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As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de May de 2007 16:58

É relativamente frequente encontrar em literatura anti-cristã a acusação de que o Cristianismo não passa de um sincretismo de uma série de mitos, rituais, símbolos e linguagens de outras religiões, nomeadamente os cultos de Mitra.

A provar tal tese estaria o facto de que já outras religiões pré-cristãs usavam a cruz (ou diferentes tipos de cruz) entre as suas simbologias. Juntam-se depois muitos outros exemplos alegadamente importados pelo Cristianismo. Entre eles estariam o «mito» da Encarnação, o da Ressurreição, a missa, o culto mariano, o culto dos santos, o Natal e outras festas do calendário, os sacramentos, toda a simbologia cristã (cruz, lábaro, «IHS»…), etc.

Um dos principais problemas destas «teses» é a «confusão» entre sequência e consequência, aquilo que em Lógica se chama a falácia «post hoc, ergo propter hoc». Ou seja, da anterioridade de um primeiro acontecimento em relação a um segundo acontecimento conclui-se que o segundo é consequência do primeiro. Concretizando: se a cruz já existia como símbolo em religiões pré-cristãs (facto verdadeiro e bem conhecido), conclui-se (erradamente) que o Cristianismo importou este símbolo dessas religiões. Da mesma forma, se os cultos a Mitra usavam pão e vinho nos seus ritos (parece que é verdade), conclui-se (erradamente) que a missa é uma importação dos ritos mitraicos.

Evidentemente, há muitas semelhanças, mas normalmente não passam de semelhanças. Também há «falsas semelhanças», como a ideia de que a Santíssima Trindade é uma importação de outras «trindades» de outras religiões. É uma falsa semelhança, porque aqui confunde-se «trindade» com «tríade». Também são falsas semelhanças os casos de deuses que têm filhos de humanos, já que nesses casos não há Encarnação, mas apenas um «cruzamento». Há ainda casos de verdadeiras semelhanças e também há casos de «assimilação», «cristianização» de elementos não-cristãos. Contudo, em nenhum caso se verifica que um dado central do Cristianismo seja uma importação, decalque, ou uma dependência directa de uma dessas religiões pagãs. O Natal é, claro, a cristianização da festa do Sol, mas esta festa não faz parte do núcleo da fé cristã. Os primeiros cristãos não a celebravam. Ora, seria «fatal» que a Eucaristia não passasse de uma «importação» de um rito a Mitra, porque a Eucaristia é central no Cristianismo!

Se há dependências directas, elas vêm, evidentemente, do judaísmo, de onde nasceu o Cristianismo. Mas, como sabemos, foi também aqui que o Cristianismo foi marcando a sua diferenciação, como se nota já no Novo Testamento: o sábado, a circuncisão, os alimentos, o Templo, o uso das Escrituras, a Páscoa, etc., etc. Tudo quanto é essencial no Cristianismo está desde logo no início e até temos bastante documentação. Por exemplo, algumas das primeiras Cartas de S. Paulo dão-nos, ainda antes da redacção final dos Evangelhos, preciosos dados sobre a vida dos primeiros cristãos.

Apesar de pouco séria e tendencialmente panfletária, esta literatura da «tese sincrética» vai encontrando o seu espaço e vai «fazendo opinião», nomeadamente entre pessoas assumidamente anti-cristãs (que não é necessariamente o mesmo que «ateias») e parece causar alguma perplexidade entre pessoas menos informadas. Em parte, o sucesso desta literatura deve-se ao facto de que é sempre mais fácil dar credibilidade às teses da suspeita que desfazer dúvidas. Neste fórum o problema já foi aflorado alguma vez, pelo menos pela catolicapraticante.

No passado sábado estas teses tiveram um novo espaço de exposição, no «De Rerum Natura», no «post» «Goa e aculturação». A sua autora, Palmira Silva, assumidamente ateia militante e já antes conhecida no «Diário Ateísta», «a propósito» de uma fotografia de Goa, expõe algumas das ideias destas teses, dizendo, entre muitas outras coisas, que foi o Imperador Constantino quem introduziu a cruz como símbolo no Cristianismo, ou que o mesmo Imperador instituiu o domingo como dia de culto ou ainda que introduziu a missa mitraica no Cristianismo.

