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ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO (IP registado)
Data: 01 de June de 2004 15:48

Caríssimas Irmãs e Irmãos da Grande Fraternidade Universal,
Caros católicos (e outros cristãos) do Forum Paróquias,


Todos temos acompanhado com interesse o evoluir da milenar Igreja Católica num processo "ecuménico", onde procura encetar o "diálogo" com outras confissões cristãs e não só.

Apesar de durante muitos anos (até ao famoso Concílio Vaticano II) a Santa Igreja Católica ter rejeitado qualquer "diálogo ecuménico", de repente, eis que o Ecumenismo é a bandeira da moda.

(Vamos até ter no fim do ano em Lisboa, o famoso encontro ecuménico juvenil "Comunidade de Taizé", encontro esse, promovido com grande afã pelo Patriarcado de Lisboa).

Aquilo que era até meados do século XX, visto pela Igreja de Roma como uma heresia, e que era olhado com extrema cautela e desconfiança, é agora o "leit-motiv" de qualquer banal programa pastoral.

Mas... o que se entende afinal por Ecumenismo? Os que é que os católicos pretendem?

E os chamados "protestantes"? O que pensam eles do Movimento Ecuménico? É algo credível ou um passatempo?

E os não crentes? Estarão eles também abrangidos por alguma "iniciativa" do "Movimento Ecuménico"?

Recentemente, emanada pelo Vaticano surgiu um novo documento com regras sobre a Eucarístia.
O que surpreende é que vem reafirmar que os pastores protestantes NÃO podem concelebrar a Eucarístia (católica) com os sacerdotes católicos.
Será esta a verdadeira face do Ecumenismo de Roma?... ou não?

Afinal, é caso para perguntar... o ECUMENISMO: é Solução ou Ilusão?


Um abraço Fraterno e Igualitário do vosso

APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO

"A PERFEIÇÃO não existe, o que existe é a sua eterna procura"



Afonso Costa

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 01 de June de 2004 18:28

Caro "Aprendiz", definição do dicionário da Priberam para ecumenismo:

Desejo ou propensão para estabelecer laços entre os povos, de modo a formar uma única família em todo o mundo; Tendência para restabelecer a unidade entre os discípulos de Cristo.




«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 01 de June de 2004 21:45

Caro Aprendiz

O Documento recem publicado "Sacramento da Redenção" não poderia dizer outra coisa senão reiterar essa disposição que impede ainda de celebrar a Eucaristia conjunta, com muita pena para todos, mas outra coisa não poderia ser. A Celebração da unica Ceia de Cristo, em conjunto, tem de ser sinal de uma comunhão interna. È o reflexo de uma ampla comunhão em muitas outras coisas. Havendo profundas divergencias entre ambos nomeadamente a nivel sacramental, não existe entre as duas confissões a chamada "comunionis in sacris" comunhão sacramental. E porquê? Porque os Católicos acreditam na presença real de Cristo nas espécies consgradas, os protestantes não. Os protestantes não tem missa, recusam o caracter sacrificial da eucaristia, para eles é apenas o fazer memória de uma ceia especial, para nós é a actualização - o tornar actual - a Paixão de Cristo, de forma sacramental, isto é reptimos os mesmos gestos e as mesmas palavras de Cristo, tornando presente o Seu sacrificio redentor colhendo os seus méritos.
Como não estamos de acordo, e como a missa não para cada qual acreditar no que quer, mas acreditamos todos no mesmo - estamos em comunhão - não é possivel celebrá-la em conjunto.
O Ecumenismo pretende ser um diálogo - e não um monólogo- entre a Igreja Católica e as outras confissões cristãs separadas, no sentido de ultrapassar divergências, e poder um dia chegar a uma união que nos permita celebrar uma unica e mesma eucaristia.
Nem a Igreja Católica pretende impor o seu conjunto doutrinal e os outros obedecem, nem pretende renegar aquilo que é o seu deposito de fé em favor de uma união a todo o custo.
A Comunidade Ecuménica de Taizé, surge como esse espaço de diálogo, em que nos conhecemos, escutamos, afastamos as ideias erradas que temos uns dos outros. Serve para nos escutarmos e orarmos juntos. Não podemos celebrar missa juntos mas podemos rezar ao mesmo Deus, ao mesmo Cristo em conjunto.
O esforço ecuménico tem dado alguns frutos, nomeadamente ao nivel Luterano em que ambas as Igrejas assinaram um documento conjunto sobre a Justificação, sendo pois a doutrina comum, embora em linguagem diferente. Serviu para os luteranos desmistificarem a ideia que tinham dos católicos sobre a salvação, e o mesmo para os católicos.
Reitero que não servirá para os católicos imporem nada, e muito menos para hipotecarem a sua fé em troco de uma união.
O trabalho vai sendo feito, no silencio e longe das camaras fotograficas....

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Pedro B (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 10:20

Caro Padre João

Das suas palavras suponho que então o objectivo é que no futuro estejam criadas as condições para que tantos Católicos como protestantes celebrem Missas em conjunto.

Mas então como será? Das duas uma ou os Protstantes terão de passar a aceditar na presença real de Jesus Cristo sob as especies de pão e vinho ou os Católicos passarão a acreditar que não existe uma presença real.

Será assim ou não ?

Por outro lado a ideia que tenho é que em Comunidades como Taizé são celebradas "Missas Ecuménicas" em que membros de várias religiões celebram em conjunto.

Será licito ao abrigo das Igreja Católica?

Pedro B

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 11:03

Caro Pedro B,

Do meu distante "lugar de observação", tenho de dizer que tocaste com o "dedo na ferida" na "política ecuménica" católica.

Temos vindo a assistir - de forma tão clara como óbvia, que se torna até flagrante mesmo para aqueles que não pertencem à Igreja Católica - que esta, tem tido posições cada vez mais dúbias em relação ao Ecumenismo.

Por um lado, observamos que o Papa promove os famosos e aplaudidos "Encontros de Assis" com os líderes máximos de várias confissões religiosas, mas por outro lado, a Santa Sé publica o reaccionário documento "Dominus Iesus".

