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Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 07 de October de 2010 20:19

Vem isto a propósito de uma reflexão, de um professor sobre o problema do civismo na comunidade Portuguesa. Dizia ele que há uns anos atrás, por volta de 1980 foi para Inglaterra estudar e tentar perceber porque um país como portugal que teve um império e um país como Inglaterra que teve também um império tinham entre eles tantas diferenças ao nível dos comportamentos, no que diz respeito a não falhar compromissos, a cumprir horários, a ser profissional. Ele chegou à conclusão que a diferença estava na religião dominante nos dois países, religiões esssas que formam civicamente as pessoas. Sinceramente aquilo causou-me um certo incómodo, mas ao reflectir sobre as culturas latinas vemos que todas tem o dominante comum: têm a religião católica. E todas sem desprimor para ninguém em particular, não tem a mesma frieza dos nórdicos, onde impera o luteranismo, ou a mesma cumprimento de calendários, como os ingleses, onde domina o anglicanismo. Somos por cultura,nós latinos, como se diz em Portugal, vamos ver no que dá, senão der "desenrasca-se", ou como a música: "deixa a vida me levar". Este é um temperamento muito nosso. De quem é a culpa? Dos genes? Da Igreja católica? Não digo que concordo com o professor, mas a questão pareceu-me pertinente.


Deixo aqui à reflexão.

Re: Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 07 de October de 2010 21:55

Cá para mim a culpa é do clima.
Sol e trabalho cinzento não jogam.
Afinal o que é mais saudável: trabalhar para viver ou viver para trabalhar?

Há cultura do laxismo e do facilitismo, mas também há a da partilha em comunidade. Individualismo, aquele afinco para vencer à custa de todas a adversidades não é de facto muito nosso.
Será defeito? Olha que não sei. Gastar forças pode ser sinal de teimosia meio burra.

Claro que na lógica economicista em que vivemos ficamos mal vistos, mas na volta estamos é certos!

Tem alguma lógica andar de fatinho, perder horas no transito, para nos enfiarmos em escritórios minimalistas com ar condicionado, fazemos o trajecto inverso para chegar a casa estoirados e encontrar uma família tb de rastos e comer algo já sem gosto? Isto não é viver; é simplesmente atrofiante quando sabemos que temos ali mesmo à mão um areal fantástico, um sol deslumbrante e uma brisa refrescante.

Olha a minha escola é daquelas que receberam obras.
Aquilo é só cinzento e preto. Tínhamos tanto verde, pinturas coloridas nas paredes feitas nos diferentes projectos da escola,era um espaço velho mas vivo. Agora o chão é cimento, as zonas cobertas são pilares de cimento com palas em cimento, os pavilhões parecem feitos de cartão cor de cimento. Está tão triste...
Quem é que se sente alegre ali para aprender e ensinar com vontade?!?!
Só os cinzentões se sentem bem ali. Os cinzentos que são formiguinhas laboriosas em qualquer lugar.
Nós somos um povo de cigarras e temos direito a sê-lo.
Larguem-nos, não nos chateiem. Não gostam, comam menos.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 09 de October de 2010 09:00

se portugal e espanha tivessem feito na america latina o mesmo que os colonizadores dos USA fizeram, exterminado quase totalmente a população nativa, é provavel que a america latina fosse mais rica e organizada... e mais desumana também.
nem consta que a jamaica (pais de maioria protestante) tenha uma economia muito melhor que a dos paises que o rodeiam.
E a lituania é assim tão diferente da estonia e da letonia? São mais desleixados? Os polacos são menos cumpridores que os bielorrussos ou os checos?
Os austriacos são menos cumpridores que os hungaros? Os alemães da baviera (maioria catolica) são menos cumpridores que os do leste da alemanha (maioria protestante)? Nota - se a memoria não falha a baviera era até a região mais rica da alemanha, pelo menos uma das mais ricas.

Re: Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 10 de October de 2010 12:41

Citação:
Vem isto a propósito de uma reflexão, de um professor sobre o problema do civismo na comunidade Portuguesa. Dizia ele que há uns anos atrás, por volta de 1980 foi para Inglaterra estudar e tentar perceber porque um país como portugal que teve um império e um país como Inglaterra que teve também um império tinham entre eles tantas diferenças ao nível dos comportamentos, no que diz respeito a não falhar compromissos, a cumprir horários, a ser profissional. Ele chegou à conclusão que a diferença estava na religião dominante nos dois países, religiões esssas que formam civicamente as pessoas. Sinceramente aquilo causou-me um certo incómodo, mas ao reflectir sobre as culturas latinas vemos que todas tem o dominante comum: têm a religião católica. E todas sem desprimor para ninguém em particular, não tem a mesma frieza dos nórdicos, onde impera o luteranismo, ou a mesma cumprimento de calendários, como os ingleses, onde domina o anglicanismo. Somos por cultura,nós latinos, como se diz em Portugal, vamos ver no que dá, senão der "desenrasca-se", ou como a música: "deixa a vida me levar". Este é um temperamento muito nosso. De quem é a culpa? Dos genes? Da Igreja católica? Não digo que concordo com o professor, mas a questão pareceu-me pertinente.

De facto, a questão parece, à primeira vista, pertinente.
Porém, e segundo a minha opinião, o professor a que se refere, está a fazer uma análise bastante simplista sobre uma situação cultural onde interagem fenómenos muito diversos, incluindo o fenomeno religioso.