Ao ler o «post» fiquei escandalizado com a ligeireza e a quantidade de falsidades, meias verdades e ambiguidades que ali abundavam, num «blogue» de pessoas que proclamam o zelo pelo rigor e clamam contra a charlatanice. Escrevi um comentário bastante desagradado e a partir daí seguiu-se um debate bastante cerrado entre a Palmira e eu. Creio ter conseguido desmontar várias das teses ali defendidas, para alguma indignação de outros leitores. Por fim, o rmcf/Miguel também interveio, dando um contributo de enorme importância.

Recomendo a leitura do referido «post» e respectivos comentários, e chamo a atenção para o facto de que procurar a verdade nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário! É bom estudar estas questões, com critério, até para que ninguém se sinta «apanhado de surpresa», como se estas ditas teses fossem a «bomba atómica» sobre a fé cristã.

Há muito tempo que tinha pensado escrever sobre este assunto, mas é um assunto que dá muito trabalho tratar com profundidade e nem sempre tenho todas as ferramentas necessárias. De qualquer forma, a publicação do citado «post» levou-me a «reagir» e aqui fica o registo. Creio que o Miguel pode dar um bom contributo neste campo, pois lida mais de perto e com competência com estes temas. Talvez ele queira indicar, por exemplo, alguma bibliografia ou «links» que considere úteis para aprofundar o tema.

Evidentemente, todas as outras contribuições são bem-vindas. A propósito, «Cadê o firefox?» ;-)

Alef

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 14 de May de 2007 17:51

Alef

Essa é uma área complexa, e quem não domina a História da Igreja, não tem facilidade em rebater alguns argumentos. Pelo menos, depois de ler as tuas intervenções e do Miguel, estou agora mais bem preparada.

Tenho uma amiga que, por sua vez, tem um amigo dado aos cultos (?) da antiga Lusitânia, Endovélico e afins. Ora um dia liga-me ela preocupada, porque o amigo lhe dissera que o Natal era a festa de Solstício de Inverno (portanto pagã) adaptada.
Falámos, e no fim, na brincadeira, aconselhei-a a dizer-lhe que, além disso, os Santos Populares eram o Solstício de Verão cristianizado. Nunca pensei que isso fosse motivo de confusão. E aparentemente era...

Cassima

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 14 de May de 2007 21:15

Acompanhei a discussão durante o sábado e o domingo e a verdade é que mais uma vez fica provado que a esmagadora maioria do bloguistas ateus são anti-cristãos e visam sobretudo causar dúvida e divisão para reinar.

Para além de panfletária, considero também este tipo de literatura terrorista. A forma como querem atacar é fazendo barulho, tentando apanhar o maior número de vítimas pelo debitar de informação que pode à partida parecer verdadeira e de fonte segura por estar num contexto dito académico.

Quando confrontados com argumentos de método, isto é quando provam do seu próprio veneno, rapidamente se tentam refugiar em argumentos e em lugares comum já habituais nestes ambientes anti religião.

A título pessoal quero realçar 2 pontos. Dada a importância do assunto, principalmente quando constantemente somos bombardeados com códigos da Vinci e descoberta de túmulos de Jesus, tomei cada um dos argumentos do Alef e posteriormente do Miguel como autênticas aulas de História da Igreja e de catequese. O segundo ponto é um argumento sem sentido para o que se estava a discutis de uma das intervenientes da discussão na caixa dos comentários, mas que com razão diz que a larga esmagadora maioria dos cristãos não sabe sobre o que o Alef falava. É verdade e isto só nos relembra que é urgente a formação dos leigos e a catequese de adultos.

Em comunhão

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: Rute (IP registado)
Data: 15 de May de 2007 02:43

Caro Alef,

acabo de ler o blog e os vários comentários. acho que nada, ou quase nada, fica a acrescentar à discussão, pelo menos não no blog, o essencial foi dito:
- os arrepios provocados por aquela sucessão de palavras latinas (a que jamais se poderia chamar uma frase!);
- os arrepios provocados pela citação das TJ enquanto fonte científica (serão óptimas e empenhadíssimas pessoas, mas teologia científica é coisa que não anda por essas bandas ;o));
- a leviandade com que se citam factos históricos fora dos contextos e sem nenhum rigor.

