Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Adro da Igreja

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Ir para a página: 12Próximo
Página actual: 1 de 2
"Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 24 de April de 2008 10:46

Imitando o Alef nos outros tópicos que criou, o que é que andam a ler? :)

Eu acabei uma viagem ao século XIX. Estive a ler "Agnes Grey" de Anne Brontë, irmã de Emily Brontë, autora de "Os Montes dos Vendavais".

"Agres Grey" não tem a intensidade dramática de "Os Montes dos Vendavais", mas é um livrinho que se lê depressa e proporciona uma leitura agradável. O que me agrada nesta obra (e noutras semelhantes) é obter, numa descrição contemporânea feita na primeira pessoa, como se vivia nessa época, principalmente as mulheres de uma determinada classe, com poucos meios de sobrevivência e poucas formas de o fazer.

Cassima

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de April de 2008 11:47

Excelente ideia, Cassima!

Entre as muitas coisas que ando a ler, destaco a Poesia de Daniel Faria.

Daniel Faria (1971-1999) é certamente um dos maiores poetas contemporâneos portugueses, ainda não muito conhecido do «grande público». A sua poesia não é propriamente fácil, mas é enorme, metafísica, mística, arrebatadora... Para ler devagar...

Aqui ficam dois poemas de que gosto bastante, de pano de fundo bíblico.

Para compreender o «motivo» do primeiro, convém conhecer o episódio bíblico contado em 1 Rs 19, 19-21.

Alef






ELISEU (1 Rs 19, 19-21)



Preparou a refeição com a lenha do arado
Para ser sulco na terra a resistir

Preparou a refeição com a lenha do arado
Para ser fogo a propagar a luz

Preparou a refeição com a lenha do arado
Porque tinha fome e o coração em chamas

Preparou o coração com a lenha do arado

Para ser lâmina do arado e o arado
A palavra em seu gume a ferir e a gerar






A MULHER ADÚLTERA



Não turbam a água dos meus olhos
As pedras que me atiram sobre o corpo

As tuas mãos vazias este muro
Branco me doem muito mais









Editado 3 vezes. Última edição em 24/04/2008 11:58 por Alef.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de April de 2008 23:42

Outro livro que ando a ler e que recomendo, mesmo não concordando com tudo o que nele está escrito:

Anselmo Borges, Janela do (In)Visível, Campo das Letras.

São artigos breves (normalmente duas páginas), sobre coisas sérias, mas de fácil leitura. É um livro que agrada mais aos católicos «progressistas», embora se note um esforço por não cair no facilitismo de algumas posições «prafrentex».

Creio que tem uma grande virtude, que é a de ajudar a pensar, mesmo quando não concordemos com as «soluções». O livro tem sido um êxito editorial, pelo que já tem várias edições (eu não tenho comissão!).

Alef

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 29 de September de 2008 15:43

Acabei de ler dois livros de que gostei bastante:

- A Primeira Aldeia Global (Como Portugal mudou o Mundo) de Martin Page

Este livro descreve a História de Portugal desde Jonas até à actualidade, de uma forma ligeira (não podia ser de outra forma) e um pouco pessoal. É feita do ponto de vista de um estrangeiro o que, à partida, mostra certos episódios de uma forma diferente daquela que estamos habituados a vê-los. Fiquei a conhecer alguns aspectos desconhecidos (para mim) da História portuguesa, como o pormenor
de o Wellington ter sido bastante criticado na Inglaterra por ter deixado partir o Junot, após o vencer, com todo o saque que tinham levado o cabo no nosso país. Tem algumas coisas com as quais não concordo, outras que acho erradas, mas não é isso que desvaloriza o livro.

- Os Filhos de Caim e Portugal (povos e migrações no II milénio a.C.) de João Ferreira do Amaral

É um livro muito interessante, mas muito difícil de ler. Aborda o mundo mediterrânico, Próximo e Médio Oriente e as movimentações de povos que se fizeram no II milénio antes de Cristo.
O objectivo último acaba por ser a a análise de quais povos acabaram por vir ter a este pedaço da Península Ibérica e como.
Gostei muito de o ler, mas a abundância de nomes de povos, zonas, regiões, pessoas, numa área geográfica bastante ampla, com variadíssimos termos para os mesmos (só com o auxílio de dois pequenos mapas), às vezes fazia-me perder na leitura. Mas consegui levá-la a bom termo.
No meio de tanta coisa achei muito curioso o uso que o autor fez da Bíblia, como fonte, ao lado de documentos de outros povos da época.

