Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Adro da Igreja

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Escolas e modelos de ensino em Portugal
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 25 de May de 2007 01:03

Já em tempos idos houve alguma agitação no fórum geral a propósito das escolas em Portugal. Parece-me um bom tema para ser debatido no «Adro da Igreja». Sem incêndios apaixonados, claro.

As últimas décadas foram muito pouco pacíficas em termos de políticas educativas. É um campo muito difícil, muito permeável às diferentes ideologias e correntes e de enormes consequências no futuro do país.

Tem havido muitas experiências (a TLEBS foi mais um dos devaneios...), grandes debates e disputas (privado ou público, exames, «rankings»…), mas continuamos a ser apontados nos jornais internacionais como um país desastroso em termos de educação escolar. Fomos há dias triste notícia desta realidade: somos campeões europeus do abandono escolar. Muito longe, longíssimo, dos países de Leste, e não apenas da amada Finlândia do nosso Primeiro-Ministro.

Talvez sejamos igualmente campeões em dizer mal e não queria embarcar num discurso puramente negativo. Identificar o mal é já um passo. Depois há que tentar clarificar ideias e fazer algo.

Para a compreensão do problema talvez ajude ter em conta a pesadíssima herança salazarista. Éramos um país de analfabetos, embora muitos sublinhem que o ensino de então era proporcionalmente muito melhor que o actual. De qualquer forma, não se pode esperar muito de uma geração herdeira de grandes taxas de analfabetismo. Muitos alunos do ensino obrigatório vivem em meios onde os horizontes continuam a limitar-se ao mundo «virtual» da «Floribella» ou dos «Morangos com Açúcar». Há muitos meios onde os horizontes dos rapazes parecem ser o de se tornarem jogadores de futebol e/ou treinadores e as raparigas nem sabem muito bem, bastando-lhes terminar a escola para «arranjar um emprego». Muitos acabarão por emigrar. Eles «para as obras»; elas «para as limpezas». E muitos voltarão com algum dinheiro. Convencidos de que não é preciso estudar para se ter dinheiro.

Convém registar algumas tentativas efectivas de melhoria, mas muitas delas parecem-me superficiais. Por exemplo, apesar de estarmos pior que outros países, há já muitos computadores nas escolas, mas ou são mal usados (se são usados) ou servem de «distracção» face ao problema essencial. E o problema essencial (ou, pelo menos, um dos problemas essenciais) é a falta de hábitos de estudo.

É necessário incutir aos alunos hábitos de estudo. Disciplinas como matemática, física ou algumas línguas só se aprendem com dedicação diária. É necessário suscitar nos alunos o gosto pela leitura, até que sintam o prazer de ler um livro de mais de 200 páginas que não tenha sido mandado por ninguém. Por muitas tecnologias que tenhamos ao nosso alcance, há muitas coisas que só se aprendem pelo «cotovelo roto», pelo «ruminar», pelo «pensamento lento» (creio que ouvi esta expressão há uns anos ao Pacheco Pereira).

Enfim, algumas ideias, para começar…

Termino, propondo a leitura de um artigo do José Manuel Fernandes. Poderá ser considerado conservador por alguns, mas o mais importante é que nos ponha a pensar.

Alef






A escola que é um manifesto contra o "eduquês"



É privada, escolhe os professores, recebe todos os alunos do concelho, dos pobres aos ricos, ensina a tabuada, tem quadro de honra, não vai em modas. Fica em Arruda dos Vinhos e perceber como lá se ensina desfaz muitos mitos sobre como deve ser o sistema de ensino

Fica em Arruda dos Vinhos, concelho rural dos arredores de Lisboa. É a única escola desse concelho que tem terceiro ciclo do ensino básico e, por esse concelho ter sido o único onde a média a Matemática nos exames nacionais do 9º ano foi positiva, o PÚBLICO visitou a João Alberto Faria. A reportagem foi publicada segunda-feira, mas vale a pena voltar ao tema. Porque essa escola é um manifesto vivo contra o tipo de políticas que têm degradado a qualidade do ensino em Portugal.

