Não querendo discorrer sobre politica, a morte de Sousa Franco, tem-me feito pensar sobre a importancia que têm os Leigos na vida publica e na politica.
Gostaria de sentir a vossa sensibilidade para o assunto.

Ouvi na RR um padre dizer, que ele ia a missa todos os domingos acompanhado de sua mulher.
Claro que era bom, que mais catolicos se envolvessem na politica.

Mas, so falam bem das pessoas no fim de elas morrerem...



Rita

Este é um bom tema, sobre o qual possivelmente tenho uma visão ambígua ou incoerente e começo por confessar o meu “pecado” (com ou sem aspas). Interesso-me bastante por política enquanto discussão e reflexão do governo e administração da “res-publica” e acho necessária a presença de cristãos comprometidos com a política, mas nutro de muita alergia pela “real politik” (sobretudo a dita “política partidária”), em particular a praticada em Portugal (na verdade, quando vejo outros países, também não os invejo muito!). Não subscrevo o habitual queixume de que os políticos são todos uns corruptos ou que só querem dinheiro (muitos analistas concordam em dizer que os políticos em Portugal são mal pagos e por isso as pessoas mais competentes não se dedicam a ela), mas creio que, infelizmente, a política real se faz de muita mentira e intriga, dando a imagem de um jogo sujo. Será isto por falta de cristãos?

Parte do meu desencanto com a política que geralmente se faz deve-se precisamente ao ver que muitos dos seus agentes se dizem cristãos e talvez o digam com sinceridade, mas choca-me que em nome de objectivos políticos aparentemente legítimos todos os meios sejam tidos por justificáveis. Não creio que isso seja cristão.

Por favor, não leiam o que direi a seguir como estando a subscrever a posição de um qualquer partido que concorra às próximas eleições europeias, mas parece-me pertinente dizer algo telegráfico sobre o Professor Sousa Franco e a sua inesperada morte numa campanha de má memória. Independentemente de concordar ou não com as suas ideias políticas, ele era um homem de grande estatura humana e política que, curiosamente, não tinha filiação partidária e, a meu ver, era um pouco “outsider” no carreirismo partidário corrente. Acabou por ser vítima da baixa política de pessoas de outro(s) partido(s) e do próprio partido pelo qual concorria. Por isso senti com alguma revolta a falta de decoro e a hipocrisia (e aproveitamento político “camuflado”) com que vários “políticos” (de mais de um partido) teceram alguns comentários depois da sua morte. Oxalá se tire, pelo menos, uma pequena lição de que em política, como no resto da vida, «tudo me é possível, mas nem tudo me convém».

Fazem falta homens e mulheres na política, para a transformarem por dentro e trabalharem pelo bem comum como agentes multiplicadores. E, apesar de tudo, creio que temos (tido) também bons exemplos de pessoas que se dedica(ra)m à “coisa pública” com um enorme espírito de missão, que não se deixaram “trucidar pelo sistema”. Acho que o ser fermento que transforma a massa e luz que alumia passa também por aí. Admiro sinceramente quem se mete de alma e coração nisto com tal espírito cristão. Penso muitas vezes em S. Tomás Moro, patrono dos políticos, que pagou com a própria vida a sua verticalidade, bem distante da comum caricatura do político-camaleão. “Seja o vosso agir sim-sim, não-não”...

É claro que também não podemos ser ingénuos. Entrar na política como cristão parece que implica por vezes “engolir sapos” e passa-se por dilemas difíceis. Por exemplo, nos EUA é praticamente impossível uma alternativa à bipolaridade entre democratas e republicanos. Um católico consciente encontra dois graves problemas nos dois partidos: um é contra o aborto mas apoia a pena de morte e favorece a injustiça social, o outro defende claramente o aborto mas mostra uma sensibilidade social muito maior. O bispo da diocese de onde é natural John F. Kerry, líder dos democratas e candidato democrata às próximas presidenciais, já fez saber que Kerry, que é católico, não se deve aproximar da comunhão, porque lha negará; mas não vejo o mesmo tipo de sanção para os republicanos católicos que são os que mais têm favorecido a catástrofe de fome que atinge o Terceiro Mundo, com milhões de mortes.

Hoje, dia de Portugal, é um bom dia para pedirmos a Deus a graça de “vocações políticas”, de bons governantes e espírito de verdadeira fraternidade entre todos, autoridades e súbditos. E talvez um dia para pensarmos no modo como contribuímos para o bem comum da “pólis”.

Alef

Cristãos leigos na política, sim, mas jamais clérigos, sejam eles padres ou bispos, como infelizmente está em moda, nomeadamente em Portugal! Que desvario, quase sacrilégio!...

Acho que política e religião não se devem misturar...para bem de todos!!!



Anna e Sara

Dejá vu concordo inteiramente. A CDU apresenta como candidato`ao parlamento Europeu um Padre da madeira.... é de facto coisa triste.

