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Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 06 de June de 2004 01:54

O fanatismo e o fundamentalismo religioso intrigam-me bastante, sobretudo quando ele implica o recurso à violência. Parece-me que os fundamentalismos não são monopólio de nenhuma religião particular, pois existe tanto no Cristianismo, como no Islão ou no Hinduísmo e noutras religiões e movimentos. (No contexto cristão basta lembrar os atentados mortais a clínicas que praticam o aborto...; no contexto hindu temos muitos casos na Índia; quanto ao Islão não será precido dar exemplos; noutros contextos, parece ser importante lembrar ainda os casos dos suicídios colectivos de muitos grupos sectários.) Mas algumas religiões parecem propiciar mais o fenómeno do fanatismo. Ou não?

São verdadeiramente religiosas as motivações dos que «em nome de Deus» (ou algo que o «substitua») se suicidam e causam a morte do máximo número de pessoas? Que razões poderemos apontar para o fundamentalismo religioso (em concreto para o violento)? É possível "resgatar" as religiões da violência?

Deixo em seguida uma notícia que me parece horripilante. Venham daí as vossas reacções.

Alef


Dois mil iranianos inscrevem-se para cometer atentados suicidas


Um total de duas mil pessoas inscreveram-se em Teerão para realizar atentados suicidas no Iraque e na Palestina, bem como contra o escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, noticia sábado o jornal iraniano Sharqh.

"Vinte e cinco por cento dos inscritos têm menos de 18 anos e o mais novo apenas sete anos", afirmou Mohammed Ali Samadi, porta-voz da organização em que os voluntários podem inscrever-se, citado pelo jornal.

Samadi, representante da organização não governamental Mártires do Movimento Universal Islâmico, salientou que "nos formulários de inscrição não há limite de idade e os voluntários não têm que revelar a sua profissão ou grau de instrução".

O porta-voz da organização, fundada há seis meses em Teerão, acrescentou que os voluntários esperam para cometer os atentados suicidas até receberem autorização do líder supremo da República Islâmica, o ayatollah Ali Khamenei.

Agência LUSA
Fonte: [www.rtp.pt]; 2004-06-05 16:25:00

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 06 de June de 2004 16:05

Alef

Esses escrevem-se para o suicidio.

E aqui nesta cidade do Canada, durante um mes, ja se suicidaram dois homens Portugueses. Um de 37 anos e foi ontem outro sepultado com 49 anos. Ambos do Interior, pertencentes ao Concelho do Fundao. Este ultimo, a mulher tinha um amigo, "amante"!!! Valera a pena morrer por uma mulher? Onde ha tanta mulher no Mundo?
Sai um pouco fora da resposta que querias, desculpa! :)

Pe. J. Luis

As pessoas pouco ligaram a esta senhora, alguns, nem lhe deram os sentimentos. Eu perguntei a mim mesma. Sera isto ser cristao?

Quer responder?



Rita

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 06 de June de 2004 23:44

Ana
Não é lá muito cristão é verdade. Mas as pessoas prerguntar-se-ão :"Condolencias porquê? Ele tinha outro homem."
Terá tido ela pena do marido?
Há que rezar pela alma de um e pelo juizo da outra.

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 07 de June de 2004 09:45

Os fundamentalismos religiosos poderão resultar da falta de esperança e de amor. Estes ficam-se pela fé num Deus sedento de ser adorado e esquecem-se de que Deus é amor e esperança.



*=?.0

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 08 de June de 2004 00:32

O fundamentalismo religioso só pode existir em "religiões" que têm versões mitológicas de Deus:
Quem acreditar no Deus anunciado por Cristo, não pode ser fundamentalista.

Quando falas no "fundamentalismo cristão" tenho a dizer que tal conceito é uma contradição nos seus próprios termos: se é Cristão, não pode ser fundamentalista.

Claro que há fundamentalistas que se dizem Cristãos: se fazem atentados
mortais a clínicas que praticam o aborto, são criminosos ou terroristas, mas não poderão ser considerados Cristãos.

