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Questionário dos bispos portuguêses; meu contributo
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 28 de November de 2010 15:50

Os bispos portugueses lançaram duas perguntas aos fiéis católicos, sobre:

1 - Que vês na noite da sociedade em que vives? Quais os sinais de Deus e os desafios para a tua missão? O que podem os cristão oferecer, a nível espiritual e humano?

2 - Qual a nova maneira de ser Igreja nos dias de hoje? Que caminhos pastorais a seguir?

Gostaria de partilhar convosco a minha visão.

"Primeira questão

No contexto da sociedade actual, como em qualquer outro momento histórico, a pessoa de fé não pode deixar de reconhecer “sinais” de Deus no meio envolvente. A sua visão de fé a isso mesmo conduz, posto que o crente olha para as realidades, boas e más, e faz delas uma leitura referênciada Àquele que É a referência da sua vida, Deus, cujo verdadeiro rosto contemplamos na figura de Jesus. É evidente que o crente só estará em condições de efectuar esta interpretação da realidade se, de facto, for alguém que fez e faz uma experiência genuinamente cristã de metanoya, uma experiência contínua de vida no Ressuscitado. A Igreja não pode deixar de reconhecer evidentes sinais de Deus na sociedade actual, quer sob a sua forma positiva, quer sob a forma negativa, ou de apelo. Quer numa, quer noutra, a Igreja, os cristãos, não podem ficar indiferentes.

a) Dos valores a optimizar e promover

Neste sinais, sob a sua forma positiva, devem-se reconhecer os valores da Basileia que, expontaneamente, vão ganhando vida, quer sob a forma de iniciativas coletivas, quer de forma individual. Valores como a generosidade, a solicitude pelos mais pobres e desválidos da sociedade, os multiformes tipos de apoio dados a quem se encontra em situação de dificuldade, são sinais de que há, de facto, felizmente, valores genuinamente cristãos na sociedade actual. São, necessáriamente, sinais de Deus. De facto, só pela ação da Graça Operativa, natural, pode o homem praticar um verdadeiro bem, ainda que, independentemente do seu nível de culpa, não se inclua entre os membros da Igreja enquanto estrutura juridica vísivel. Perante a vivência destes valores do Reino, muitas vezes praticados por quem não faz caminho com a Igreja, outra opção não existe para a Igreja portuguêsa senão a de se associar a estas actividades, quer sob a forma de ações coletivas, quer, sobretudo, por ações de ordem individual.

b) Da realidade olhada com os olhos da Fé

A par destes sinais, em sua forma positiva, outros encontramos, sob a forma negativa. Os contra-valores do Reino não são, evidentemente, sinais de Deus em si mesmos, pois de Deus não advém mal algum. Estes “sinais”, devem sê-lo em nós, sob a forma de apelo, chamamento. O crente de hoje deve olhar para as situações claramente opostas ao Evangelho, e, como batizado, como participante na Missão de Cristo e da Igreja, enfim, como vocacionado, tem a obrigação de dar uma resposta, tem a obrigação de se desacomodar de um soft “os outros que tratem disso”! Estes sinais de Deus, sob a forma negativa são, assim, convites que surgem no espírito daquele que crê e que, como crente, vê a “miséria do seu povo” (Ex 3,7) e, como interpelado, age. Trata-se, evidentemente, do carácter profético do Povo de Deus que, à semelhança dos profetas bíblicos, “lêm” a realidade que os circunda com os olhos da Fé e, como experiência intima de Deus, a essa realidade se dirigem, procurando a sua transformação.

c) De uma nova patristica, síntese das antíteses

Constituem particulares desafios para a Igreja de hoje o confronto sério e honesto com as diversas visões antropológicas e de mundividência que pautam todo o proceder humano actual. Das diversas visões sobre a problemática do homem, há-de a Igreja se colocar não só como docente, mas também como discente, procurando discernir e valorizar, potenciar, os aspectos genuinamente cristãos que se possam encontrar na actual cultura. Não se trata, evidentemente, do aggiornamento como absorção da cultura actual por parte da Igreja, esquecendo que esta é “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3,15). Semelhante visão, nascida de uma interpretação errada e abusiva do espírito conciliar, reduz os imperativos morais a um teleologismo onde o critério já não é Deus, nem o Evangelho, mas o homem com suas intenções que, nesta perspectiva, ditariam a verdade, a bondade, ou não, dos seus actos morais.
Atrever-me-ia a estabelecer uma analogia entre o correcto aggiornamento, com os tempos Patristicos, onde estes insignes Doutores da Fé estabeleceram a simbiose entre a verdade cristã e a filosofia do seu tempo, ao mesmo tempo elevando as potencialidades desta com o matriz cristão e, por outro lado, dela se enriquecendo com as novas perspectivas e linguagens passiveis de serem assumidas pela Igreja, dando assim continuuidade à Tradição, percebida como realidade dinâmica que não cessa e que, na sua produção, continuamente conduz a Igreja para uma compreensão cada vez mais profunda, mais plena, da verdade plenamente revelada, mas não plenamente percebida (Jo 16,13). Com efeito, a Igreja é, entre muitos outros aspectos, um processo de libertação, porque é um processo de caminho para a percepção plena da verdade revelada, verdade que é, justamente, libertação (Jo 8,32). Se assim é, então a Igreja é um processo contínuo de cristificação, porque caminho para a verdade e liberdade, só em cristo plena, e Ele mesmo Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6).
Nesta linha de pensamento, e reflectindo sobre o que nós, Igreja, podemos oferecer à sociedade portuguêsa, como ela hoje se afigura, em toda a sua complexidade, de uma forma genérica diria que a oferta cristã, hoje, em termos espírituais, urge passar pelo esclarecimento e pelo verdadeiro e coerente testemunho.

d) Da oferta de esclarecimento ao homem de hoje, através da busca deste homem

A descrença e os vários tipos de ateismo que se lhe associam muitas vezes nascem, não raro, em conceitos, ideias e complexos em relação ao cristianismo, fruto de uma catequese insuficiênte, muitas vezes mal dada (irei abordar este aspecto na segunda questão), e na dificuldade em conciliar as novas visões sobre a pessoa humana e sua fenomenologia, bem como as novas visões do Universo, fruto do progresso das ciências, para com as afirmações doutrinais da Igreja. É evidente que, para nós, não existe nenhuma inconciliação entre os conhecimentos de natureza profana, aos mais diversos níveis, e as afirmações de natureza teológica. Porém, à maioria das pessoas, esta não-oposição de principios não é, de todo, evidente. E é compreensivel. Com efeito, a conciliação entre os dados da Revelação sobre o homem e o universo, nas suas diversas linguagens, e os dados das ciências só se fazem com alguma elaboração teológica, elaboração essa que, por princípio do fenómeno da descrença, não interessa ao homem de hoje. Desta sorte, estamos diante de um ciclo fechado, viciado: o homem não crê, porque não entende as afirmações de Fé; e não entende as afirmações de fé, porque a reflexão que lhe permitiria perceber, não lhe interessa; e não lhe interessa, porque ele julga que já conhece a “história”...