Por um lado, observamos o afã, o empenho (extra) denotado de aproximção com os Protestantes da denonimada "Comunidade de TAizé", depois, surge o documento "Sacramento da Redenção", onde se proíbe os padres católicos de concelebrarem com os protestantes.

Afinal em que é que ficamos?

Afinal a Santa Sé fala a uma só voz, ou a duas?

Como observador, penso que a longa tradição de "exclusivismo de Salvação" que a Igreja sempre defendeu ao longo de séculos, tem ainda bastantes e poderosas forças de apoio dentro da própria Cúria do Papa.
(Atenção... estou a par das "novas regras do forum"... não confudam "crítica" com "ofensa"...)

Um abraço para ti Pedro B, do

APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO

"A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE, o que existe é a sua eterna procura"



Afonso Costa

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 14:41

Algumas confusões ficaram no ar.
Em primeiro lugar o fim do ecumenismo não é que catolicos e protestantes celebrem a missa em conjunto, mas que ultrapassem as divergencias que os separem através de um diálogo na caridade. Enquanto essas divergencias existirem claro que não é possivel nem o será. Porque aliás estarão a celebrar coisas diferentes. O fim do ecumenismo será uma união na mesma fé. O objectivo é a união de fé. Para isso é necessário que nos conheçamos e entendamos o que nos separa ao mesmo tempo que aprofundamos o que nos une.
Depois em taizé não se celbram missas ecuménicas. Eu vou a Taizé todos os anos. O que se celebra é a missa Católica, por padres católicos. Que outros membros de outras confissões nela participem ninguem pode proibir. Na minha paróquia tenho Ucranianos ortodoxos que à falta de missa Ortodoxa vão à catolica.
Os protestantes que em Taizé vão à missa catolica, sabem que é missa catolica, que ~eles são de outras confisões.
Não há qualquer alteração ás normas da Santa Sé. Não ha pastores a celebrar com padres, nem padres ortodoxos com católicos. Apenas padres catolicos, e as pessoas são avisadas que é a missa catolica, e apenas catolicos se devem abeirar da comunhão.

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 16:13

De facto, na "denominada Comunidade de Taizé" não se celebram missas ecuménicas. Há celebrações católicas ou protestantes ou ortodoxas, mas não "missas ecuménicas". Qualquer pessoa, ali como em qualquer lado, pode assistir a qualquer uma daquelas celebrações (eu já assisti), mas sabendo naturalmente a confissão a que elas se referem.

Depois, será que o apelo de Cristo à unidade ("que sejam um, como Eu e o Pai somos Um"; estou a situar de memória) não deve constituir uma exigência para todos os que O seguem, católicos ou não? Mesmo reconhecendo as dificuldades e as impossibilidades do momento?

Não percebi bem o que quer dizer "empenho (extra) denotado"... É o extra que não compreendo.



Miguel

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 16:30

Penso que o Papa João Paulo II, tem insistido na necessidade de haver um sinal visível da unidade dos cristãos. Uma forma poderia ser a existência de um Conselho Ecuménico Permanente- um pequeno grupo de pessoas representando as diversas tendências, talvez 7 ou 12 conselheiros, que teriam a responsabilidade de eleborar um documento anual de reflexão sobre o estado da Igreja de Jesus Cristo e da Humanidade à luz da Palavra de Deus e com propostas por exemplo para a Paz, a Justiça e o Progresso dos Povos e outros assuntos numa perspectiva de evolução e transformação. É claro que, se simplesmente fizermos o que Jesus Cristo nos manda, a unidade será mais fácil.



*=?.0

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 16:46

Caro Albino Soares,

Que linda ideia a tua essa do "Conselho Ecuménico Permanente". Mas, não existe já o "Conselho Mundial das Igrejas"? Uma organização criada pelas Igrejas Protestantes (e que - pouco "ecumenicamente - a Igreja de Roma não faz parte!).

Obrigado pelos esclarecimentos do Pe. João Luis e do rmcf, sobre a "comunidade de Taizé".

Afinal não tão "ecuménica" quanto eu poderia imaginar. No fundo, o que depreendo das vossas intervenções, é que são um grupo de cristãos de diversas confissões, que vivem juntos, mas celebram a sua fé de forma "estanquizada", de forma SEPARADA.

Os membros protestantes de Taizé êm as suas celebrações com pastores protestantes, e os membros católicos, têm as suas missas com padres católicos. É isso?...

... E chamam a isso "movimento ecuménico"? Então, deixem-me dizer-vos, que assim - sem ofensa - a minha casa também é um "movimento ecuménico". Temos um ateu, duas católicas, e um sportinguista!

(Desculpem-me! Foi sem itenção! Esta do "sportinguista" era só a brincar... para "quebrar o gelo", percebem?)

Deixem-me vos dizer, na minha qualidade de Observador do Fenómeno Religioso, que afinal o tão apregoado "Ecumenismo" não é assim tão sério.
Atrevo-me a dizer, que se trata de um golpe de markting!

Afinal, apesar das palavras bonitas e floreadas dos participantes acima, o Ecumenismo é mais Ilusão que solução!


Um abraço fraterno e igualitário a todos do vosso,

O APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO

"A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE, o que existe é a sua eterna procura"



Afonso Costa

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Pedro B (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 19:35

Padre João


Muito obrigado pelos esclarecimentos.

Fico no entanto com uma duvida.

Será legitimo a um Católico assistir a uma missa Protestante, ou um Católico não deve frequentar as missas protestantes designadamente as celebradas em Taizé?

Pedro B

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 19:50

Aprendiz do Grande Arquitecto,
Tanto quanto pude depreender do que li no sítio do WCC (World Council of Churches- Conselho Mundial das Igrejas) há contactos permanentes entre a Santa Sé e este Conselho, mas não sei até que ponto a Igreja Católica participa nas suas estruturas ou no orçamento. Achei interessante que uma organização que abrange cerca de 450 milhões de crentes tem contactos abertos via e-mail com todos os membros do secretariado.



