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Maria e os cultos femininos pré-cristãos - por Luis e aguastranquilas
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 28 de January de 2008 14:10

No tópico Porquê veneramos a Santíssima Virgem?

Escrito por: aguastranquilas
Data: 14 de Janeiro de 2008 12:08

O Culto a Maria é pré-cristão e está associado à "Mater" onde o "MA" se reveste de um carácter extremamente importante. Repare-se que as igrejas principais, são as grandes mães, ou matrizes (Igreja matriz) Essa concepção acompanha a evolução do homem enquanto ser consciente. Na verdade a mãe sempre foi alvo de culto. É a geradora, sem ela a vida não existiria, é o útero onde desponta a vida. Até à terra se chama mãe, não é? É a vida na sua forma mais bela, a mulher.
Mo inicio do cristianismo o culto Mariano substitui o culto romano a Diana e torna-se uma fonte de enorme fé. Se procurarem numa boa história romana, verão que a forma é de custo era e ainda é muito semelhante.
A Origem porém é muito mais antiga.


Escrito por: luis
Data: 22 de Janeiro de 2008 05:35

Caro aguastranquilas é conveniente haver rigor nas explicações, ou então a lógica é uma batata.

Dizer que o culto de Maria é pré-cristão é tão correcto como dizer que o judaísmo é pré-Abraão que Moisés era cristão ou que os Gatos Fedorentos inspiraram os Monty Python.

É correcto que o culto das Materes, até mais que pré-cristão, é pré-histórico e tem a sua origem em rituais associados à fecundidade. Mas é evidente que o culto de Maria está ligado ao cristianismo. Maria é a nova Mater depois de purificada pelo espírito salvador do próprio filho, Jesus Cristo. Ela, ao contrário das Materes pagãs, deixa de valer por si própria e passa a valer como exemplo do caminho que conduz a Cristo. Ela é a 1ª convertida à nova lei. Conversão não só em espírito mas também em sangue.

Também não é correcto, que no Império Romano o culto de Maria viesse substituir o culto de Diana. O culto que na altura se opunha, não a Maria mas ao próprio cristianismo, é o culto de Ísis. Este era um culto muito popular, talvez até o mais popular do Império quando o cristianismo estava a emergir, isso deve ter causado mais do que um levantar de sobrolho a quem queria fazer do cristianismo uma religião de estado. Daí que existisse uma necessidade do cristianismo cativar para si muito do sentimento dos fieis de Isis.

A Ísis eram devidos os títulos de "Mãe de Deus", "Raínha dos Céus" e "Estrela do Mar" títulos que seriam atribuídos posteriormente a Maria. Inclusivé, é com certeza mais do que uma mera coincidência que muita da iconografia associada a Maria tenha parecenças com a iconografia de Ísis.

(ver aqui estátua de Isis a amamentar Horus)

Mas quer isto dizer que o sentido do culto de Maria fosse o mesmo que o de Isis ou de qualquer outra Mater pagã? Com certeza que não. Pelo menos ao nível oficial, já que ao nível popular as diferenças seriam (como aliás ainda hoje o são quando se tenta fazer a distinção entre culto e veneração) mais da natureza da sintaxe do que da semântica.

Como isto não quero aqui negar que a veneração de Maria tem por trás de si uma realidade objectiva que transcende as suas próprias origens. E nem acredito que a menorização ou mesmo a sua eliminação levasse todos os que acreditam a uma "mais directa relação com Deus". Esse seria um terrivel erro pois, uma boa parte dos Marianos, sem Maria tornar-se-iam apenas meros supersticiosos, com maior ligação à bruxa da aldeia do que ao prior da paróquia.

Da mesma forma, ao contrário do que apregoam muitos ateus, a morte de Deus não leva a mais racionalismo mas apenas à crença indiscriminada em tudo.


Escrito por: aguastranquilas
Data: 22 de Janeiro de 2008 11:51

Gostei muito do seu post. Mas repare que Isis é a Mater da trindade egípcia e o cristianismo desponta na Europa dominada pelo Império Romano. Não é à toa que refiro Diana, cujos templos eram dedicados ao culto da Mater.
Não é caso único. Adonaia, Milita, Alilat, Selene, Ceres, Isis, Diana... entre dezenas de figuras míticas de outrora foram alvo de igual culto. Cada uma com as suas particularidades.