Não posso deixar de recordar aqui um texto do nosso Papa, quando era professor, no seu livro “Introdução ao Cristianismo”. Diz o teólogo: “Quem tentar falar hoje sobre o problema da fé cristã diante de homens não familiarizados com a linguagem eclesiástica por vocação ou convenção, depressa sentirá o estranho e surpreendente de semelhante iniciativa. Provavelmente depressa descobrirá que a sua situação encontra uma descrição exata no conhecido conto de Kierkegaard sobre o palhaço e a aldeia em chamas, conto que Harvey Cox retomou há pouco em seu livro A Cidade do Homem. A estória conta como um circo ambulante na Dinamarca pegou fogo. O diretor manda à aldeia vizinha o palhaço, já caracterizado para a representação, em busca de auxílio, tanto mais que havia perigo de alastrarem-se as chamas através dos campos secos, alcançando a própria aldeia. O clown corre à aldeia e suplica aos moradores que venham com urgência ajudar a apagar as chamas do circo incendiado. Mas os habitantes tomam os gritos do palhaço por um formidável truque de publicidade para aliciá-los ao espetáculo; aplaudem-no e riem a bandeiras despregadas. O palhaço sente mais vontade de chorar do que de rir. Debalde tenta conjurar os homem e esclarecer-lhes de que não se trata de propaganda alguma, nem de fingimento ou truque, mas de coisa muito séria, porquanto o circo realmente está a arder. Seu esforço apenas aumenta a hilaridade até que, por fim, o fogo alcança a aldeia, tornando excessivamente tardia qualquer tentativa de auxílio; circo e aldeia tornam-se presa das chamas. Cox conta esta estória como símile da situação do teólogo hodierno e vê a figura do teólogo no clown incapaz de transmitir aos homens a sua mensagem. Em sua roupagem de palhaço medieval ou de outro remoto passado qualquer, o teólogo não é tomado a sério. Pode dizer o que quiser, continua como que etiquetado e fichado pelo papel que representa. Qualquer que seja o seu comportamento e seu esforço de falar seriamente, sempre se sabe de antemão que ele é um clown. Já se adivinha qual o assunto de sua mensagem e se sabe que apenas está dando uma representação com pouco ou nenhum nexo com a realidade. Por isso pode ser ouvido sossegadamente, sem inquietar a ninguém com as coisas que afirma. Sem dúvida existe algo de angustiante neste quadro, algo da angustiada realidade em que a teologia e formulação teológica de hoje se encontram; algo da pesada impossibilidade de quebrar chavões do pensamento e da expressão rotineiros e de tornar reconhecível o problema da teologia como assunto sério da vida humana”.

A par dos problemas de complexo e preconceito acerca das afirmações de Fé diante das novas visões sobre a realidade, e aliado a ele, outro problema é a falsa imagem de Deus criada nas pessoas. Não me vou deter agora na análise desta fenomenologia; irei fazê-lo quando abordar a segunda questão. De momento, é importante fazer notar que, conforme sabem os nossos Bispos, as pessoas afastadas da vida da Igreja, e de qualquer cristianismo, têm uma imagem de Deus muito deformada. De facto, uma má formação cristã, ao nível da catequese, ou as opiniões dominantes na sociedade acerca da questão Deus, conduzem inevitavelmente a a criar um idolo, que nada tem a ver com o Deus bíblico, e revelado em Cristo. O Deus cristão aparece, assim, revestido como um superprotector ao qual acorrem em busca de auxilio os “coitados”, de “mente fraca”, que ainda precisam de Deus para explicar os fenómenos do mundo, ou para encontarem um “ópio” (K. Marx) para suplantar as suas angustias existênciais. Outros admitem esse Deus, mas admitem-no como um desinteressado pelo mundo. Outros admitem que a imagem de Deus é uma alienação da essência do homem para fora de si (Feuerbach). Outros, enfim, pegam em afirmações da Fé da Igreja, distorcidas, e imaginam um Deus mau, que manda para o inferno, que castiga, que dá a morte, que gosta da pobreza material, que criou o mundo em 6 dias, mandou o diluvio, faz uns milagrinhos se oferecermos umas velinhas, um Deus que quer que as pessoas desprezem a vida num certo ideial de ascetismo, nada tendo a ver com o nosso tempo nem com o nosso mundo... enfim, um ideial de Deus nada verdadeiro, cristianismo parcelado, adulterado, fruto de má formação dos cristãos, complexos e preconceitos adquiridos pelos de fora, e mau, muito mau testemunho por parte de não poucos cristãos. Numa palavra, um ideial de Deus do qual se justifica repulsa e afastamento. Não vale a pena me deter mais na exposição destas imagens de Deus, pois os reverendíssimos Bispos certamente as conhecem. Para nota fica a chamada de atenção para a nossa responsabilidade, como Igreja, para o fomento, ou não, destas imagens junto daqueles a quem queremos falar de Deus.

É evidente que os católicos têm a obrigação de trabalhar, pela reflexão, estudo e aprofundamento do conteúdo da Revelação, para expurgar estas imagens superstítio, este idolos enganadores da mente dos homens de hoje. E este passo é indispensável enquanto pressuposto fundamental para um qualquer contacto com a sociedade actual. Tal como ontem, hoje, com mais veemência, torna-se indispensável darmos razões da nossa esperança (I Pe 3,15), melhor, sabermos dar razões da nossa esperança e da nossa Fé com um discurso coerente, usando uma linguagem capaz de “colar” aos signos, sinais linguistico/mentais do homem de hoje, sabendo lhe responder com um correcto raciocinio às suas perguntas, dúvidas e anseios, aliás legítimos. Desta sorte, outra alternativa não tem a Igreja, na totalidade dos seus membros, senão a de se esforçar por desmitificar conceitos errados, deturpados sobre a questão, no fundo sempre presente a cada homem, que é o problema de Deus, que é o seu próprio problema.

