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«« S. João »»
Escrito por: suzy31 (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 11:23

««S. João»»
Um pouco por todo o Portugal, celebram-se alegremente, neste mês de Junho, as festas de S. João Batista, aquele «que santo foi primeiro que nascido», como diz Diogo Bernardes num dos seus sonetos. À semelhança do que acontece em muitas outras celebrações, mistura-se nelas, inextricavelmente, o sagrado e o profano, o material e o espiritual, o sério e o festivo.
Lembro-me perfeitamente, da sensação de novidade que experimentei quando participei, pela primeira vez, nas festas joaninas, em Braga, com os meus amigos e colegas estudantes. No que respeita a comidas e bebidas, achei tudo uma delícia, principalmente o vinho verde na malga, eu que vinha de uma região de maduríssimo, as sardinhas assadas, o pão de broa e as azeitonas, o caldo verde com tora, que eu desconhecia, isto no meio de indescritível poeira e barulho, de vozes de feirantes oferecendo o mundo e arredores por meia dúzia de moedas. Só não gostei da pouca higiene resultante da falta de água em quantidade suficiente para lavar loiças e talheres. Apesar disso, julgo que raras vezes um petisco me terá sabido tão bem. Era, certamente, a fome das altas horas da noite, mas era também a alegria da juventude, a presença de amigos e namoradas, a ausência de horários, o sabermos que a noite estava inteira por nossa conta. Era ainda o deslumbramento do fogo de artifício, dos balões subindo até se perderem de vista, que nos faziam, por momentos, levantar do chão os olhos para a noite mais breve do ano, de onde o santo dos desertos ardentes nos contemplaria com toda a sua compreensão.
Depois achei estranhíssimo aquele costume de encostar alhos porros á cara das pessoas e o sorriso de complacência que surgia nos lábios dos atingidos. Mais tarde, apareceu o martelinho de plástico e hoje, já não se vê praticamente ninguém empunhando aquele inimigo figadal de bruxas e vampiros, desinfectante de odor intenso e conservante de carnes e saúde.
Julgo que foi também nestas festas que voltei a reconciliar-me com as bandas tradicionais, minha perdição de menino, mas da qual me afastara, talvez um pouco pedantemente, quando estudava no Conservatório de Música. Pude então ouvir brilhantes exibições nos coretos da Avenida Central, e achei que havia naquelas melodias e naqueles arranjos, ia a dizer orquestrações, uma ingenuidade encantadora, uma vibração perfeitamente adequada ás circunstâncias festivas, que nos convidava a marchar, a assobiar, a dançar com a primeira pessoa que nos aparecesse ao lado.
Jamais tinha presenciado o carro das ervas e as cenas da vida de S. João. Achei maravilhosa a dança do Rei David, aquele jeito que têm os dançarinos de levantarem a perna, a feição arcaica das melodias tocadas nas violas. Enfim tudo isso foi para mim uma novidade que a distância dos anos me fez ver talvez ainda mais encantadora do que foi na altura.
E, no entanto, que longe está, á primeira vista, a personalidade de S. João Batista de toda esta truculência popular, de toda esta alegria que parece mais do corpo que da alma, mais material que espiritual. S. João não comia bifanas nem sardinha assada nem broa nem bebia vinho verde. Não comia cabrito assado no forno com arroz ou batatas. Segundo os Evangelhos, todo ele era sobriedade extrema na alimentação, um modelo para uma sociedade cada vez mais preocupada com a obesidade, até infantil, o colesterol e o fígado gordo. Uma sociedade que desperdiça e lança para os aterros do lixo aquilo que mataria a fome de muitos e muitos milhares de pessoas.
Sim, quem é, de facto, este asceta extraordinário, este solitário do deserto, o último dos grandes profetas, o maior dos filhos dos homens, o primo de Jesus Cristo, o que, ainda por nascer, já saltava de alegria no ventre da mãe? Este homem teve a coragem de denunciar, em voz alta, os desregramentos sexuais dos importantes da sociedade. Sabia que podia ficar sem cabeça, mas disse o que tinha a dizer. Não foi, por certo, um homem de meias tintas, um buscador de consensos que não fossem os consensos com a vontade de Deus. Não foi um conciliador com as desordens das vidas e das consciências. Não era cana agitada pelos ventos das modas filosóficas ou teológicas, não era um académico nem um cínico nem um esteca, um diletante, um gestor. Com Jesus Cristo, não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca. Não tinha conta bancária nem descontava para a Segurança Social. Não sabia utilizar as novas tecnologias nem falava inglês. Não fazia musculação nos ginásios nem aparecia nas revistas sociais. Não comprava roupa de Itália nem de Paris, não dava duzentos euros por um par de sapatos. Segundo os critérios vigentes, ele seria uma espécie de reacionário das regiões do interior, distante da modernidade das cidades que votam a favor da licença para matar crianças até ás dez semanas de vida.
Foi um homem que soube dizer não, que gritava a urgência das pessoas se converterem, como fizeram, aliás, todos os profetas. E quando os artistas o representam apontando o dedo para o Cordeiro que tira a maldade do mundo, captam a essência da sua personalidade: ele foi o que viveu inteiramente em função de Jesus Cristo. Suprema inteligência! Sim, os santos são os mais inteligentes dos homens.