Já se discutiu antes que não basta dizermo-nos Cristãos, é preciso que o sejamos: há seitas que dizendo-se cristãs não são mais que grupos de malfeitores. E acredito que essas produzam fundamentalistas capazes de atentados.

Mas não "produzem" Cristãos.



João (JMA)

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: molkyul mehushkhay (IP registado)
Data: 08 de June de 2004 14:40

morrer em nome do pai eterno??
suicídio em nome dele ou do filho dele???
não tem sentido, o pai eterno nos abençoou com a vida, e as pessoas agradecem a isso se suicidando???
, será que o "Deus" dessas pessoas é yhwh mesmo??
não creio que o meu ul é o ul dessas pessoas que matam e morrem em nome dele e muito menos seguidores do messias. amai-vos uns aos outros como a si mesmo.
se você não ama o próximo a que vê, como pode amar ao yhwh a qual você não vê?. quem diz amar a yhwh , mas não ama a seu próximo, esse é mentiroso.
yhwh nos abençoou com a vida , para que vivamos conforme sua vontade. quem se mata ou mata a outras pessoas já é filho da geena. A condenação eterna.



molkyul

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: molkyul mehushkhay (IP registado)
Data: 11 de June de 2004 23:30

qual o fundamento do cristianismo??? se tem fundamentos então é fundamentalista amigo



molkyul

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 12 de June de 2004 01:09

no comments... delirant isti brasilienses...

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 16:48

Bem, quando se fala em "fundamentalismo", temos de explicar o que dizemos. A generalização do termo leva a que seja usado de forma parcial ou indevida.

Aliás, a última frase de molkyul indica isso mesmo. "Se o Cristianismo tem fundamentos, é fundamentalista"...? Depende da interpretação... Mas não deve ser assim colocado. Algo que tem fundamentos é "fundamentado". "Fundamentalista" é aquele que professa um qualquer "fundamentalismo", que já implica uma corrente em que se apresenta a sua posição sobre os fundamentos necessários de algo que já existe.

Pelo menos este "fundamentalismo" não tem em princípio nada a ver com extremismos violentos, por ser doutrinário (mas pode ter como consequência lógica, por erros procedentes directamente dessa interpretação doutrinal). É diferente daquele "fundamentalismo" sobre o qual se fala e se condena facilmente, aquele tipo de expressões que se dizem de "interpretações literalistas, fundamentalistas", muitas vezes classificando assim outras indevidamente, só por se achar que são rigorosas. Ora, estou a fazer esta apresentação porque acho particularmente necessário clarificar e compreender o que é o "fundamentalismo" cristão, porque existe realmente, em maior ou menor extensão, entre pessoas que professam a divindade de Jesus. Isto, falando ainda apenas em termos doutrinários. Também não acho justo dizer, como disse aqui o JMA, que se pecam na violência, desde logo não sejam "cristãos" e não passam de "seitas que dizendo-se cristãs não são mais que grupos de malfeitores". É preciso diferenciar as coisas para que os verdadeiros criminosos sejam realmente expostos. O que se passa é que o "fundamentalismo" é muito mais dissimulado que uma coisa só feita e usada por malandros e bandidos...

Já agora um àparte para ti, JMA, sobre a tal questão que ainda colocas dos "medidores de catolicismo" -- realmente não se pode só dizer que se é católico, é preciso sê-lo: mas ser católico é ser o quê? É isso que tenho procurado responder e entender melhor, em palavras e, confesso que menos, na prática do amor divino -- mas ao menos que fiquemos com as ideias claras primeiro, para saber o que devemos fazer. Este também é um ponto interessante porque entre aqueles usos e acusações indevidas de "fundamentalismo", incluem-se essas agressões entre católicos, só por uns levarem as coisas mais "a sério" que outros.