Antes de falar do testemunho de vida cristã como oferta a fazer ao homem de hoje, gostaria de me deter no conceito de encontro. O cristão, configurado com Cristo pelo batismo, chamado a ser como Ele, a caminhar os mesmos caminhos, a viver as mesmas atitudes que pautaram a vida do Mestre, há-de se esforçar por se configurar também com Ele na sua figura de bom samaritano da humanidade ferida. Não podemos, não nos é admitido pela lei suprema do Evangelho, sermos o sacerdote ou o levita que, em nome da fé (curioso e insuspeitado contrasenso muito pouco percebido por muitos católicos) passam ao lado, evitam o contacto (Lc 10,30-32). É evidente que os motivos do afastamento, do desencontro entre o cristão de hoje e a humanidade ferida, a acontecer, reside numa base diferente do da parábola, embora com ligações intimas. Nela, o sacerdote e o levita, para além do possivel desinteresse emotivo, baseiam a sua atitude nos termos da lei, que proíbe o contacto com o sangue e com mortos; busca da pureza ritual, que o homem ferido poria em causa. Hoje os motivos para a escassez da atitude do encontro do outro, do que está fora, do que não anda connosco, radicam noutro tipo de “pureza” a conservar. É comum encontrarmos nas nossas comunidades paroquiais quem se sinta bem apenas dentro da segurança do templo, dentro da vida eclesial, reduzida à participação na liturgia, ou até mesmo envolvido em algumas actividades dentro da comunidade, e que façam apenas encontro com aqueles cujas opiniões, sentimentos e modos de estar na vida sejam iguais, ou pelo menos sigam os seus próprios padrões, de espiritualidade católica, fazendo assim um pseudo-catolicismo! Desta sorte, o catolicismo, por definição Universal, deixa de o ser, para se tornar em gueto. Se na parábola se via a recusa de encontro com base nas leis de pureza ritual hoje muitos católicos parecem voltados para a pureza do seu bem estar, do seu sossego, da sua posição privilegiada de justos, de superiores a esta humanidade que eles julgam como perdida, e da qual se devem apartar, quiçá para preservar a pureza da sua fé. Inclusivé se ouve alegar a defesa desta atitude com certos textos da Escritura, naturalmente adulterada na sua interpretação, suprimindo o contexto bem definido de certas exortações para evitar o contacto com os de fora. Ignorando o porquê, e o quando deste tipo de advertências, as tomam por gerais, falseando a intenção do redator bíblico, cuja única finalidade era a de evitar mal entendidos e, de certa forma, a de evitar juizos erróneos justamente pelos de fora, feitos com base em “excessivas boas relações”, quiçá coniventes, com os não fiéis.

Ora, esta atitude de encontro é não só necessária para o testemunho, como importante em termos de virtude pessoal, com vista à justificação santificante. Com efeito, a severa sentença de Mt 25,41-46 não tem como objecto apenas os nossos, mas todos os homens em geral, todos eles verdadeira imagem de Deus. Todos os dias nos cruzamos com os de fora, e todos os dias nós, católicos, persistimos em esquecer que, embora não sendo dos nossos, neles está presente Cristo, imagem perfeita do Pai, quiçá o Cristo sofredor de Mt 25,41-46. Imagem de Deus, perante a qual nós, detentores das Primicias do Espírito (Rm 8,23; II Cor 1,22; 5,5; Ef 1,13-14), somos chamados a contribuir para que resplandeça sempre mais. De facto, a atitude de encontro é indispensável na ação de esclarecer o outro. Só posso esclarecer alguém, se o escutar (diferente de ouvir). Escutá-lo, percebê-lo, para, dessa forma, ligar as suas feridas (Lc 10,34). E é evidentemente fundamental ao nível do testemunho. De facto, dar testemunho não é somente fazer certas afirmações categóricas, dotadas de verdade, porém genéricas. Para eu constituir a minha mensagem como passivel de ser recebida, então tenho que criar encontro com o outro, com a sua problemática, as suas dúvidas, as suas necessidades, enfim entrar na sua vida e na sua história, sempre única e complexa. Caso contrário, o anúncio correrá o risco de ser vazio de sentido para o ouvinte, justamente porque desligado, desenraizado da sua vida. Tem a Igreja portuguêsa a urgênte necessidade de cultivar a formação humana dos seus para os incentivar a criar disposições afectivas e psíquicas para a capacidade de encontro com o outro. Sem dúvida, os homens nunca estiveram tão próximos uns dos outros como actualmente; porém, nunca estiveram tão sós! Vivemos numa sociedade fomentadora de solidão e abstração. Facilmente, e sem dar conta, podem os cristãos enveredar por um clima de insuspeitada solidão, apesar de aparente relação, encontro.

e) Da oferta de testemunho ao homem de hoje; importância do signo comportamental

Tive já oportunidade de me referir à ação profética como caminho para a transformação da realidade, a propósito dos sinais-apelos de que falava na alínea b). Carácter profético do batizado que vive no testemunho que, como acabei de referir na alínea anterior, não é somente a produção de conceitos, ideias, afirmações que, embora dotadas de verdade, não constituerm ainda o testemunho própriamente dito. É notório o facto de o Novo Testamento, no original grego usar o termo martys para se referir à testemunha de Jesus, e martyria para se referir ao testemunho. Embora inicialmente, e dependendo do contexto, designasse ora o testemunho sobre Cristo, ora o acto de dar a vida por amor ao mesmo Cristo como coroa máxima desse martyria (Act 7,1-60; Ap 2,13; 6,9), e posteriormente tenha passado a designar em exclusivo a morte dos que testemunham o nome de Jesus, fica evidente que o testemunho cristão, mesmo não tendo como fim o martírio, no sentido corrente do termo, implica um comprometimento da pessoa toda, e não somente da sua arte de discursar, de dissertar sobre temas ligados ao conteúdo da Fé cristã.

Justamente porque a Fé é uma relação entre a pessoa e Deus, que implica a entrega livre da pessoa ao projecto salvífico de Deus, em Cristo. ela tem, portanto, um carácter profundamente existêncial, ao nível do concreto da pessoa toda, e não apenas ao nível meramente intelectual. Os conteúdos da Fé, nos quais se pretendem apresentar, através do discurso, as verdades sobre a Revelação, traduzem a necessidade de tornar acessivel à inteligência a verdade daquilo que se vive. Ora, o cristão que testemunha, e que quer ofertar esse testemunho aos homens de hoje, tem que testemunhar, antes de um conteúdo doutrinal predefinido, uma esperiência real, concreta, a partir da qual esse conteúdo pode fluir com autenticidade, ser convenientemente exposto, compreendido, vivido, justamente porque, no crente, ele deve préviamente ser experimentado, vivido, celebrado. Só é possivel fazer uma verdadeira oferta de testemunho, se o crente for, em si mesmo, um sacramento, um sinal, uma existência concreta daquilo que anuncia. Caso contrário, irá tratar-se sempre de uma mensagem abstracta, que, por mais bela e lógica que se possa apresentar, irá revestir-se sempre como algo de teórico, nada tendo a ver com a realidade que se pretende transformar. No fundo, trata-se de fazer encarnar, na vida tomada do seu concreto, a Palavra de Deus. Para poder encarnar nos outros, pelo nosso testemunho, terá sempre que encarnar primeiro em nós, Igreja, de modo a ser um testemunho que signifique algo de concreto aos homens de hoje.

