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Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 15 de June de 2008 23:06

Gostaria de começar este nosso diálogo sobre a ressurreição lançando alguns dados sobre o emergente problema da identidade corporal. Com o avançar do diálogo irei continuar a reflexão abordando outros aspectos. Fazê-lo agora iria tornar o texto ainda mais extenso do que ele já é. Criei este tópico dar o devido destaque a este tema tão importante, e não o misturar no meio de outros igualmente importantes.

O primeiro aspecto a reter é que a fé na nossa ressurreição assenta na ressurreição de Jesus Cristo. Daí que a pregação dos Apóstolos, no seu núcleo primitivo, tenha sido "Deus ressuscitou Jesus". Mas como compreender a nossa ressurreição? O que é que ressuscita? Ressuscitamos com o mesmo corpo? Já agora, corpo e matéria são a mesma coisa?

1) Rahner acredita que o biológico, o espiritual e o divino são três dimensões do homem, a ter em conta para uma resposta adequada, que deve abarcar muitas facetas e matizes. O homem é produto da transmissão genética e da transmissão cultural e a vida tem múltiplas dimensões: a dimensão biológica, a dimensão neurocientífica e a dimensão social. "A existência física, biológica, do organismo, precede a existência do cérebro. Corpo e cérebro, com as suas anatomias respectivas em interacção contínua e recursiva suportam a emergência da consciência e dos fenómenos mentais" (António Damásio).

Como parceiro livre de Deus, a liberdade do homem supõe uma nova ciência integrada, com a biologia geral, a neurociência, e os produtos mais avançados da cultura humanística. Então, "a ciência começa a descobrir a alma no próprio corpo" (Jacques Julliard). E o homem aparece como uma unidade de corpo, matéria animada e a alma espírito incarnado.

A dimensão antropológica da Ressurreição, na sua relação com a identidade corporal, coexiste com a condição somática da Ressurreição enquanto encarnação da salvação numa corporeidade unitária (relação psico-somática da pessoa humana).

Aprofundando um pouco mais, podemos dizer que é esta unidade entre corpo e alma que nos permite afirmar que o corpo ressuscitado é o mesmo corpo da existência mortal, isto é, tal como diz S. Paulo, apenas se transforma num corpo espiritual. A fé da Igreja exige, portanto, a identidade corporal numérica: o mesmo corpo da existência terrena é o da existência ressuscitada (é importante distinguir corpo e matéria). Salva-se, assim, a identidade pessoal como resposta à questão da reincarnação e reacção contra a visão do corpo como alheio à realidade do homem (dualismo) ou mau (gnosticismo).

A corporeidade (diferente de matéria) engloba o espírito e o corpo como um todo, porque a pessoa humana é uma totalidade indivisível. Ela significa ser pessoa, e como tal possibilita tomar parte da Ressurreição. Só uma antropologia unitária que considere o homem como unidade corpo-alma poderá fundamentar a identidade corporal e da pessoa como liberdade encarnada. A identidade do corpo ressuscitado a partir da mesma matéria do corpo terreno é opinião indefensável; corre o risco de ser igual à recuperação do cadáver. A negação de uma tal identidade da mesma matéria durante a vida terrena torna-a inviável.

Ressuscitar "com o mesmo corpo" significa ressuscitar com um corpo próprio, que irradia a identidade definitiva sem equívoco; um corpo mais próprio que antes, sumamente comunicativo do eu. O corpo glorioso, "corpo espiritual" é o eu irradiando a vida do Espírito, depositário duma plenitude integral que nasce do núcleo mais íntimo da pessoa e transfigura a corporeidade.

2) A Ressurreição é ainda a promessa de Deus para além da morte, que institui o homem como sujeito dialógico e fraterno. Por isso, a fé na Ressurreição implica continuidade e rotura, identidade e mudança, contudo, o sujeito da existência ressuscitada é o mesmo da existência mortal.

A corporeidade tem parte na Ressurreição na medida em que ela é uma dimensão constitutiva do homem como pessoa. Assim, a sublimidade da dimensão espiritual do ser humano está incorporada na sua sublimidade biológica, permitindo e constituindo a identidade corporal do ser humano como organismo vivo. Estando o corpo, cérebro e mente inter-relacionados entre si, a Ressurreição é a afirmação da identidade corporal na medida em que ressuscitamos na totalidade, isto é, em corpo e alma.