Acho importante determo-nos neste ponto. Particularmente nas discussões com protestantes, devemos perceber o seu ponto de vista e porque é que está errado, valorizando a resposta certa. Se não o fizermos, seremos omissos ou por outro lado, não percebendo onde estão realmente os erros, também podemos adquirir uma mentalidade "sola Scriptura". Como reflexão essencial sobre o "fundamentalismo", temos as incisivas considerações sobre o mesmo que se encontram no documento da Comissão Pontifícia Bíblica sobre "A Interpretação da Bíblia na Igreja", citando eu aqui alguns dos primeiros e últimos parágrafos, fazendo ênfases que não estão no original:

COMISSÃO PONTIFÍCIA BÍBLICA

A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
NA IGREJA


I. Métodos e abordagens para a interpretação

(...)

F. Leitura fundamentalista

A leitura fundamentalista parte do princípio de que a Bíblia, sendo Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes. Mas por «interpretação literal» ela entende uma interpretação primária, literalista, isto é, excluindo todo o esforço de compreensão da Bíblia que leve em conta o seu crescimento histórico e o seu desenvolvimento. Opõe-se assim à utilização do método histórico-crítico, como de qualquer outro método científico, para a interpretação da Escritura.

A leitura fundamentalista teve a sua origem na época da Reforma, com uma preocupação de fidelidade ao sentido literal da Escritura. Após o século das Luzes, apresentou-se no protestantismo como uma protecção contra a exegese liberal. O termo «fundamentalista» é ligado directamente ao Congresso Bíblico Americano realizado em Niagara, Estado de New York, em 1895. Os exegetas protestantes conservadores definiram nele «cinco pontos de fundamentalismo»: a inerrância verbal da Escritura, a divindade de Cristo, o seu nascimento virginal, a doutrina da expiação vicária e a sua ressurreição corporal quando da segunda vinda de Cristo. Logo que a leitura fundamentalista da Bíblia se propagou por outras partes do mundo fez nascer outras espécies de leituras, igualmente «literalistas», na Europa, Ásia, África e América do Sul. Esse género de leitura encontra cada vez mais adeptos, no decorrer da última parte do século XX, em grupos religiosos e seitas assim como também entre os católicos.

Se bem que o fundamentalismo tenha razão em insistir na inspiração divina da Bíblia, na inerrância da Palavra de Deus e nas outras verdades bíblicas incluídas nos cinco pontos fundamentais, a sua maneira de apresentar essas verdades está enraizada numa ideologia que não é bíblica, apesar do que dizem os seus representantes. Ela exige uma forte adesão a atitudes doutrinárias rígidas e impõe, como fonte única de ensinamento a respeito da vida cristã e da salvação, uma leitura da Bíblia que recusa todo o questionamento e toda a pesquisa crítica.

O problema de base dessa leitura fundamentalista é que, recusando levar em consideração o carácter histórico da revelação bíblica, torna-se incapaz de aceitar plenamente a verdade da própria Encarnação. O fundamentalismo foge da estreita relação do divino e do humano no relacionamento com Deus. Ele recusa-se a admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em linguagem humana e que foi redigida, sob inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto bíblico como se tivesse sido ditado palavra por palavra pelo Espírito e não chega a reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá nenhuma atenção às formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas.

O fundamentalismo insiste também de uma maneira indevida sobre a inerrância dos detalhes nos textos bíblicos, especialmente em matéria de factos históricos ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes torna histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois considera como histórico tudo aquilo que é reportado ou contado com os verbos num tempo passado, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo.

O fundamentalismo tem muitas vezes tendência a ignorar ou a negar os problemas que o texto bíblico comporta na sua formulação hebraica, aramaica ou grega. Liga-se muitas vezes estreitamente a uma tradição determinada, antiga ou moderna. Omite igualmente a consideração das «releituras» de certas passagens no interior da própria Bíblia.

No que concerne aos Evangelhos, o fundamentalismo não leva em consideração o crescimento da tradição evangélica, mas confunde ingenuamente o estágio final desta tradição (o que os evangelistas escreveram) com o estágio inicial (as acções e as palavras do Jesus da história). Negligencia assim um dado importante: a maneira como as próprias comunidades cristãs compreenderam o impacte produzido por Jesus de Nazaré e pela sua mensagem. Ora, aqui está um testemunho da origem apostólica da fé cristã e a sua expressão directa. O fundamentalismo desnatura assim o apelo lançado pelo próprio Evangelho.