Escrito por: luis
Data: 22 de Janeiro de 2008 14:27
caro aguastranquilas
sei perfeitamente que Isis pertence à mitologia Egípcia. Quando no ano 30AC o Egipto foi incluído no Império Romano o seu culto foi importado e começou a desenvolver-se além Egipto. No ano 40DC o imperador Calígula construiu-lhe um templo o que ajudou a popularizar este culto entre os romanos. No ano 200DC o cristianismo está em plena expansão em Roma e este é um dos cultos com que tem de competir pela aceitação popular sendo o outro o culto de Mitra. Nesta altura já o culto dos deuses clássicos está em decadência.

Entre os 3 cultos emergentes Cristianismo, Mitraísmo e Ísis, o culto de Ísis era sem dúvida o mais popular e o de Mitra o mais elitista. No entanto quer o Mitraísmo quer o culto de Ísis acabam por perder adeptos em favor do Cristianismo sem dúvida porque este apresenta uma perspectiva moral e social mais abrangente. O culto de Mitra encontrava-se confinado às classes militares tendo sobretudo um apelo elistista e masculino. Por sua vez o culto de Ísis apesar de popular era de apelo essencialmente feminino tendo um carácter sazonal com as principais festividades celebradas durante o equinócio da Primavera. As mulheres suas seguidoras, durante certos períodos, faziam prática de castidade que dedicavam a Ísis e isto é claro tornava o culto muito impopular aos olhos do público masculino. Por aqui se vê que a prática de castidade por motivos religiosos já vem de antanho e não é uma invenção judaico-cristã como alguns querem impingir.

O curioso (ou talvez não) é que a Maria cristã continuou também a ter um particular apelo entre os crentes do sexo feminino.


Escrito por: aguastranquilas
Data: 22 de Janeiro de 2008 15:36

Boa tarde Luís. Está tudo muito bem, exceptuando a ligação entre Artémis, Diana e Isis, entre outras, que são basicamente a mesma figura com nomes diferentes, no que respeita á figura de Mater.

Segundo R.N. Champlin - Teólogo, a deusa Diana e a deusa Maria confundem-se, o que torna difícil encontrar a diferença entre a “Diana dos efésios” e a “Maria dos efésios”. De acordo com uma inscrição existente no local, ela trazia estes títulos: Grande Mãe da Natureza, Patrocinadora dos Banquetes, Protectora dos Suplicantes, Governanta, Santíssima, Nossa Senhora, Rainha, a Grande, Primeira Líder, Ouvidora...”

Se consultar os actos dos apóstolos 19 - 34 encontrará a clara referência:
(...)todos começaram a gritar, numa só voz, durante cerca de duas horas: «Grande é a Artémis (Diana) dos efésios!»

Escrito por: luis
Data: 23 de Janeiro de 2008 05:38

aguastranquilas
a confusão continua, por isso coloco a coisa mais graficamente:

Diana (romana) = Artémis (Grega) <> Ísis (Egípcia)

A cena dos Actos dos Apóstolos não aquece nem arrefece para o assunto. A única coisa que daí podemos tirar é que no tempo de Paulo (50DC?) o culto de Diana era popular em Éfeso (Ásia Menor). Nada nos diz sobre posteriores evoluções ou ligações deste culto.

Quando em 200DC o culto de Isis está no auge podemos assumir que alguns aspectos sentimentais e figurativos do anterior culto de Diana tenham sido transferidos para Isis como mais tarde seriam transferidos para Maria. Mas querer dizer que é tudo a mesma coisa é nitidamente abusivo. É como dizer que as mulheres são todas iguais e perseguem os mesmos objectivos de vida porque têm características sexuais comuns. Da mesma forma, não é porque o Natal se celebra a 25 de Dezembro que somos adoradores do Sol.

O facto da Igreja ter transferido para si muitas das imagens, datas e até ideias pagãs, não paganizou o cristianismo mas antes cristianizou os cultos pagãos. Atitude inteligente que permitiu cristianizar minimizando tensões e conflitos.