Cassima



Editado 1 vezes. Última edição em 29/09/2008 15:45 por Cassima.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 26 de May de 2009 18:43

Acho que um título faz muito por um livro. Desde logo o chamar a atenção, sem ser necessariamente obsceno, medíocre ou cansativo. Nem todos conseguem títulos realmente apelativos. Há um autor português que tem sido muito feliz nos títulos que tem dado à maioria das suas obras: chama-se Mário de Carvalho.

Dele li 3 livros, já há bastante tempo, e do que recordo gostei bastante de os ler. Chamam-se:

- A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

- Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde

- Contos Vagabundos

Cassima

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 20 de June de 2009 23:06


Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 11 de September de 2010 10:06

Daniel faria conheço há cerca de 6 anos. Gosto muito e recomendo a leitura. Morreu cedo de mais.

Deve ser o último tempo


Deve ser o último tempo
A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos
O cadáver onde a aranha decide o círculo.
Deve ser o último degrau na escada de Jacob
E último sonho nele
Deve ser-lhe a última dor no quadril.
Deve ser o mendigo à minha porta
E a casa posta à venda.
Devo ser o chão que me recebe
E a árvore que me planta.
Em silêncio e devagar no escuro
Deve ser a véspera.Devo ser o sal
Voltado para trás.
Ou a pergunta na hora de partir.



Daniel Faria
de Explicação das Árvores e de Outros Animais
1998

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: M. Martins (IP registado)
Data: 16 de December de 2010 18:51

Comecei a reler "O Homem do Castelo Alto" de Philip K. Dick, (Já acabei de ler "A Luz do Mundo de Bento XVI).


M. Martins

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 21 de February de 2011 18:37

Olá.

Tenho andado a ler uma obra de Batista Mondin, "Quem é Deus? - Elementos de teologia Filosófica".
Trata-se de uma obra que aborda a problemática do fenomeno religioso, a sua compreensão pelas diversas ciências humanas; aborda vários autores do ateismo, analisando-os, bem como o positivismo e seus autores, e o neo-positivismo (o positivismo traduzido na filososia da linguagem).
Retoma a reflexão metafísica sobre a realidade, sobre o ser, sobre a possibilidade de se conhecer não só o "fenómeno" (o sensivel), mas a realidade ontológica do objecto, a partir da qual Mondim retoma, de modo sempre actual, as chamadas provas da existência de Deus, sempre na base da "noção intensiva de ser", e a realidade da contingência dos objectos, bem na esteira de S. Tomás de Aquino.

Depois, e acho particularmente interessante, aborda Deus em Si mesmo, Seus atributos, precisamente sem recurso à Revelação, mas apenas pelas perfeições encontradas nos entes contingêntes.

Sugiro a leitura, talvez posterior ao "Ateismo e Fé" de A. Vaz Pinto, sj.

Junto com este, e a titulo de complemento pedagógico, estou também a ler "Filosofia do conhecimento" de Jorge Coutinho, que aborda, como sugere o nome, o problema gnoseológico, que é, na verdade, o pressuposto de qualquer relativismo.

Na verdade, não basta gritar aos 4 ventos quer o relativismo é heresia; é preciso abordar os seus pressupostos filosóficos, pois os relativistas não vivem preocupados com as declarações de heresia dos cristãos; querem sim, critica aos seu pensamento e filosofia gnoseológica.
De facto, na base do relativismo está sempre uma determinada gnoseologia, ou várias gnoseologias conjugadas, que têm como traço comum a negação da capacidade objectiva de conhecer a realidade e, por conseguinte, a verdade ontológica.
Vale a pena ler, com calma e descontração.

Fiquem na paz.

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)



Editado 1 vezes. Última edição em 21/02/2011 18:42 por Rui Vieira.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 10 de April de 2011 23:18

Ando a ler "Jesus:uma biografia" de Armand Puig. O livro começa por abordar o ambiente social e religioso dos judeus do tempo antes e durante o tempo de Jesus. Faz uma abordagem superficial aos movimentos religiosos, como os fariseus, os saduceus e os essénios o que os separa e o que os une. O livro mostra-nos que os fariseus embora muito criticados por jesus eram no entanto, os que acreditavam na ressureição e aceitavam os livros dos profetas, também como guia religioso, embora num nível inferior. O livro mostra-nos também que a questão de jesus com os fariseus se devia ao facto da rigidez no cumprimento de preceitos, como os relacionados com o sábado, embora fossem bastande mais flexíveis que os saduceus(cujo grupo tinha o privilégio de eleger o sumo-sacerdote, por serem politicamente mais helenizados), que não aceitavam noutro livro que não a tora e não acreditavam na ressureição.

