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Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: aguastranquilas (IP registado)
Data: 16 de January de 2008 17:40

Viva Alef.

Compreendo o teu raciocínio e aceito-o como sendo a forma que tu tens de viver a tua religiosidade. A tua forma de ligação e relação com o divino.

O plural que referes é só um. É da unidade que vem a trindade. É a trindade que é Deus decomposta em três partes que separadamente não existem; como bem disseste: Pai, Filho e Espírito Santo. O Evangelho de S. João explica magistralmente a trindade; assim como o teu nickname que representa a primeira letra Hebraica Aleph que é ternária na unidade. Penso que talvez o tenhas escolhido por isso. Assim a oração é a elevação da palavra a Deus, independentemente da forma. Deus não reza a ti, tu é que rezas a Deus. A relação com o divino é sempre ascendente, sempre. Se assim não fosse todos os dogmas da Igreja Católica estariam em Xeque. O Homem é o pecador que pretende a salvação. É esse o fim ou a pretensão do crente.

Em relação ao acto comunitário, peço-te que reflictas no seguinte. Se um padre celebrar uma missa sem assembleia, o objectivo da celebração mantém-se ou não?
Eu não vou à missa para me sentir em comunidade, isso faço-o com o meu grupo de amigos, com os meus colegas e com aqueles com que privo. Não é necessária a religião para isso, embora para muitos, a Igreja passe a ser o único meio de socialização. Não é mau, mas também não é propriamente bom, pois geralmente acaba por degenerar em beatice.
A Eucaristia, para mim, é o momento em que posso isolar-me de todo o ruído envolvente, para me dedicar à Adoração a Deus. Para lhe dirigir as minhas orações e lhe transmitir os meus desejos puros mais íntimos.
Deus é transcendente, está acima da nossa compreensão. Qualquer noção acerca de Deus será sempre redutora perante a sua Divina forma. Daí ele não estar para ti, como tu estás para ele.
Tu pedes, mas não sabes se terás. Podes acreditar que tens sem nunca teres tido. Mas isso é o teu plano mental criador a manifestar o teu desejo. É como quando toda a gente boceja e tu olhas, o teu corpo reage de igual forma.
Se todo o católico recebesse a luz do Espírito Santo, a igreja seria uma escola de Santos... Que deveria ser, mas infelizmente não é.
A boa nova que Cristo nos trás evidencia a relação que referi. Jesus nunca ordenou em nome de Deus. Pelo contrário, aceitando a fragilidade do corpo, sempre se dirigiu ao Pai de forma humilde e simples, pedindo, mas mesmo assim sem saber se teria. O Afasta de mim este cálice e o faça-se em mim segundo a tua vontade são o expoente máximo do que afirmo.

Cumprimentos

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 16 de January de 2008 22:19

Aguastranquilas:

O que disse sobre o duplo sentido (se quisermos, ascendente e descendente) da oração reflecte a minha experiência, mas não é algo meramente pessoal. São dados bíblicos e das várias e clássicas escolas de espiritualidade cristã, para além do testemunho de muita gente que faz oração. A oração é um espaço onde também Deus Se comunica. É, se quisermos, um duplo movimento onde actua o Espírito Santo. O nosso movimento ascendente «ascende» porque o Espírito nos eleva.

O plural a que me referi é o da Assembleia orante. As orações são feitas sempre em nome da assembleia reunida (mesmo quando acidentalmente ela não está fisicamente presente!): «*Nós* vos pedimos, Senhor, etc.». No entanto, dizer que a Eucaristia é um acto comunitário não significa que esse seja «o objectivo da celebração», como a tua objecção parece insinuar. Obviamente, não vamos à missa *para* nos sentirmos em comunidade, mas a comunidade fortalece-se no Espírito quando reunidos em nome do Senhor. E nisto há uma distinção essencial com a mera figura da «socialização»!... Enfim, isto parece-me tão elementar, que nem é preciso explicar coisas bem elementares. Custa-me é compreender a razão das objecções ou das «restrições»…

Dizes que para ti a Eucaristia é o momento em que podes isolar-te de todo o ruído envolvente. Eu aceito que o faças, mas isso não se identifica com o que é essencial na liturgia eucarística enquanto celebração da Igreja e tal como a Igreja a entende. Evidentemente, há momentos para o silêncio interior, para a adoração, mas a Eucaristia é mais do que isso. De resto, há muitos outros momentos onde isso pode ser feito.