A ressurreição confirma a seriedade da promessa de Deus na reconstituição do homem em todas as suas dimensões e corporeidade. Neste sentido, alma e corpo são estados complexos e únicos unidos num organismo vivo que é a pessoa. Na ressurreição estas dimensões permanecem um todo unitário e indivisível.

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 16 de June de 2008 20:09

Jacob:

Um agradecimento especial pelo teu texto e por teres conseguido trazer um tema com profundidade teológica.

Permite-me que realce duas afirmações:

1 - " A existência física, biológica, do organismo, precede a existência do cérebro. Corpo e cérebro, com as suas anatomias respectivas em interacção contínua e recursiva suportam a emergência da consciência e dos fenómenos mentais" (António Damásio).
SEndo que o cérebro também é corpo, pelo que a dicotomia corpo/cérebro não faz também grande sentido.
De qualquer forma, é de sublinhar esta ideia de que a consciência, o Self, e os fenómenos mentais tem uma base biológica estrutural - dependem de um conjunto de mecanismos biofisiológicos em interacção contínua. Ou seja, dependem de um organismo vivo e de um SNC intacto e funcional.

2 - "A identidade do corpo ressuscitado a partir da mesma matéria do corpo terreno é opinião indefensável; corre o risco de ser igual à recuperação do cadáver. "

católica praticante



Editado 1 vezes. Última edição em 16/06/2008 20:29 por catolicapraticante.

Re: Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 16 de June de 2008 21:26

Falar da ressurreição implica necessariamente falar sobre a morte. Assim, cara Católica Praticante, gostaria também de reflectir sobre algumas dimensões da morte, que podem tornar mais compreensível a beleza da ressurreição.

Quando falamos sobre a morte, temos de ter consciência que ela enquadra-se numa antropologia, dado que ela é o maior enigma da condição humana. O Homem vive atormentado pela dissolução do corpo e pela possibilidade de extinção eterna. De facto, ela pode ser vista como o término do tempo da decisão ou, pelo contrário, como o início do estado definitivo. Tanto no A.T. como no N.T. as obras é que determinam o mérito ou demérito da pessoa ante o juízo. De outra forma podíamos ver a vida cristã como uma peregrinação e a morte como o final dela.

A morte desmascara um tempo limitado (única realidade que não pode ser manipulada); como que mostra a irreversibilidade e irrepetibilidade de um tempo vivido que não volta atrás. Assim, a morte torna-se reflexão sobre a vida onde se faz a triagem entre o necessário e o banal. Quais são, então, as suas verdadeiras dimensões?

1. A pergunta da morte é a pergunta sobre o sentido da vida. O Homem, como finitude constitutiva, é um “ser-para-a-morte” tanto biologicamente como existencial e ontologicamente (Heidegger). A vida apenas tem sentido quando a morte é compreendida; sem esta compreensão a vida não passa de um caminhar para o nada (Schaff).

2. É uma pergunta sobre o significado da História. Não é possível encerrar a morte apenas no indivíduo, ela abre-se à espécie ao outro. Assim, a finitude do Homem é antecipação da finitude de todo o Humano.

3. É uma pergunta sobre os imperativos éticos de justiça, liberdade e dignidade. A questão da justiça é fulcral. Se um homem tratado injustamente morre para ficar morto, como se lhe faz justiça? (Horkheimer) Permanecerá eternamente assim? Como devolver a dignidade e a liberdade a quem foi roubada? A ressurreição pode dar resposta.

4. É uma pergunta sobre a dialéctica presente-futuro. Pode o futuro alcançar o presente? Deverá alguém sacrificar o presente tendo vista um futuro que pode não existir ou devemos viver o presente tendo em vista um futuro que será contradição do presente?

5. É uma pergunta sobre o sujeito de esperança. A morte ou contingência será sinónimo de inconsistência? O cristão é o Homem da esperança. No entanto, ser esperança para os outros é diferente de ter esperança. O ser para ter é feito pela promessa da nova vida.

6. É uma pergunta sobre a pessoa e a validade de quem sofre. O Homem é ou não irreversível? Sofre com um sentido ou sofre para o nada?