Dizem os entendidos que 30% da nossa linguagem é verbal, e 70% é expressivo/comportamental. Perante este dado elementar das ciências da linguagem, não posso deixar de ter em mente os profetas bíblicos. Com efeito, estes homens de Deus recorriam frequentemente a ações de carácter simbólico, nas quais pretendiam transmitir uma mensagem. Hoje, mais do que ontem, se percebe bem esta praxe dos profetas. O gesto, o comportamento, comunicam sempre algo de nós, algo sobre nós, algo esse que supera em força tudo o que possamos dizer com palavras, por mais eloquentes que possam ser. A materialização comportamental do testemunho cristão constitui o maior veículo de comunicação. É, aliás, indispensável. Ao me referir acima ao crente como sacramento daquilo que anuncia, pretendia justamente chamar a atenção para este aspecto determinante do testemunho a oferecer aos homens de hoje. Este testemunho não é uma teoria, nem um conteúdo teológico; este testemunho tem de ser o crente, em si mesmo, numa perspectiva profundamentel existêncial, encarnada. É o prórpio crente que se faz oferta, oferta de uma realidade viva, dinâmica. Dito de outro modo, talvez mais conciso, diria que o crente é o testemunho. Só pode oferecer testemunho, se ele mesmo for o testemunho vivo, concreto, experiênciável, prático, não-teórico, da mensagem que pretende comunicar. Mas o que tem o crente de comunicar, antes de quaisquer teorizações de carácter teológico? Sem dúvida a sua felicidade e realização profunda enquanto crente.

O crente que dá testemunho é, assim significante, através dos seus comportamentos, atitudes, modos de proceder, de viver, é significante, dizia, do significado, do Evangelho, ultimamente de Cristo. Ele mesmo Evangelho. Ao me referir ao testemunho como sacramento, melhor, à pessoa do crente na sua totalidade como testemunho, pretendia, pois, conduzir à visão do crente enquanto sinal de Cristo, o crente e seu testemunho como significante do Significado. S. Paulo é bastante expressivo, quando diz que, para ele “viver, é Cristo” (Fl 1,21). No autêntico testemunho, Cristo tem de ser o absoluto do crente. S. Paulo, com estas palavras, coloca-se também na linha de toda a eclesiologia do Novo Testamento, ao expressar, a realidade do batizado como membro de uma Igreja, sobre a qual o NT nos dá várias imagens que traduzem esta união com Jesus: a imagem da videira, do Corpo, da construção, etc. Em suma, união com Cristo. Nesta perspectiva, poderia-se dizer que o cristianismo pleno, o testemunho pleno se traduz quando o significante (o crente na sua totalidade existêncial) constitui um só com o Significado (Jesus Cristo, a Boa-Nova).

Esta profunda união entre significante e significado será sempre caminho necessário também para os homens possam perceber outros significantes da vida eclesial: gestos eclesiais, simbolos, ritos, estilos da instituição, etc. Sem esta indentificação por parte do crente, todos os significantes da Igreja, na sua totalidade, vão-se apresentar como realidades herméticas, incompreensiveis, fechadas sobre si mesmas, sem qualquer carácter “sacramental” (justamente porque não vão estabelecer, perante o homem de hoje, a relação ao Significado). Terá de ser o crente, ele mesmo já identificado com aquilo que quer significar, que ira expôr, através de uma formação cristã madura, a compreensão da linguagem eclesial, da Liturgia, enquanto comunicar de Vida, Vida essa que o crente tem que apresentar ao homem de hoje. No principio desta alinea eu falava da necessidade do cristão fazer uma experiência intima de Deus, para, deste modo a levar aos outros. Terminaria esta alinea, citando Karl Rahner: “O cristão do futuro, ou será alguém que experimentou alguma coisa, ou não será nada”.

f) Das necessidades humanas e contribuição dos católicos

Uma observação urge ser feita em relação aos conceitos de oferta de natureza espíritual e oferta de natureza humana. É errada a ideia de que aquilo que se designa como “bens espirituais” não sejam também “bens humanos”. S.S. Paulo VI dizia, mais ou menos nestes termos, que “quanto mais me humanizo, mais me divinizo”! Haverá bem que mais me humanize, me torne mais pessoa, do que a do Evangelho vivido? A adesão a Cristo é, por excelência e definição, o maior bem humano, insuperável. Trata-se, certamente, de um problema de natureza linguistico/expressiva. Acentuaria, talvez, a dimensão social da Igreja em Portugal, evitando, assim, o binómio espiritual/humano.

No campo social, tem a Igreja portuguêsa prestado um excelênte contributo. As instituições vocacionadas para a intervenção social têm trabalhado com afinco, embora saibamos que as necessidades superam a oferta. Outra coisa não há a fazer que não seja apelar continuamente para os fiéis católicos a sua generosidade, como imperativo moral, para levar por diante estas iniciativas e procurar satisfazer as necessidades que, neste contexto de crise, vêm aumentando continuamente. Não se trata da “esmolinha”, mas sim de uma atitude que implique a noção da pobreza como pecado social, sobre o qual todos temos, em maior ou menor grau, responsabilidades. Com efeito, quando eu tenho roupa sem destino guardada em casa, e há alguém sem roupa digna, então coloco-me numa situação de clara injustiça; peco! Quando abuso da comida, sendo guloso, falto ao respeito a quem não tem que comer; peco! Quando tenho vários pares de sapatos em bom estado, e há alguém calçado de forma indigna, é injusto; peco!

Sem nada subtrair à importância das instituições que se prestam a estes cuidados, gostaria de insistir na ideia da solicitude pelos pobres como tarefa da Igreja, não só enquanto organizada ao nível institucional, mas também ao nível individual. Cada católico tem a obrigação de viver esta solicitude pelos que precisam de ajuda. Não é adequada a atitude de remeter estes problemas apenas para as instituições vocacionadas. Estes problemas são também, ou deveriam ser, os problemas de cada católico. Deve a Igreja portuguêsa insistir na responsabilidade individual de cada fiél acerca da obrigação de solicitude pelos pobres, em vez de deseducar essa solicitude, criando a ideia de que estes problemas respeitam apenas à Cáritas e afins. Não! Respeitam a mim, a si, a cada um de nós. Educar os católicos para a solicitude, tarefa urgente, aggápica, que não pode ser descurada. A sentença que já referi de Mt 25,41-46 não respeita apenas às instituições, mas eminentemente a cada cristão, a cada católico.