Alef

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: aguastranquilas (IP registado)
Data: 16 de January de 2008 22:54

Viva, Alef.

Compreendo naturalmente o que tão bem disseste. Assim como entendo o sentido comunitário que referes. A história de qualquer religião é feita assim, de grupos, sem isso não existiria. Cada um de nós vive a sua espiritualidade individualmente, parece que é difícil entender este ponto, mas não sei porquê. Eu não posso ter fé por ti, nem tu por mim. Essa simples distinção estabelece o que refiro desde o início, que é uma acto individual vivido em comunhão. Cada um tem a sua forma de viver a Eucaristia, de rezar a Deus e de sentir a sua fé.
Por partilhar os teus princípios religiosos, não me sinto obrigado a vive-los de forma igual ou sequer idêntica. Creio que isso faz parte da beleza da própria fé.
Por fim, não interpretes as minhas palavras negativamente. Penso que qualquer questão só será bem esclarecida, depois de bem explorada. Claro que como referes, posso fazer observações elementares, mas também é para isso que aqui estou, para aprender com os que têm palavra e a sabem usar, de modo a poder aprender.

O que escrevo é tão somente a minha opinião, formada pela análise dos meus pensamentos. Não me tenho como dono da razão, mas sim como um ignorante que pretende melhora-se dia a dia. Assim, se estiver errado agradeço que me vão corrigindo.

Cumprimentos.

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 10:27

Os Dez Mandamentos têm um sentido marcadamente individual, por exemplo:
"Não matarás" etc.
Mas as ordens de Jesus são claramente de sentido plural, por exemplo:
"Não julgueis, para não serdes julgados",
"Amai-vos uns aos outros",
"Fazei isto em memória de mim".
"orai assim":...
Por Jesus Cristo compreendemos que sendo, somos pelos outros e para os outros.
Ele diz:
"Quem quiser ganhar a sua vida há-de perdê-la".
Uma nova vida nasce do lado aberto de Jesus na Cruz:
A vida em comunidade dos filhos e filhas de Deus.

*=?.0

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 11:36

Citação:
aguastranquilas
A missa, no meu entender, é uma oração individual vivida em comunhão. O que é completamente diferente. Daí estar vigente o silêncio absoluto durante as celebrações. Não? .

aguastranquilas, se assim fosse, para que é que existe o abraço da paz? Para que é que eu vou ler uma leitura e o faço em voz alta? Se não fosse pelo facto de estar numa comunidade, não precisava de o fazer. Cada um levava a sua Bíblia e lia-a em silêncio. O pai-nosso, há muitas formas de o rezar, mas há comunidades que o fazem dando as mãos. Se fossemos todos um grupo de indíviduos isolados, simplesmente agrupados no mesmo sítio, que sentido faria isso?

Citação:
aguastranquilas
A lingua, para quem compreende o ritual eucarístico não é importante. Frequentemente em viagem assisto a missas e a lingua nunca foi impedimento pois sei e vivo a celebração em mim. A oração tem um sentido único, de baixo para cima, do homem para Deus

Para mim a língua é muito importante. Não é o essencial, mas importa. Porque dizer as coisas em voz alta tem outro impacto que apenas dizê-las em pensamento.
Eu quando digo algo, quero estar consciente do que digo, do que cada palavra significa. Quando digo "Sim", estou ciente de que afirmo a minha concordância, por isso não quero dizer uma palavra que alguém me diz que significa isso. Quero saber o que digo!
Por outro lado, uma das formas que eu gosto de viver a missa é cantando. E conhecer a língua faz muita diferença. Uma das coisas mais bonitas é ver uma igreja repleta de pessoas todas a cantar o mesmo! Claro que só faz sentido em comunidade...