Mas acho que há, pelo menos, uma coisa a comentar aqui:
concordando com o Tilleul, "isto só nos relembra que é urgente a formação dos leigos e a catequese de adultos". confesso que por vezes me assusta a total ignorância teológica e a total falta de interesse da esmagdora maioria dos católicos. Aliás, um bom exemplo disso é, acho eu, este site. Consigo acompanhar perfeitamente as discussões "teológicas", poucos são os intervenientes, poucos os posts, mas se o tópico envolver questões que aflorem a sexualidade, é impossível acompanhar, 15, 20 posts nalgumas horas,discussões acesas, insultos, por vezes. Isto só pode querer dizer duas coisas: ou a questão central do cristianismo é a sexualidade humana (a menos que tenham evangelhos diferentes dos meus, não me parece!) ou algo vai mal na formação dos católicos.
E o século XXI é o século da informação,informação sem fim e se as pessoas não tiverem qualquer tipo de formação que lhes permita filtrar essa informação as consequências podem ser terríveis...
Porque é que um romance, ou seja, um texto ficcional, sem carácter científico e que apresenta como principal argumento para a presença de Maria Madalena na última ceia um quadro de Da Vinci(que, como todos sabemos, foi contemporâneo dos apóstolos e testemunha ocular da última ceia...) causa alguma agitação?!
Aposto que o Alef e o Miguel se leram o romance ou viram o filme, na melhor das hipóteses riram do ridículo da coisa...
Claro que é utópico esperar que todos os católicos sejam como o Alef ou o Miguel, mas entre os dois extremos há um caminho enorme a percorrer.
Se durante séculos os fiéis se contentaram com um porque sim do senhor padre e o melhor é não pensar para não se ter dúvidas, a actualidade exige uma atitude radicalmente oposta! A informação vem de todo o lado, complexa e difusa. O que sente um crente,sem qualquer tipo de formação, ao ler um blog de uma professora universitária? Porque é tão fácil puxar dos títulos académicos e dizer meia dúzia de banalidades sem qualquer rigor científico e impressionar meio mundo? Porque sem uma estrutura de formação não é possível contra-argumentar. e sem argumentos, sem ideias próprias não é possível oferecer qualquer resistência a qualquer tipo de informação que nos seja apresentada como suposta revelação.
E a mim parece-me óbvio que a formação que a Igreja oferece é pouca e pouco eficaz.
Que fique claro que esta crítica não é uma crítica absoluta e feroz, é mais uma constatação que faço com profunda pena. Há na Igreja católica uma abertura para o pensamento teológico absolutamente extraordinária! Também disso é prova este fórum!! No meu maior momento de crise espiritual, a Igreja acolheu-me de braços abertos sem perguntas e sem exigências. tive uma sorte extraordinária com os meus primeiros contactos com a Igreja? sem dúvida! é claro que os erros da Igreja dariam para listas intermináveis, mas eu vislumbro claramente a mão de Deus por entre todos esses erros! E por isso me custa terrivelmente ver que a maior ameaça que se faz a essa Igeja fecunda de tradições não são as diatribes mais ou menos tolas de alguns anti-cristãos, mas a ignorância dos próprios cristãos!!!!
Não defendo uma formação universitária para todos os crentes, defendo uma formação catequética que leve a uma catequese interior e sincera. Nos meus últimos anos li muitos livros, aprendi muito, mas a verdadeira catequese fi-la durante horas e horas sentada no chão da Igreja da Reconciliação a olhar para o ícone da cruz!
A cruz será um elemento cultural do mediterrâneo, pois sim, acredito piamente que se Deus tivesse decidido encarnar em marte, poderia ter "escolhido" um outro tipo de morte, mas Cristo viveu e morreu em pleno mediterrâneo helenístico e não se quis revelar na intemporalidade e no vazio ideológico e cultural. Claro que o cristianismo engloba dezenas de tradições anteriores, Deus não se quis mostrar à parte do mundo humano, mas nele e perfeitamente integrado nele e isso só pode aumentar o meu amor por Ele!!Se a cruz é anterior a Cristo, em que é que isso muda a revelação plena de Deus que a morte de Cristo na cruz me dá?
Achar que uma boa formação pode por em risco a fé é, parece-me,confiar pouco em Deus.
Como lidar com este desafio? Não sei, exactamente. Parece-me um bom tema de discussão, talvez não exactamente neste tópico... peço desculpa se fugi ao tema.