Primeiro: naquela escola entende-se, e citamos, que "a massificação do ensino levou a um menor grau de exigência, mas a Matemática não se tornou mais fácil e mantém as dificuldades próprias da disciplina"- o que requer "esforço e trabalho".

Segundo: naquela escola não se embarca em modas, prefere-se cultivar a exigência. Por isso "o grupo de Matemática é pouco atreito a algumas inovações pedagógicas", por isso defende-se que "saber a tabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora", por isso interditaram mesmo a sua utilização no 2º ciclo.

Terceiro: como sem bons professores não há boas escolas, na Alberto Faria todos os professores são entrevistados antes de serem contratados, explicando-se-lhes qual a filosofia da escola e avaliando se os candidatos estão à altura do que se lhes vai pedir.

Quarto: não há nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma escola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Arruda dos Vinhos está longe de ser um dos concelhos com mais poder de compra e na João Alberto Faria não se seleccionam os alunos, recebem-se todos, mais ricos ou mais pobres. Mais: recebem-se também alunos de concelhos vizinhos, porque, como explicou um aluno do 10º ano que quer ir para Medicina, nela "o nível de exigência dos professores pode ser compensado pelos resultados nos exames, que normalmente tendem a ser melhores". Quem responde bem à exigência possui também o estímulo de figurar no Quadro de Honra da escola.

Quinto: uma direcção escolar focada em disciplinas como Matemática ou Português levou a que o tempo lectivo destinado ao Estudo Acompanhado fosse dedicado só a essas disciplinas. E quando acabam as aulas do 9.º ano os docentes estão disponíveis para dar aulas extra de preparação para os exames de Português e Matemática e ainda todas as que sentirem necessárias para o esclarecimento de dúvidas dos seus alunos.

Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela escola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º lugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos no 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não foi feita para alunos de elite.

Contudo, para o quadro ser completo, é necessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é Externato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o ministério. Estes contratos de associação são relativamente raros no país, havendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas ao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais caro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra como fazer o contrário pode resultar muito melhor.

Conclusões? Que se as escolas escolhessem os professores, se os alunos escolhessem as escolas, se o Estado se limitasse a dar orientações gerais, em vez de dirigir, e desse um cheque-ensino aos alunos menos abonados que quisessem ir para uma escola mais exigente, ou melhor, privada e paga, ganharia a qualidade de ensino e o ministro das Finanças agradeceria. Só os interesses instalados se revoltariam.

José Manuel Fernandes
«Público», 23.05.2007



Re: Escolas e modelos de ensino em Portugal
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 25 de May de 2007 01:14

Ena, acabo de dar-me conta de que este mesmo artigo do José Manuel Fernandes acaba de ser citado no «De Rerum Natura». Apenas uma feliz coincidência! ;-)

Alef

Re: Escolas e modelos de ensino em Portugal
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 31 de May de 2007 08:44

Se as escolas publicas escolherem os professores os resultados serão muito diferentes de serem as escolas privadas a escolherem os professores.
Nas escolas publicas, pelo menos na maioria delas, na escolha dominariam as influencias partidarias e o "amiguismo" (contratavam quem fosse amigo de alguem da direcção ou pelo menos de outro professor).
E sem existir a opção do cheque-ensino, como existe noutros paises, sem os pais poderem escolher a escola dos filhos, a escola publica seria desresponsabilizada das consequencias de não escolherem os melhores professores. Ainda por cima há quem as queira ligar às camaras municipais. Livra! Então teremos a escola publica como mais uma gamela para as clientelas partidarias e ainda por cima bastante ideologizada.



Desculpe, apenas utilizadores registados podem escrever mensagens neste fórum.
Por favor, introduza a sua identificação no Fórum aqui.
Se ainda não se registou, visite a página de Registo.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.