Citação:
aguastranquilas
Em relação à simplificação, peço para reflectirem acerca das diversas religiões que abundam neste nosso planeta. Vejamos o caso dos nossos irmãos orientais onde as doenças existem de igual forma e onde as dificuldades se manifestam de forma premente e constante. Simplificam eles os rituais? Não! Religiões com 4000 anos regem-se pelos mesmos princípios que lhes deram origem, sendo cumpridas escrupulosamente as celebrações. Não tem de ser simplificado, tem de ser entendido. Isso, está tanto ao alcance de um analfabeto quanto ao alcance de um
doutorado. Entender a religião é equilibrar o sentimento interno, a fé, com o conhecimento externo dos princípios religiosos com os quais cada um se identifica. Se a fé existisse por si só, possivelmente só existiria uma religião.

Eu sou uma pessoa que valoriza bastante as tradições e os usos antigos. As tradições, apesar de manterem o seu fundo essencial vão-se adaptando aos tempos que correm. Nem que seja em pequenos pormenores: os tecidos não são são feitos hoje como há 100, 200 anos, a forma de iluminação que se usa não é a mesma de antes, o cereal não é cultivado com as mesmas técnicas, não é moído da mesma forma, não é transformado em pão usando as mesmas ferramentas, por exemplo. Há uma miríade de insignificâncias aparentes que se adaptam a cada época que se vive.

De qualquer das formas, o meu "Convém simplificar", não era um apelo à alteração dos rituais para os pôr ao nível mais elementar. Era sobretudo um desabafo do género: "Oh pá! Não compliquem!", à sugestão de mandar as pessoas estudar para entenderem uma missa em latim...

Cassima

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 11:37

Alef, há quanto tempo! Ainda bem que estás de volta! :)

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 12:17

aguastranquilas, esqueci-me de perguntar: O que é isso do "silêncio absoluto durante as celebrações"?

Cassima

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 12:20

Há uma linguagem que todos entendem:
A do amor e da justiça.

*=?.0

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 12:59

Cassima, eu nao estive «longe», só estava em silêncio! :-P

Alef

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: aguastranquilas (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 13:48

Boa tarde a todos e todas.

Cara Cassima, não vejo como comparáveis actos ou existências físicas a sentimentos.
O Amor, a verdadeira amizade, a fé, fazem parte da nossa parte intimista e emotiva, não são modificações. O amor de Camões é o amor de hoje, foi o de outrora e será o de amanhã. Penso que os sentimentos não se quantificam ou definem na sua exactidão, ou se alteram na sua essência. Existem e fazem parte do nosso ser.

Falas da musica como forma de aproximação, eu vejo-a, nos moldes actuais como uma alavanca. Como um ultimo reduto de conseguir a aproximação. Principalmente dos jovens. Para um católico, a missa ser animada pelos Shalom, acompanhada a Ordão de Tubos ou cantada em Latim, deveria ter o mesmo significado, e não tem. Se o tivesse esta discussão acerca da missa tridentina nunca teria lugar.

As tradições religiosas não têm de evoluir para se adaptarem a nós, nós é que temos de nos adaptar a elas, sob pena de as perdermos por completo, transformando-as em outra coisa que não a que são. Mas isso, já acontece à séculos e continuará a acontecer. Uns vêem, outros tentãm ver, outros recusam-se a ver.

Ou seja: Não me faz comichão nenhuma que haja missas em latim ou em chinês, no rito tridentino ou não. A minha fé está para lá do critério clerical colocado à disposição.
Não consegui ainda perceber, é porque faz comichão aos outros. Afinal não somos livres de fazer a nossa escolha como praticantes?

Cumprimentos

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: cristina dinis saraiva (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 15:38

Caro Aguas Santas

Obrigado pelas tuas participações.

Revi-me praticamente em tudo no que afirmaste.

Tenho imensa dificuldade em compreender o comichão que de facto a Missa em Latim, celebrada no rito extraordinário provoca em sectores da Igreja como aliás é visível neste forum.

Talvez estes pequienos gestos do Papa ajudem as pessoas a perceber que independnetemente de se gostar mais de viola ou orgão de tubos, de musica ligeira ou de gregoriano todos buscamos o mesmo.

Viva Alef

Já tinha saudades nas tuas intervenções.

