro místico falando do mesmo assunto a uma das suas filhas espirituais afirma:
“Dir-vos-ei simplesmente uma coisa: a direcção espiritual parece ser necessária para melhor avançar na vida espiritual, que ninguém se deve dela privar”. (Nicolas Roland ; Manuscrito 5 A ; Carta 26.)
A Alexandrina conta como foi:
“― Eu não tinha nem sabia sequer o que era um director espiritual; apenas tinha o meu pároco como guia da minha alma.
Como minha irmã fizesse um retiro aberto das Filhas de Maria, tomou nessa ocasião para seu director espiritual o conferente desse retiro, o Sr. Dr. Mariano Pinho. Este, sabendo que eu estava doente, mandou pedir as minhas orações, prometendo orar por mim. De vez em quando, mandava-me um santinho. Passaram-se dois anos, e sabendo eu que ele estava doente, sem saber como, senti tanta pena que comecei a chorar; minha irmã perguntou-me porque chorava, se o não conhecia sequer. Respondi-lhe: «Choro, porque ele era meu amigo e eu também sou dele.»
Em 16 de Agosto de 1933, Sua Reverência veio à nossa freguesia fazer um tríduo ao Sagrado Cora-ção de Jesus, tomando-o então para meu director espiritual. Não lhe falei nos oferecimentos que fazia ao sacrário, nem nos calores que sentia, nem na força que fazia elevar, nem nas palavras que tomei como uma exigência de Jesus. Pensava que era assim toda a gente. Só passados dois meses é que lhe falei nas palavras de Jesus e do resto nada disse, porque nada compreendia como coisas de Nosso Senhor. Apesar de Sua Reverência não me dizer que eram palavras de Nosso Senhor, eu continuei sempre e cada vez mais unida a Nosso Senhor. Quer de dia quer de noite eram os sacrári-os os meus lugares predilectos”.
E como se fosse necessária uma confirmação, ela diz-nos pouco depois na sua Autobiografia:
“Em Agosto de 1934, voltou a fazer outra pregação aqui e então é que abri a minha consciência. Nes-ta altura fui muito tentada pelo demónio, porque lembrava-me que, uma vez que expusesse a minha vida, não mais quereria ser meu director espiritual. Nessa altura Nosso Senhor disse-me:
«Obedece em tudo ao teu Padre espiritual. Não foste tu quem o escolheste, mas eu quem to enviei.» Sua Reverência apenas me perguntou a forma como ouvi estas palavras e não me disse que era nem que não era Nosso Senhor”.
CONTINUA



Afonso Rocha

Re: Alexandrina mistica
Escrito por: Susete (IP registado)
Data: 06 de September de 2004 17:11

Afonso,

não queres reduzir um pouco o tamanho dos textos? Assim fica complicado ler...


Susete

Re: Alexandrina mistica
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 06 de September de 2004 18:20

Já li com atenção a primeira parte do seu trabalho. Gostei, evidentemente. Tenho apenas um reparo a fazer: quem não conhece a Alexandrina fica com a ideia de que ela se não preocupou com os outros. Ora ela manteve ao longo dos anos uma decidida e diversificada actividade caritativa. Isto é a inteira verdade.
Agora as notícias:
· Desde 1977, está traduzida para japonês a Paixão de Jesus em Alexandrina Maria da Costa.
· Para a Via Crucis (Via Sacra) preparada pela profª Eugénia Signorile foi composta música. Mas eu ainda a não tenho.
· A profª Maria Rita Scrimieri vai ao Congresso Eucarístico Internacional do México, onde falará sobre a Beata Alexandrina; também lá vai o Sr. Arcebispo de Braga.
· A D. Eugénia Signorile enviou-me hoje dois livros que eu desconhecia e vai publicar um novo este mês.




Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

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