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Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de May de 2007 22:27

LEONARDO BOFF


AS GUERRAS não existem apenas no mundo. Dentro da igreja há também uma guerra de baixa intensidade. Ela faz muitas vítimas, com os instrumentos adequados da guerra religiosa, escondidos sob palavras, não raro, piedosas e espirituais. Só para dar um exemplo pessoal: quando fui condenado pelo então cardeal Joseph Ratzinger em 1985 por causa do meu livro "Igreja: carisma e poder", foi-me imposto o que ele denominou de "silêncio obsequioso".
Esse eufemismo implicava muita violência: deposição de cátedra, remoção de editor religioso da Vozes, da redação da "Revista Eclesiástica Brasileira", proibição severa de falar, dar entrevistas, escrever e publicar sobre qualquer assunto.

Objetivamente "obsequioso" não possui nada de obsequioso.

O mesmo ocorreu com o teólogo da libertação Jon Sobrino, de El Salvador, condenado em fevereiro deste ano. Recebeu apenas uma "notificação". Esta inocente palavra, "notificatio", esconde violência porque ele não pode mais falar, nem dar aulas, conceder entrevistas e acompanhar qualquer trabalho pastoral. O vitimado por uma condenação é "moralmente" morto, pois vem colocado sob suspeita geral, tolhido, isolado e psicologicamente submetido a graves transtornos, o que levou a alguns a terem neuroses e a um deles, famoso, perseguido por idéias de suicídio.

Nós fomos, no mínimo, caçados e anulados, pois um teólogo possui apenas como instrumento de trabalho a palavra escrita e falada. E estas lhe foram seqüestradas, coisa que conhecemos das ditaduras militares.

O que foi escrito acima parece irrelevante, pois é algo pessoal, mas não deixa de ser ilustrativo da guerra religiosa vigente dentro da Igreja. Nela o então cardeal Ratzinger era general. Hoje como papa é o comandante em chefe. Qual é este embate? É importante referi-lo para entender palavras e advertências do papa e a partir de que modelo de teologia e de Igreja constrói o seu discurso.

Dito de uma forma simplificadora, mas real: há na igreja duas opções claramente opostas, o que não impede que, na prática, possam se entrelaçar.
Face ao mundo, à cultura e à sociedade há a atitude de confronto ou de diálogo.

A partir da Reforma no século 16 predominou na Igreja Católica romana a atitude de confronto: primeiro com as Igrejas protestantes (evangélicas) e depois com a modernidade.

Face à Reforma houve excomunhões, e face à modernidade, anátemas e condenações de coisas que nos parecem até risíveis: contra a ciência, a democracia, os direitos humanos, a industrialização. A Igreja se havia transformado numa fortaleza contra as vagas de reformismo, secularismo, modernismo e relativismo. Missão da igreja, segundo esse modelo do confronto, é testemunhar as verdades eternas, anunciar a Cristo como o único Redentor da humanidade e a Igreja sua única e exclusiva mediadora, fora da qual não há salvação.

