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O incontornável problema de Deus
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 03 de July de 2010 16:48

Já por várias vezes foi tocado por cá o problema da fé e da descrença, desde várias perspectivas. E, contudo, o tema nunca está esgotado. Hoje tomo uma perspectiva diferente de tratar o problema, não propriamente centrada no acto de fé e na experiência espiritual em que consiste viver o problema de Deus e da fé ou descrença, mas no plano básico e mais «teórico» da questão de Deus. De outra maneira e mais especificamente: a inevitabilidade do problema de Deus. No fundo, «o problema de Deus» é «o problema do homem» ou «o problema teologal do homem». Não admira, pois, que seja incontornável, mesmo que muitas pessoas possam dizer que o problema de Deus não lhes diz respeito nem afecta em nada. O problema de Deus sempre nos acompanhará, por muito laicismo que se imponha nas sociedades.

A questão é que o problema de Deus não se reduz ao problema da admissão de que «Deus existe». Como já tive a oportunidade de discutir longamente com o Desidério Murcho, no «De rerum natura», há uns tempos, a maior parte das pessoas que tratam do problema de Deus, incluindo filósofos (sobretudo entre os que querem mostrar que Deus não existe, mas não só!), não se dão conta de que não tem sentido a discussão da existência de Deus como «um objecto mais». O ridículo argumento do «Monstro do Esparguete Voador» mostra isso, apesar dos entusiasmos fáceis de certos aprendizes e muitos partidários de Richard Dawkins. Também não tem sentido a contra-pergunta se então é Deus que existe, Alá, Júpiter ou o número quase interminável de deuses do hinduísmo... Teoricamente Deus poderia existir sem que isso afectasse em nada a minha vida, da mesma forma que não me afecta nada a (in)existência de um diamante de trezentos quilos no subsolo lunar. Prescindo aqui da inexactidão do termo «existência» aplicada a Deus, já que «existência» é «ex-sistência», coisa que não se pode aplicar a Deus. Em bom rigor, Deus não «ex-siste», porque não pode dever o seu ser a uma causa «externa» (ex-).

Naturalmente, muitos esforços intelectuais têm sido desenvolvidos no sentido de esclarecer o problema de Deus e durante muitos séculos o problema centrou-se na questão das «provas» da sua existência. Vários filósofos e teólogos trataram de encontrar «provas» (em sentido diferente do de hoje) ou «vias» explicativas da existência de Deus. Muitas dessas provas não «provam» no sentido corrente do termo e alguns pensam que com isso fica descartado o problema de Deus. Mas não é assim. Mas, como já expliquei, o problema vai mais longe que o da «mera» existência, porque é algo que tem que ver com a minha própria existência, que a antecede e fundamenta. Então, talvez fosse mais correcto tratar o problema de Deus a partir de outras perspectivas e noutros termos, como o de fundamento (mais pertinente que o de existência).

Seja como for, aqui interessa apenas anotar um aspecto fundamental: o problema de Deus é incontornável, é um problema estrutural humano.

Para ilustrar este carácter incontornável do problema de Deus, deixo em anexo um texto que me pareceu muito interessante do blogue «Na Paz, a Verdade», do P. João António Teixeira, a propósito do ateísmo (e) de Saramago. os destaques são do autor.

Alef




Citação:
P. João António Teixeira
SERÁ QUE O ATEU TAMBÉM NÃO CRÊ? (de novo, Saramago)


1. Não se pense que Deus só está presente na vida daqueles que O confessam. Ele está também — e bastante — no coração dos que O negam.

Entre a fé e o ateísmo, há uma simetria na experiência e, ao mesmo tempo, uma assimetria na direcção que ela acaba por tomar.

É por isso que Miguel Torga bem pode servir de fonte de inspiração para sintetizar a trajectória (a)teologal de José Saramago: «Deus. O pesadelo dos meus dias. Tive sempre a coragem de O negar, mas nunca a força de O esquecer».

Saramago nunca esqueceu Deus. Mesmo (sobretudo?) quando se assumiu como ateu.

