Um dos géneros musicais que mais profundamente me toca e me delicia, sabe-se lá por que misteriosas razões, é o heavy metal (a par do canto gregoriano, dos coros da liturgia ortodoxa, dos coros e árias das grandes óperas, das peças dos grandes clássicos, do cool jazz, do smoth jazz, da bossa nova, da música country, da Ana Moura, do Neil Young, do Enio Morricone, dos Radiohead, dos MUSE(!), dos Band of Horses, dos Mary Onettes e de tantos e tantos outros).
Quando preciso de maior concentração e reflexão, nada melhor que mergulhar os tímpanos nos turbilhões ribombantes de um bom album de power metal de grupos como Angra, Dragonland, Dragonforce, HammerFall, Blind Guardian, Galneryus, Gamma Ray, Rhapsopdy of Fire, Stratovarius, Turisas, Tyr, etc., etc.
Não ignoro que grande parte da temática das "letras" e todo o folclore envolvente das bandas de heavy metal não são lá muito "católicos", antes pelo contrário. Há mesmo coisas abomináveis e abjectas, com muita provocação grotesca, satanismo e esoterismo bacoco à mistura. Mas, adaptando o conselho paulino de, de tudo, aproveitar o que é bom e desprezar o que não presta, faço um esforço para me abstrair do que eles cantam e dizem (não é difícil porque, às vezes, "aquilo" não se percebe nada) e limito-me à estrita fruição da música.
Aliás, o heavy metal em si, como estilo artístico musical, não tem nada de intrinsecamente preverso. E a quem o associa automaticamente a mensagens e comportamentos negativos, dissolutos ou demoníacos, lembro que há dezenas e dezenas de grupos de heavy metal cristão, que nasceram justamente como contraponto às bandas da corrente dominante, mais conotadas com aquele tipo de "ideologia" - se é que pode haver "ideologia" em cérebros de guedelhudos a estrebuchar e a saltar como possessos, grunhindo dislates enquanto arrancam freneticamente de guitarras e tambores harmonias telúricas, ritmos alucinantes e melodias de um lirismo paradoxal, capaz de arrebatar - oh meu Deus! - almas fracas e sensíveis como a de uma pobre ovelha tresmalhada... Posso mesmo garantir-vos que já tive experiências de genuína levitação até perto das portas do sétimo céu, como se o manto diáfano da nuvem do Tabor me tivesse envolvido, a ouvir alguns temas de heavy metal.
Um exemplo. Hoje mesmo, consegui ler quase até ao fim o livro "O Princípio de Todas as Coisas" de Hans Kung ao
som deste tema dos Divine Fire.
Serei eu um herege?