A veneração de Maria foi com certeza importante para não dizer fundamental neste processo. Quando no fim séc. IV o paganismo é ilegalizado, os seus templos são destruídos ou reconvertidos em templos cristãos. Assim muitas igrejas dedicadas a Maria são construídas sobre o que eram anteriormente templos de Diana ou de Ísis ou de outras deusas pagãs, o que naturalmente ajudou à identificação das populações com os novos valores cristãos, tendo por associação os santos cristãos assumido títulos anteriormente dedicados aos deuses pagãos.

Mas daí a confundir as coisas e a dizer que Diana era indistinguível de Maria, só mesmo por má fé ou muita falta de óculos. Nunca se viu Maria representada como deusa da caça com arco e flecha, nem assumindo a forma de serpente como Ísis. Pelo contrário Maria é aquela que esmaga a serpente e títulos como de "Theotokos, Dei Genitrix" (aquela que gerou Deus), pretendem explicitamente honrar o seu divino Filho e não têm nenhuma raiz no paganismo.

A propósito, apesar de nunca ter lido, no que pude pesquisar sobre a obra de R.N. Champlin as opiniões são mais ou menos consensuais que sendo este autor interessante em termos de pesquisa histórica de tradições e costumes, as análises e interpretações dos textos Bíblicos deixam muito a desejar já que incluem elementos altamente especulativos, para não dizer totalmente fantasiosos.

Re: Maria e os cultos femininos pré-cristãos - por Luis e aguastranquilas
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 05 de June de 2008 22:00

Segundo a teóloga irmã Lina Boff - Livro : Mariologia - interpelações para a vida - vozes

O marianismo do nosso povo busca, junto das figuras de Nossa Senhora, um símbolo vinculado a um arquétipo feminino.
Arqué quer dizer o mais antigo , o mais originário.
Aquilo que a gente tem dentro de nós que é mais perto da nossas origens humanas.

O povo brasileiro, latino americano, busca uma figura do feminino.
Porque temos influencia de uma cultura patriarcal, e mãe , a mulher pode ser incomodada . ( Mãe ! Me dá isso ! Mãe! Faz aquilo - normalmente chamamos a mãe e nao o pai ..)
A transcendência do povo: ele busca a figura do feminino, aqui entra a influencia de uma cultura autóctone e da influencia de uma cultura européia, sobretudo Espanha e Portugal, da península Ibérica.
Este almagma leva o povo brasileiro a buscar o feminino.
Em 99,9% das vezes, a figura que o povo apresenta de Maria possui características próprias :
Sempre traz uma coroa, um emblema, uma guirlanda, um globo terrestre.
Sempre alguma coisa na cabeça!
Sempre tem enfeite nos pés
uma faixa azul cobrindo-lhe o ventre

Isto não pode se colocar no homem, só se pode colocar na mulher.

O universo cultural de nosso povo é eminentemente feminino e ele busca isso.
Por isso as fé em Nossa Senhora donde a criatividade de fé lhe deu mil nomes.
Se a gente ver bem, nossa Senhora nos leva as nossas origens arquetípicas.
Ela é um arquétipo na nossa vida, a gente já nasce com ela , sobretudo em se falando do povo brasileiro.

A nossa evangelização sem esse arquétipo feminino se esvazia , se desencarna, e o evangelho se torna ideologia e militância.
Maria, nossa Senhora é a seta para Jesus. Ela sempre aponta para Ele.

sobre o culto á Nossa Senhora : Marialis Cultus- PauloVI diz nesta carta como deve ser o culto de nossa Senhora. ( Na Liturgia )

A Criatividade da fé :
Quando a gente ama uma pessoa , admira muito uma pessoa, a gente faz gestos, inventa coisas.
A gente atribui a Nossa Senhora tanta coisas boas, então a gente cria ritos, cria novenas, cria orações, é a criatividade da fé!
Diante disso, os que presidem o serviço da fé , não podem abafar!
A importância disso para quem tem fé, festa com musica, comida, feira, tudo serve para festejar, para celebrar, a comunidade de fé se mobiliza.
Não está escrito na Bíblia, isso é fé.
Existe toda uma tradição, tanta coisa boa!
Aqui , Paulo VI coloca o que a fé criou para nossa Senhora e que a Igreja assume e legitima. Dá uma legitimidade aquilo que o povo acredita.



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