E o certo é que foi dos escritores que, nos últimos tempos, mais concorreram para a permanência da questão de Deus como questão central na literatura e, mais vastamente, na vida pública.

Acerca de Deus, como alertou Xavier Zubiri, o mais difícil não é descobri-Lo; é encobri-Lo.

Se quisesse encobrir Deus, o ateu — sublinha Karl Rahner — «não só teria de esperar que essa palavra desaparecesse por completo, mas também deveria contribuir para esse desaparecimento, guardando completo silêncio, abstendo-se inclusive de se declarar ateu».


2. No fundo, José Saramago não deixava de ser crente. Acreditava que Deus não existe. Poderá alguém garantir mais do que isto?

A crença não é um exclusivo da atitude teísta. Ela abrange também (e bastante) a posição ateísta.

André Comte-Sponville, que se considera ateu, assegura que o ateu só pode dizer que acredita que Deus não existe.

É que, como nota Hans Küng, «se todas as objecções dos ateus tornam questionável a existência de Deus, não chegam, contudo, a tornar inquestionável a Sua não-existência».

Xavier Zubiri assinalava que a relação com Deus pode fazer-se pela via da afirmação, pela via da negação e até pela via da indiferença.

Nesta diversidade, os pontos de contacto não escasseiam. Miguel de Unamuno percebeu isto muito bem quando rubricou a célebre frase: «Nada nos une tanto como as nossas discordâncias».

A indiferença não foi, seguramente, a via seguida por José Saramago.

Deus nunca lhe foi indiferente. Pelo contrário, manteve com Ele uma relação intensa, embora tumultuosa.


3. Para Saramago, o Homem relativamente a Deus é como o murmúrio de uma ausência: «Deus é o silêncio do universo e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio».

Nos Cadernos de Lanzarote, chegou a escrever que «a existência do Homem é o que prova a inexistência de Deus».

Mas não há tantos que fazem exactamente a provado contrário? Não são tantos os que encontram no Homem a maior epifania de Deus?

No passado, Gregório de Nissa falava do Homem como «pequeno Deus» e, mais perto de nós, Xavier Zubiri, apontava o ser humano como «maneira finita de ser Deus».

Aqui, prova funciona não como evidência, mas como percepção.

A discussão jamais estará concluída. Como refere Philippe van den Bosch, «não há qualquer prova racional da inexistência de Deus. Não há senão convicções individuais e pressupostos».


4. O que há a destacar é a persistência da procura e a insatisfação do encontro que, por sua vez, desencadeia uma nova procura.

Nesta inquietação não laboram apenas os que negam. É conhecido o convite de Santo Agostinho: «Procuremos como quem há-de encontrar e encontremos como quem há-de voltar a procurar».

O ateu é alguém que não descansa na procura. É inquieto e inquietante. As suas interpelações não anulam a fé. Espevitam-na e ajudam ao seu aprofundamento.

Até o ateu mostra que Deus é uma questão humana. Deve ser também uma questão humanizante, fraternizante.

Nem sempre é o isso o que se vê. Deus é vítima de tantas imagens desfocadas e de tantos discursos distorcidos.

Em qualquer caso, Ele está em todos. Nos que dizem acreditar. E nos que, não dizendo, acabam por não estar longe d’Ele!

P. João António Teixeira



Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 04 de July de 2010 16:05

Olá Alef,

Sempre acho interessante este tema. De facto não penso que alguém possa ser indiferente ao problema de Deus, como jesus disse há dois mil anos atrás : 51*Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. 52*Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

Por vezes fala-se de lógica (de forma errada) para reduzir o problema de Deus à razão humana, mas o problema de Deus é um problema da pessoa toda , tal como a lógica só existe se vier da pessoa toda, das suas emoções e da sua razão. Muitos tentam fazer silogismos, para provar a existência e também a inexistência de Deus, mas os silogismos são como, pedras de uma casa que vão sendo colocadas em ordem, em direcção ao objectivo final do projeto e do seu construtor, nada tem a ver com lógica, porque a lógica fala-nos de verdade, que só pode vir, repito, da pessoa toda. O problema de Deus é que alguns não conseguem ligar Deus com a realidade, que criaram ou que em certas circuntâncias tendem a ignorar certos aspectos da realidade e da existência humana, para fugir à questão de Deus.