Como avalias o Motu Proprio ?

E a possibilidade de, também em Portugal se participar na Missa segundo a forma extraordinária do rito latino ?

Cristina

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Onac (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 15:53

Só quem não conhece este Papa se pode surpreender com determinados gestos...

"Ratzinger invoca um eventual regresso à prática da celebração da missa virada a oriente. E augura, com humildade, num convite à meditação e à reflexão, e portanto sem qualquer intenção de causar polémica, mas ao mesmo tempo com uma lucidez notável, a criação de um novo movimento litúrgico vindo de baixo, que envolva os fiéis, para permitir ao povo de Deus a redescoberta do sentido profundo da liturgia e a recuperação do sentido do sagrado em tantas celebrações que mais pareça que a comunidade se celebra apenas a si própria.
“Agora, de facto”, escreve Ratzinger (1), “o sacerdote, ou o “presidente”, como se preferir chamá-lo, assume-se como o verdadeiro ponto de referência de toda a celebração. Tudo fica a seu cargo. É para ele que se deve olhar, é nas suas acções que se toma parte, é a ele que se responde; é a sua criatividade a sustentar o conjunto da celebração. É portanto compreensível que se procure limitar este papel que lhe vem sendo atribuído, distribuindo diversas actividades e entregando-as à “criatividade” dos grupos que preparam a liturgia, que desejam acima de tudo “dar de si próprios”. A atenção está cada vez menos dirigida para Deus e assume cada vez maior importância aquilo que fazem as pessoas que aqui se encontram e que não desejam de forma alguma submeter-se a um “esquema preparado de antemão”. O sacerdote voltado para os fiéis dá à comunidade a impressão de ser um todo fechado em si próprio. Esta deixa de estar, na forma como se apresenta, aberta para a frente e para cima, mas fecha-se sobre si mesma. O acto através do qual todos se viravam para o oriente não era “uma celebração para as paredes”, não significava que o sacerdote “virava as costas para o povo”: a verdade é que não lhe era atribuída assim tanta importância. De facto, tal como na sinagoga se orientavam todos para Jerusalém, também aqui os fiéis se voltavam “na direcção do Senhor”.
Ratzinger não encara este gesto como um regresso ao passado. “Nada prejudica mais a liturgia do que estarmos continuamente a arranjar confusões, ainda que aparentemente não se trate, de facto, de novidades… Nos casos em que não é possível voltarem-se todos para oriente de forma explícita, a cruz pode funcionar como um oriente interior da fé. A cruz deveria encontrar-se no centro do altar, num ponto para o qual possam dirigir os seus olhares tanto o sacerdote, como a comunidade de fiéis… Considero que um dos fenómenos verdadeiramente absurdos do nosso tempo é a colocação da cruz de um dos lados para permitir que os olhares se concentrem no sacerdote. Mas então a cruz, durante a eucaristia, constitui um incómodo? O sacerdote é mais importante que o Senhor? Este erro deveria ser corrigido com a maior brevidade possível, e isto é sem novas intervenções arquitectónicas. O Senhor é o ponto de referência. É ele o Sol nascente da história”.

(1) - RATZINGER, Joseph - Introdução ao Espírito da Liturgia, Paulinas, 2001, p. 59.

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: aguastranquilas (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 16:53

Viva Onac.

Com a devida vénia, creio que num espaço de discussão o objectivo é discutir. Se eu desejar consultar a Obra de Sua Santidade, falo-ei. Ou seja: escreveste mas não disseste nada. Gostaria mil vezes mais de ouvir a tua opinião, formada e fundamentada, que ler as palavras do Papa, recortadas e formatadas fora de contexto.

Que fique claro que a figura deste actual chefe da igreja não me é querida, mas é o que temos e convirá aprendermos a viver com isso. Não podemos continuar a compara-lo. O nosso querido João Paulo II não voltará nem as suas acções se farão sentir no Vaticano.

O tradicionalismo é evidente, mas é negativo? Porquê? É que vejo toda a gente a criticar, mas sem fundamentos plausíveis, reais e principalmente: importantes.

cristina dinis saraiva, agradecer-te-ia as palavras, se não fossem a minha obrigação, como julgo ser a de cada um que se afirme como cristão.