Mas torna-se um pouco forçada a afirmação de que "a diferença estava na religião dominante nos dois países, religiões esssas que formam civicamente as pessoas".
Quer em Inglaterra, quer em Portugal, a religião há muito que deixou de formar civicamente as pessoas; nem sequer o adjectivo "dominante" se pode aplicar, segundo o entendimento que o professor parece ter do conceito de "dominante". A sermos rigorosos, a grande "religião" dominante nos dois países, é o secularismo, imbuido de uma filosfia positivista e imanentista, nada metafísica, em que o problema religioso é relegado para um ambito restrito de uns quantos "Et,s", rotulados como "deslocados" da realidade, com um discurso retrógado, etc.

Vale a pena citar aqui Ratzinger:

"Quem tentar falar hoje sobre o problema da fé cristã diante de homens não familiarizados com a linguagem eclesiástica por vocação ou convenção, depressa sentirá o estranho e surpreendente de semelhante iniciativa. Provavelmente depressa descobrirá que a sua situação encontra uma descrição exata no conhecido conto de Kierkegaard sobre o palhaço e a aldeia em chamas, conto que Harvey Cox retomou há pouco em seu livro A Cidade do Homem1. A estória conta como um circo ambulante na Dinamarca pegou fogo. O diretor manda à aldeia vizinha o palhaço, já caracterizado para a representação, em busca de auxílio, tanto mais que havia perigo de alastrarem-se as chamas através dos campos secos, alcançando a própria aldeia. O clown corre à aldeia e suplica aos moradores que venham com urgência ajudar a apagar as chamas do circo incendiado. Mas os habitantes tomam os gritos do palhaço por um formidável truque de publicidade para aliciá-los ao espetáculo; aplaudem-no e riem a bandeiras despregadas. O palhaço sente mais vontade de chorar do que de rir. Debalde [8] tenta conjurar os homem e esclarecer-lhes de que não se trata de propaganda alguma, nem de fingimento ou truque, mas de coisa muito séria, porquanto o circo realmente está a arder. Seu esforço apenas aumenta a hilaridade até que, por fim, o fogo alcança a aldeia, tornando excessivamente tardia qualquer tentativa de auxílio; circo e aldeia tornam-se presa das chamas.
Cox conta esta estória como símile da situação do teólogo hodierno e vê a figura do teólogo no clown incapaz de transmitir aos homens a sua mensagem. Em sua roupagem de palhaço medieval ou de outro remoto passado qualquer, o teólogo não é tomado a sério. Pode dizer o que quiser, continua como que etiquetado e fichado pelo papel que representa. Qualquer que seja o seu comportamento e seu esforço de falar seriamente, sempre se sabe de antemão que ele é um clown. Já se adivinha qual o assunto de sua mensagem e se sabe que apenas está dando uma representação com pouco ou nenhum nexo com a realidade. Por isso pode ser ouvido sossegadamente, sem inquietar a ninguém com as coisas que afirma. Sem dúvida existe algo de angustiante neste quadro, algo da angustiada realidade em que a teologia e formulação teológica de hoje se encontram; algo da pesada impossibilidade de quebrar chavões do pensamento e da expressão rotineiros e de tornar reconhecível o problema da teologia como assunto sério da vida humana" (J. Ratzinger, Introdução ao cristianismo, cap. 1, ponto 1).

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)

Re: Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 10 de October de 2010 22:20

Acho que o Rui fala algo importante e é algo que alguém já me tinha chamado a atenção por mp. Há também questões de outro âmbito diferente do religioso como as de perfil político da sociedade, enquanto umas são monarquias, outras são repúblicas. Acho que o clima também afecta a personalidade, pois de uma certa forma pessoas que tem de enfrentar condições adversas climatéricas ao longo do ano, tem uma visão mais pragmática da vida. Sabem que podem falhar menos. A religião católica, não pode ser de todo a explicação, porque parece-me de entre muitas cristãs, aquela que assenta a sua filosofia, numa sólida base racional. Mas a religião também é suporte de culturas, vejamos o caso da Índia. Seriam aquelas as mesmas pessoas com outra religião? Os meu colegas muçulmanos que já visitaram a índia, dizem: "so much dirty in the streets of India".
Respondendo à Lena prefiro passar a fase de "trabalhar para viver", para a segunda fase para mim mais alegre "viver para trabalhar", para servir. Enquanto a primeira é bem mais individualista, mas também necessária, a segunda extravasa o objectivo da primeira, e pensa no nós.

Re: Uma reflexão sobre a cultura católica nos países latinos
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 11 de October de 2010 10:45

Evidente.

No lugar da religião (detesto a palavra "religião), colocaria talvez, como factor determinante, a tradição democrática desses países, a par com a tradição não-democratica nossa.

A hegemonia britanica e, por extensão, norte-americana, começa pelo liberalismo financeiro, sobejamente facilitado pela não intervenção do Estado na vida económica, o que não se passou em Portugal, a não ser uns breves ensaios durante o séc XIX, e a partir de 1974.

Existe um livro bom, volumoso, cujo nome, se não me engano é "Porque umas nações (ou paises?) são mais ricas e outras mais probres?". Se não for esse o nome, é algo parecido. E, nesse livro, o autor analisa os pormenores, os factores.
E há um factor curioso que ele chama a atenção: ele diz que os latinos, em particular os portugueses, têm muita tendencia para a "martirização", para uma visão de si mesmos como negativa: tudo está mal, nada está bem; o paradigma da vida social está fechado, sem saída; eles mesmos são vitimas do seu triste fado, contra o qual nem vale a pena encetar muitos esforços.



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