Algo que sempre me incomodou tem a ver com o facto de o nosso Carreira das Neves, no seu Livro "O que é a Bíblia" afirmar sem ponta de dúvida que Jesus tinha sido díscipulo de João Baptista. O livro refuta esta tese (e eu também), pois era comum os doutores da lei quando interpretavam a escritura, mencionarem o seu tutor, ou mestre, normalmente alguém famoso, para fundamentar as suas interpretações. Com Jesus isso não acontece, embora João baptista fosse alguém ao que parece, bem conhecido entre os judeus e é claro o espanto das pessoas ao perguntarem: « De onde lhe vêm este conhecimento?». Se fosse de JOão Baptista as pessoas saberiam e escusar-se-iam a fazer esta pergunta. Quero crer que o conhecimento de Jesus não vem de nenhum homem, mas de Deus ou seja de si próprio. Não faria sentido que fosse de outra forma ou então a doutrina de jesus seria em parte humana e não plenamente divina, como de facto é.

Estas são algumas das indagações do livro de cerca de 600 páginas, o qual ainda desfruto da leitura.

Ao mesmo tempo tento ler há já bastante tempo Santo Agostinho: Trinitate. O tema é dificil e por isso a leitura é demorada.

Recomendo os dois, o primeiro para o conhecimento do Cristo Histórico, embora o que mais me agradou é que o autor, nunca esquece o Cristo da fé, como aconteceram com alguns autores como Bultmann no século passado. É um bom livro deste sacerdote católico Armando Puig. Comprei-o na Bertrand por um preço bastante acessível para um calhamaço de 600 páginas: 20€.

Já acabei Jesus de Nazaré Vol. 1 do nosso Santo Padre ( parece que o vol. 2 esgotou rapídissimo, dado que já o vi à venda e não comprei. Agora já não o consigo encontrar).

Gostei das sugestões do Rui.



Editado 1 vezes. Última edição em 10/04/2011 23:44 por vitor*.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 11 de April de 2011 01:00

Deixem-me que acrescente que as posições do padre Carreira das Neves, são para mim motivo de descrédito. Não me vou imiscuir nas razões deste descrédito, mas algo soa das palavras de Carreira das Neves a não autêntico.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 11 de April de 2011 11:15

Olá Vitor.

A questão possibilidade de que Jesus tenha sido discipulo do Batista é isso mesmo, uma possibilidade, de elevadíssima probabilidade.
Repara que, justamente porque a doutrina do Cristo é diferente da do batista, é que se pode explicar porque se tenha afastado do Batista e, muito importante, só após a morte deste é que incia a sua actividade pública.

O logion de Mc 1,7 e paralelos "Depois de mim, vem o mais forte do que eu" exprime a ideia de segumento, de discipulado. Compare-se esta expressão com Mc 8,34 "Se alguém quiser vir após mim...".

Depois há ainda Jo 3,22, em que se diz que Jesus batizava!!
Qual batismo?? O Cristão, ou o do batista??
A correção de Jo 4,1-3 é, certamente, de redação posterior, pois o facto de Cristo ter sido batizado por João, e de ter batizado com ele, causou alguns embaraços teológicos à comunidade cristã primitiva (veja-se "Jesus de Nazaré, Bento XVI, 1º volume).

Deve-se ater, sob um ponto de vista extritamente exegético, que as sentenças do Batista sobre Cristo, são uma releitura da comunidadee cristã primitiva sobre a actividade deste diante da mensagem de Cristo.
É dificil saber em concreto qual era a mensagem do Batista, mas parece que não era meramente apocaliptica, pois assim teriamos que o inserir entre a comunidade essénia.

Seja como for, a actividade do batista é anterior à de Cristo, e lhe está subordinada, pois a de Cristo a supera. De facto, a Lei e os profetas subsistiram até João.

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 11 de April de 2011 15:52

Sim rui mas existe uma certa incoerência nessa possibilidade. Ao que parece era necessário que jesus tivesse abandonado a sua família há mais tempo, do que aquele que é descrito como inicio da sua actividade pública, para acompanhar joão. Ora nos evangelhos há a presença da família em cafarnaum, mostrando-se algo surpreendida pelo início da pregação de jesus e quase pedindo-lhe para voltar para casa, chamando-o de louco. Os discipulos de baptista embora vivessem na sombra, não deviam ser desconhecidos da população, logo não haveria surpresa da população acerca "de onde lhe vem este conhecimento".