Um abraço em Cristo,
Rute

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 15 de May de 2007 08:56

Pessoalmente não me incomoda nada que as mesmas notas sirvam para compôr a 9ª sinfonia de Beethoven ou música "pimba". Aliás, gostos não se discutem, mas sim aperfeiçoam-se.

*=?.0

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 21 de July de 2007 11:45

Citação:
Alef
É relativamente frequente encontrar em literatura anti-cristã a acusação de que o Cristianismo não passa de um sincretismo de uma série de mitos, rituais, símbolos e linguagens de outras religiões, nomeadamente os cultos de Mitra.
Apesar de pouco séria e tendencialmente panfletária, esta literatura da «tese sincrética» vai encontrando o seu espaço e vai «fazendo opinião», nomeadamente entre pessoas assumidamente anti-cristãs (que não é necessariamente o mesmo que «ateias») e parece causar alguma perplexidade entre pessoas menos informadas. Em parte, o sucesso desta literatura deve-se ao facto de que é sempre mais fácil dar credibilidade às teses da suspeita que desfazer dúvidas.

Há muito tempo que tinha pensado escrever sobre este assunto, mas é um assunto que dá muito trabalho tratar com profundidade e nem sempre tenho todas as ferramentas necessárias.

Alef


Isto parece-me o essencial do texto do Alef. É mais facil lançar atoardas que desmonta-las, principalmente porque a especialização e exigencias da vida actual tornam praticamente impossivel perceber o disparate da maioria dos boatos lançados.

A contestação destes disparates dá trabalho e normalmente exige bastante especialização para ser convincente.
livros como "os especialistas respondem ao codigo davinci" dão trabalho e são raros, são muito mais vendidos e mais faceis de fazer livros a lançar boatos. Basta ir a uma qualquer livraria e ver que as estantes com letreitura esoterica e pseudo-religiosa são muito maiores que as dedicadas à religião e a estudos serios sobre estes temas.
No entanto parece-me que a Igreja não devia negligenciar os danos causados por esses boatos disparatados. Acho que é importante a publicação de livros ou a criação de sites da internet dedicados a desmontar os boatos mais difundidos.
Mesmo que a sua leitura nunca atinja os niveis que os livros difamadores atingem quem os lê é em seguida um "emissor" qualificado para os contestar e mostrar o disparate que eles encerram.
Pode ser desconhecimento meu mas a unica vez que vi fazer isto foi em relação ao codigo da vinci, em minha opinião era bom que isto se fizesse de forma sistematica ou quase.

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: leigo_XXI (IP registado)
Data: 15 de August de 2007 22:41

É impossível equacionar que o cristianismo, 2000 anos após a sua fundação, esteja isento de influências externas, inclusivamente de influências pagãs.

Primeiro que tudo seria importante diferenciar sincretismo, assimilação e aculturação:

a) sincretismo - ecletismo; amálgama de concepções diferentes.

b) assimilar - tornar semelhante; igual; identificar-se com; apropriar; incorporar.

c) aculturação - adaptação a uma nova cultura; interpenetração de culturas.


1. Não deverá espantar um cristão saber que o fenómeno da ressurreição não é exclusivo da sua religião.
Existem atestados diversos casos de divindades que ressuscitam, sendo Melqart o mais conhecido. Melqart foi uma divindade dos povos semitas ocidentais, particularmente cultuado pelos fenícios. Deus da cidade de Tiro, acompanhou a expansão deste povo, sendo o seu culto atestado na Península Ibérica. Terá sido assimilado (identificado) com o Herácles grego e posteriormente com o Hércules romano. O culto de Melqart estava associado a um ritual de fertilidade cananaico, já de si muito identico ao ritual de Baal de Ugarit, sendo que morria e ressuscitava, garantindo assim a fertilidade das terras tírias. Ou seja, este culto marcadamente sazonal (fim do Inverno / início da Primavera) representava o voltar da vida (fertilidade) após a morte.