Segunda questão

Em certa medida, já na primeira questão abordei o tema do modo de ser do cristão nos nossos tempos. Talvez fosse agora o momento de concretizar, de modo mais específico, os meios, os métodos de trabalho, a disciplina a usar para cultivar nos fiéis católicos o modo de ser Igreja, conforme comentei na primeira questão. E é agora o momento oportuno para me deter nos aspectos relativos à formação dos católicos, como dado fundamental que permite a realização de um diálogo frutuoso e crítico perante a cultura actual, um esclarecimento aos homens de hoje sobre as ideias erradas acerca de Deus, bem como para um autêntico testemunho cristão. Por outro lado, o incentivo à reflexão acerca da Igreja nos novos tempos há-de conduzir a Igreja a continuamente se questionar sobre a sua praxe, a sua disciplina, e a aprofundar temas do seu Magistério Ordinário Universal, sobretudo no modo como esse Magistério deve ser apresentado, expressado ao homem de hoje, ou até mesmo repensado, reformado. Os temas da Dogmática também não podem ser esquecidos; ao invés, deve-se aplicar um esforço constante por esclarecer as mentes sobre aspectos e afirmações do Magistério Infalivel que, à primeira vista, parecem não ser passiveis de serem aceites pela mentalidade moderna. Ora, tudo isto clama por uma adequada formação doutrinal e teológica, na qual os leigos têm cada vez mais importância, dada a sua situação privilegiada de fiéis que estão envolvidos no mundo de um modo bastante intenso.

Por outro lado, e na sequência do quem tem sido dito, há-de a Igreja saber gerir convenientemente os seus recursos humanos em termos de trabalho pastoral. A crise de vocações sacerdotais deve ser vista como um apelo a repensar continuamente o lugar do leigo enquanto agente activo na vida e governo da paróquia, nos elementos em que não é necessária a acção do sacerdote. Também o diaconato permanente deve surgir como elemento muito importante na vida eclesial.

a) Da formação bíblica

A 45 anos da Constituição Dogmática Dei Verbum, e não obstante muitos e louváveis progressos, ainda há bastante a ser feito para que a Escritura seja, plenamente, “a fonte pura e perene de vida espiritual” (Dei Verbum, nº 21) de cada cristão. As imagens deformadas de Deus, devidas em grande parte a uma insuficiente formação bíblica, em toda a amplitude da problemática ligada à Escritura, a uma correcta hermenêutica, bem como o desafio que constituem o florescer das seitas, exigem dos católicos a não-conformação com os conhecimentos adquiridos. A Igreja tem de insistir mais na necessidade de cultivar o estudo sobre a Bíblia, quer ao nível de constantes e periódicas ações de formação, quer ao incentivo ao estudo pessoal. Ao nível da homilética, deveriam os reverendos padres aproveitar a homilia para fazer crescer o Povo de Deus em sabedoria acerca da Escritura, e não apenas tecer comentários de natureza prática que do texto possam advir.

A formação em matéria bíblica é tanto mais importante quanto é importante a ideia de que o bom conhecimento bíblico, em toda a sua amplitude, e não somente do conhecimento da letra do texto, é, para um crescimento em santidade e em adequado testemunho, determinante. Com efeito, “desconhecer as Escrituras é desconhecer Cristo” (S. Jerónimo). Se eu desconheço Cristo, por desconhecer as Escrituras, como O posso testemunhar? Se eu desconheço Cristo, por desconhecer as Escrituras, como me posso identificar com Ele? Não me identifico, nem relaciono com o que desconheço!

É evidente que quando falo em formação bíblica, não pretendo afirmar, conforme referi, do mero conhecimento, ainda que sólido, da letra do texto bíblico. A formação bíblica há-de conduzir à correta ideia de que a letra do texto bíblico, em si, pode ser tudo, menos Palavra divina! Veja-se o exemplo das seitas: têm, ao nível da literacia, um ótimo conhecimento bíblico. Mas nem por isso têm, de facto, bom conhecimento bíblico; ou seja, falam do texto bíblico, mas não falam a Palavra de Deus! Há-de o fiél católico ser incentivado a se cultivar em questões de natureza bíblica, à sua correcta hermenêutica, com noções de exegese, o seu carácter de Escrito também humano, os processo, fases e autores da redação, a sua relação com a Tradição, eles mesmo fruto da Tradição, a necessidade do Magistério, a precedência da Comunidade sobre o texto, justamente na Tradição, etc. Estudar a Escritura, voltar às fontes de Água Viva, de modo a fazer dela a fonte da vida cristã, de todo o ensino e formação teológica.

b) Da formação teológica

Intimamente unida à formação bíblica, e à aquisição de algumas bases de teologia bíblica, está a formação teológica noutras áreas: teologia moral, dogmática, sistemática, filosófica, liturgica, entre outras. É evidente que não se pode pedir, por motivos óbvios, que os fiéis católicos aprofundem, ao nível superior, universitário, esses conhecimentos. Mas pode-se pedir aos fiéis que procurem conhecer, dentro das suas possibilidades pessoais, a teologia. Com efeito, todo o homem é vocacionado a ser um teólogo, na medida em que todo o homem é pensante, reflexivo, filósofo, e também reflexivo, pensador, acerca das questões ligadas a Deus. Estou profundamente convencido de que a falta de cultura em matéria teológica por parte de muitos católicos se prende com falta de curiosidade acerca das questões colocadas pelo problema de Deus. Há que perguntar qual a origem desta falta de curiosidade, de interesse, em conhecer melhor aquilo em que se acredita e, conhecendo melhor, ficar habilitado a argumentar razões passiveis de tornar compreensivel a mensagem cristã.

Isto prende-se, inevitávelmente, ao que já abordei acerca do testemunho perante o homem de hoje. A sociedade moderna é altamente critica. Quer saber de razões concretas que justifiquem modos de proceder. Os católicos, não partilhando do fideismo sectário, têm a obrigação de se apresentarem com razoabilidade, de apresentar a Fé com razoabilidade, de tornar passivel a essa dinâmica da Fé ser compreendida pelo homem de hoje. Isto é tanto mais urgênte quanto urgênte é a necessidade de esclarecer o homem moderno acerca das suas erróneas imagens e conceitos sobre Deus, conforme referi na alinea d) da questão anterior.