O fundamentalismo tem igualmente tendência a uma grande estreiteza de visão, pois considera conforme à realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada, só porque se encontra expressa na Bíblia; isso impede o diálogo com uma concepção mais ampla das relações entre a cultura e a fé. Apoia-se sobre uma leitura não-crítica de certos textos da Bíblia para confirmar ideias políticas e atitudes sociais marcadas por preconceitos, racistas por exemplo, simplesmente contrários ao Evangelho cristão.

Enfim, na adesão ao princípio do «sola Scriptura», o fundamentalismo separa a interpretação da Bíblia da Tradição guiada pelo Espírito, que se desenvolve autenticamente em ligação com a Escritura no seio da comunidade de fé. Falta-lhe entender que o Novo Testamento tomou forma no interior da Igreja cristã e que ele é Escritura Santa desta Igreja, cuja existência precedeu a composição dos seus textos. Assim, o fundamentalismo é muitas vezes anti-eclesial; considera negligenciáveis os credos, os dogmas e as práticas litúrgicas que se tornam parte da tradição eclesiástica, como também a função de ensinamento da própria Igreja. Apresenta-se como uma forma de interpretação privada, que não reconhece que a Igreja é fundada sobre a Bíblia e tira a sua vida e a sua inspiração das Escrituras.

A abordagem fundamentalista é perigosa, pois é atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para os seus problemas da vida. Ela pode enganá-las oferecendo-lhes interpretações piedosas mas ilusórias, em vez de lhes dizer que a Bíblia não contém necessariamente uma resposta imediata a cada um desses problemas. O fundamentalismo convida, sem o dizer, a uma forma de suicídio do pensamento. Coloca na vida uma falsa certeza, pois confunde inconscientemente as limitações humanas da mensagem bíblica com a substância divina dessa mensagem.

(texto retirado das páginas 80-84 da edição do Secretariado Geral do Episcopado português, Editora Rei dos Livros)


Vemos assim que este "fundamentalismo" se estabeleceu como "Credo", entre diversas seitas surgidas desde o início do século passado. Mas quanto a correntes heterodoxas deste tipo, há muito mais (tendo-se começado a estabelecer a partir da "Reforma protestante" do séc. XVI), e podem ser identificadas na mentalidade não só de comunidades inteiras, mas também na de crentes individuais de diversas igrejas, mesmo católicos (incautos). Nós é que tendemos a chamar "fundamentalismo" a tudo e perdemos o sentido espantoso da sua diversidade e, por vezes, extremismo de "fundamentos" comuns, sem assim o podermos refutar na sua raíz. E a radicalidade de não partilhar neste e noutros "fundamentalismos" (como a idolatria do tradicionalismo) está na Igreja Católica.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 17:10


Quanto à violência "fundamentada" na religião, pode dizer-se que o Cristianismo é exemplar nisso. Há certamente, em 2000 anos, fenómenos circunscritos de violência. Mas, com escrutínio histórico, sempre se verificou que tais acções não pertenceram a uma motivação religiosa baseada intimamente em Jesus Cristo, mas senão em circunstâncias de reacção a opressões, extremismos escrupulosos, omissões... De facto, a maior acusação que se faz ao Cristianismo é bastante justa: a de hipocrisia, de não se praticar como é doutrina própria. Purificados os preconceitos e as màs vontades, critica-se sempre a falta de conversão dos cristãos àquilo que eles mesmos têm por mandamentos, quando lhes apontam os seus erros. Além disso, penso que a única crítica comum do ponto de vista de uma "opressão", não tanto de uma "violência", no sentido dos católicos "impôrem" as outros a virtude, a que alguns se referem como "a sua moralidade". Ora, isto não é bem assim, porque já ensinava S. Agostinho que a imposição da virtude traria ainda mais males à sociedade do que bens, de modo que a Igreja apenas propõe o reconhecimento dos preceitos morais que são comuns a toda a humanidade, por serem intrínsecos à lei moral da natureza humana, distribui as graças para que o possamos viver, e procura ajudar a sociedade em geral em praticar o verdadeiro sentido do bem, elevado à gratuidade.