Bem agora não tenho mais tempo, deixo aqui o mote...

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 05 de July de 2010 09:00

1º-
Não confundir Deus com a perspectiva que temos d'Ele.
Desta confusão acontece que o que é verdade para uns é blasfémia ou heresia para outros. Provavelmente o mistéro de Deus é mais insondável que o da natureza. Mesmo assim sempre vamos dizendo que a lei de deus é a sabedoria dos simples. De facto o que melhor conhecemos de Deus são os seus mandamentos e aquilo a que a fé, nomeadamente a fé cristã, nos chama ou seja:- viver já ressuscitados.
2º Dito isto, talvez Deus exista se existe para ti ou para mim e não exista, se não existe pata ti ou para mim. Ou seja, talvez Deus seja novidade perene e existe, nascendo em cada um de nós.

*=?.0

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 08 de July de 2010 08:54

a pergunta "será que o ateu também não crê?" é interessante e tem uma resposta que a mim me parece evidente, crê.
A existencia de Deus pode ser demonstrada se Deus resolver manifestar-se a alguém, a inexistencia de Deus não possa ser demonstrada.
O ateismo é uma fé, o ateu acredita que tudo se resume ao mundo material, acredita que tudo aquilo que hoje não tem explicação cientifica, como os milagres, virá um dia a ser explicado, acredita que o universo existe porque sim, é "auto-explicavel", acredita nisso, embora não existam provas disso.
Por isso o ateismo é uma fé religiosa, uma crença num posicionamento religioso, a inexistencia de Deus, que não pode ser demonstrado.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 08 de July de 2010 15:39

Não concordo camilo. Acho que devemos manter a devida diferença entre o que o ateu crê (crer no sentido de acreditar, não no sentido de ter fé) e no que um cristão crê, porque embora ateus cientistas possam crer na ciência, ela não tem personalidade, é neutra relativamente aos sentimentos do homem e as suas acções, não os acompanha quando estão tristes, não lhes dá ânimo quando precisam, por isso não pode ocupar um lugar de um deus. Acho que devo respeitar o ateu e deixá-lo com o que ele acredita, mas não dizer que ele é religioso, porque não é.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 09:12

os cientistas ateus, os cientistas cristãos, os cientistas islamicos, agnosticos crêem na ciencia. Cientista crê na ciencia, independentemente da sua opção religiosa.
Não é isso que está em questão, em questão está um posicionamento religioso, um posicionamento religioso que no caso dos ateus implica uma crença em algo que não consegue demonstrar, a crença de que aquilo que hoje não encontra explicação amanhã encontrará, a crença de que não existe Deus. O ateu não consegue mostrar isto, simplesmente acredita nisto.
No cristianismo a fé religiosa vai muito para além de acreditar que Deus existe, isso era evidente para os discipulos de Jesus. Deus pode revelar-se a alguém e para esse alguém a existencia de Deus para a ser uma realidade tão evidente como 2+2=4. A fé é antes um confiar na mensagem de Jesus Cristo, confiar em Deus.
Existem muitos tipos de ateismo, alguns deles de cariz até bastante parecido com as igrejas instituidas (o comunismo marxista, por exemplo, tem desde livros "sagrados" - o capital - até "santos" - Lenine - um projeto de paraiso, a instituição do comunismo, templos (as sedes do partido), liturgia (os desfiles dos feriados comunistas), em pouco difere de uma religião), mas todos eles têm em comum fazerem uma opção num posicionamento religioso que implica uma fé, uma fezada, que a ciencia irá explicar tudo e nada existe para além do mundo fisico em que vivemos.