Em seu documento de 2000, Dominus Jesus, o cardeal Ratzinger reafirma tal visão com a máxima clareza e laivos de fundamentalismo. Tudo é centralizado no Cristo. Esta atitude belicosa predominou até os anos 60 do século passado quando foi eleito um papa ancião, quase desconhecido, mas cheio de coração e bom senso, João 23. Seu propósito era passar do anátema ao diálogo. Quis escancarar as portas e janelas da Igreja para arejá-la. Considerava blasfêmia contra o Espírito Santo imaginar que os modernos só pensam erros e praticam o mal.
Há bondade no mundo, como há maldade na Igreja. Importa é dialogar, intercambiar e aprender um do outro. A Igreja que evangeliza deve ela mesma ser evangelizada por tudo aquilo que de bom, honesto, verdadeiro e sagrado puder ser identificado na história humana.
Deus mesmo chega sempre antes do missionário, pois o Espírito Criador sopra onde quiser e está sempre presente nas buscas humanas suscitando bondade, justiça, compaixão e amor em todos. A figura do Espírito ganha centralidade.
Fruto da opção pelo diálogo foi o Concílio Vaticano 2º (1962-1965), que representou um acerto de contas com a Reforma pelo ecumenismo e com a modernidade pelo mútuo reconhecimento e pela colaboração em vista de algo maior que a própria Igreja, uma humanidade mais dignificada e uma Terra mais cuidada.
Este "aggiornamento" trouxe grande vitalidade em toda a Igreja, especialmente na América Latina, que criou espaço para aquilo que se chamou de Igreja da base ou da libertação e da Teologia da Libertação. Mas acirrou também as frentes.
Grupos conservadores, especialmente incrustados na burocracia do Vaticano, conseguiram se articular e organizaram um movimento de restauração, de volta à grande tradição.
Este grupo foi enormemente reforçado sob João Paulo 2º, que vinha da resistência polonesa ao marxismo. Chamou como braço direito e principal conselheiro, seu amigo, o teólogo Joseph Ratzinger, elevando-o diretamente ao cardinalato e fazendo-o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, a ex-Inquisição.
Aí se processou de forma sistemática, vinda de cima, uma verdadeira Contra-Reforma Católica. O próprio cardeal Ratzinger no seu conhecido "Rapporto sulla fede", de 1985, um verdadeiro balanço da fé, dizia claramente: "A restauração que propiciamos busca um novo equilíbrio depois dos exageros e de uma abertura indiscriminada ao mundo".
Ele elaborou teologicamente a opção pelo confronto a partir de sua formação de base, o agostinismo, sobre o qual fez duas teses minuciosamente trabalhadas. Notoriamente Santo Agostinho opera um dualismo na visão do mundo e da Igreja. Por um lado está a cidade de Deus e por outro a cidade dos homens, por uma parte a natureza decaída e por outra, a graça sobrenatural.
O Adão decaído não pode redimir-se por si mesmo, seja pelo trabalho religioso e ético (heresia do pelagianismo) seja por seu empenho social e cultural.
Precisa do Redentor. Ele se continua e se faz presente pela Igreja, sem a qual nada ganha altura sobrenatural e se salva.
Em razão desta chave de leitura, o papa Bento 16 se confronta com a modernidade, vendo nela a arrogância do homem buscando sua emancipação por próprias forças. Por mais valores que ela possa apresentar, não são suficientes, pois não alcançam o nível sobrenatural, único caráter realmente emancipador. Nela vê mais que tudo secularismo, materialismo e relativismo. Essa é também sua dificuldade com a Teologia da Libertação. A libertação social, econômica e política que pretendemos, segundo ele, não é verdadeira libertação, porque não passa pela mediação do sobrenatural.
Para concluir, se o atual papa tivesse assumido uma teologia do Espírito, coisa ausente em sua produção teológica, teria uma leitura menos pessimista da modernidade.
No atual momento se dá o forte embate entre essas duas opções. A Igreja latino-americana pende mais pela opção do diálogo. Esta é mais adequada à cultura brasileira que não é fundamentalista nem dogmática, mas profundamente relacional e dialogal com todas as correntes espirituais.
Somos naturalmente sincréticos na convicção de que em todos os caminhos espirituais há bondade para além dos desvios e que, definitivamente, tudo acaba em Deus.
Não parece ser esta a opção de Bento 16: seus discursos enfatizam a construção da Igreja em sua forte identidade para que seu testemunho seja vigoroso e possa levar valores perenes a um mundo carente deles, como se viu claramente em seu discurso aos bispos brasileiros na catedral de São Paulo.
Essa Igreja é necessariamente de poucos, coisa reafirmada pelo teólogo Ratzinger em muitas de suas obras. Mas esses poucos devem ser santos, zelosos e comprometido com a missão de orientar e conduzir os muitos, sem se deixar contaminar por eles e pelo mundo.
Ocorre que esses poucos nem sempre são bons. Haja vista os padres pedófilos. Por isso, a Igreja precisa renunciar a certa arrogância, ser mais humilde e confiar que o Espírito e o Cristo cósmico dirijam seus passos e os da humanidade por caminhos com sentido e vida.

católica praticante

Re: Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 16 de May de 2007 11:03

Confesso que acompanhei muito pouco da viagem do Papa ao Brasil. De ler as gordas e as coisas que os outros escrevem destaco algumas coisas pela positiva e outras pela negativa.

Do discurso do Papa na sessão inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, consegui fazer algumas notas.

Citação:
Bento XVI
De facto, o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha.

É verdade que o anúncio nunca supôs a alienação mas a verdade é que aconteceu e foi realmente imposto.