Também existem, como vemos acima, aqueles grupos de cristãos sectários que por começarem a interpretar a doutrina como "acham" representar correctamente a revelação de Deus, a desvirtuam e desnaturam por desconsiderarem acriticamente (e sem procurar honestamente a caridade da própria conversão) elementos essenciais das fontes das quais retiraram os seus próprios fundamentos. Assim, não é de estranhar que se verifiquem atitudes desregradas, ainda que pontuais.

Por tudo isto, mesmo sem citar para já o que se passa nos variados sistemas religiosos, penso que numa avaliação do fenómeno do fundamentalismo religioso, o Cristianismo fica na posição menos desfavorável, por assim dizer.

Posto isto, é necessário avaliar as motivações íntimas daqueles que praticam o terrorismo, etc. Não vou escrever mais para já, mas acho que esse seja o assunto essencial a tratar.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 17:14


Não fui bem preciso na minha primeira frase na mensagem anterior, mas refiro-me ao Cristianismo não como "exemplo" de violência fundamentada na religião, como é óbvio, mas de uma atitude exemplar entre as demais, no sentido de ser a melhor, a mais benigna.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 23:40


João Oliveira

Obrigado por mais esta lição exemplar, desta feita sobre fundamentalismo religioso.

Quem dera que os demais participantes, inclusive eu próprio, fossem assim tão rigorosos e honestos sobre os diversos temas do fórum!

Mas, como já disse, devemos levar em conta os dotes de cada qual, e tu és realmente um superdotado, graças a Deus.
O grande mal é, repito, certas pessoas não só não investirem, em conformidade com o Evangelho, da melhor forma os seus talentos, mas, para cúmulo, empregarem-nos mal e/ou para o mal...


Um abraço.

A.


Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 11:36


Abelardo,

Não acho que seja um "superdotado", mas acho-me "abençoado" com capacidades de que, afinal, não faço tão bom uso quanto deveria... Por isso, não acho que mereça elogios, mas peço-lhe que me ajude a ser humilde...

Ainda sou novo e estou sempre a aprender, quando me motivo a explicar as coisas aos outros.

No entanto, acho que não deve acentuar repetidamente este tipo de mensagens a valorizar o comportamento de uns em detrimento de outros. Acho que as críticas pessoais devem ser apontadas de passagem ao falar dos argumentos, e não consistindo na principal argumentação, "pisando" mais naqueles cujo comportamento se desaprova. Até compreendo que o faça por se ver limitado dadas as circunstâncias, e por ser realmente frustrante que a ortodoxia (e a ortopraxis) aqui no fórum quase sempre não seja maioritária ou exemplar...

Devemos procurar abertura de coração, gestos eficazes e sempre a conversão a Jesus Cristo. Não a acusação e lamentação pelo que os outros fazem ou deixam de fazer, ao invés de se procurar a reparação desses males.

P.S.: Não pretendo "dar lições", mas procuro o diálogo.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 12:36

Caro João:

Achei um caso curioso a tua mensagem de ontem, das 16:48. A sua publicação e a resposta do Abelardo reveste-se de dupla ironia e explico porquê.

Por um lado, dizes: «Bem, quando se fala em "fundamentalismo", temos de explicar o que dizemos. A generalização do termo leva a que seja usado de forma parcial ou indevida».

Acontece que, querendo esclarecer um conceito (“fundamentalismo religioso”) que aqui foi aplicado voluntariamente numa acepção geral, o levaste para um âmbito muito particular (logo, parcial!) que não pertence ao âmbito desta mensagem (logo, indevido!). O termo “fundamentalismo” é também um conceito de âmbito sociológico com um referente muito mais vasto que aquele que indicas. Na verdade, o “fundamentalismo” a que te referes situa-se particularmente no âmbito cristão e a partir da questão da interpretação da Bíblia e este tópico não se referia inicialmente apenas a este caso particular. Aliás, a notícia inicial dava o mote. Tratava-se aqui de todo o tipo de fundamentalismos, a começar pelo islâmico, em especial aqueles que se revestem de violência (praticamente todos, na verdade, mesmo que nem todos peguem em armas letais).