Será difícil provar que o culto de Melqart não influenciou o culto cristão. Mas também não é possível demonstrar que o tenha influenciado. Embora ambos se situem no mesmo espaço geográfico e cultural, não se pode falar em assimilação, nem em sincretismo entre Jesus e Melqart. As diferenças entre os dois cultos são grandes. Em primeiro lugar existe a questão temporal. O culto a Melqart é muito anterior ao de Jesus, e aquando da fundação do cristianismo o culto a Melqart já não existia per si, pois foi assimilado sete séculos antes pelo de Herácles. Dificilmente coesistiram ambos os cultos e sete séculos de assimilação são mais que suficientes para matizar qualquer vestígio cultural do mesmo. Mas existe uma diferença principal: enquanto que a ressurreição de Melqart é um culto de fertilidade, a ressurreição de Jesus é um culto de salvação. Só esta diferença permite negar imediatamente qualquer hipótese de sincretismo ou de assimilação entre os dois.

Numa perspectiva remota, poderiamos equacionar um eventual processo de aculturação, isto é, a existência de uma possível interpenetração cultural. O facto de terem existido cultos anteriores que acreditavam na ressurreição divina, permitiu ao novo culto uma melhor receptividade. Ou seja, a predesposição cultural para o novo culto seria mais fácil, uma vez que a ideia não era novidade.

2. Não deverá espantar a um cristão a assimilação existente entre alguns pontos da vida de Jesus e a de Moisés.
Independentemente da possível análise histórica estas semelhanças serão melhor explicadas pela teologia. Talvez o Alef possa explicar melhor as possíveis assimilações. A passagem pelo Egipto, a perseguição do recém-nascido, são episódios bastante semelhantes e ambos vividos por estes dois Homens.

3. Não deverá espantar a um cristão que o Império Romano tenha influenciado o cristianismo.
Como qualquer movimento do seu tempo o cristianismo desenvolveu-se no seio do império e obrigatóriamente teremos de mencionar a existência de fenómenos de aculturação. A mensagem de Jesus não era de fácil interpretação para elementos estranhos à cultura semita em que Esta se inseria. Logo, o proselitismo implica a presença de fenómenos de aculturação. Estes fenómenos podem ser de ordem social ou cultural, mas não alteram de forma directa os pontos principais do cristianismo: a ressureição e salvação dos homens.

Mas é claro que o culto imperial romano, a figura do imperador, alguns pormenores subliminares dos cultos romanos, influenciaram o desenvolvimento do cristianismo. Este não é um fenómeno novo, pois séculos antes já os judeus tinham sofrido uma aculturação por parte dos gregos. O cristianismo não alterou os seus pontos basilares por causa da sua interacção com o mundo romano, mas alterou-se na forma de viver a sua religiosidade.

4. Não deverá espantar a um cristão que a Igreja tenha sincretizado alguns locais de culto.
Por exemplo, um dos templos cristãos mais antigos do Ocidente peninsular, ainda de pé, a igreja de santa Eulália em Mérida, expressa este fenómeno. A Igreja foi estabelecida aproveitando a pré-existencia de um templo dedicado a Marte. Não foram feitas alterações, simplesmente o espaço foi sincretizado. Contudo, temos de ter atenção! Quer isto dizer que o culto de Santa Eulália foi sincretizado com o culto de Marte romano? Claro que não! O que foi sincretizado foi o espaço sagrado do local.

Várias podem ser as explicações para este fenómeno. Entre elas, quero destacar uma hipótese: na altura da fundação do culto a Santa Eulália em Mérida, esta região vivia tempos conturbados e de fraca projecção económica. O império estava em desagregação, os sistemas económicos em colapso, os indices demográficos em retrocesso. O facto dos cristãos terem aproveitado o templo de Marte para aí edificarem o local de culto a Santa Eulália pode ser explicado pela associação de dois fenómenos: a conversão da maioria dos cidadãos de Emerita Augusta ao cristianismo e a falta de recursos financeiros que permitissem a construção de um novo templo. Desta forma houve um sincretismo de locais sagrados, mas não de cultos.