Parece-me que Dejà-vu -- onde é que já nos vimos? ;-) -- se refere a casos mais "conhecidos": P. Feytor Pinto, P. Melícias e P. Vaz Pinto. Não será?

Alef

Alef


Ao que te referes ao Pe. Melicias e ao Pe. Vaz Pinto?

Onde anda agora o Padre Melicias...continua em missao em Timor? Desculpa la perguntar-te. Pois, tu sabes tudo:)

Não... já está em Lisboa.

Não sei onde anda o P. Melícias. Hoje vi-o em Lisboa, no funeral do Professor Sousa Franco.

O P. Vaz Pinto é o Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas.

A "ironia" política diz que os três padres que apontei se tornaram uma espécie de "capelães do regime": o P. Feytor Pinto para Cavaco, P. Melícias para Guterres, P. Vaz Pinto para Durão Barroso...

Será que quando o governo mudar de cor teremos o Frei Bento Domingues? ;-)

Alef

cristo foi o maior revolucionário da política da época em que ele estava vivo, por que não ter politicos cristãos??? será que isso é previlégio só de outros???



molkyul

Alef

Porque, o padre Vaz Pinto ser Comissario para a Imigracao?

Nos quando chegamos aqui nao tivemos isso. Os pioneiros tiveram que alugar igreja, se queriam missas em Portugues e mandaram vir um padre do Brasil. Depois compraram uma igreja pequena. Chegou entao outro padre Brasileiro e construiu-nos um Templo. Este padre Brasileiro ultimo, tem sido muito, mas muito amigo dos Portugueses. Esta longe, mas ainda em contacto com todos...
Em Portugal, os imigrantes que comecem por investir tambem em Portugal...que nao seja so enviar dinheiro para os Paises deles. Nao ajudem demais os imigrantes, facam-nos trabalhar e facam com que investam em Portugal. E assim que faz o governo Canadiano.
A nossa igreja, e uma das melhores igrejas desta cidade.

Quero dizer-vos, que vivemos numa linda cidade, num bom Pais. E uma cidade com vivendas...Sem nunca esquecer Portugal:)

Lisboa e linda, mas vivem uns em cima dos outros :(

Ana:

Dizes: «Nao ajudem demais os imigrantes, facam-nos trabalhar e facam com que investam em Portugal». E assim que faz o governo Canadiano.

Não partilho dessa visão em relação aos imigrantes que vivem em Portugal e usas até uma expressão que me parece muito infeliz: «façam-nos trabalhar». E não considero que o governo canadiano tenha que ser tido por modelo. Muito menos o dos EUA.

O que está a ser feito em Portugal não é nada demasiado e é da mais elementar justiça que aqueles que trabalham em Portugal usufruam das mesmas condições sociais dos Portugueses. Deveríamos pensar que também fomos e somos um povo de emigrantes e que no passado passámos pelas mesmas dificuldades que eles e fomos acolhidos por outros países. Estamos também em dívida! Por exemplo, quando ocorreu o desastre dos Capelinhos, os EUA não tinham nenhuma obrigação de acolher portugueses em detrimento de pessoas de outras nacionalidades...

Se é verdade que muitos emigrantes portugueses acabaram por ficar no continente americano, não foi por querer investir nos países acolhedores, mas porque se viram ultrapassados pelas circunstâncias. Muitos também tinham a intenção de ganhar uma quantidade razoável de dinheiro e depois voltar à sua terra natal para aí fazerem uma boa casa e terem uma vida mais “arejada”. Mas a certa altura viram-se já com os filhos crescidos, com raízes crescentes no país de acolhimento e com a terra natal vazia de familiares, pois todos ou quase todos tinham também emigrado. Uma triste prova disso é que os Portugueses nos EUA não investiram praticamente nada na educação académica dos filhos e só agora, na terceira ou quarta geração, começa a ser mais normal a frequência da universidade entre os luso-descendentes. Já no caso dos que emigraram para outros países do continente europeu (França, Luxemburgo, Suíça...), ficou mais claro que os Portugueses tinham o mesmo objectivo de enviar dinheiro para as suas famílias.

E não nos esqueçamos que em Portugal, como noutros tempos acontecia aos Portugueses, os imigrantes fazem os trabalhos mais duros, que os autóctones não querem fazer. Basta ter visitado os estádios portugueses durante a construção e ver quem eram os trabalhadores. Basta viajar na auto-estrada e ver quem são os trabalhadores que trabalham nas obras de reparação de alguns trajectos... Ou ver quem trabalha nas chamadas "obras do regime" (novas auto-estradas, grandes edifícios...). Etc... E se olharmos para os imigrantes dos países de Leste, veremos que muitos que trabalham na construção civil são muito cultos e alguns têm cursos superiores... Os imigrantes contribuem para o crescimento da riqueza do país onde trabalham, devem ser tratados com a mesma dignidade.

Alef

Alef

Eu nao digo que os Imigrantes, nao sejam tratados com dignidade. Devem ajuda-los a encontrar trabalho e devem trabalhar. Entao que foram fazer para ai? Nao vao trabalhar? Vao para o desemprego?