*=?.0

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 02 de June de 2004 21:27

Pedro B

Ja estive numa igreja Ortodoxa, assisti a uma missa de um funeral e tambem ja estive numa igreja Pentecostal. O pastor, dizia que ainda tinham estatuas. Pois todos tinham os bracos no ar, menos eu...Nada me mudou, tudo diferente, mas tudo igual, com o mesmo fim em Jesus Cristo.



Rita

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 01:02

Caro Aprendiz.
O Ecumenismo não é uma solução nem uma ilusão. É um caminho, que se faz, com dificuldades, com incopreensões, em que se busca descobrir o que o Espirito Santo diz às Igrejas.
As questões que nos separam ainda, não são apenas doutrinais, mas tambem históricas. De Igrejas que caminharam de costas viradas umas para as outras por vezes mil anos.
Criaram-se preconceitos, falsas ideias do que cada um pensa. Desconhecimento real da fé de cada um. O primeiro caminho é sempre o da escuta e da descoberta do que cada um acredita. No respeito e na caridade.
A Comunidade de Taizé procura ser um sinal para o mundo. Sinal de escuta e de reconciliação, de encontro de uns com os outros. Na descoberta de que é possivel 5.000 jovens de diversas confissões rezarem juntos ao mesmo Deus. Da descoberta do que cada um é, da aceitação do que cada um é, como Deus aceita.
Os irmãos não vivem cada um para seu lado. Vivem segundo uma mesma regra, simples, que une todos no mesmo Deus, e seu Filho Jesus Cristo.
Não vai cada um celebrar a sua fé, mas todos a celebram juntos.
É comum a todos a escuta da Palavra de Deus e seu comentário. É comum a todos celebrar o Domingo como dia da Ressureição. Os que são catolicos recebem a Eucaristia porque nela acreditam. Os que são protestantes não acreditando que é Cristo que ali está, mas que é apenas o recordar a ceia de cristo, recebem pão que foi apenas benzido.
O que importa é celebrar o louvor de Deus todos juntos.
O WCC foi fundado para congregar as varias Igrejas Protestantes que na Reforma sairam da Igreja Católica. Não fará sentido a Igreja Catolica fazer parte de um movimento que congrega aqueles que dela sairam.
Mas ha um diálogo imenso entre a Igreja Catolica e todas elas. Como já disse no silencio, longe da popularidade.
MAs o dialogo da caridade vai-se fazendo.
Permita-me aprendiz, tem uma ideia muito errada da Igreja. Talvez lhe tenham mostrado uma igreja de forma errada.
Acredite apenas que Deus é amor e de tal modo nos ama que morreria por si, se fosse preciso, como já morreu por todos.
Mas a Igreja é composta de homens, que erram, que pecam, que fazem asneiras, das quais Deus não tem culpa.
Hoje somos sensiveis a coisas que o homem medieval não era. Acusar hoje a Igreja de ter agido mal porque hoje o é, é anacronismo. Não podemos ver o passado com os olhos de hoje.
Como o Papa no ano 2000 peço perdão a Deus pelos pecados dos homens, mesmo aqueles que dirigiram a Igreja.
Ecumenismo caminho de esperança.

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 01:47

Não consigo perceber bem qual o marketing que se pode encontrar por detrás de Taizé... eles procuram vender o quê?

Em Taizé, cada um pode naturalmente organizar as suas próprias celebrações: é, no entanto, comum convidarem-se os que não pertencem à nossa confissão para assistirem às nossas celebrações; provavelmente não participarão com o mesmo grau de fé ou de compreensão do que nós (mas, quantas pessoas nas nossas igrejas estão realmente esclarecidas acerca dos mistérios celebrados na missa?); mas participarão de coração aberto numa celebração ao mesmo Deus, tentando compreender o significado dos gestos e dos ritos dos outros; mas sobretudo mantendo o coração aberto para os outros e para o respeito das suas formas de celebrar o mesmo Deus (mesmo sem cair necessariamente no facilitismo de pensar que é tudo igual, só quem nunca viu uma cerimónia ortodoxa, por exemplo, é que não sentiu o ambiente de fé, de oração e de reverência para com o sagrado, que muitas vezes falta tanto às celebrações católicas).

De qualquer modo, não é isso que define Taizé: aí, as pessoas vão sobretudo viver durante uma semana a vida de uma comunidade que, tendo irmãos de confissões diferentes e admitindo essas diferenças, prova que é possível que os cristãos vivam juntos construindo aquilo que o fundador da comunidade chama 'uma parábola de comunhão'. As pessoas são convidadas a procurar viver esta comunhão durante uma semana, e a se preparem para, de volta a casa, assumirem responsabilidades concretas nas comunidades/paróquias onde estão inseridas. Por isso a comunidade de Taizé nunca criou um movimento em torno de si, nem procurou congregar os jovens em grupos "à maneira de Taizé". Por isso também, o Papa João Paulo II, que já foi uma vez a Taizé (tinha lá ido outras duas em peregrinações diocesanas enquanto arcebispo de Cracóvia), disse que ir a Taizé é como passar por uma fonte: ninguém é chamado a ficar lá ou a ficar agarrado à Comunidade e às suas orações; cada um é "lançado" nas suas comunidades para descobrir aí, nos grupos que já existem ou em outros que se criem, a sua vocação enquanto cristão. Por isso, embora haja em alguns lugares, periodicamente, orações "à maneira de Taizé", não encontram qualquer grupo de Taizé, ou coisa parecida (e se alguém lhes disser que há, não estão a dizer a verdade, lamento).
A vida na Comunidade (e para quem lá passa uma semana) é pautada por três orações comunitárias, inspiradas no ritmo das orações monásticas e na própria liturgia das horas: nessas orações - embora haja no final da oração da manhã a distribuição da comunhão católica para os católicos e do pão benzido (ritual que tem aprovação eclesiástica) para os que não comungam - não há propriamente a celebração de um sacramento. Há oração: a prova de que, semana após semana, sobretudo na Páscoa e no Verão (embora haja jovens em Taizé durante todo o ano), é possível que cerca de 5000 jovens se reúnam três vezes por dia só para rezar em conjunto ao mesmo Deus, sem preconceitos nem razões de queixa de uns para com os outros. É por isso, também, que quem lá for, sabe que há oportunidade, por exemplo, para se confessar, pelo menos todas as noites após a oração da noite. E nunca vi, antes pelo contrário, nenhum protestante que lá estivesse desprezar um católico 'por acreditar na confissão'... mesmo sem se abeirarem da confissão, há sobretudo enorme respeito e o desejo de se viver 'em comunhão'. Também nunca vi nenhuma atitude proselitista ou de evangelização activa, estilo "Testemunha de Jeová" (que me desculpem), a tentar convencer outros a mudar de visão sobre a Eucaristia ou sobre Maria. Pelo contrário, noto antes um enorme interesse de todos em conhecer o que todos pensam ou aprenderam sobre essas e muitas outras questões igualmente fundamentais... se quiserem, um pouco como em alguns (infelizmente nem todos) diálogos aqui no fórum. É exactamente o que diz o Padre João Luís: "A Comunidade de Taizé procura ser um sinal para o mundo. Sinal de escuta e de reconciliação, de encontro de uns com os outros. [...] Da descoberta do que cada um é, da aceitação do que cada um é, como Deus aceita".