Editado 3 vezes. Última edição em 09/07/2010 09:20 por camilo.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 09:57

Citação:
camilo
os cientistas ateus, os cientistas cristãos, os cientistas islamicos, agnosticos crêem na ciencia. Cientista crê na ciencia, independentemente da sua opção religiosa.
Não é isso que está em questão, em questão está um posicionamento religioso, um posicionamento religioso que no caso dos ateus implica uma crença em algo que não consegue demonstrar, a crença de que aquilo que hoje não encontra explicação amanhã encontrará, a crença de que não existe Deus. O ateu não consegue mostrar isto, simplesmente acredita nisto.

Discordo. Inclusive a posição apresentada parece algo contraditória: primeiro reconheceu uma diferença entre o "crer" em Deus e o "crer" na ciência, e em seguida esqueceu-se da diferença para falar novamente em "demonstração". Ora, posso apresentar aqui uma série de famosos pressupostos científicos não demonstráveis em que todos acreditam, e nem por isso os matemáticos, químicos, físicos, computatas, etc, são considerados "religiosos". Há inclusive um bastante famoso que me interessa muito, é um dos sete problemas Clay, cujo não há muita esperança de que seja algum dia demonstrado: "P = NP?".

Citação:
camilo
Deus pode revelar-se a alguém e para esse alguém a existencia de Deus para a ser uma realidade tão evidente como 2+2=4.

Seguir pelo viés da certeza não é muito promissor. Uma crítica comum contra o crente é a incapacidade de distinguir entre o real e a ilusão, e a ilusão tb pode gerar certezas. Um paranóico, por exemplo, pode ter certeza absoluta que todos estão contra ele, e esse delírio paranóide não tem nada a ver com a fé de que falamos no caso religioso. O médico vai tentar curar o paranóico, que tem inclusive certeza de que o médico está contra ele. Da mesma forma um ateu pode querer "curar" um crente, que tem certeza que o ateu quer fazer mal a ele. Por isso, é bom que os crentes evitem certos tipos de linhas de raciocício, para não acabarem plantando as varas com que os ateus depois vão lhes surrar.

Citação:
camilo
A fé é antes um confiar na mensagem de Jesus Cristo, confiar em Deus.

A abordagem que trata da questão da confiança é das melhores, mas tb não é isenta de problemas se não se leva em conta outras particularidades da fé em Deus. Em suma, é melhor não tentar comparar a "crença" do ateu com a fé. Em geral o trabalho dos teólogos é mostrar que o fenômeno da fé em Deus é algo único, por isso é contraproducente tentar igualá-lo à crença na ciência ou algo parecido.

Citação:
camilo
Existem muitos tipos de ateismo, alguns deles de cariz até bastante parecido com as igrejas instituidas (o comunismo marxista, por exemplo, tem desde livros "sagrados" - o capital - até "santos" - Lenine - um projeto de paraiso, a instituição do comunismo, templos (as sedes do partido), liturgia (os desfiles dos feriados comunistas), em pouco difere de uma religião), mas todos eles têm em comum fazerem uma opção num posicionamento religioso que implica uma fé, uma fezada, que a ciencia irá explicar tudo e nada existe para além do mundo fisico em que vivemos.

É verdade que existem algumas semelhanças, mas ao mesmo tempo são muitas as diferenças. No futebol tb existem torcidas organizadas, hinos, a crença de que o time que se torce é o melhor, mas ainda não é o caso de se falar de igrejas.

[]s.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 10:18

Um texto interessante para esse tema, que pode ser algo incômodo para alguns crentes: El alma del ateismo O livro está disposto para preview. Sugiro uma olhadela na página 144. Aviso: o autor faz apologia do ateísmo.

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 09/07/2010 10:21 por firefox.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 14:15

P=NP ?

conheço bem o problema, quase todos os matematicos apostariam que é falso.
E não, não ciencia não conheço muitos presupostos não demonstraveis em que todos acreditam, conheço axiomas, conheço alguns atalhos cognitivos. E parece-me que não percebeu o que eu disse, a sua refutação é irrelevante para o que eu disse.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 15:27

Citação:
camilo
E parece-me que não percebeu o que eu disse, a sua refutação é irrelevante para o que eu disse.

Deixa estar então.