E qual o mal de trabalhar na construcao? Conheco um senhor que era aqui tradutor, Consul Honorario e preferiu deixar isso tudo e trabalha na construcao. O que ganha deve ser 4 vezes mais do que, de tradutor...



Rita

Alef

As pessoas Portuguesas, estao a ficar muito finas em Portugal.

Estive ai no ano passado. Vi em restaurantes no Algarve, Brasileiras e Ucranianas. A jovem Ucraniana, nem falava Portugues e andava a fazer limpeza no restaurante.
Eu perguntei a mim mesma...recebem gente da Ucrania que nao falam o Portugues e tem os Portugueses no desemprego? Preferem passar fome do que trabalhar em restaurantes?
Mas sou de acordo que estimem todos os imigrantes como humanos...tambem vivo num Pais que nao e meu...e fui sempre bem recebida. Alias, tenho dupla nacionalidade:)

Nao te esquecas, que adoro Portugal. Ainda nao o esqueci! Por isso escrevo aqui, com erros, mas....oico a Radio Ranascenca e tenho RTPI. Gasto dinheiro para estar com voces! :)

Parece que nós também gastamos dinheiro para estar contigo ;-)

Alef

Alef

Fico feliz por isso:)

O que dizer da seguinte notícia publicada pela ZENIT.org e que diz muito respeito a esse tópico? (transcrevo-a na integra)


Portugal: Presidente do episcopado pede que movimentos católicos mantenham-se fora da política


LISBOA, segunda-feira, 14 de junho de 2004 (ZENIT.org).- O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Dom José Policarpo, defendeu que os movimentos católicos devem afirmar-se na sua especificidade e não se deixar confundir com abordagens políticas, sindicais ou sociológicas, informa Agência Ecclesia.

Ao presidir o encerramento do XII Congresso da Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos, Dom José Policarpo disse que os movimentos de ação católica devem assumir a diferença «pela especificidade da maneira de estar cristã, a missão».

Lembrando que já no passado se pôs o problema da isenção política, «que esteve na génese de certa crise», o presidente da CEP considerou que esse desafio «é ainda mais difícil hoje».

«A nossa maneira de estar não se pode confundir com abordagens políticas, sindicais ou sociológicas. Estamos do lado do Evangelho», declarou.

Na sua mensagem, o Cardeal-Patriarca de Lisboa manifestou o seu apreço pelo trabalho da LOC/MTC, considerando que, para um Movimento como este, com uma longa história, o mais importante é «projetar o futuro», incentivando os militantes a agir na sociedade, preservando sempre «a sua maneira original de intervir».

Dom José Policarpo questionou o Congresso sobre se «o que resta dos movimentos da ação católica pode ou não ser o ponto de partida para a mudança necessária, perante a laicização da sociedade, procurando acentuar a presença da Igreja».

«Estamos a preservar simplesmente uma memória, ou uma memória carregada de projeto?», concluiu.

ZP04061431

Caro Pe. João Luis,

Acho importante a participação dos Leigos na Política. Não é por acaso que a Política é uma as áreas da Doutrina Social da Igreja. Mas, partilho do sentimento ambíguo e, quem sabe, incoerente em relação aos políticos e políticas seguidas. O caso mais gritante é nos EUA, conforme o Alef já exemplificou.

À primeira vista, parece-me algo incoerente a Igreja norte-americana hostilizar John Kerry, católico (negando-lhe a comunhão) e não fazer algo semelhante aos republicanos que permitiram e permitem a pena de morte, a invasão do Iraque (entre outras guerras) e tantas outras atrocidades causadas pelo capitalismo selvagem, contra o qual o Santo Padre já se pronuciou diversas vezes. Decerto que as imagens de George W. Bush com João Paulo II, a quando da sua última visita ao Vaticano, serão aproveitadas pelos republicanos para angariar votos (e fundos) junto dos católicos norte-americanos (independentemente do ENORME puxão de orelhas que levou do Santo Padre!!!) Depois de tudo o que se passou nos últimos quatro anos, será uma catástrofe para a humanidade que George W. Bush seja reeleito.

A Política e os políticos fazem-me lembrar a Parábola do filho obediente (Mt 21,28-32).

Citação:

«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha.’ Mas ele respondeu: ‘Não quero.’ Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: ‘Vou sim, senhor.’ Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Responderam eles: «O primeiro.»

Por vezes, aqueles que se dizem cristãos e/ou católicos defendem políticas pouco compatíveis com o Evangelho. Os que se dizem ateus (e defendem estados laicos), têem maiores preocupações sociais embora sejam a favor das leis de aborto. Em que ficamos e em quem votamos? Não será possível algo intermédio?
Luis

Kerry defende abertamente o aborto. Será ele católico?????
concordo na questão dos republicanos.
Mas precisamos de cristãos serios, não oportunistas que se dizem cristãos para angariar votos.
Para isso há que forma-los e é essa a nossa missão. Formar Leigos para o mundo.
Vós sois o Sal da terra!!!