Cumprimentos

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 17 de January de 2008 22:47

aguastranquilas, tinha deixado esse assunto, mas no momento vou tentar responder a pergunta que fez na esperança de que consiga fazê-lo sem deitar mais lenha no fogo.

Citação:
aguastranquilas
O tradicionalismo é evidente, mas é negativo? Porquê? É que vejo toda a gente a criticar, mas sem fundamentos plausíveis, reais e principalmente: importantes.

De início, você também reconhece no rito tridentino a marca do tradicionalismo, afinal, trata-se de um rito medieval antigo. Não tenho nada contra cultivar a tradição, aliás, dá-se até o contrário, já que alguns que me conhecem me atribuem também isso de ser tradicionalista. A questão então está em qual tradição, no que conservar, já que nem tudo que é tradicional é bom per si.

Pelo apresentado acima, talvez alguns reclamem de um subjetivismo, sob a alegação de que "gosto não se discute", mas é claro que não se trata aqui da questão de cada qual escolher a tradição que mais lhe agrada. Não penso assim, evidentemente, e tentarei justificar minha posição com alguns argumentos, peço apenas que quem discorde também procure apresentar os seus.

A alegação de subjetivismo não procede. Se assim fosse também poderia ser atribuída para a religião, para a doutrina, etc, mas uma vez que não o fazem entendo que tal alegação em assuntos de liturgia só se explica como tentativa de fuga da questão. A questão da tradição na liturgia também tem que se apoiar em critérios. Quais critérios adotar é algo que depende do nível de compreensão teológica da época e da cultura local, mas penso que nenhum cristão discordará que a experiência das comunidades primitivas ainda sejam a boa referência.

O seu post repete o de outros quando diz que estranha a resistência que alguns católicos têm com rito tridentino. Espero que compreenda se eu não gastar com isso muito tempo, pois a mim parece óbvio demais: esse rito é o baluarte dos fundamentalistas católicos de ultra-direita e utilizado para criticar o Vaticano II. Não houvesse mais nada, só por isso caberia a quem defende o retorno desse anacronismo justificar a oportunidade da prática desse rito, e não o contrário.

Alguém poderia se perguntar se existe mesmo alguma outra razão para defenderem obstinadamente a prática do rito tridentino além daquela já apontada (de crítica ao concílio), do subjetivismo (agora sim) do "eu gosto pq acho bonito", ou mesmo da curiosidade. Quem sabe até possa existir alguma razão, mas até agora não vi ninguém que a apresentasse.

É evidente que o rito tridentino não é um rito que se justifique pela vida das comunidades locais, por esse motivo os que defendem sua prática o fazem com base numa "defesa da tradição". Sobre isso pergunto: e por que justamente "essa" tradição? Por que tentar restaurar justamente uma prática da idade média? Se a questão for de "defesa da tradição", por que não retornar às fontes, à prática das comunidades primitivas?

Além da questão do rito, há também a questão da língua, do latim. Aqueles que seguem por aí defendem que o povo estude essa língua morta ou faça uso de livros bilíngues para a prática litúrgica. Apenas não apresentam critérios que justifiquem essa exigência desnecessária. A alegação de que se trata de uma "língua sagrada" é até patética, essa sim uma alegação baseada num puro subjetivismo : por que não o grego ou o aramaico?

Parece-me claro que oferecer um ambiente diferenciado que represente a experiência do espaço e do tempo sagrados seja uma atribuição comum a toda liturgia, e o mesmo se pode dizer do clima de respeito e de solenidade. Nada disso é exclusivo do rito tridentino, e por isso quando aí ocorre falta é que alguém andou descuidando da liturgia. Aliás, esses detalhes citados nem são específicos dos ritos cristãos, mas, distanciar a prática litúrgica da vida das pessoas, isso sim é um problema que não faz parte de uma liturgia cristã. A exigência de cursos de línguas diferentes da língua natal ou de livros bilíngues, por exemplo, parece evocar um tipo de erudição mais próprio de seitas gnósticas ou de comunidades fechadas. Enquanto que o rito cristão sempre acolheu também as pessoas simples.