Na sequência, chegou a dar uma olhadela no livro do link? Não gosto muito daquele autor justamente pela militância. Para um filósofo principalmente, penso que ele estreita demais seu horizonte de compreensão, e "força a barra" muitas vezes. Inegável, entretanto, que escreve bem.

[]s

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: Rui Vieira (IP registado)
Data: 09 de July de 2010 20:53

Olá Firefox.

estive a dar uma ista de olhos, sobretudo nas "provas", e, francamente, o autor anda um bocado às voltas, especialmente com a contingencia e possibilidade de não-ser.
Contesta as provas, ainda que de forma prevertida, mas ele mesmo nada prova, nada resolve.

Pena que não esteja em portugués. iria perder tempo a ler e desmontar. Mas, ter que traduzir ocupa imenso tempo.

Um abraço

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 13 de July de 2010 11:20

estou com pouco tempo mas mesmo assim debito aqui um esboço de opinião sobre alguns problemas aqui levantados.

é possivel um abuso da certeza, é possivel a existencia de paranoias ou até simplesmente de falhas no raciocionio (até há um teorema que diz que a coerencia interna de um sistema matematico "normal" não pode ser provada!), mas o abuso não invalida o uso. É um erro limitar o raciocinio em função de leituras enviesadas que possam ser feitas desse raciocinio, limitar o pensamento a conclusões pré-estabelecidas. E uma das conclusões mais solidamente pré-estabelecidas atualmente é o relativismo, não se pode ter a certeza... isto não só em questões religiosas, mas em muitas outras, o relativismo reina como um tirano absolutista.
Mas Jesus e os apostolos não duvidavam da existencia de Deus, a fé que lhe era requerida era de outra natureza. O que é impossivel aos homens é possivel a Deus, e é possivel revelar-se de tal forma a alguém que essa pessoa saiba que Deus exista. Não deixará de precisar de fé, para confiar em Deus, mas a questão da existencia de Deus deixa de ser uma questão para ela. Negar esta possibilidade é negar a ominipotencia de Deus e esconder este raciocinio por medo do uso abusivo que alguns ateus possam fazer dele é amputar o pensamento, censurar o pensamento, mutilar a lógica.

futebol e religião... em portugal na revista CAIS, distribuida pelos sem-abrigo, saiu precisamente um artigo escrito pelo catedratico fundador da disciplina de motricidade humana, Manuel Sergio, aonde fala do desporto e em particular do futebol como um sucedaneo da religião, numa epoca em que o sentimento de adesão religiosa esmorece algumas pessoas procuram sucedaneos dessa adesão religiosa, idolos desportivos, ideologias politicas e não só (nota curiosa, aos apocalipses religiosos sucedem-se hoje apocalipses ciencitificos, ambientais, tecnologicos, etc), endeusamento da arte e dos artistas (hoje é considerado legitimo referir-se em tons malevolos a Deus e à religião, mas a obra blasfema do artista e o artista blasfemo adquire caracter sagrado, intocavel). A arte atualmente também é usada muitas vezes já não como expressão de algo que se sente mas como um sucedaneo da espiritualidade.

não li o link, não tive ainda tempo.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 21 de July de 2010 09:30

Mas será necessário anunciar Deus? O que na história está em causa somos nós e é o nosso ser-actuar que constantemente precisamos de moldar. E Jesus Cristo? Será um mito ou a fragilidade humana feita fecundidade? Devemos anunciá-lo ou apenas tomá-lo como modelo para o nosso existir em universalidade?-
será Deus como referência do sentido para o nosso futuro.

*=?.0

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 14:37

Não sei se devo colocar isto aqui, mas é algo que me fizeram chegar às minhas mãos digitais(o meu msn) e que parece vir a causar alguma discussão:

[dn.sapo.pt]

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 14:45

O "deus" ciência é muito engraçadote, mas ainda não explicou como do nada surge a matéria.