Luís da Silva Pereira

Re: «« S. João »»
Escrito por: Diogo Taveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 12:19

O S.João, para quem não sabe, é feriado aqui no Porto (penso que dia 23/6).
É triste ver que se transformou a festa de um Santo na festa parola de um povo ainda mais parolo e retrógrado. Por isso, eu não festejo o S.João, nem qualquer outro santo popular...

Abraçando-vos em Cristo,

Diogo, A.M.D.G.

Re: «« S. João »»
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 13:32

Diogo

O dia de S. João é dia 24 de Junho, se bem que a festa propriamente dita seja feita na noite de 23 para 24. Eu sempre gostei muito da festa dos Santos Populares, principalmente do S. João. A minha vivência dessa festa é a da minha aldeia, com fogueiras de rosmaninho a perfumarem a noite, as pessoas a saltá-las e os bailaricos a animarem o serão.

Não te esqueças que os Santos Populares, nomeadamente o S. João foram a cristianização do Solstício de Verão e portanto não é de admirar que se vejam aí mais características profanas que religiosas. E também não vejo porque há-de vir daí mal ao mundo...

Um abraço

Cassima



Editado 1 vezes. Última edição em 14/06/2007 13:33 por Cassima.

Re: «« S. João »»
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 15:18

As fogueiras e o bailarico nao traz nada de mal ao mundo. Tambem gosto dessas festas populares.

Re: «« S. João »»
Escrito por: lopessergio (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 17:07

Ola
De facto a noite de 23 para 24 de Junho por estes lados (Porto), tem muito de comunitario, festajamos juntos, todos os vizinhos se reunem e todos participam na festa desde o assar das sardinhas ate ao lavar dos pratos, tudo é participação. De facto esta festa perdeu muito do seu cariz religioso, é mais popular do que devota, mas dai não vem mal ao mundo, desde que se aproveite a ocasião para se reencontrar os perdidos e valorizar os costumes e entreajuda.
Claro que depois ha o folclore tipico das festas populares com arquinhos e balões e os malfadados martelinhos, o fogo de artificio e o descobreir de novas "amizades" nas caminhadas que inevitavelmente acabam na Praia para ver o nascer do sol, claro que depois não ha forças para ir a Missa, mas pelo caminho ve-se gente, dança-se com o estranho e acolhe-se o "estrangeiro", quem caminha pelo Porto, Braga, Gaia, mesmo não sendo conhecido é convidado a comer uma sardinha ou fevera, provar o vinho e dançar um pouco. São traços comunitarios e da personalidade das gentes do Norte que devem ser valorizados, o saber acolher faz parte do nosso Patrimonio genetico, além do fado e do mar.


Cumprimentos

Sérgio Lopes

Re: «« S. João »»
Escrito por: Diogo Taveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 21:00

No entanto, eu continuo a achar que a festa agora reúne tantos os Super Dragões, como as senhoras de buço, e toda a gente que Eça caracterizaria como "incivilizada".
Isso magoa-me, por conectar com o Porto a população mal-educada e parola...

Abraçando-vos em Cristo,

Diogo, A.M.D.G.

Re: «« S. João »»
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 14 de June de 2007 22:30

Gente "incivilizada" também tem direito a divertir-se ... o giro das festas populares é exactamente esse chuto no dito dos elitistas.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: «« S. João »»
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 15 de June de 2007 05:11

Diogo

No meio dessa gente toda deve haver gente civilizada e gente incivilizada. Por acaso estive no Porto em 2005 e fui bem recebida, no entanto não tenho pronúncia do Norte. Aliás todos me recebem bem em Portugal. Se eu não disser que vivo no Canada ninguém desconfia, só na minha terra o sabem:)

Re: «« S. João »»
Escrito por: lopessergio (IP registado)
Data: 15 de June de 2007 18:22

Ola a todos
Por alguma razão estas festas são chamadas de "populares", porque aqui não ha rico nem pobre todos levam com o martelo e com o Alho porro. Aqui todos comem a sardinha na Broa, não ha talheres de prata nem copos de cristal.
Festas populares sera talvez a expressão mais justa de uma sociedade sem classes.

Cumprimentos

Sérgio Lopes

Re: «« S. João »»
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 24 de June de 2007 22:03

Salve São João, o Batista !
24/06



Editado 1 vezes. Última edição em 24/06/2007 22:04 por Chris Luz BR.



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