Um discurso meramente racional não pode oferecer respostas a todas estas questões. Para ela, a morte conduz ao absurdo do nada. Por outro lado, o Espírito oscila entre a necessidade da morte e a necessidade de uma vitória sobre a morte. Neste momento singular e pessoal, apenas resta a esperança e a transcendência. A morte não é apenas facto, é também um acto; acto da pessoa que morre e no qual ninguém pode tomar o seu lugar. Só ela pode abrir portas a uma existência, a uma ressurreição para a vida e consuma tudo já vivido.

Re: Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 17 de June de 2008 00:42

Sobre o Damásio havia muito que falar, mas talvez não seja este o lugar mais indicado nem tão pouco eu a pessoa mais indicada.
Invoquei o Damásio pelo seu contributo na área das neurociências e quanto isso se torna importante para um diálogo com a teologia. É engraçado que a dado momento ele próprio remete para o mistério.

No livro Ao encontro de Espinosa, declara: “a sublimidade do espiritual está incorporada na sublimidade da biologia, e é altura de começar a compreender o processo em termos biológicos”.

Este é o primeiro passo, mas não explica nem comprova tudo. Evidencia a necessária simbiose entre o espiritual e o biológico, revela ainda o vínculo ao mistério, mas “não o mistério propriamente dito” . Eis o limite das ciências!

Em Damásio há ainda um série de termos que necessitam de ser bem entendido, para que não se caia num falso dualismo, tal como afirmaste. Ele joga com alguns conceitos como "corpo", "mente" e "cérebro".

Ele próprio afirma: "A perspectiva sobre o problema mente-corpo que resulta dessas reflexões inocentes separa a mente para um lado e o corpo e o seu cérebro para outro. Esta perspectiva, conhecida em filosofia como dualismo de substância, deixou há muito de ser a perspectiva corrente, tanto em ciência como em filosofia, mas é, apesar disso, a perspectiva que a maior parte dos seres humanos continua a identificar como a sua preferida".

Na perspectiva mais moderna e popular, a mente e o cérebro vão para um lado e o corpo (ou seja, o organismo inteiro mas sem o cérebro) vai para o outro. Nesta versão moderna, a divisão separa cérebro e "corpo-propriamente-dito".
E para mudar a perspectiva é necessário compreender que a mente emerge num cérebro situado dentro de um corpo-propriamente-dito, com o qual interage; que a mente tem os seus alicerces no corpo-propriamente-dito; que a mente prevaleceu na evolução porque tem ajudado a manter o corpo-propriamente-dito; e de que a mente emerge em tecido biológico em células nervosas - que partilham das mesmas características que definem outros tecidos vivos no corpo-propriamente-dito.

1) O corpo (o corpo-propriamente-dito) e o cérebro formam um organismo integrado e interagem mutuamente através de projecções químicas e neurais.

2) Que em organismos complexos como o nosso, as operações regulatórias do cérebro dependem da criação e da manipulação de imagens mentais (ideias ou pensamentos) num processo a que se chama mente.

3) Dado que a mente emerge num cérebro que faz parte integrante de um organismo, a mente faz parte também desse organismo. Por outras palavras, corpo, cérebro e mente são manifestações de um organismo vivo.

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 17 de June de 2008 18:11

Logo, não pode haver mente (incluindo consciência) sem CORPO/Cérebro.

católica praticante

Re: Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 17 de June de 2008 20:02

Gostaria de te ouvir falar um pouco para que isto não se torne um monólogo. :-)

Parece-te plausível a intervenção do divino, de um corpo ressuscitado, na materialidade? Tenho em mente dois episódios: 1) O episódio bíblico de Tomé; 2) As múltiplas aparições ao longo da História (Fátima ou Santos).

Será realmente possível a Deus irromper na materialidade do mundo - fazendo o material ver o não-material - ou deverá antes ser entendido num sentido mais espiritual? Qual a tua opinião?

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 00:08

Jacob:
Não tenho grande tempo para longas intervenções, mas tenho profundas e quase inultrapassáveis dúvidas sobre a intervenção do divino na "materialidade".
SE o "divino " intervém na realidade é sempre e só através da humanidade, corporalmente situada.
Atrvés dos actos e das intervenções humanas.