Estaria a ser injusto se dissesse que o conhecimento intelectual é premissa para a vida de santidade. De facto não é. Aliás, não raro acontece que pessoas com boa formação intelectual teológica, no fundo ficam-se nesse intelectualismo. O que pretendo afirmar é a importância da formação, que se tem que inserir, obviamente, num contexto bem mais vasto de vida cristã. Não sou mais santo do que o Chico, por saber mais. Pode muito bem ser o inverso! Ideal será a conjugação dos dois factores: vida de santidade e boa formação cristã. Mas pode uma pessoa que tem bons conhecimentos na área teológica, ser um mau formado ao nível cristão? Pode! Como? Devido à insuficiênte formação humana.

c) Da formação humana

É impossivel ser-se um bom cristão ser não se for uma boa pessoa. As ciências psicológicas têm-se aplicado a estudar as características do comportamento humano, procurando perceber que mecanismos servem de base a certas atitudes e comportamentos, que favorecem, ou não, uma saudável convivência com os outros e consigo mesmo. Os problemas do ego, em toda a sua amplitude psíquica, também tocam aos católicos. De facto, é frequente vermos comunidades cristãs em que se respira um ar pesado, percebe-se um mal estar geral. Pessoas em “estado de sitio” contra todos os outros, sem capacidade para efectuar uma autêntica comunicação, bloqueando o processo do diálogo e, por conseguinte, incapazes para o verdadeiro encontro com os outros, com elas mesmas e, ultimamente, com o próprio Deus. Vemos pessoas peritas em “fazer coisas”, pessoas cuja atitude prévia é a da evidência. Vivem uma necessidade absoluta de se evidenciarem, de se mostrarem capazes de algo, inibindo a acção dos outros, ou até vendo essa acção dos outros como nociva para o seu statuos. Personalidades manipuladoras, que gostam de possuir o controle da situação, fazendo, ainda que de forma inconsciênte, os outros passarem por objectos da sua satisfação egocêntrica: os irmãos, pela minha máscara de oficio pastoral, são assim o meio de eu afirmar o super-ego. Ser Igreja, em que era suposto estarmos cheios de Jesus, e, afinal, estamos cheios de nós mesmos. Cautela, para não nos enjoarmos de nós mesmos!! Por detrás destes comportamentos, estão personalidades mal formadas. Não vou abordar a fenomenologia, aliás complexa, destas situações, amplamente explicadas pela psicologia e pela psicanálise. Limitar-me-ei a alguns comentários.

As personalidades inseguras cambiam entre dois comportamentos extremos: a passividade e a actividade. A passiva é tíbia, tímida, tem medo dos outros, e sem motivo especial. Quer passar despercebida, não ser vista. Tem um medo terrivel de algo fazer que seja passivel de juizo negativo. Não quer, de modo algum, ferir susceptibilidades. Por isso, é incapaz de encontro, incapaz de diálogo, pois que é somente receptora. Estas, porém, têm consciência da sua insegurança. O mesmo já não se passa com a resposta oposta. Na situação oposta, o inseguro reage pela defesa: é autoritário, quer impôr-se, não admite os outros, pois são adversários, tudo nos outros é censurável, simplesmente porque são sugeitos diferentes do inseguro. Mas esta insegurança é não-consciênte. Habita o sub-consciênte, ao nível do recalcamento, e ganha vida, explode, nos comportamentos próprios de quem é, aparentemente, seguro de si. Os outros surgem-lhe como estranhos, agressores, ainda que nem disso tenha consciência. No fundo, as atitudes de defesa diminuem a liberdade, fecham a pessoa em si, quer pela passividade, quer pela actividade.

Outros há, que não souberam resolver bem os seus conflitos, a começar pela primária situação edipiana. As agressões de que foram vitimas, ao longo da vida, não foram assumidas, aceites, perdoadas. Os seus erros pessoais também não foram aceites, assumidos, e perdoados. A pessoa não está livre e, portanto, está indisponivel. Indisponivel porque fechada em si, fechada na sua história, que a pessoa persiste em reviver, martirizando-se, revolvendo-se no seu trágico fado que, embora seja inexistente, porque passado, a pessoa ferida o torna presente a si, de forma sistemática e pseudo-compensadora, porque procura uma justificação que, de algum modo, dê sentido aos factos, aliviando assim, ou compensando, o seu sofrimento emocional e psíquico. Também estes desequilibrios produzem, ora falta de auto-estima, ora excesso dela. Que o excesso de auto-estima seja compensação emocional, é notório. Mas também a falta de auto-estima o é. Pela falta de auto-estima, coloco-me em condição de me desculpabilizar e vitimizar da história onde sou sempre agente activo, por um lado, e, por outro, adquiro de mim uma noção negativa, em que me coloco como carrasco de mim mesmo, criando a ideia compensadora que não poderia ter sido a história diferente.... porque fui sempre incapaz. Compensação!

A procura de compensações para os problemas do ego conduzem a deficientes níveis de convivência humana, pela sua falta de verdade e autênticidade, através de multiplas formas, impossiveis de representar todas aqui (nem essa é a intenção). Porém, esta procura de compensações pode passar para o religioso. Marx e Freud, cada um com o seu matiz, no seu ateismo lançam a crítica ao cristianismo na medida em que as motivações do religioso sejam passiveis de se situarem ao nível das compensações, por alienação (Marx) ou projeção dos seus medos e inseguranças psíquicos (Freud). A crítica do ateismo elaborado, que lança estas ideias sobre a alienação/projecção no Outro, devem ser sempre motivo de constante reflexão, de modo a depurar o cristianismo de motivações emotivo/psicogenéticas no acto de crer. Uma Fé radicada na procura de compensações, na fuga de si mesmo, dos seus problemas, não é resposta, nem justificação; é negação da própria fé, que se define justamente como resposta e entrega livre, total, do homem a Deus. Na compensação/projecção, não há plena liberdade, nem plena entrega; logo, não há Fé: há fuga para um imaginário em que me sinto confortável, mas sem qualquer compromisso. O unico compromisso é sentir-me emocionalmemte seguro e compensado da minha existência através de um religioso compensador. Daqui nascem não poucos tipos de catolicismo ritualista, esquizofrénico, infantil e imaturo, do qual vale mesmo a pena fugir, como o diábo foge da cruz! Profundamente não-existêncialista, porque profundamente desumano, alienante. Nesta atitude religiosa doentia, enfadonha, Cristo não tem lugar, porque o humano veio fazer da fé um “ópio”, e em Cristo não há alienação: há kenosys, despojamento. Ora, se eu não me possuo, porque me alieno numa esquizofrenia religiosa, como me possso dar aos outros, como posso também eu fazer kenosys de mim, dom de mim, aos outros, e a Deus? Não posso. Não posso ser imitação de Cristo. Apenas posso fazer da fé uma procura de conforto, em que, em vez de existir como agente livre, me aniquilo; ou seja, não há fé nem cristianismo, mas apenas uma adulteração, um travestismo, justamente porque os pressupostos da Fé, segundo a Doutrina da Fé Católica, não existem, ou existem em grau deficiênte.

d) Da formação dos catequistas

Depois de ter falado na formação bíblica, teológica e humana do Povo de Deus, em vista de um melhor, mais pleno e autêntico anúncio da Fé, gostaria agora de focar a atenção naqueles que, na Igreja, se podem considerar, juntamente com a familia cristã, a base de toda a formação cristã: os catequistas, de modo particular os catequistas de jovens. E porquê os catequistas de jovens? Porque é certo que a idade juvenil constitui um momento privilegiado na construção da personalidade e identidade cristã, e porque é bastante comum, findo o caminho da catequese juvenil, estes jovens não mais voltarem a ter disposições para continuarem o caminho catecumenal adulto.