É também possivel registar outros sincretismos deste tipo. Um pouco por todo o território actualmente português é facilmente identificável o sincretismo entre antigos dolmens (também chamados de antas) e capelas. Quer isto dizer que os antigos cristãos criaram ligações sincréticas com esses monumentos? Mais uma vez, NÃO! Houve isso sim, um aproveitamento de espaços que ocupavam um lugar de destaque quer na paisagem, quer no imaginário colectivo das populações circundantes. Até porque os dolmens e as antas, não eram locais de culto para os seus construtores (c. 5000/3000 a.C.), mas monumentos funerários...

Para além destes casos existem muitos outros. Concordo na criação de um tópico só para este tema, até porque já vi algumas dúvidas sobre este assunto e alguns temas a ele paralelos (a amiga da Cassima erradamente associa a divindade Endovelicus ao solestício de Inverno).

O cristão não se deve espantar com as semelhanças e possíveis aculturações, até porque elas existem, mas maravilhar-se com a unidade da sua fé!!

Obrigado pela vossa atenção,

"Amarás ao próximo como a ti próprio." (Mt 22, 39)

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: lopessergio (IP registado)
Data: 18 de August de 2007 03:09

Ola a todos

Muito bem fez a Igreja que percebeu que na religiosidade vivida em cada local eram manifestações do proprio Deus vivo, muitas vezes o que fez foi aproveitar o que ja havia para dizer meus caros voces amam a Deus sem Lhe conhecerem o Nome, hoje nos vos apresentamos este Deus vivo, convertei-vos e acreditai no Evangelho.



Cumprimentos

Sérgio lopes

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 19 de August de 2007 22:47

Citação:
leigo_XXI
Será difícil provar que o culto de Melqart não influenciou o culto cristão. Mas também não é possível demonstrar que o tenha influenciado.

Esse tópico começou com uma observação sobre informações pseudo-científicas e comparações despropositadas, e vc trouxe mais uma. "Pode ser, mas pode não ser... talvez... será... quem sabe... não sei". Apoiando-se em colocações semelhantes, alguém poderia lançar suspeitas sobre a influência da ave Fênix, que morre e renasce das cinzas, para o culto cristão.

Curiosamente, vc mesmo descartou as hipóteses do sincretismo e da assimilação como absurdas, mas não a igualmente descabida hipótese da aculturação. No esforço para encontrar semelhanças que diminuam a originalidade do cristianismo, preferiu não atentar para a grande diferença entre o dado na encarnação e a vinda de um avatar ou de um semi-deus. Semelhanças, entretanto, existem para tudo, no mínimo pela questão da linguagem, mas é muito pouco para propor seriamente uma conexão de influência. Ora, o que vc apontou não se trata nem se sincretismo, nem de assimilação, nem de aculturação. As palavras mais corretas poderiam ser: devaneio, divagação.

Citação:
leigo_XXI
O cristão não se deve espantar com as semelhanças e possíveis aculturações, até porque elas existem, mas maravilhar-se com a unidade da sua fé!!

É bom não se espantar com qualquer coisa, mas também não faz muito sentido ficar se maravilhando com qualquer coisa.

Paz e Vento.

Re: As origens do Cristianismo e as religiões pagãs
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 20 de August de 2007 11:38

Estou de acordo com o firefox.

Aquilo que foi assimilado ou aculturado nalguns casos foram manifestações externas de religiosidade.

Ou seja, formas das pessoas responderem à realidade que é a existência do Divino, existência essa aceite pela generalidade das culturas.

O Cristianismo transformou as manifestações de religiosidade pré-cristãs em manifestações mais adequadas ao Deus Revelado.

Agora, a Revelação Cristã não é uma aculturação de costumes pagãos, mas sim uma nova perspectiva de ver Deus e o Homem.

João (JMA)



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