A experiência mística, ainda que subjectiva, é sempre uma experiência fisicamente situada - no corpo, na mente de alguém concreto.

Hoje as neurociências e a imagiologia já conseguem identificar alguns aspectos neuronais e biológicos dessas experiências místicas.
Conseguem também explicar "materialmente" , no sentido que existe uma base neuroquímica, as alucinações de todo o tipo, incluindo as auditivas e visuais de conteúdo místico.

Isso não significa que tal seja uma prova da revelação divina , mas apenas a demosntração de um substracto neurofisiológico, bioquímico e neuronal ( material) de uma experiência da mente humana.
Que pode ser mais ou menos patológica...( Normalmente as alucinações perisitentes são um sintoma importante de patologia psiquiátrica grave)

católica praticante



Editado 1 vezes. Última edição em 19/06/2008 00:11 por catolicapraticante.

Re: Ressurreição
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 00:58

A Consciencia é o Logos . Há um caminho a percorrer para a Ressurreição é o caminho da Psyche para o Logos. Isso se dá dentro do corpo humano e da mente humana , é claro. A salvação passa pelo corpo, é antropologica.
A consciencia é o numinoso em nós.É o seu ser interior e nao o exterior.è o seu SER verdadeiro. O único passível de Ressurreição.
Ressurreição é consequencia do DEspertar da Consciencia , sentir a Presença que desperta em nós. É conhecer seu inconsciente ( nossa sede, nosso desejo) e transformá-lo em desejo de Àgua Viva , desejo da fonte, desejo desta Consciencia, do dom De Deus.
Sem esse dom nada de material existiria.
Assim devemos relativizar a ciência , as afeições , o intelecto, pois nada disso nós dá o Absoluto e a consequente ressurreição.
Se vivermos na consciencia do Sopro , do Espirito Santo em nós , do Logos, da Consciencia , daquele que é o OUtro em mim , o "EU Sou " que habita em nós , em nossa profundeza, ressuscitaremos.
Nele encontramos nossa identidade verdadeira , nosso Ser de eternidade, a paz do nosso desejo e a transparência do nosso psiquismo.

Vigiemos ,estejamos despertos , estejamos atento para o Pneuma em nós, que nos inspira para o Bem.
Vença a sombra que há dentro de ti, tire as máscaras que voce se põe e caminhe para a fonte. Lá está a ressurreição.
A Consciência não apagará a sua história pessoal , a sua consciencia individual se você vencer todos os obstáculos que querem te impedir de caminhar.
Avante seguidores do caminho, até a ressurreição.

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 07:46

Numa coisa parece-me que o que a Chris escreve faz sentido. No cristianismo ( apesar das inevitáveis distorções doutrinárias) a identidade pessoal não é fracturada em corpo/espírito - e a ideia de salvação inclui necessáriamente o corpo humano através da ideia de Ressurreição do corpo.


Isto tem qualquer coisa de materialismo estrutural e de resgatar a ideia de corporalidade que me faz todo o sentido.

católica praticante



Editado 2 vezes. Última edição em 19/06/2008 08:08 por catolicapraticante.

Re: Ressurreição
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 20:34

[quote catolicapraticante] (...) a ideia de salvação inclui necessáriamente o corpo humano [/u] através da ideia de Ressurreição do corpo.

Noutro local deste fórum (sob o tópico “Dogmas”) pronunciei-me sobre a virgindade de Maria, admitindo não ser meramente alegórica.
Mas em matéria de ressurreição, creio ser necessariamente alegórica.
Passo a explicar.

A mais forte alusão bíblica à nossa condição humana é a de que procedemos do pó e a ele voltaremos. E bem sabemos o quão verdadeira é essa afirmação.
Pelo menos desde a Antiguidade Clássica, na época da civilização egípcia, havia o fascínio da perpetuação do corpo para além da morte, através da mumificação. Por outro lado, a procura do elixir da vida eterna (terrena) é uma demanda histórica sem precedentes, praticamente mítica.
A ressurreição, levada à letra, consubstanciaria a solução que o Homem desde sempre procura. Seria fácil, demasiado fácil. Não que isso seja argumento, pois as questões mais difíceis são, muitas das vezes, resolvidas através da solução mais simples. Mas para além de fácil, também seria impraticável e sem sentido.