É essa a comunhão que se vive em Taizé: apesar das diferenças (que existem) é possível que os cristãos se reunam e procurem construir entre eles uma parábola de comunhãO, mesmo sem renegarem as suas origens confessionais.

É isto o Ecumenismo?... É um passo... apenas um passo... mas talvez nos faça reflectir um pouco, e fazer que muitos católicos que olham para desconfiança para Taizé, vejam que não têm grandes razões (julgo eu, que também sou católico) para isso.

Abraço...

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 03:56

Padre João:

Excelente! "Tirou-me as palavras da boca", sobretudo o início: não há soluções, há caminhos! O Ecumenismo não pode ser visto como uma "solução airosa de retirada" nem como uma ilusão de que encontrámos o elixir que nos faltava. É um caminho e todo o caminho implica o estabelecer metas, disponibilidade e esforço. Um caminho que não podemos fazer sozinhos.


Aprendiz:

Aqui ficam mais algumas notas soltas.

Falas de possíveis várias vozes (algo dissonantes) na Santa Sé. Acho que tens muita razão, mas isso não é ou não deve ser impedimento para que se continue a caminhar. Num certo sentido, é necessário que haja gente mais sonhadora e ousada que se atire a novos desafios, e é bom que existam uns quantos que façam de "advogados do diabo", chamando à terráquea realidade de que neste mundo nem tudo são rosas. É uma espécie de dupla "D. Quixote" e "Sancho Pança", uma tensão que me parece saudável, se nenhuma das partes afogar a outra.

Esta tensão vem, creio eu, da própria leitura da Bíblia que permite leituras mais restritivas ou mais abertas em relação aos que não pertencem ao "nosso grupo". Isso já é visível no Antigo Testamento. Por um lado, há um povo que se autodenomina "povo eleito", que combate os outros em nome de Deus, desprezando-os por serem "inimigos de Deus". Por outro lado, o mesmo Antigo Testamento está cheio de exemplos de homens e mulheres estrangeiros que são exemplo para os próprios judeus, como Melquisedec ou Rute, e muitos textos, sobretudo de Isaías, estão cheios de elementos optimistas no que diz respeito à salvação dos outros povos.

Também o Novo Testamento evidencia esta tensão: por um lado, não existe nenhum outro Nome (referindo-se a Jesus Cristo) sob o Qual alguém se possa salvar e o acolhimento explícito do Evangelho parece ser condição essencial para a salvação, por outro lado, acentua-se a vontade de Deus de que todos se salvem (e a vontade de Deus é criativa) e a universalidade da graça, oferecida a todos. S. Paulo é um autor interessante a este nível, porque mostra ele mesmo alguma ambiguidade a este respeito. Em Actos 17:16-34 encontramos um curioso episódio onde temos uma espécie de conversão interior de Paulo em relação ao modo de lidar com as outras religiões. Proponho-te que visites a mensagem que deixei no tópico "Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!", em 29/03/2004, às 14:34.

A História da Igreja reflecte esta mesma tensão, desde os Padres da Igreja. Há os que são mais pessimistas (como Santo Agostinho, quando fala da "massa damnata") e os que mostram muito mais abertura (como mostra a longa tradição das "sementes do Verbo", o "baptismo de desejo", a expressão "Ecclesia ab Abel" (curiosamente de Santo Agostinho), e os muitos exemplos e contra-exemplos de abertura e diálogo ou visão mais fechada e exclusivista. Tudo isto acompanha a famosa discussão do aforismo "Não há salvação fora da Igreja".

Normalmente não discuto questões históricas, porque a História acaba por ser um enorme "menu" onde cada um tende a buscar apenas o que lhe interessa. Em parte tens aqui a razão pela qual não respondi ao tópico da "Galeria de horrores" que colocaste anteriormente por cá. Tem razão um amigo meu quando contesta a expressão "contra factos não há argumentos". Diz ele e com razão: «Contra factos é que há argumentos». Precisamente porque a definição de um facto já é uma forma de argumentar. De qualquer forma, isto vem apenas para dizer que na História da Igreja encontramos diferentes exemplos e contra-exemplos, que, de alguma forma, reflectem visões e leituras bíblicas mais ou menos optimistas acerca do valor do diferente. A Igreja é também filha do seu tempo. Durante muitos séculos assistimos a fenómenos como a Inquisição e as Cruzadas, em parte justificados por um princípio filosófico muito simples e aparentemente incontestável: "O mal não tem direitos". Este axioma de tipo ontológico, aparentemente inofensivo, permitia aquilo que hoje consideramos as maiores barbaridades contra o próprio Evangelho. Não podemos "justificar" o passado, mas também não podemos ser ingénuos de cair no anacronismo de julgar o passado com as nossas categorias. Provavelmente dentro de poucos anos veremos que hoje estamos enganados em muitos aspectos, mas não podemos deixar de dar o nosso melhor só por medo de errar...

