Olá Vitor.
Antes de comentar o que escrevestes, convinha saber se a definição das "duas espécies" de experiências espirituais são de tua autoria ou retiradas de algum livro ou texto. No segundo caso, talvez fosse necessário maior informação ou enquadramento para um comentário mais de acordo com o tema.
Não me recordo de alguma vez ter ouvido a expressão "Incêndio de Amor" como uma das formas de êxtase místico.
Quanto à tua primeira questão se "
as experiências a negrito (êxtase místico e incêndio de Amor) só são exclusivas de cristãos ou seja se só são exclusivas de santos católicos", diria que não são exclusivas dos santos, nem apenas dos cristãos. Ser místico não é requisito para se ser santo e basta ver a lista dos santos para verificar isso. A experiência mística está ao alcance de qualquer um, reconhecendo simultaneamente que isso não acontece simplesmente por desejo próprio mas por dom do Espírito Santo.
Os monges tibetanos e os budistas de uma forma geral têm por hábito uma forte componente de meditação. No Budismo Zen existe a prática
Zazen. Esta consiste numa forma de meditação sentado, com foco na respiração e ausência de pensamentos. Poderá também incluir a instrospeção de um
Koan. O meu koan preferido é "The sound of one hand clap."
No Budismo não há o conceito de Deus como nas Religiões Monoteístas. Mas existe algo "parecido", como Emptiness (vazio).
Por isso, quando perguntas "
se é possível a monges tibetanos atingirem tais estados de comunhão com Deus", a resposta é "Não" porque no Budismo não existe o conceito de Deus. Mas se perguntares, "é possível um budista (seja monge ou não) atingir um estado de união e identidade com o Vazio (Emptiness)", segundo o relato de vários budistas, a resposta é "Sim".
Mais do que a união ou comunhão, existe a identidade. Há uma experiência não-dual, entre quem medita e o Vazio. Nesse momento, são um.
É algo muito difícil de explicar por palavras, porque quando explicamos deixamos de estar nesse momento não-dual. Não há sujeito e objecto. Apenas há o Uno.
Se lermos os textos de S. João da Cruz e Sta Teresa d'Ávila, entre outros, encontramos excertos que nos podem parecer heresias, pela proximidade, união e identidade que existem com Deus. O "Eu Sou" exclusivo de Deus é verdadeiramente vivido e sentido naquele momento, momento esse que não existe porque se vive sem tempo, ou melhor, fora dele.
Como conseguir esta proximidade com Deus? Pela meditação ou oração contemplativa. Em Portugal tenho visto muito pouca divulgação sobre meditação Cristã. Existem alguns grupos que praticam, existe um
site para divulgação mas não sei porquê, continua a ser a excepção. Já falei com alguns padres para dinamizarem grupos de meditação cristã nas suas paróquias. Já falei com uma editora para traduzir e editar em Portugal os livros do Thomas Keating, por exemplo, mas continuo a ver a prática de meditação cristã como algo de uma pequena minoria. E é pena.
Obrigado,
Luís Gonzaga