Por fim, o artificialismo dogmático do rito tridentino já era algo ruim até na própria idade média, quando afastava as pessoas que, por não se encontrarem no rito, buscavam apoio espiritual nas inúmeras devoções pessoais - talvez por isso ainda existam hoje aqueles que consideram a eucaristia um assunto de devoção particular - e estimularam a experiência do distanciamento do divino que encontrou expressão na arte do barroco. Mais um motivo para não aconselhar o retorno dessa prática, num mundo onde cresce o individualismo seria mais um desacerto vir agora igreja resgatar uma liturgia intimista. Justamente a igreja que prega o contrário!

Sobre a questão da celebração eucarística ser uma celebração de toda a assembléia muita coisa já foi dita aqui. Gostei dos últimos posts da Cassima e do Alef, então não penso que seja preciso acrescentar mais. Só aproveito para lembrar que é outro problema do rito tridentino, criado sob compreensão teológica ultrapassada que ainda desconhecia a importância do laicato na igreja.

Por tudo isso é que acho um esforço muito mal empregado essa coisa de lutar pela restituição do rito medieval semi-morto.

Paz e Vento.

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: aguastranquilas (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 00:30

Santas e boas noites.

Meu caro, alguém desconhece a verdade. Ou eu, ou o meu amigo;
O Latim não é uma lingua morta. A saber, é a lingua oficial da cidade do Vaticano, e pelo que sei, embora não posso citar a fonte porque não me recordo, é ainda a lingua oficial do Rito Romano da Igreja Católica Apostólica Romana.
Por si só este argumento poderia afastar qualquer discussão por evidência dada. Bastaria usar o latim no actual rito e todos ficariam sem entender.
Não me digam que se o Rito Tridentino fosse traduzido para Português, ou para a lingua oficial de qualquer país, estaria tudo bem?

Caro Firefox, por norma não sou subjectivo, pelo contrário talvez use de demasiada frontalidade. Sei que o Oceano que nos separa (pela forma como escreve presumo que seja um nosso irmão brasileiro) dificulta por vezes o entendimento mutuo, principalmente escrito, mas note que não quero deixar qualquer duvida acerca das minhas opiniões que julgo claras.

Seria talvez interessante enumerar os porquês e partindo daí desbasta-los.

Assim e até agora, os contras são:

- O Latim
- O facto de contrariar o Concilio Vaticano II
- ...

Cumprimentos

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 01:22

Cristina:

Como avalio o Motu Proprio? Com tranquilidade. :-)

Quanto à possibilidade da celebração do rito tridentino em Portugal, também a vejo com paz e sossego. Estranho é que a estreiteza de vistas de alguns veja no Motu Proprio uma condenação do Concílio Vaticano II e na nota do Cardeal Patriarca um acto de desobediência ao Papa.

Alef

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 03:49

Citação:
aguastranquilas
Santas e boas noites.
Meu caro, alguém desconhece a verdade. Ou eu, ou o meu amigo;
O Latim não é uma lingua morta. A saber, é a lingua oficial da cidade do Vaticano, e pelo que sei, embora não posso citar a fonte porque não me recordo, é ainda a lingua oficial do Rito Romano da Igreja Católica Apostólica Romana.

Boa noite para você também.

Se reparou bem no meu post deve ter notado que a questão do latim não era o motivo principal. Quanto a ser ou não uma língua morta, considero viva uma língua que seja falada por um povo.

Você está correto num ponto. O latim continua a ser utilizado pela igreja católica, na escrita de documentos, e um dos motivos para tal é justamente por ser uma língua morta. Qualquer língua viva está em constante mutação, por isso a igreja julgou mais seguro fazer uso de uma língua que não mudará, o que assegura alguma segurança adicional para a correta interpretação dos seus textos.

Citação:
aguastranquilas
Por si só este argumento poderia afastar qualquer discussão por evidência dada. Bastaria usar o latim no actual rito e todos ficariam sem entender. Não me digam que se o Rito Tridentino fosse traduzido para Português, ou para a lingua oficial de qualquer país, estaria tudo bem?