Por outro lado, citaste um texto pelo qual tenho muito apreço e que já referi muitas vezes, também neste Fórum, sobretudo para rebater leituras fundamentalistas da Bíblia. Algumas dessas minhas mensagens foram dirigidas ao Abelardo, que – ironias! – louva a oportunidade da tua mensagem. Espero que leia bem o texto que citaste e tire as suas consequências.

De uma forma simples, poder-se-á dizer que o fundamentalismo é uma ideia que pegou em armas (mesmo que as armas não sejam fisicamente letais). Creio que devo direitos de autor por esta expressão, que me parece bastante feliz, mas não sei a quem. O problema dos fundamentalismos não está tanto no que afirmam, mas, sobretudo, naquilo que negam (como quase sempre em todas as heresias). E uma das coisas que os fundamentalismos negam com mais veemência é a diferença e a coexistência de (outras) interpretações. Ancorando-se naquilo que eles consideram ser “fundamento” e “inegociável”, os fundamentalistas negam a possibilidade de releitura desses mesmos fundamentos. Os fundamentalismos são exclusivistas (excluem o diferente) e auto-justificam-se (são os salvados frente a um mundo perverso e hostil, condenado). Têm quase sempre um espírito sectário e um visão do mundo bipolar: os bons (“nós”) e os maus (“os outros”). Consequentemente – e considero este ponto muito importante –, demoniza-se o outro. O que diferencia os fundamentalismos entre si será o grau de exclusivismo e sectarismo e os meios usados para fazer soar a sua voz.

Voltando à tua mensagem, parece-me que os teus esclarecimentos têm razão de ser apenas no contexto intra-cristão e diz particular respeito aos que se autodenomina(ra)m com esse nome. Há vários grupos protestantes que se denominam a si mesmos fundamentalistas. Aliás, há um livro curioso que faz referência a estes grupos: David B. Currie, Born Fundamentalist, Born Again Catholic, Ignatius Press, San Francisco, 1996.


Dizes ainda:

«Pelo menos este "fundamentalismo" não tem em princípio nada a ver com extremismos violentos, por ser doutrinário (mas pode ter como consequência lógica, por erros procedentes directamente dessa interpretação doutrinal). É diferente daquele "fundamentalismo" sobre o qual se fala e se condena facilmente, aquele tipo de expressões que se dizem de "interpretações literalistas, fundamentalistas", muitas vezes classificando assim outras indevidamente, só por se achar que são rigorosas. (destaques no original)»

Bem, implicitamente acabas por reconhecer que há mais do que um tipo de fundamentalismo. Talvez devesses ter dito no início da tua mensagem que a tua precisão dizia respeito apenas ao que se refere ao uso da expressão “fundamentalismo religioso” em âmbito cristão. Mas, mesmo aí, tenho as minhas dúvidas que o texto que citas seja totalmente decisivo (embora seja importante).

Mas o teu texto que acabo de citar tem outro pormenor interessante. Se bem percebi, dizes que este fundamentalismo cristão em princípio não tem nada a ver com extremismos violentos «por ser doutrinário». É uma questão interessante que valeria a pena discutir. Em parênteses admites: «mas pode ter como consequência lógica, por erros procedentes directamente dessa interpretação doutrinal».

Isto daria pano para muitas mangas! Pareces indicar que há um fundamentalismo bom ou “benigno”, o doutrinal, e que o fundamentalismo “mau” (violento) seria uma consequência de “erros procedentes directamente dessa interpretação doutrinal”. Não quero meter tudo no mesmo saco, mas há que chamar a atenção para o facto de que todo o fundamentalismo leva em si um princípio de violência e que todo o fundamentalismo é já em si mesmo um erro.

