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Poemas preferidos
Escrito por: Geode (IP registado)
Data: 18 de August de 2016 08:33

Tradução colhida na internet
do poema que Rudyard Kipling dirigiu ao filho:

...Se...

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê... Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calúnia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos...

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!"

Poema original:
[www.poetryfoundation.org]

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Re: Poemas preferidos
Escrito por: fratal (IP registado)
Data: 19 de August de 2016 12:35

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.


Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.


O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

-#^R

Re: Poemas preferidos
Escrito por: cosmic (IP registado)
Data: 19 de August de 2016 15:49

Amor é um Fogo que Arde sem se Ver

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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Editado 1 vezes. Última edição em 19/08/2016 15:51 por cosmic.

Re: Poemas preferidos
Escrito por: ventus (IP registado)
Data: 19 de August de 2016 23:58

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'

())

Re: Poemas preferidos
Escrito por: ventus (IP registado)
Data: 20 de August de 2016 08:02

Poema de Karol Wojtyla (Papa João Paulo II)):


...A Madalena...

O espírito esteve aqui
e de repente, desapareceu,
e eu estou só neste lugar antigo.

E fico invadido por uma tristeza
que perdurará
enquanto eu viver neste corpo.

E no espírito
encontrará o seu alimento,
onde não havia nada, senão fome.

O sofrimento do amor continuará
durante semanas, meses e anos,

e, como as raízes
de uma árvore seca no estio
assim estão a minha língua e o meu palato,
e os meus lábios sem artifícios.

A verdade
leva muito tempo para apagar todos os erros.

E para todo o sempre,
a aridez do mundo
não é sentida por mim,
mas por ele.

(tradução colhida na brochura do CD musical de Sarah Vaughan)

())



Editado 1 vezes. Última edição em 20/08/2016 08:06 por ventus.

Re: Poemas preferidos
Escrito por: Geode (IP registado)
Data: 21 de August de 2016 15:59

...Da Tua Vida..

Da tua vida o que não podem entender
Nem oiro nem poder nem segurança
Mas a paixão do Tempo e de seus riscos
Tu buscaste o instante e a intensidade
E foste do combate e da mudança
Por isso um rastro de ruptura e de viagem
Ou talvez este fogo inconquistado
Como breve eternidade
De passagem

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

»0«

Re: Poemas preferidos
Escrito por: cosmic (IP registado)
Data: 21 de August de 2016 16:23

...Silêncio...

Silêncio
de salgueiro
sobre um braço
de água parada,
silêncio
de nuvens imóveis,
silêncio
de caminhos intransitivos.

Solidão
de relvas de outono,
solidão
de pássaro sobre o pântano,
solidão
de datas insaciáveis.

Dor
de sol ensanguentado,
dor de luz na penumbra,
dor do não vivido.

De Ivan Minatti em
Rosa do Mundo
2001 poemas para o futuro (tradução de Aleksandar Jovanovic)

<<<

Re: Poemas preferidos
Escrito por: Geode (IP registado)
Data: 23 de August de 2016 10:49

Salmo 19 (18)

Os céus proclamam a glória de Deus;
o firmamento anuncia a obra das suas mãos.
Um dia passa ao outro esta mensagem
e uma noite dá conhecimento à outra noite.

Não são palavras nem discursos
cujo sentido se não perceba.
O seu eco ressoou por toda a terra,
e a sua palavra, até aos confins do mundo.
Deus fez, lá no alto, uma tenda para o Sol,
donde ele sai, como um esposo do seu leito,
a percorrer alegremente o seu caminho, como um herói.
Sai de uma extremidade do céu
e, no seu percurso, alcança a outra extremidade.
Nada escapa ao seu calor.

A lei do SENHOR é perfeita, reconforta o espírito;
as ordens do SENHOR são firmes,
dão sabedoria ao homem simples.
Os mandamentos do SENHOR são rectos,
alegram o coração;
os preceitos do SENHOR são claros,
iluminam os olhos.
O temor do SENHOR é puro, permanece para sempre.
As sentenças do SENHOR são verdadeiras,
todas elas são justas.
São mais desejáveis que o ouro, o ouro mais fino;
são mais doces que o mel, o puro mel dos favos.
Também o teu servo foi instruído por elas
e há grande proveito em cumpri-las.

Mas, quem poderá discernir os próprios erros?
Perdoa-me os que me são desconhecidos.
Preserva-me também da soberba,
para que ela não me domine.
Então, serei perfeito
e imune de falta grave.
Aceita, com bondade, as palavras da minha boca
e estejam na tua presença os murmúrios do meu coração,
ó SENHOR, meu refúgio e meu libertador.

[www.paroquias.org]

»0«

Re: Poemas preferidos
Escrito por: ventus (IP registado)
Data: 23 de September de 2016 10:52

Fé e Cultura?

())

Re: Poemas preferidos
Escrito por: Pecatoribus (IP registado)
Data: 28 de September de 2016 09:43

(de José Gomes Ferreira)


---Entrei no café com um rio na algibeira---

Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

0^0

Re: Poemas preferidos
Escrito por: fratal (IP registado)
Data: 14 de February de 2017 20:16


Re: Poemas preferidos
Escrito por: ventus (IP registado)
Data: 20 de September de 2017 09:47

...Simpatia...

Onde a interrogação
se faz exactidão e sentido
uma catedral passa veloz.
Lá dentro uma harpa;
e um raio de luz molda
um começo de vida.
Nas paredes está escrito por duas vezes:
aceita o desafio e toca.

Publicado em 2009 por "Lugar da Palavra".

())

Re: Poemas preferidos
Escrito por: Geode (IP registado)
Data: 21 de September de 2017 14:37

...Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo...

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'

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Re: Poemas preferidos
Escrito por: Geode (IP registado)
Data: 22 de September de 2017 09:57

...Liberdade...

— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'

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Re: Poemas preferidos
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 22 de September de 2017 16:42

Grão de Incenso

Entraste com ar cansado
Numa igreja fria e triste.
Ajoelhei-me ao teu lado
– E nem ao menos me viste...

Ficaste a rezar ali,
Naquela imensa tristeza.
Rezei também, mas a ti.
– Que aos anjos também se reza...

Ficaste a rezar até
Manhã dentro, manhã alta.
Como é que tens tanta fé
- E a caridade te falta?...


Augusto Gil, in Luar de Janeiro



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