Peço que releia o que escrevi antes. Não acho que dei razões para esse tipo de interpretação. Como já disse, a questão do latim nem era o ponto principal.

Parece que você se fixou na questão do latim, mas não tenho nada contra o latim. Já celebrei em latim, mas estava num mosteiro e era uma celebração da comunidade dos monges, isso lá fazia bastante sentido. Não vejo sentido, entretanto, em querer exigir do povo que use latim, como também não veria nenhum sentido em celebrar em chinês numa comunidade em que ninguém conheça essa língua.

Citação:
aguastranquilas
Assim e até agora, os contras são:
- O Latim
- O facto de contrariar o Concilio Vaticano II
- ...

Leia novamente com um pouco mais de cuidado, há pelo menos mais uns 2 ou 3 ou mais senões:
- Uma teologia que desconhece o papel do laicato;
- Uma liturgia que afasta a Assembléia;
- Um rito que não celebra nem se encontra com a vida;
- O anacronismo e uma certa dose de gnosticismo;
- ...

Preferia não enumerar como fez, questões de liturgia não devem ser tratadas desse modo, em geral são mais complexas e costumam também refletir a experiência espiritual das pessoas, o modo como alguém celebra diz sobre o modo como esse alguém vive a sua fé. Da mesma forma que acho perigoso reduzir uma pessoa numa lista de características, há esse risco quando tratando de liturgia. Por exemplo, não me identifiquei com nenhum dos dois pontos que enumerou (acho curioso, já que pensou que se tratava do fundamento das minhas críticas) e talvez me arrependa de ter enumerado também.

Acho que você não prestou atenção no que escrevi, pois continua exigindo razões para o não uso do rito tridentino, enquanto continua sem apresentar algum motivo importante para trazer de volta o seu uso. Afinal, para que desprender tanto esforço para levantar um defunto? A quem isso interessa? Será que igreja não tem nada importante para fazer?

Paz e Fogo.



Editado 3 vezes. Última edição em 18/01/2008 04:18 por firefox.

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: s7v7n (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 08:43

Citação:
Luis Gonzaga
S7v7n,
O Papa não celebrou a missa no rito Tridentino, e, dizem as más línguas que apenas celebrou de costas para a assembleia porque estava uma senhora muito feia na primeira fila ;-)

Luís

Eu sei, mas nas notícias quiseram logo lançar a confusão dizendo que esta posição reforçava ou podia querer reforçar a sua perferência pela missa tridentina. Como um pequeno sinal...Coitada da senhora feia. Se calhar até era bonita, e ele para se distrair teve que se virar...lol que maus que somos...:P

"Ama e faz o que quiseres" - Santo Agostinho

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 09:21

Citação:
aguastranquilas
O Latim não é uma lingua morta.

Ai é é. Morta, mortinha, enterrada e bem calcada.
Ninguém aprende o latim como língua materna.
Uma língua viva evolui, sofre modificações no tempo pelo uso, enriquece/empobrece com neologismos, estrangeirismos... (Qual terá sido o neologismo mais recente no latim?)

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Papa reza MIssa Tridentina em São Pedro
Escrito por: Onac (IP registado)
Data: 18 de January de 2008 10:04

Citação:
s7v7n
Citação:
Luis Gonzaga
S7v7n,
O Papa não celebrou a missa no rito Tridentino, e, dizem as más línguas que apenas celebrou de costas para a assembleia porque estava uma senhora muito feia na primeira fila ;-)

Luís

Eu sei, mas nas notícias quiseram logo lançar a confusão dizendo que esta posição reforçava ou podia querer reforçar a sua perferência pela missa tridentina. Como um pequeno sinal...Coitada da senhora feia. Se calhar até era bonita, e ele para se distrair teve que se virar...lol que maus que somos...:P

A citação da obra de Joseph Ratzinger que coloquei era exactamente para precisar que não se trata de uma posição ligada à liturgia tridentina, mas ao facto de, segundo o actual Papa, o Concílio não impedir esta posição do celebrante, bem como o uso do latim (isto mais evidente para todos). É o seu pensamento colocado em prática e há que dar-lhe esse crédito: é sempre coerente. Goste-se ou não.

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