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“É o olhar que salva. O amor é o olhar da alma.”S.Veill

Escrito por: catolicapraticante (IP registado)

Data: 13 de February de 2007 20:41

"Etty Hillesum, a mulher que morreu em Auschwitz e não sabia ajoelhar Judia mas pouco religiosa, de esquerda mas não alinhada, vincadamente livre, com
um comportamento sexual que escandalizava os seus amigos mais liberais – amante de vários homens, fez um aborto. Mesmo com tal cartão de identidade, Esther (Etty)Hillesum, holandesa, autora de um diário intenso nos dois últimos anos da sua vida,antes de morrer em Auschwitz, exprime uma religiosidade radical, entre a descoberta pessoal de Deus e a experiência limite do sofrimento e da morte num campo de concentração.

É nesse limite de quem é voluntariamente deportada e recusa as ofertas de fuga,
que Etty redige 700 páginas densas do diário (mais as cartas, escritas no campo de Westerbork, onde Etty trabalha entre 1942 e 43. O diário, iniciado em 9 de Março de 1941, aos 27 anos, e as cartas de Etty Hillesum não são apenas mais um belo testemunho ao jeito de Anne Frank. Neles há também uma profunda reflexão sobre a tragédia, em paralelo com um percurso interior único, no qual Etty encontra Deus: “Há em mim um poço muito profundo. E nesse poço está Deus. Por vezes consigo chegar-lhe. Mas a maior parte das vezes, pedras e entulhos obstruem esse poço, e Deus permanece enterrado. Então é preciso pô-lo a descoberto.”Não sou capaz de ajoelhar-me bem. Porquê? Há em mim uma inclinação crítica, racionalista e inclusivamente ateia. Contudo, sinto em mim, de vez em quando, uma profunda aspiração a ajoelhar-me, com as mãos no rosto, e a encontrar assim uma paz profunda,pondo-me à escuta de uma fonte escondida no mais profundo de mim mesma.”

Etty nem sempre convive bem com esse apelo da transcendência.

Etty, como outros judeus, não podia comprar comida em muitas lojas (a dada
altura, nem sequer podia comprar comida, de todo), tinha que se deslocar a pé (mesmo abicicleta era proibida), o seu quotidiano, mesmo antes de internada em Auschwitz, era um inferno.

Mas, para ela, o mal não eram os alemães – mesmo se também ela alinha em provocar e irritar os seus amigos alemães.

“O mal que está nos outros está também em nós e não vejo outra solução senão recolhermo-nos em nós mesmos e deitar fora onosso mal. (...) A barbárie nazi pode despertar em nós outra barbárie, que poderia utilizar os mesmos métodos se pudéssemos fazer hoje o que quiséssemos. Devemos extirpar esta barbárie de nós mesmos. Não nos é permitido alimentar este ódio em nós;se o fizermos, o mundo não dará um só passo para sair deste atoleiro em que nos ncontramos.”

O olhar de Etty que mais nos desconcerta é quando ela se confronta com esse
território do mal absoluto.

Onde muitos vêem o silêncio de Deus, Etty diz: “É necessário que alguém sobreviva para testemunhar que Deus estava vivo, mesmo num
tempo como este. E porque não haveria de ser eu essa testemunha?”
Texto integral de António Marujo, aqui.

católica praticante

Editado 1 vezes. Última edição em 13/02/2007 20:44 por catolicapraticante.

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