PRATICABILIDADE
Para onde irão os que ressuscitarão? Ouço dentro de mim uma voz que diz: “para junto do Senhor”. Muito bem! E que lugar é esse? Onde fica (em que galáxia)?
Obviamente não fica em lugar nenhum! Isto porque o paradigma do tempo e do espaço é uma realidade material e Deus é uma realidade espiritual, sem corpo e sem matéria – pois, se Ele o tivesse, com o avanço da ciência e da tecnologia um dia destes ainda em vida O poderíamos ir visitar!.

SENTIDO
Corpo já nós temos, na nossa condição humana. Qual o sentido de nos ser dado outro (ou devolvido o mesmo) corpo? Não vislumbro qualquer hipótese plausível de resposta…
E, se voltamos a ter corpo, será que dessa vez será perpétuo (pois a promessa é de vida eterna!)? Se assim é, porque é que o Criador não nos deu desde logo um corpo eterno (ainda por cima tendo em conta que nos fez à Sua imagem e semelhança)? Volto a não encontrar qualquer resposta plausível!

Para não me alongar (nem ferir mais susceptibilidades – pois não é essa a minha intenção), termino perguntando:
- Se a ressurreição fosse do corpo, isso não seria um prémio de vida eterna semelhante à mera prorrogação do prazo desta vida terrena? Porquê exaltar a vida aqui na terra e não apressar a nossa ressurreição (isto é, a nossa morte, que é uma condição necessariamente prévia) para obtermos o corpo perene que tanto ambicionamos?
- Por outro lado, qual é o conceito de alma? Para que serve esse conceito? Porque precisaríamos de corpo para, depois da morte, estar em comunhão com Deus?

Reflictamos…

Cumprimentos

Re: Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 20:53

Help-me, com todo o respeito, mas ainda vives com uma mentalidade dualista na cabeça. Creio que não entendeste o verdadeiro significado de corpo. É inquietante ainda ver afirmações como "qual o conceito de alma" ou

1) Parece-me ainda que isso andar a ver alegoria em todo o lado é altamente perigoso: ressurreição é alegória? Fundamentas-te em quê para afirmar isso?
Acreditas na ressurreição de Cristo? Ou parece-te que a ressurreição de Cristo também é alegórica?

2) Ressurreição é solução simples porquê?

3) Onde fica Deus? Em que galáxia? :-)

4) Qual é o sentido de nos ser dado outro corpo ou devolvido o mesmo? O sentido da pergunta não percebo eu. Não há razão nenhuma para ser devolvido algo que nunca foi tirado! Talvez por isso não encontres resposta.

5) Porque não apressar a nossa ressurreição?! Mas afinal qual é o sentido da vida? É para morrer? Ou estás ainda à espera da ressurreição para te encontrares com Deus?

Re: Ressurreição
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 21:18

Jacob

"qual o conceito de alma" não foi uma afirmação, mas sim uma interrogação (por isso levou o símbolo '?' em seguida).
E, aproveito para esclarecer, não se tratou de uma verdadeira pergunta, mas sim de uma pergunta de rectórica.

Não sei se andar a ver alegorias em todo o lado é ou não perigoso. Eu apenas me pronunciei sobre alegoria em matéria de ressurreição...
De qualquer modo, acrescento que, sem alegorias, o episódio histórico da vinda de Cristo pode ser visto de uma forma bastante banal (e mais não digo, porque é fácil de compreender porquê, lendo a História sem fé).

Penso ter deixado claro que a ressureição do corpo (não me referia à da alma!) seria a solução mais fácil para a vida corpórea eterna que a Humanidade (não me refiro aos cristãos em particular) tanto ambiciona desde sempre.

Onde está Deus? Bem, a questão é: se a ressurreição é (pelo menos também) do corpo, este (o corpo) há-de ter de ir para algum lado (espaço físico), que será o lugar onde está Deus. Com isto pretendi demonstrar que a ressurreição do corpo implicaria tb a "corporização" de Deus (ou, pelo menos, a sua localização espacio-temporal).