É verdade que o Ecumenismo propriamente dito diz respeito ao diálogo e re-união de todos os cristãos. Como o P. João Luís já referiu, é um fenómeno recente e começou sobretudo entre os protestantes, preocupados sobretudo pelo enorme número de denominações dentro das diferentes "famílias" protestantes e pelo impacto negativo que isso tinha sobretudo nos chamados países de missão. Se virmos um pouco de perto o que a Reforma (Protestante e Católica -- lembro que é pejorativo e incorrecto o termo "Contra-Reforma --) significou de trauma para os cristãos, com ódios e feridas tão profundas, veremos que nem surpreende tanto que Católicos e Protestantes tenham estado longe de qualquer contacto "amistoso" durante tanto tempo. Há ainda muitas feridas a sarar, desconfianças a superar e trabalho a fazer. Mas o Ecumenismo corresponde a algo de muito importante que o próprio Evangelho acentua: a unidade do "Rebanho de Cristo", que aparece explicitamente na chamada "Oração Sacerdotal" de Jesus: "Pai, que eles sejam um... e haja um só rebanho e um só Pastor".

Embora haja muitos cristãos que rejeitem qualquer tipo de Ecumenismo (muitos grupos fundamentalistas protestantes e alguns católicos), é cada vez mais aceite a ideia de que há que trabalhar para a tal unidade da Igreja.

Onde há dificuldades (e trabalho) é nos meios a usar e no que realmente significa o Ecumenismo. Para alguns, mais "conservadores", o Ecumenismo deve ser um "You-come-in-ism", uma "feliz" terminologia par algo infeliz: o pensar que nós é que estamos completamente certos e os outros só têm que se "converter" a nós. Ora, o Ecumenismo não é isso. Outros pensam que o Ecumenismo é uma espécie de negociação para chegar a meios termos, que levaria ao relativismo. Também isto não é Ecumenismo. Ecumenismo é realmente um caminho para TODOS, porque todos são chamados à conversão a Cristo e à descoberta da verdadeira Igreja de Cristo, que os cristãos desfiguraram com o decorrer do tempo.

Um exemplo muito concreto e algo central diz respeito ao papel do Papa. O trabalho ecuménico não é simplesmente o de levar os ortodoxos e protestantes a "converter-se ao Papa". Trata-se antes de, juntos, católicos e de outras denominações cristãs, pensarmos conjuntamente no que significou e deve significar hoje o lugar de Pedro na Igreja. Curiosamente, este Papa encarregou uma Comissão de trabalhar neste sentido. Porque os próprios católicos reconhecem que o Papa não tem que ter exactamente as prerrogativas que tem hoje (por exemplo, não tem que ser chefe de estado), mas na Bíblia é bastante claro o papel de Pedro entre os Apóstolos e na Igreja Primitiva. Depois de muitas excomunhões mútuas e de costas voltadas, há que tentar ir às fontes e recuperar o essencial.

O Ecumenismo trata também de questões teológicas e nesse campo já houve alguns avanços, mas muito mais há a fazer. O P. João já referiu a assinatura de um importante documento sobre a Teologia da Graça, assinado por uma Comissão mista Luterano-Católica, creio que em 31 de Outubro de 1999, dia que muitos protestantes lembram como "dia da Reforma". A assinatura deste documento foi celebrada numa Universidade Inter-Confessional que frequentei com um Simpósio com a participação de Luteranos e Católicos. Esse simpósio terminou de uma forma que a muitos comoveu: um coro protestante cantando um Avé Maria! O lugar de Maria é outro dos assuntos de grande relevância teológica. Muito há a fazer.

Outra área de enorme importância no diálogo ecuménico é a oração. Muito se tem feito, sobretudo no âmbito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em Janeiro de cada ano. Mas é preciso muito mais. No que diz respeito à Eucaristia, que referiste, é necessário mais prudência. A Eucaristia não é uma oração qualquer e é precisamente a celebração da unidade plena. Não se pode celebrar a unidade enquanto ela não existe plenamente e enquanto não estivermos de acordo quanto ao que realmente celebramos. Esperemos um dia poder celebrar com total comunhão essa grande Eucaristia por que todos ansiamos, mas não se pode começar a construir pelo telhado. Por isso, o documento que referes tem total razão: só tem sentido celebrar a Eucaristia conjuntamente quando ela for realmente para todos sacramento de unidade. Enquanto isso não é possível, devemos reconhecer humildemente que ainda não é chegado o momento.

No entanto, para algumas situações especiais, é possível algum tipo de "comunicação". Por exemplo, se um católico não pode ter uma Eucaristia dominical católica, pode participar numa Eucaristia Ortodoxa, pois os Ortodoxos são validamente ordenados e as suas Eucaristias são válidas.

Bom, muito mais haveria a dizer, mas já chega por agora.

Alef

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 13:58

Caro Pe. José Luis Paixão,


Obriado pela sua intervenção! Foi das mais bem conseguidas que tenho lido da sua parte!
Agradeço-lhe inclusivé, a forma como me aborda, claramente num sentido de compreesão, e não de rejeição. Louvo-o por esse gesto que não fica esquecido. (Subtilmente, em entre linhas, procura até um cominho de "conversão" para a minha pessoa! Parabéns! É o seu "trabalho"! De certeza que já ganhou o "céu" por issso!


No entanto caro Pe. Paixão, e também Alef, (que teve o trabalho de me dirigir uma extensa mensagem),

Concordo com o Alef quando refere que "A Igreja é também filha do seu tempo", e nesta óptica, não concordam comigo se vos disser que o Ecumenismo é também "filho do seu tempo"? Uma resposta das Igrejas institucionais num contexto histórico que se revela cada vez mais secularizante, e o "ecumenismo" será assim uma forma estratégica, um "golpe de publicidade" para as grandes Igrejas Históricas cristãs, terem um "balão de oxigénio"? (Lembrem-se dos anos 60... crescente secularismo; os "maio de 68; a forte ameaça do "materialismo marxista" na Europa; espírito generalizado de que se vive "bem" sem Deus - Woodstock, Beatles «somos mais famosos que Jesus Cristo!» - J. Lennon; secularização de milhares de sacerdotes católicos na sequência (???) do Concilio Ecumenico Vaticano II, etc, etc...)