Tenho visto, por mim mesmo, antigo catequista nos tempos de seminário, que a formação dos catequistas do 1º ao 10º ano é, em Portugal, pobre! Escolhidos sem grande critério, por proposta dos reverendos padres, ou por disponibilização deles mesmos, recebem uma formação baseada em meia duzia de encontros, que abordam alguns temas interessantes do ponto de vista doutrinal, porém bastante parcelares. Quase diria que, com a mesma “bagagem” que saem da catequese do Crisma, é com a mesma bagagem que passam a catequistas.... Vão ensinar as crianças até aos 15 ou 16 anos, formação essa que será determinante, sem uma formação sistemática adequada, claramente insuficiênte, fraca, parcelar. É certo que existem guiões para as sessões. Porém, quando confrontados com questões mais complexas, que não constam do guião, feitas sobretudo pelos adolescêntes, ou não sabem responder, ou respondem de forma pouco clara, ou então apresentam a sua pessoalíssima opinião, desautorizada pelo Magistério.

Pouca cultura bíblica, reduzida aos conteúdos do guião e má formação anterior sob o aspecto teológico/doutrinal, resulta em catequisandos mal formados. O sincretismo entre catolicismo e secularismo neo-pagão é patente. E começa desde logo pela Unicidade e Universalidade do Mistério salvífico de Jesus cristo e da Igreja, posto em questão por aqueles que saem da catequese e que, inclusivé, passam a exercer ministérios na Igreja. Marcados, pautados, por um errado conceito de relativismo ao nível da Verdade revelada, da qual a Igreja Católica, e só a Igreja Católica, é plena portadora, vêm essa verdade como uma entre tantas, vêm a Igreja como um caminho ordinário entre tantos outros comuns, vêm Cristo como um caminho religioso, complementado por outros profetas religiosos de outras religiões não-cristãs. Por outro lado, rompem a relação Cristo/Igreja, e Reino/Igreja, passando a compreender uma Universalidade salvífica sem unidade. E poderiam ser citados outros tantos exemplos de falsa doutrina, sobretudo no campo moral, em que o critério já não é a Verdade revelada, mas a verdade da maioria secular. Poderia dizer, sem receio, que as crianças nas nossas catequeses são ensinadas a menosprezar, ou a desobedecer deliberadamente ao Magistério Ordinário, e por vezes, ao Magistério Extraordinário, caindo em heresia. Com efeito, se se rompe a Unidade do Mistério Salvifico de Jesus Cristo e da Igreja, já nada é certo, nada é infalivel. Assim, a verdade mais não é do que a soma das várias verdades, ainda que contrárias entre si mesmas; nem a verdade se compreende mais como verdade. Absurdo tipicamente ateu. Assim Sartre tem razão: “o homem é uma paixão inutil”.

Não consigo perceber como é que jovens com 20 anos, me vêm desabafar problemas com a Fé por causa dos 11 primeiros capítulos de Gn versus ciência! Nunca ninguém lhes ensinou que esses textos, como aliás nenhum texto bíblico, deve ser lido de forma literalista! Nunca ninguém, na catequese, lhes explicou que não há, de modo absolutamemnte nenhum, qualquer problema entre conhecimentio científico e Revelação. Não consigo perceber como podem estes jovens na casa dos 20 anos, desconhecer que o pão e o vinho transubstânciados, não significam o Corpo e Sangue do Senhor, mas são realmente o Corpo e Sangue do Senhor. De facto, se não for a própria curiosidade do catequista em querer aprender, os nossos adolescentes estão muito mal encaminhados. É evidente que depois não pode a Igreja Católica portuguêsa se lamentar de passar vergonhas diante das seitas....

Ninguém deveria ser admitido ao ministério de catequista, sem uma formação ampla, sistemática, tendo como referência a grande referência da catequese: o Catecismo da Igreja Católica. Deve a Igreja portuguêsa estabelecer cursos próprios para quem quer execer este oficio, de importância capital na vida e missão da Igreja (cf. Catechesi Tradendae, nº 15), cursos suficientemente longos para abarcar o conteúdo do Catecismo da Igreja Católica “norma segura para o ensino da fé” (Constituição Apostólica Fidei Depositum), bem como uma introdução à Sagrada Escritura, sempre passivel de progressivo aprofundamento, através de acções de formação periódicas.

e) Do diaconato permanente

Na Igreja portuguêsa, parece-me que o ministério do diácono, sob forma permanente, não é, ao contrário do que se passa noutros países, suficiêntemente valorizado. Não obstante haver em Portugal dioceses onde é notória a presença destes ministros, outras há (exemplo da Diocese de Setúbal) em que parece que se trata de um ministério que “mete medo” aos reverendos padres. Não percebo o porquê de tanta reserva para com um ministério sagrado, que é, aliás, da maior utilidade para a Igreja. Num contexto de falta de vocações sacerdotais, e dada a disponibilidade de não poucos varões maduros em idade e experiência, capazes de tão insigne serviço, estes são, de facto, um precioso subsídio às actividades pastorais que não exigem sacedote.
Penso que seria sempre preferivel confiar certas tarefas a diáconos permanentes do que aos leigos, embora isto em nada diminua as competências e capacidades dos leigos. Porém, enquanto há ministros sagrados, estes devem ser convenientemente aproveitados.

Nota final: Muitas coisas poderiam ser comentadas, muitas coisas ficaram por dizer. Mas, certamente que outros irmãos nelas falarão em suas respostas. Apresentei aqui os temas que, a mim, me parecem mais emergêntes"

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)

Re: Questionário dos bispos portuguêses; meu contributo
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 31 de December de 2010 12:55

Não vou ensinar o Padre-Nosso ao vigário, mas sim dizer o que penso.
Quando a consciência se recria, surge a energia; quando a energia se recria, surge a matéria, quando a matéria se recria, surgem os genes, quando os genes se recriam surge a pessoa humana, quando a pessoa humana se recria, surge a memória, quando a memória se recria, potencia-se a alma. É nesta ordem de ideias que compreendo a transubstanciação, ou seja, o elemento de ordem bio-energética transforma-se, mediante o poder da fracção e partilha, em elemento de ordem memorial, o mais próximo-sensível da alma humana; esta verdadeiramente única, pessoal e à altura do Universo. O aconteciemnto eucarístico, na lógica da explícita ordem de Jesus ("fazei isto em memória de mim") está reservado a todos quantos consideram Jesus Cristo como paradigma do ser Humano,aquele que dá sentido à Criação, o "HOMO Christus", também "Solidarius" e "Frater Universalis".
A Eucaristia é acontecimento da graça (gratuidade) que antecipa a plenitude celestial.
Mas cuidado com a cacolatria (rigorosamente proibida no 2º mandamento do Sinai (Exodo 20). Convem lembrar também que a procissão com o corpo de alguém tem o nome comum de funeral (verdadeiramente necessárias seriam procissões eucarísticas). Atenção pois ao que diz o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900):
"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós".
Um Bom Ano para todos.