Não percebi o teu ponto 4). Se o corpo não nos fosse "tirado" com a morte, então não continuariamos a viver nele (no corpo)?

Precisamente porque entendo que a morte é o fim (no sentido de termo) da vida (terrena, corpórea), mas não a sua finalidade, coloquei a respectiva interrogação. Se a ressurreição é a obtenção de um corpo eterno (e tanto faz que se é este mesmo corpo - "que nunca nos foi tirado" - ou outro qualquer), então sim, mais valeria morrer o quanto antes, para poder obter a eternidade (a perpetuação do corpo).
Esclareço que estou a usar a lógica para demonstrar que não pode ser assim e não a afirmar que assim é!

Cumprimentos

Re: Ressurreição
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 21:20

Jacob

Esqueci de pedir que, se achares conveniente, tentes responder às interrogações que coloquei.

Cumprimentos

Re: Ressurreição
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 21:27

Help-me

mas tem de ter lógica?
É que o "não pode ser assim" às vezes revela-se no "é mesmo assim".

(Fora a brincadeira, vimos isso ao sermos agorinha mesmo eliminados pela Alemanha)

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.



Editado 1 vezes. Última edição em 19/06/2008 21:39 por Lena.

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 21:50

Citação:
"o episódio histórico da vinda de Cristo pode ser visto de uma forma bastante banal "

E mesmo assim ser algo de absolutamente extraordinário para quem acredita que Deus pode dar significados extraordinários á banalidade do mistério da vida, que, se calhar nem é tão banal quanto isso...

E mais não digo que este jogo ultrapassou a minha fé em milagres ...

católica praticante



Editado 1 vezes. Última edição em 19/06/2008 21:59 por catolicapraticante.

Re: Ressurreição
Escrito por: Jacob (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 22:12

Morrer o quanto antes para ter um corpo eterno, para mim não faz qualquer sentido.

Numa perspectiva de fé - que muitas vezes desafia a lógica - a História é local de encontro entre Deus e o ser humano. E, por meio da ressurreição de Cristo (partindo do pressuposto que ela não é também alegórica), contemplamos desde já, na terra, a nossa própria ressurreição. O mais importante não é a perenidade do corpo mas antes o encontro com Deus. E para isso não necessitamos de esperar pela morte. Caso contrário poderíamos cair numa "fuga do mundo", como se ele não fosse já encontro real com Cristo.

Quanto à localização de Deus, creio que estás a confundir matéria com corpo. Dizes: "se a ressurreição é (pelo menos também) do corpo"... bem, eu tirava a palavra "também". A ressureição não é também do corpo. A ressurreição é do corpo. E o que é o corpo (e consequentemente a alma, que perguntas)? Lê a primeira mensagem com que abri o tópico. E, portanto, se a ressurreição é do corpo (correctamente compreendido) ele nunca nos foi tirado nem vai parar a nenhum lado físico, porque no físico entra a matéria. E o corpo ressuscitado, tal como Deus, não é questão de matéria.

Quanto à ressurreição, acredito (não só acredito mas fundamento-me na tradição da Igreja, na Sagrada Escritura e na teologia) que ela não pode ser vista de um modo alegórico. Foi um facto concreto e bem real (1 Cor 15, 14). E por saber que a ressurreição de Cristo não foi alegórica mas real, também a nossa não é alegórica mas real. É também esta uma questão de lógica.

Re: Ressurreição
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 19 de June de 2008 22:24

" Nova certeza: que querem o nosso extermínio. Também isso eu aceito.
Sei-o agora. Não vou incomodar outros com os meus medos, não vou ficar amargurada se outras pessoas não entenderem do que se trata, para nós, judeus.
Esta certeza não vai ser corroída ou invalidada pela outra. Trabalho e vivo com a mesma convicção e acho a vida prenhe de sentido, cheia de sentido apesar de tudo, embora já não me atreva a dizer uma coisa dessas em grupo. O viver e o morrer, o sofrimento e a alegria, as bolhas nos meus pés gastos e o jasmim atrás do quintal, as perseguições, as incontáveis violências gratuitas, tudo e tudo em mim é como se fosse uma forte unidade, e eu aceito tudo como uma unidade e começo a entender cada vez melhor, espontaneamente para mim, sem que ainda o consiga explicar a alguém, como é que as coisas são.
Gostava de viver longamente para no fim, mais tarde, conseguir explicar, e se isso não me for dado, pois bem, nesse caso uma outra pessoa irá fazê-lo e então um outro continuará a viver a minha vida, ali onde a minha foi interrompida, e por isso tenho de viver a minha vida tão bem e tão completa e convincentemente quanto possível até ao meu derradeiro suspiro, para que o que vem a seguir a mim não precise de começar de novo nem tenha as mesmas dificulda
des.»