E porque não faz Jesus valer as suas propostas, citando no final das mesmas " segundo joão baptista", como fariam a maior parte dos rabinos daquele tempo (sim porque cristo era tomado como rabino). Jesus só se faz valer das escrituras.

Admito que jesus tenha aprendido a ler as escrituras com alguém responsável pela sinagoga da Galileia, mas que tenha tirado as suas próprias conclusões sem necessidade de acorrer a um pensamento particular, embora em parte certeiro, de joão baptista.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 12 de April de 2011 12:56

Olá Vitor.

João nada nos diz sobre o periodo pré-batista. diz-nos apenas, tal como os sinópticos, que, depois do episódio do batismo (que João não refere de modo explicito), ele voltou para a Galileia (Jo 1,43). Os´sinóticos dizem que ele, voltou para Nazaré (Mt) e dali partiu para as zonas costeiras do Mar da Galileia.

Deve ser certo que Jesus viveu em Nazaré até terem chegado a este povoado de operários noticias do pregador Batista. É certo que Cristo se colocou a caminho, se deixou batizar pelo Batista, mas já não é tão certo que tenha logo regressado.

Na verdade os sinoticos dizem que só regressou A Nazaré depois da prisão do Batista. O Evangelho de João já conta a história de modo diferente. João já coloca a inda de Jesus para Nazaré antes da prisão do batista, sendo que, segundo Jo, parece que, antes da prisão deste, o Batista e Jesus praticavam um batismo do mesmo conteúdo, embora o de Cristo talvez se caracterizasse por um carácter preparatório, como predisposição para ouvir o seu chamamento.

O mais certo, e seguindo a linha de Joachim Gnilka, entre outros, é que Jesus tenha aceitado o movimento do Batista (Mt 11,7-14), se integrou nele, sendo batizado, mas não se pode admitir como certo que tenha realmente sido seu discipulo, sobretudo dadas as diferenças fundamentais entre o batista e Jesus, bem como o seu estilo: O Batista é eremita, ao passo que Jesus vai para os povoados. Daí a pergunta do batista na prisão: "és Tu quem há-de vir, ou devemos esperar outro?"

A questão da incoerencia do facto do abandono da familia acaba por nem se colocar.
Não podemos conjecturar sobre o tempo que decorreu entre a saida e o regresso a Nazaré. Parece que Cristo só iniciou a sua actividade pública depois da prisão do batista, mas tal não é certo, se considerarmos os dados fornecidos pelo Ev. de Jo.

Depois, a referência aos familares de Jesus, é muito vaga. Poderiam ser familares dispersos por várias zonas, ou povoados.
se seguirmos a linha dos sinoticos, parece que Jesus deixou a familia, a casa, para ir ao encontro do batista, e quando regressou, foi já a iniciar a sua vida pública, mesmo com as diferenças narrativas dos 3 sinoticos. Mt e Mc falam do chamamento dos discipulos, ao passo que Lc coloca o chamamento dos discipulos à posteriori. Jo, por seu turno, diz que os discipulos de Jesus foram primeiro discipulos do batista.

Nestas questões, certezas absolutas é o que nunca vai haver. Mais certo que tenha sido discipulo do batista, é que tenha aceitado o movimento deste, se tenha integrado, mas mas tenha sido seu discipulo.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 12 de April de 2011 15:42

Armand Puig afirma que João era essénio, devido ao facto de ter vivido segundo os evangelhos a maior parte do seu tempo de vida no deserto até ao ano de 27 D.C(um cálculo), onde também se encontravam os essénios. Também o caractér escatológico da sua pregação contrasta com a pregação de Jesus. E existem significativas diferenças a começar pela morte de jesus e a morte de baptista o segundo pelo poder politico o primeiro pelo poder religioso. As pregações de Jesus eram dirigidas à purificação do templo, enquanto que algumas pregações de Baptista eram contra o poder político como a relação incestuosa que o rei mantinha com a sua sobrinha, que não era segundo a lei judaica. Se Baptista fosse mesmo essénio esta contraposição de Baptista contra o poder político é compreensível, já Jesus evita este confronto contra o poder político.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 12 de April de 2011 16:38

Olá.

O professor Armand Puig, entre outros que defendem essa tese, parece que não ligaram muito a dois factos importãntes:

1 - os essénios eram uma comunidade do tipo monástica, ao passo que a actividade do Batista era pública;

2 - os essénios eram também avessos ao actual sacerdócio sadoquita, considerando o templo e seu sacerdócio conspurcados. O batista nunca fala contra o templo nem contra o seu sacerdócio.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 13 de April de 2011 10:33

OK ontem tive que reler o que estava para trás, depois de continuar a ler o livro, pois mais à frente o livro de facto assinala as diferenças entre a pregação de Baptista e os essénios. Armand puig de facto não dá JOão como pertencente aos essénios mas admite que tenha estado sobre a sua guarida, ou então que tenha tido formação familiar já que o seu pai era de classe sacerdotal, ou então durante o seu exílio no deserto tenha conhecido um eremita que o tenha educado. Esta última hipótese também aconteceu com Flávio Josefo, segundo cita o livro.