Uma coisa é o centrarmo-nos nos fundamentos, outra é o fundamentalismo, que em muitos aspectos é precisamente o contrário do centrar-se nos fundamentos (algo parecido ao que tenho dito sobre os Tradicionalistas). Os fundamentalismos tomam um ponto de vista e absolutizam-no, tomando o todo pela parte (e vice-versa). No que concerne ao Cristianismo, se um ponto essencial da Revelação cristã é que Deus Se manifestou na História – donde Deus Se manifesta também em palavras humanas, limitadas, e numa pessoa, Jesus Cristo, histórica e culturalmente condicionado –, negar a possibilidade da interpretação bíblica é querer impor a a-temporalidade a algo que é, por decisão de Deus, temporal (não necessariamente efémero!). Desta forma, o fundamentalismo acaba por negar um dos aspectos mais importantes dos fundamentos do Cristianismo. Não é por acaso que no documento que citaste das várias leituras da Bíblia referidas, a única que é terminantemente rejeitada é precisamente a fundamentalista, aquela que tem mostrado neste fórum mais “devotos”: Andréia, Avlis/Abelardo, Hugo Castro e outros.

Já agora, devo dizer também que em âmbito católico há um outro tipo de fundamentalismo, que diz respeito à leitura dos textos do Magistério ao longo da História!...


Quanto à mensagem de ontem das 17:10, realço e comento algumas frases tuas. Dizes:

«Quanto à violência "fundamentada" na religião, pode dizer-se que o Cristianismo é exemplar nisso. [...] penso que a única crítica comum do ponto de vista de uma "opressão", não tanto de uma "violência", no sentido dos católicos "imporem" as outros a virtude, a que alguns se referem como "a sua moralidade". Ora, isto não é bem assim, porque já ensinava S. Agostinho que a imposição da virtude traria ainda mais males à sociedade do que bens, de modo que a Igreja apenas propõe o reconhecimento dos preceitos morais que são comuns a toda a humanidade, por serem intrínsecos à lei moral da natureza humana, distribui as graças para que o possamos viver, e procura ajudar a sociedade em geral em praticar o verdadeiro sentido do bem, elevado à gratuidade.»

Comento: O problema é que este discurso aparentemente benigno é visto por quem está “fora” como arrogante, porque usa um instrumento que outros rejeitam: a pretensa existência de uma «lei moral da natureza humana» que seja «comum a toda a humanidade» ou de uma «lei natural», «esquecendo-se» que este é um modo de falar tipicamente ocidental que para outras tradições culturais (por exemplo, a indiana/hindu) não diz absolutamente nada! De facto, muitas formas de falar de “universal” mais não são que formas de “ocidentalizar” o resto do mundo!

Alef

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 13:11


João Oliveira

Tens razão; porém, acho que também tenho a minha razão, ainda que um pouco exagerada, por vezes (o que pode ser, reconheço, mais negativo que positivo, eventualmente...), mas por vezes não consigo, ou tenho muita dificuldade em, deixar de manifestá-la, o que acho, ao fim e ao cabo, ser um direito meu, ou não será?

Depende da óptica de cada qual, e sobretudo das circunstâncias pessoais, específicas e intrínsecas, como, de resto, de vários outros factores inerentes, pelo que é deveras arriscado fazer um juízo isento, ou bastante seguro...
Mas acontece, infelizmente (com raras e honrosas excepções), todos nós fazermos apreciações mais ou menos tendenciosas, egoístas, parciais, favorecendo uns em detrimento de outros, mormente devidos às nossas simpatias, gostos, opiniões, etc., o que reconheço não ser nada cristão...
Desculpa, pois, se, uma vez mais, exagerei a dose, como aliás dás a entender... Quem está de fora geralmente vê melhor, independentemente de ser mais ou menos isento e honesto...
Todavia, acho que já me conheces um pouco mais para me compreenderes melhor em quaisquer circunstâncias, em relação aos demais, não é mesmo?
Se pretenderes, poderemos, sem compromisso, voltarmos ao diálogo directo, no MSN, em dias e horas a combinar... Infelizmente, houve um desencontro/interrupção, por motivos estranhos (julgo eu) à minha vontade...

Um abraço fraterno.