No entanto, para a Igreja de Roma, penso eu, o Ecumenismo oferece um perigo que se pode tornar "contagioso", de rápida propagação e extremamente devastador nas suas consequências. Trata-se de criar nos fiéis um espírito de Relativismo, onde se caí na ideia de "que tudo é igual"!

Afinal, ir a um culto católico ou protestante é igual. Não será este uma ideia "perigosa", consequencia do Ecumenismo, e que este pode transmitir a vários fiéis (sejam eles, aliás, católicos ou protestantes!)

Na minha ingenuidade de OFR (Observador do Fenómeno Religioso) tenho a ideia de que esse "perigo" tem sido o maior dos obstáculos do porquê as diversas Igrejas Cristãs não progrediram ainda mais num aprofundamento "ecuménico" (no fundo, a união na mesma Fé, dos diversos grupos cristãos separados).

Penso que existem sempre receios - por parte das diversas Igrejas - de cismas internos, se o avanço for demasiado.

Concordam com o que digo, ou o que digo não faz sentido?



Um abraço frateno e igualitário do vosso,

O APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO

"A PERFEIçÂO (talvez) NÃO EXISTA, o que existe é a sua eterna procura"



Afonso Costa

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Pedro B (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 14:29

Caro Aprendiz

Claro que é completamente diferente ir a uma Missa Católica e ir a uma Missa Protestante.

Um Católico não deve assistir a missas protestantes e não cumpre o preceito de o fizer.

São cerimónias essencialmente diferentes.

Pedro B

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 15:02

Caro Pedro B,

Obrigado pela tua observação.
Quando lancei este tópico (talvez dos mais dificeis, no meu entender para os católicos!) sabia que já vinha um pouco armadilhado. É um tema difícil e complexo e onde os católicos (mas também os outros grpos cristão, desculpem-me particularizar) entram muito facilmente em contradições internas.

Repara, quando o Papa (por exemplo) lança uma excomunhão sobre alguém, sobre um determinado grupo (os Ortodoxos, p.e.), está a dizer de forma clara a todos os católicos que eles "não estão em comunhão", logo, não são meio legítimo para se alcançar a tão desejada e ambicionada Salvação Eterna, certo?

Depois hà a tal frase do próprio Jesus Cristo (Deus) ue nos Evangelhos diz ao Apóstolo Pedro: "Aquilo que desligardes na Terra será desligado no Céu, aquilo que ligardes na Terra, será Ligado no cèu".

Aqui está a fundamentação teológica para a legitimidade das ex-comunhões. Sobre quem´é que tem ou não a "legitimidade" da Salvação.

Já estão a ver a "confusão" que isto pode ter num "diálogo ecuménico"?

Assim, a "Missa dos Protestantes" não é válida para os católicos, porque esta está "desligada". Logo, não é meio de Salvação.
E certamente, vale o mesmo inversamente.


Um abraço fraterno e igualitário do

APRENDIZ DO GRANDE ARQUITECTO



Afonso Costa

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 03 de June de 2004 22:16

Caro Amigo
Vou procurar responder às questões que põe.
Um dos grandes obstaculos ao dialogo catolico-ortodoxo, tem sido a continua acusação dos ortodoxos de proselitismo em relação aos católicos, isto é criação de comunidades católicas em zonas tradicionalmente ortodoxas. A Igreja Ortodoxa ciente da separação, ainda sente que é titular do Oriente e o catolicismo no oriente. O perigo desse relativismo pode realmente existir em zonas de franja isto é catolicos e ortodoxos na mesma area com a mesma força. Porque as semelhanças são muitas.
Com o mundo protestante esse perigo não se põe, porque não há a dimensão ritual catolica. Não há uma missa protestante. Ha o louvor a Deus, a escuta e partilha da sua palavra. São reuniões de oração. Não possuem a dimensão sacrificial da Missa entre outras coisas.
Fala de excomunhões. É preciso entender esta questão. O Papa não excomunga ninguem. Por excomunhão entende-se estar fora da comunhão eclesial, fora do Corpo Mistico de Cristo, ou porque passamos a acreditar em coisas que a Igreja rejeita, ou porque pelas nossas accções nos colocamos fora dessa comunhão. A iniciativa parte sempre de quem sai a Igreja pela boca do papa, declara que a pessoa está fora, saiu. Não foi o papa que pos fora, a pessoa saiu, o Papa como confirmador da Fé apenas analiza e declara. O Caso ja aqui por demais abordado, do Bispo Marcel Lefebre. Rejeitou documentos vários do Vaticano II, ia ordenar 4 bispos por sua iniciativa sem autorização do Santo Padre. Foi-lhe dito, que se ordenasse os bispos - pelos seus actos - estava fora.
O Papa não o excomungou apenas disse que por ter feito aquilo não estava dentro.
Imagine que se torna sócio de um clube. No seu artigo 2º diz que se ofender algum jogador é expulso. O meu amigo insulta a equipa toda. Pelos estatutos está fora.... nem é preciso dizer mais nada
A Igreja - Ecclesia - é uma comunidade de fieis unida na caridade numa só fé e num só batismo. Quando um membro deixa de se identificar na mesma fé e a fé dele é diferente..... ja não faz parte.
A passagem da escritura a que se refere é de uma grande riqueza, mas não pode ser lida num ponto de vista de exclusão.
Lembro-lhe que o ultimo canone do Codigo de Direito canónico, refere que o fim ultimo do código é a salvação das almas.
O fim ultimo da Igreja é que todos se salvem, que nenhum se perca. Mais que me preocupar com o desligar, como padre a minha preocupação é o ligar.
Quando um grupo sai da comunhão da Igreja o papa reza por ele. Para que o Bom Deus os salve.
Apesar de ser padre católico não acredito num Deus que salva apenas os Catolicos e os outros vão para a perdição. O Espirito Santo não vive trancado na Igreja Católica.
Assim queirmos nós ser salvos.
Todos os dias tenho rezado por si......
Deus providenciará.
Um abraço fraterno em Cristo Senhor

Re: ECUMENISMO: Solução ou Ilusão?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 04 de June de 2004 05:00

Caro Aprendiz:

Obrigado pelas tuas mensagens, que são um bom estímulo à reflexão.