Quanto ao teu ponto 1 não estou certo que um essénio não pudesse ter vida pública já que alguns casavam-se, ou até mantinham-se solteiros e viviam entre a população, mantendo contudo a filosofia essénia de vida e regendo-se pela Hierarquia de Quram.

O teu ponto 2 parece-me ser inultrapassável e de facto era assim.


No meu ponto de vista também não estou muito certo que João fosse essénio. E por isso logo no meu post mantive a dúvida.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 15 de April de 2011 12:07

Oi.

Prefiro alinhar em conjecturas mais simples, em vez de me perder em divagações que dificilmente se podem provar, ou que nunca se vão poder provar.

O mais certo, e bem mais simples, é que João Batista tenha seguido o nazirato (Nm 6,1 ss). Lc 1,15 se inspira nestes termos do AT, sobre o nazir (à excepção da cabeleira longa, que só será retomada pelo rabinismo a partir do séc III d.C.).

O facto de somente Lc dizer que o menino viveu nos desertos até à sua manifestação não dá garantia de historicidade, e levanta muitas questões.

Que tenha sido educado por um essénio, também é problemático, e isto por dois factos:

1 - como filho de um sacerdote, dificilmente será tido como sujeito de contacto, pois o mais certo era ser considerado como impuro, dada a filiação sacerdota;
2 - o facto, já fereido, de Batista nada dizer contra o Templo e seu sacerdócio.

O mais certo é que, ao atingir a maioridade, tenha feito o nazirato, o que pode ter feito desenvolver as tradições orais a seu respeito, as quais irão, mais tarde, ganhar corpo nos relatos dos 4 evangelhos.
E que se tratem de tradições, bem o atesta as dissemelhanças quer entre os sinoticos, quer entre estes e João.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 17 de April de 2011 00:11

Uma questão que me levanta mais dúvidas é a retórica de Puig àcerca do facto de Tiago ser o irmão mais velho de Jesus. Sabemos que Tiago morreu em 62 D.C Para ser o irmão mais velho de Jesus teria que ter pelo menos mais 10(13 segundo Puig), pois existia outros irmãos pelo meio. Isso implica que Tiago deveria ter nascido por volta do ano 14 a 17 A.C. Ou seja teria próximo de 80 anos. Ao que sei a esperança média de vida tem vindo a aumentar ao longo dos tempos e presumo que os homens que chegassem aos oitenta anos deveriam ser raríssimos. Depois também se levanta outra questão que me parece pertinente. Para quê executar um homem que estava tão próximo do fim da vida. Com tanta idade, já não deveria ter uma actividada tão profícua e tão ameaçadora que levasse alguém a executá-lo. Custa-me a acreditar que alguém executasse um velhinho de 80 anos.

Re: "Qu'é qu'andas a ler?"
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 17 de April de 2011 16:49

Não posso concordar com a exegese de Puig.

O perito parece querer ignorar que os vários irmãos de Jesus, bem como irmãs, se devem tratar de familiares próximos, filhos de pessoas diferentes.

Ignoro como é que o exegeta conclui que José era o irmão mais velho... talvez um pouco de estudo me cure da ignorãncia crassa que agora padeço!!

Mas, ainda hoje se discute se o tal José seria o filho de Alfeu (Mt 10,3).
Talvez Puig admita que Maria teve uns haffairs na judeia ;-)

Puig parece se querer colocar numa perspectiva em que afirma que o termo "adelphos" se refere a irmãos no sentido literal do termo, quando é sabido que, tomando isoladamente a expressão, pode também significar parentes próximos e, se tomada dentro do corpo do NT, não é versomil, pois, em Jo, Maria está só com Jesus na cruz.
Ademais, Jesus entrega Maria aos cuidados de João, que não era irmão, contrariando assim a praxe juridica em vigor.

Ora, Puig choca de frente com o dogma.

Ir para a página: 12Próximo
Página actual: 1 de 2


Desculpe, apenas utilizadores registados podem escrever mensagens neste fórum.
Por favor, introduza a sua identificação no Fórum aqui.
Se ainda não se registou, visite a página de Registo.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.