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Re: Questionário dos bispos portuguêses; meu contributo
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de January de 2011 16:55

Se quisessemos um símbolo para o batismo, não de um batismo em particular, mas de todos os batismos, escolheríamos a água batismal. Os sacramentos são sinais do reino e destinam-se a introduzir as pessoas nos seus mistérios. Envolvem sempre pessoas e matéria, gestos e algumas palavras específicos de cada um deles. Quem institiu a Eucaristia, além do já citado "Fazei isto em memória", também disse "tomai e comei", "tomai e bebei". A Eucaristia supõe a participação nesta refeição memorial, igual a um dizer sim a Jesus, ao seu corpo memorial e sentido de missão, o mesmo que convicções, projetos, ânsias, princípios éticos, desafios proféticos, abertura ao infinito, universalidade, transcendência, numa palavra à sua personalidade. Jesus nada escreveu, mas podemos dizer que tudo está resumido na oração do Pai-Nosso e na Eucaristia (muito simples). O pão e vinho eucarísticos são pois os símbolos de todas as eucaristias, que têm como referência Jesus, o qual tem como referência a vontade de Deus Pai:
"O meu alimento é fazer a vontade de meu Pai".
Lembro mais uma vez Ex, 20:

"4* Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. 5*Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, 6 mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos".

Sejamos, em Igreja, humildes servo de Deus e, porque Deus é amor, sirvamos no Amor. Que na Igreja tudo seja serviço. Vejamos todos os sacramentos como serviço, serviço que há-de reforçar o sentido de todas as iniciativas em favor da Humanidade.

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Editado 2 vezes. Última edição em 02/01/2011 17:02 por Albino O M Soares.

Re: Questionário dos bispos portuguêses; meu contributo
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 03 de January de 2011 15:20

Olá Albino (nome do papa João paulo I).

Citação:
Não vou ensinar o Padre-Nosso ao vigário, mas sim dizer o que penso

Só sei quem sou, devido á existência dos outros... por isso, mal de quem julgar que nada tem a aprender com os outros.

Queria comentar, então, algumas afirmações tuas.
Apresentas um discurso pouco simples, com frases-máximas que supõem um contexto filosófico mais amplo e, por isso não são de fácil interpretação, pois desconheço o leque das tuas premissas que, do texto, não se alcançam.

Citação:
É nesta ordem de ideias que compreendo a transubstanciação, ou seja, o elemento de ordem bio-energética transforma-se, mediante o poder da fracção e partilha

Uma pergunta se impõem: a Eucaristia depende da existência da fração e partilha, ou não será antes a premissa, a condição, que torna possivel, autenticamente, a fração e partilha?

Citação:
o elemento de ordem bio-energética transforma-se (...) em elemento de ordem memorial, o mais próximo-sensível da alma humana

Mas falamos de uma transignificação subjectiva, ou de uma transubstãnciação, na qual ocorre, de forma concreta, a mudança da substãncia do ente pão/vinho em Corpo Glorioso de Jesus, mantendo-se os acidentes pelos quais captamos o fenómeno (ver kant)?

Citação:
Convem lembrar também que a procissão com o corpo de alguém tem o nome comum de funeral (verdadeiramente necessárias seriam procissões eucarísticas).

Mas as procissões Eucaristítcas são feitas com o Corpo do Vivente, não de um finado...

Citação:
Atenção pois ao que diz o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900):
"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós".


Ora, temos aqui uma frase de Nietzche, em "Assim falava Zaratustra".
Temos que reconhecer que, para Nietzche, era necessário que Deus morresse, para que surgisse o Super-Homem, livre deste "curioso, este indiscreto, este misericordioso. Ele via-me, sem cessar, a mim. Eu quis vingar-me duma tal testemunha - ou cessar de viver" (Assim falava Zaratustra). Devia Deus morrer, para Nietzche, para que, vindo do Eterno retorno, surgisse o Super-Homem, a besta loira, construido pela "vontade de poder".

Polémicas aparte sobre a filosofia "gratuita" de Nietzche, temos que nos perguntar: Deus morreu porque Nietzche quis? Ou Deus morre porque Nietzche acha, no seu ateismo, que deve morrer?

Citação:
Lembro mais uma vez Ex, 20:
"4* Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. 5*Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, 6 mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos".

Percebi a "deixa"...
Creio que a questão do culto às imagens já foi tratada neste forum, e o Catecismo da Igreja Católica também trata desta questão.

Mas, se citou Ex 20, também deveria citar Dt 4,15, pois neste texto de diz o princípio de razão suficiênte desta proibição das imagens: "«Tomai muito cuidado convosco, pois não vistes imagem alguma no dia em que o SENHOR vos falou no Horeb do meio do fogo".

Pois, é certo que Deus se tornou visivel em Jesus Cristo (II Cor 4,3-6; Cl 1,15-20)), inaugurando uma nova economia das imagens.
Ademais, também deverá ter em atenção que o Antigo Testamento apresenta excepções a este preceito. veja a Serpernte de bronze, usada como meio salvífico (Nm 21,4-9), e as imagens de querubins no templo (Ex 25,18; I Sm 4,4; I Rs 6,23--29).

Portanto,a proibição de adoração de imagens é válida, pois só a Deus se presta o culto de latria.

Mas o Novo Testamento, por S. Paulo, amplia o conceito de idolaria para além da adoração de imagens, pois a cobiça de riquezas é também considerada uma idolatria (Ef 5,5-7; Cl 3,5-6)
desta sorte temos que concluir que, ao nível do NT, o termo idolatria designa o culto de adoração a tudo aquilo, ou a todas as realidades que não são Deus em Sí mesmo. Portanto, no culto católico das imagens (não elas em si mesmas, mas a pessoa nelas representada), não é proibida, dada a novidade do NT.

Fica com Deus

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)



Editado 1 vezes. Última edição em 03/01/2011 15:25 por Rui Vieira.

Re: Questionário dos bispos portuguêses; meu contributo
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 04 de January de 2011 10:47

Rui Vieira,
Li com apreço o teu comentário.
Realmente não tenho jeito para desenvolvimentos temáticos.
A minha tendência é olhar a Eucaristia como sacramento do amor e da unidade, a partir das palavras de Jesus.

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