Ao dizer que a Igreja é também (note-se o “também”) filha do seu tempo, sublinho o aspecto histórico, “encarnado” da mesma. Não podemos querer abstrair-nos desse dado para “julgar” a Igreja. Isto toca problemas muito vastos que apenas toco de leve: a Igreja é histórica e deve as suas metáforas, símbolos, imaginários, etc., às diversas culturas que “entraram” na sua História e em particular deve esses elementos à realidade (multi)cultural das suas origens. Um problema teológico fundamental que aqui se coloca é o seguinte: como pode Deus, absoluto e eterno, revelar-Se num homem que, como tal, está condicionado por uma cultura, por um período histórico? Como podem as palavras humanas ser reveladoras de algo infinito, inefável? Como podem os actos limitados de Jesus ter um significado universal e eterno? Uma excelente questão sobre a qual se debruçou, por exemplo, Karl Rahner (ou também Pannenberg, para citar um teólogo protestante que creio que ainda vive). Basta ver que, por exemplo, se Jesus tivesse nascido numa cultura onde o pão e o vinho não são comuns, certamente os símbolos eucarísticos seriam outros; mas a verdade é que Jesus nasceu numa realidade concreta que conhecemos: uma sociedade patriarcal de pequenos agricultores, pescadores e pastores e algum comércio, uma cultura marcada também pelo contacto e pressão constante de outros povos, etc. A Igreja ficou sempre marcada pelos movimentos culturais e históricos por que atravessou: a cultura helenista dos chamados Padres da Igreja marcou em muito o vocabulário que hoje utilizamos, o direito romano e a estrutura hierárquica germânica (e não só) deixou marcas importantíssimas na estrutura da Igreja, etc., etc... Mas não podemos escapar a isto, nem sei se seria desejável outra coisa. Se quiséssemos retirar ao homem todos os condicionalismos que fazem dele falível, relativo, com que ficaríamos? Com um sujeito transcendental? Alguém quer viver com um sujeito transcendental?

Espero que o que escrevi no parágrafo não seja visto como algo demasiado abstracto. Ele tem a ver também com o Ecumenismo e com o diálogo inter-religioso. E permita-se-me ainda um pequeno “excurso”, a propósito da questão dos condicionalismos históricos e do diálogo inter-religioso. Alguns pensa(ra)m que se poderia avançar para uma espécie de “religião de mínimos”, que fosse totalmente livre de elementos culturais, étnicos, portanto, relativos... “Bonito!”, mas como se concretiza isso? Pois, na hora de concretizar, não poderíamos fazer nada, não conseguiríamos formular nenhum gesto! Não podemos escapar ao elemento cultural!

No que diz ao Ecumenismo, também (de novo o “também”) o Ecumenismo é filho do seu tempo. Mas isto não significa que seja mera moda que hoje “vende” e que amanhã passa. Trata-se de uma necessidade, como necessários são outros elementos. A tua mensagem expõe o Ecumenismo como problema e é também um problema, mas o principal problema, a meu ver, não é o Ecumenismo, mas a separação em que vivem os cristãos. O Ecumenismo é problemático mas é já um caminho de superação.

O Ecumenismo é também filho do seu tempo na medida em que hoje há uma maior sensibilidade para o diálogo, mas as suas raízes estão bem lá atrás, no próprio Evangelho. Dizemos certamente que é pena que só agora estejamos mais despertos para o problema da divisão, mas dou graças a Deus por viver neste tempo. Certamente os nossos netos terão uma sensibilidade mais refinada para outros aspectos que hoje nos passam ao lado. Num certo sentido se poderá dizer que o Ecumenismo nasceu recentemente, mas não é uma moda que, como todas as modas, passará. Não; o Ecumenismo “veio” para ficar. Como vieram outros aspectos.

Perguntas se não passará de uma estratégia ou golpe de publicidade por parte da igrejas institucionais, uma tentativa desesperada de ter algum “balão de oxigénio” num tempo de secularismo. Eu creio que tal visão não teria muito sentido. Nenhuma estratégia comercial de um produto em crise recorreria a uma mensagem a dizer: “olhe que qualquer produto vale, o nosso ou o outro”! Pelo contrário, recorreria a todos os modos de querer mostrar que o seu produto é realmente o melhor. As estratégias de tipo comercial não fazem “ecumenismo”; quando muito absorvem-se!

No que diz respeito aos movimentos religiosos, vejo que alguns dos grupos mais pequenos são precisamente os que mais de fecham a qualquer diálogo ecuménico ou inter-religioso.

As tuas observações ou conjecturas sobre a possível relação entre ecumenismo e secularismo são interessantes, mas não me parece que o problema esteja aí. Por um lado, o movimento ecuménico nasceu em ambientes não propriamente secularizados; por outro lado, vejo que os ambientes secularizados são ironicamente terrenos também propícios a fanatismos exclusivistas. Mas é possível alguma relação. De qualquer forma, vejo que o problema se pode ver melhor sob outro prisma. Não creio que haja relação directa e causal entre Ecumenismo e relativismo, qualquer que seja a ordem dos factores, mesmo que seja mais ou menos co-extensivos.

O problema do relativismo é um tema apaixonante, mas infelizmente demasiado extenso para ser tratado aqui. Que queremos dizer quando falamos de relativismo? Quais são os pressupostos epistemológicos quando usamos a palavra? Um dos pressupostos é deveras problemático: é o de pensarmos (mesmo que não sejamos conscientes dessa tese) que existe uma verdade de tipo essencialista, fora do espaço e do tempo, independente das frases que a formulam, uma epistemologia a que alguns filósofos denunciam como “epistemologia do espelho da natureza”: pensamos que aquilo que conhecemos é uma representação daquilo que realmente existe “em si”. Ora, quando falamos de relativismo temos medo que se digam coisas distintas e contraditórias dessa mesma “realidade em si”... Normalmente aqueles que seguem uma mentalidade mais “essencialista” ou “ontologista” (e normalmente, os mais conservadores) têm um enorme medo de tudo quanto cheire a “relativismo”, porque o entendem como “tudo vale”. Entrar agora por aqui seria interessante, mas voltemos ao caso do Ecumenismo.