É com este fragmento que abre o sétimo volume da colecção «Teofanias», «Diário (1941-1943)», de Etty Hillersum.

"Vou ajudar-te, Deus, a não me abandonares», escreveu.

Eu tenho muitas dúvidas sobre dogmas mas acho que a experiência do encontro com o
transcendente como a que Ethy escreveu é uma experiência humanamente libertadora.
Ousarei dizer que é uma experiência de Ressurreição?

católica praticante



Editado 1 vezes. Última edição em 19/06/2008 22:26 por catolicapraticante.

Re: Ressurreição
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 20 de June de 2008 01:48

Na ressurreição , conservando nossa identidade corporal ( nosso eu pessoal que guarda sempre uma referencia á materialidade do mundo. ) , ganharemos uma nova expressão material: corpo glorioso .

Re: Ressurreição
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 20 de June de 2008 03:52

Citação:
Lena
Help-me
mas tem de ter lógica?
É que o "não pode ser assim" às vezes revela-se no "é mesmo assim".

Lena,

Esta "simples" pergunta pode ter uma profundidade extrema. Tão extrema que nos leve a questionar tudo.
Mas, pragmaticamente, suponho que está subjacente a esta pergunta a questão da fé, enunciada nos seguintes termos:
Para acreditar temos de compreender?

Obviamente que a resposta a esta pergunta merece uma tese. E nem eu estou habilitado para tal, nem seria nesta sede o meio próprio de dissertar.
Respondo com a simplicidade de um leigo e com a concisão que a minha ignorância exige: sim e não!
Sim, é preciso compreender minimamente a realidade para acreditar. Sem um mínimo de enquadramento lógico, resumiríamos a fé a um puro acto de vontade, mas sem qualquer racionalidade (isto é, sem a razão que distingue o Homem dos animais).
Não, não é necessário (nem conveniente - porque não é possível) compreender tudo. Se tudo estivesse ao alcance da nossa compreensão, uma de duas: ou não estaríamos a falar de Deus; ou então seríamos nós próprios Deus. Como o caso não é nenhum desses, então não, nem tudo podemos compreender.

Portanto, Lena tens razão: não tem de ter lógica. Mas, por outro lado, não tens toda a razão, pois convém que tentemos encontrar a lógica das coisas, ainda que por vezes esbarremos no inexplicável, que justifica que a fé seja um mistério (o mistério da fé).
Se o nosso caminho já estivesse percorrido, poderíamos deixar de pensar e de sentir. Mas, como não está, não devemos deixar de tentar continuar quer a sentir quer a pensar, cada vez mais e mais.
É certo que cada um percorre o seu caminho. E se uns partem do sentir para o pensar, outros partem do pensar para o sentir. Ainda bem que não somos todos iguais (senão, seria uma monotonia). Haja direito à diferença!

Um bem-haja!

Re: Ressurreição
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 20 de June de 2008 03:59

Citação:
catolicapraticante
Citação:
"o episódio histórico da vinda de Cristo pode ser visto de uma forma bastante banal "

CatolicaPraticante,

É uma honra ser citado, mas o sentido correcto da afirmação citada só se obtém com a citação da frase completa (pois a parte omitida completa e explica a afirmação), que é a seguinte:

Citação:
help-me

(...) sem alegorias, o episódio histórico da vinda de Cristo pode ser visto de uma forma bastante banal (e mais não digo, porque é fácil de compreender porquê, lendo a História sem fé).

Esclarecimento adicional:
A expressão "lendo a História sem fé" significa: para quem (quiser) ler a História sem fé.
Esta é a explicação que dou para a hipótese de a História poder (e não propriamente dever) ser lida daquela forma e apenas quando o seja sem alegorias.

Cumprimentos

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