Abelardo


P.S.: * Não disse que "davas lições", no sentido menos nobre que pareces ter entendido, mas no sentido de argumentares muito bem o que pretendes explicitar, e (por que não?) devido a saberes ensinar e convencer, pois tens (pelo menos eu reconheço, em relação a outros, ou à maioria esmagadora, claro, e ainda bem...), esse talento, esse dom, e daí eu inferir que és "superdotado", no melhor dos sentidos, pelo que deves dar graças a Deus, em vez de ficares embaraçado, por excesso de modéstia, por exemplo...
* Eu só queria dar-te força/apoio para continuares cada vez mais e melhor, pois tens grandes e singuleres qualidades para tal, que não deves menosprezar de modo nenhum, o que seria péssimo para todos nós, incluindo tu mesmo... Desculpa a minha transparência e sinceridade.
* E que os demais participantes não fiquem melindrados comigo, pois não estou, não pretendo, de modo nenhum, fazer juízos de valor de uns contra outros (sobretudo a favor de mim mesmo, em prejuízo de alguém...), embora seja frequentemente acusado disso mesmo, ainda que por vezes implícita ou deturpadamente, assim como doutros defeitos, os quais procuro no entanto sempre corrigir (logo os reconheça), dentro do possível, pesados os prós e contras, assim como tento reparar o mal feito, ainda que discretamente, pois detesto ofender/lesar quem quer que seja, ficando deveras preocupado com isso, mas sem exageros ou obsessões, ainda que não pareça... :)


Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 13:37

Dizes, Abelardo: «[...] assim como tento reparar o mal feito, ainda que discretamente, pois detesto ofender/lesar quem quer que seja, ficando deveras preocupado com isso, mas sem exageros ou obsessões, ainda que não pareça...».

Abelardo: se é verdade o que dizes, deves ter sido muito, muito discreto em relação a mim, o pseudo-católico, o modernista, o herege, o sacrílego, o excomungado, o ímpio!... Tão discreto que nada notei da tua reparação. Mas nada discretos foram os "piropos"... Parece que a tradição ainda é o que era...

Alef

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: molkyul mehushkhay (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 16:11

Que é isso pessoal, um ofendendo a outro, foi esse o amor que cristo ensinou um a ter com outro??? disse cristo. todo povo dividido é um povo perdido.e pelo que eu sei o poder de nos julgar ainda pertence a yhwh. Ninguém comcebeu esse poder ainda. E muito menos yhwh deu esse poder a alguém ok. Pois ,todo autoridade foi dada apenas a cristo e a mais ninguém.

Mateus 7
Almeida Fiel e Corrigida
1 NÃO julgueis, para que não sejais julgados.
2 Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.

E ouvi toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. [Apocalipse 5:13 - Almeida Fiel e Corrigida]

E, chegando-se Yhwhshua, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. [Mateus 28:18 - Almeida Fiel e Corrigida]



molkyul

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 20:36

Escreve o João Oliveira (14/06/04 16:48):
" Também não acho justo dizer, como disse aqui o JMA, que se pecam na violência, desde logo não sejam "cristãos" e não passam de "seitas que dizendo-se cristãs não são mais que grupos de malfeitores". É preciso diferenciar as coisas para que os verdadeiros criminosos sejam realmente expostos. O que se passa é que o "fundamentalismo" é muito mais dissimulado que uma coisa só feita e usada por malandros e bandidos..."

Então aceitamos que se matem pessoas? Matar alguém não é crime?

Como estás numa clínica de aborto és um alvo a abater?

Gostava de saber onde é que no Evangelho é dada a permissão para matar!

Repito aquilo que afirmei: qualquer grupo que incite à violência é criminoso.

E quando tentam justificar os crimes invocando o nome de Deus, é uma blasfémia.

E, em caso algum, podem ser Cristãos porque estão a renegar a essência do Cristianismo: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.



João (JMA)

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 21:45

Todo homem de um livro só é muito perigoso....



Cris

Re: Fundamentalismos religiosos
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 22:21

Chris,

Por isso os Cristãos não seguem 1, mas 73. Todos juntos, formam a Bíblia Sagrada.

Luis

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