Citação:
Bento XVI
As autênticas culturas não estão fechadas em si mesmas nem petrificadas num determinado ponto da história, mas estão abertas; ainda mais: buscam o encontro com outras culturas, esperam alcançar a universalidade no encontro e no diálogo com outras formas de vida e com os elementos que possam levar a uma nova síntese, na qual se repete sempre a diversidade das expressões e da sua realização cultural concreta.

O ecumenismo, o diálogo inter-religioso, o diálogo entre a sociedade e a Igreja, o diálogo entre a ciência e a Igreja busca todas estas coisas nas suas diversas dimensões. Será que é desta que se a aculturação vai ser levada sério? Será que é agora que vamos ver passos concretos de abertura?

Citação:
Bento XVI
O respeito por uma sã laicidade – inclusive na pluralidade das posições políticas – é essencial na tradição cristã autêntica. Se a Igreja começasse a transformar-se directamente em sujeito político, não faria mais pelos pobres e pela justiça, mas, pelo contrário, faria menos, porque perderia a sua independência e a sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais questionáveis.

Concordo plenamente mas será quando poderemos ter esta realidade?

Citação:
Bento XVI
As estruturas justas jamais serão completas de modo definitivo; pela constante evolução da história, devem ser sempre renovadas e actualizadas;
Tendo em conta esta afirmação como se pode destruir ou silenciar todas as formas de renovação da Igreja? Será que não está na altura de encarar o problema dos divorciados, dos recasados, dos deslocados, dos novos ritmos de vida, o respeito e igualdade pela diferença?

Citação:
Bento XVI
Contudo, na actualidade sofre situações adversas provocadas pelo secularismo e o relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias ao matrimónio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto, ameaçam o futuro dos povos.

Como é possível continuar a insistir num par anticoncepção e aborto? Se não queremos que haja aborto é necessário políticas efectivas de planeamento familiar e contracepção. Será que o Papa pensa que só vemos as telenovelas, o futebol e o carnaval no Brasil e na América Latina? Que futuro está ameaçado com a contracepção em países onde a taxa de natalidade é altíssima???

Citação:
Bento XVI
Em algumas famílias da América Latina persiste ainda, infelizmente, uma mentalidade machista, ignorando a novidade do cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem.
E porque não começamos por olhar para dentro da nossa própria casa? Não consegue a Igreja ser profeta e dar o primeiro passo e o exemplo?

Provavelmente estou a ser tendencioso e mais uma vez a procurar coisas más mas convido também a porém mais citações.

Em comunhão

Re: Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 16 de May de 2007 19:08

sinto que a preocupação maior é a volta de um AUTORITARISMO na América Latina ,
vide Chaves , Morales e Lula que gostam " de usar vermelho " e querem a censura dos meios de comunicação.
Para começarem a censurar a religião falta pouco...

Cp o texto é todo do Boff ? Está tão superficial ....



Editado 1 vezes. Última edição em 16/05/2007 19:09 por Chris Luz BR.

Re: Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 16 de May de 2007 20:23

Tilleul:

Obrigada por teres colocado online o texto de bento XVi e por teres partilhado esses extractos.

Chris:

O texto é mesmo de L. Boff e foi publicado a propósito da visiata papal ao brasil.


Curiosamente, em alguns aspectos "teóricos" até acho que Boff e Ratzinger estão muito próximso...

católica praticante

Re: Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: s7v7n (IP registado)
Data: 16 de May de 2007 22:43

Mas na maior parte das coisas não estarão de certeza. Dêem é mais atenção ao nosso Papa e não a pessoas que abandonaram a Igreja. Cristo Cósmico? Que é isso? Não deve ser ensinado pela Igreja concerteza. Isso cheira-me a teorias que são completamente incompatíveis com a fé católica.

"Ama e faz o que quiseres" - Santo Agostinho

Re: Visita do Papa ao BRASIL
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 16 de May de 2007 23:03

Aqui o Santo Papa pode sentir o que é ser Pastor... uma multidão o aclamava e os jovens faziam ola ...
Aqui ele pode descer do trono e na Fazenda Esperança abraçar os que se recuperam do uso das drogas.
Aqui ele pode andar com os vidros do papa-móvel aberto ... só faltou vir ao "Cristo Redentor" no RJ e se fazer carioca como João Paulo II.
Foi lindo , um Papa peregrino, um mensageiro da Paz!



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