Ainda não pude visitar a (nova) Igreja da Santíssima Trindade, mas fá-lo-ei logo que possa.
Aqui vão algumas notas rápidas…
A primeira impressão que tenho a partir daquilo que vi é globalmente muito positiva. Começando pelo enquadramento geral do espaço, foi uma boa solução construir uma igreja que, sendo muito grande, não «faz sombra» à basílica, não está muito elevada, não tem torre, enquadra-se bem no espaço geral, sem sequer desfigurar a «linha de horizonte» de Fátima. E sem esquecer que me parece uma excelente obra arquitectónica.
Em segundo lugar, destaco o que aqui alguns já referiram: um maior destaque àquilo que é mais central na nossa fé: a Santíssima Trindade e o mistério de Jesus Cristo. Parece-me uma clara aposta numa linha catequética mais centrada no essencial.
Em terceiro lugar, a feliz opção por uma igreja onde dialogam a espiritualidade e a arte contemporânea e a abertura internacional e a outras sensibilidades. É certo que isto não é compreendido por toda a gente, mas também acredito que aqui se deu um claro sinal de incentivo a outras estéticas para lá do tradicionalzinho-de-sempre-kitsch.
Duas notas a propósito de dois elementos desta Igreja: o painel de fundo e o crucifixo do altar.
Tenho uma grande curiosidade por ver «in loco» o painel de fundo, que me parece belíssimo, de Marko Ivan Rupnik, principal autor da Capela
«Redemptoris Mater», no Vaticano. Parece-me que foi uma excelente aposta e gostei muito de ler
a sua entrevista (recomendo).
Tenho visto algumas reacções algo estranhas (para mim) em relação ao crucifixo. Possivelmente falta aqui uma pequena dica. Vejo-o como um crucifixo mais «icónico» que «imagético», embora isto tivesse que ser matizado. É verdade que estamos mais habituados à «imagem» que ao «ícone». Na imagem fixamo-nos no «presente», enquanto no «ícone» somos remetidos para uma realidade que extravasa a representação. Os ícones orientais nunca pretendem mostrar um «retrato» fiel de um personagem, mas remeter para a realidade evocada. Não sei se já notaram quantos ícones orientais «mostram» um Jesus «Cristo estrábico», o que remete para as duas naturezas de Jesus Cristo. Este crucifixo é, neste contexto, algo «desafiador»: chama-nos a atenção, mas ao mesmo tempo «sai» e leva-nos para «fora» dele mesmo. Por outro lado, algumas pessoas não gostaram de ver neste Cristo já um «início» de Ressurreição, pretendendo dar um fundamento teológico nessa crítica. Creio que se equivocam em vários sentidos. Basta pensar na teologia joanina, para ver que a «hora» da glorificação do Filho do Homem é já a Cruz. Por outro lado, este recurso artístico não é novidade: já tem séculos a representação de um Cristo crucificado que já «antevê» a glória da Ressurreição. E, ao contrário do que pretendem alguns, na Eucaristia celebramos todo o Mistério Pascal de Cristo, sem separações.
É curiosa a fúria de alguns meios tradicionalistas (aqui ainda não notei isso) contra a igreja: é vista como um ovni ou um grelhador ou… Claro, se a igreja é um ovni, o Cristo da nova Cruz é um «alien».
Alguns proclamam que esta é uma nova igreja para uma nova religião. Enfim, estes que tanto invocam a reprovação de Bento XVI dos que, invocando o «espírito do Concílio» querem fazer «revoluções» progressistas, incorrem exactamente na mesma censura, já, tal como os «revolucionários» também estes se inserem numa hermenêutica da descontinuidade. A má vontade e/ou má-fé é tal que nem houve quem «encontrasse» num arco do painel de fundo a representação de uma foice vermelha que corta a base da cruz… É que os comunistas andam por todo o lado… E – acrescento eu – as paranóias também.
Espero que seja disponibilizada alguma «visita virtual». Por enquanto, vale a pena ver o
dossier especial da Agencia Ecclesia. Aí há também uma
ligação para o programa 70x7 do dia 14 de Outubro, sobre esta igreja.
Nota: apesar do título deste tópico, esta igreja não é uma basílica, pelo menos para já. O título de
basílica é concedido a algumas igrejas pela Santa Sé e isso ainda não foi feito para esta igreja.
Alef