Entremos um pouco no Ecumenismo. Significa o Ecumenismo que tudo vale? Na mensagem que já citei acima (podes clicar aqui), no tópico "Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!", em 29/03/2004, às 14:34, deixei claro que Ecumenismo não se trata de pensar que tudo vale o mesmo, no sentido de que para mim tanto vale ser Católico como Protestante. Não! Olhando para a minha história, na qual devo ver como Deus Se manifesta percebo que a minha forma de ser cristão significa ser católico. Tenho boas razões para isso. Mas não tenho o direito de dizer que o meu irmão protestante só se salva se se fizer católico! De resto o Ecumenismo levar-me-á descobrir um modo certamente novo de ser católico ou de ser cristão. O Ecumenismo é num certo sentido precisamente o contrário do relativismo, porque me desinstala completamente: não posso estar totalmente instalado no meu modo de ser cristão enquanto houver divisões na Igreja! Até porque todos os cristãos têm algumas culpas no cartório pelas divisões! Não vale qualquer opção, TODAS são chamadas à conversão. Em vez de “vale tudo” há antes um “só UM vale” e todos temos que caminhar para aí. Todos os caminhos são válidos, mas eu tenho de seguir o meu caminho e não confundir o caminho com a meta.

Note-se ainda: um ecumenismo que fosse relativista, deixaria de “praticar”, porque se tudo vale o mesmo, para quê o difícil caminho de dialogar? Cada um que vá à sua vida! Um relativismo puro também não seria ecumenista: se tudo vale o mesmo, para quê tanto trabalho?

O relativismo é um problema, mas vejo com maior preocupação o indiferentismo, que é diferente de relativismo. E curiosamente, o indiferentismo é por vezes uma consequência do fanatismo exclusivista e agressivo. O indiferentismo liga-se, a meu ver, com aquilo a que muitos chamam o pós-modernismo, concretamente nas acepções de Lyotard e Gianni Vattimo. Mais que relativista, o pós-modernismo favorece o indiferentismo. Por um lado, postula-se o fim das grandes narrativas (sejam elas religiosas ou não), o fim dos sistemas, da metafísica e das ontologias, da moral universal, da verdade perene... Gera-se uma sociedade mais ritmada pelo momentâneo, pelo “show”, pelo “zapping”, pelo “pensiero debole”, da crise das pertenças. Falo destes fenómenos em sentido descritivo e não necessariamente pejorativos, embora eles levantem problemas. Realçaria a crise das pertenças, como grande problema para as Igrejas Institucionais. Não é por acaso que se regista um certo aumento do fenómeno “New Age”. Num certo sentido, temos mais “misticismo” e menos “religião”, mais “sentimento” religioso e menos fidelidade a preceitos religiosos. É um fenómeno com o qual as Igrejas estão a sentir algumas dificuldades, como estiveram em dificuldades com outros fenómenos anteriores (as grandes instituições não se distinguem pela rapidez de movimentos), mas creio que é possível olhar para estes tempos como desafios e novas possibilidades, também para o campo do Ecumenismo.

Uma das possibilidades que se abrem ao nível do Ecumenismo hoje e que certamente eram mais difíceis anteriormente diz respeito à aproximação pela via da oração, particularmente da contemplação. Se o pós-modernismo provocou alguma crise nos contactos mais “racionais”, abre caminhos de diálogo ao nível da “afectividade” e do trabalho conjunto. Não haverá um verdadeiro diálogo ecuménico sem contactos e actividades comuns ao nível da oração e do aprofundamento das grandes tradições místicas. Não é por acaso que os místicos das mais distintas religiões se sentem tão próximos uns dos outros. Mesmo durante a Idade Média, mantiveram-se contactos entre sufis muçulmanos e contemplativos cristãos. E actualmente isso acontece em força na Índia, com muçulmanos, hindus e cristãos. Num certo sentido podemos dizer que as palavra tendem a separar e o silêncio a unir. E nada disto tem que ver com relativismo! Em âmbito cristão, creio que o grande sucesso de Taizé está precisamente em apostar na oração! Acho este ponto de extrema importância. Outra área de aproximação é o da actividade comum, particularmente em âmbitos de acção social. Já muito se vai fazendo por esse mundo fora.

Parece-me, no fim de contas, que o Ecumenismo é um caminho iniciado ainda há muito pouco tempo... Há muito a caminhar, muito a aprender uns com os outros.

O P. João já se referiu a algumas questões particulares, mas também direi algumas coisas.

Em relação à excomunhão, ela situa-se num plano distinto do Ecumenismo (além de ter sentido contrário). A excomunhão é mais que uma expulsão o reconhecimento de um facto: o de que alguém se colocou fora da comunhão da Igreja. Normalmente a excomunhão é nominal (aplicada a pessoa concretas que estavam dentro da comunhão da Igreja). É verdade que quando se deu a separação definitiva da Igreja Ortodoxa da Igreja Católica Romana, houve uma excomunhão mútua, mas, curiosamente, como gesto de boa vontade, essa excomunhão foi levantada quando o Papa Paulo VI se encontrou com o Patriarca Atenágoras. À situação de separação destas Igrejas é mais adequado o termo “cisma”. Mas, ainda sobre a excomunhão, diga-se que ao pronunciar-se sobre a situação de “fora de comunhão”, a Igreja nunca se pronuncia sobre a salvação dessa pessoa. A Igreja é “sacramento de salvação”, mas a Igreja de Cristo, subsistindo na Igreja Católica, não se confina unicamente à Igreja Católica. Isso ficou bastante claro no Concílio Vaticano II e não foi propriamente uma novidade.

Repito três ideias que acho centrais nesta minha reflexão. Primeira: o Ecumenismo não é “O” problema, mas sim a divisão da Igreja. Segunda: embora o relativismo seja um risco, deve ser desligado do Ecumenismo. O relativismo não favorece o ecumenismo e um ecumenismo relativista perdia razão de ter um actividade... Terceira: o Ecumenismo é muito mais que negociação de “proposições”: é também aproximação pela oração e pela prática conjunta.

Alef

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