João (JMA)

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 15:40

Nada obriga a que a ciência tenha em cada instante explicação para tudo. E mesmo que tivesse, quem crê num deus continuaria a acreditar sem ter de negar nada na ciência. Não seria defeito, seria feitio.
Por isso não liguem a essas tiradas de introdução a lançamento de livros e sigam.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 16:36

Não acredito que exista nenhum deus ciência. É verdade que por vezes em discussões filosóficas me dizem que: "acredito na ciência". É um bocado estúpida esta afirmação, porque a ciência é uma ferramenta do homem. É como se um trolha me dissesse "eu acredito é no martelo". Por muito útil que possa ser o martelo e a ciência, eu pessoalmente acredito ou deixo de acreditar em pessoas, não em coisas, porque só as pessoas é que podem mentir ou dizer a verdade. Os instrumentos não mentem. Por esse mesmo motivo a ciência não é nenhum deus, porque não há nada para acreditar ou deixar de acreditar na ciência. Sómente acreditamos ou deixamos de acreditar nas pessoas que usam a ciência. Reconheço que existe um certo pretensiosismo por parte de alguns cientistas de fazer acreditar que a ciência fala verdade por si própria e assim é um instrumento à parte na realidade humana, que não precisa ou dispensa o homem. Completa mentira. A ciência depende do cientita, como um piano do seu pianista, ou um martelo do seu trolha. Um bom pianista toca melhor o seu instrumento, que um mau pianista, um bom cientista também. Embora a verdade da música também exista, só alguns a conseguem tocar. Na ciência também. Em tudo existe verdade. Depois de descoberta a verdade já não ha mais interpretações.

Não. Não ha nenhum deus ciência e nem penso que as pessoas acreditem nisso.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 19:37

Quando falam que acreditam na ciência, é mais pq confiam nos seus mecanismos de controlo, não há de forma alguma a entidade "ciência". A ciência é uma actividade humana, uma construção humana e como tal sempre incompleta, ela alimenta-se dessa margem de erro que impulsiona mais pesquisa e novas ideias. Cada nova resposta levanta mais questões. Sem dúvidas, sem questões em aberto a ciência seria inútil, por isso gosto dela e creio nela.
Creio nas potencialidades de avanço da ciência, creio tanto nela como estou certa que hoje tomo como verdadeiras coisas que futuramente serão consideradas erradas.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 03 de September de 2010 20:38

Eu prefiro acreditar no pianista e não no piano. Os mecanismos de controlo existem em todo o lado em todas as actividades onde existe seriedade. Não são um exclusivo da ciência.
A ciência vive sem dúvida da credibilidade dos seus utilizadores. Por isso há tanto cuidado na redacção de um trabalho cientifico porque está em causa a sua própria reputação. Um cientista sem credibilidade tem a sua carreira bastante abalado, senão mesmo terminada. Não muito diferente de qualquer outra actividade. Ninguém pense que quando se tenta publicar um trabalho que o editor está preocupado se o revisor vai fazer o teste e ver se aquilo de facto é assim e repetir a experiência. Só em casos muito extraordinários, mas mesmo muito extraordinários é que o revisor vai repetir a experiência.É obvio que o revisor não é pago e está a fazer um favor à editora. Por isso não tem tempo para dispender dessa forma. O que o revisor faz é fazer a revisão cientifica e levantar questões que não estão nos domínios da razão e do conhecimento actual, bem esclarecidas no paper, aceitar ou rejeitar o paper conforme os critérios de novidade e de performance sejam alcançados ou não. De resto confia na reputação do seu colega e na sua idoneadade. Essa é a diferença entre uma grande novidade estar ou não publicada. Acreditar que a ciência, quando bem usada (logo depende do homem ) pode trazer grandes benefícios para a humanidade, também eu acredito, mas isso não faz que eu acredite ou duvide da ciência em si. No fim tudo depende do homem, do que ele é, não da ciência e do que ela não é, nem pode ser, nem eu espero que seja.

Re: O incontornável problema de Deus
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 04 de September de 2010 16:37

Nem se trata bem de reputação, mas de idoneadade. Ou seja, o autor já mostrou que é sério e honesto na abordagem dos seus trabalhos. E se ainda não publicou dá-se o benefício da dúvida.



Editado 1 vezes. Última edição em 04/09/2010 16:38 por vitor*.

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