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A minha solitária caminhada
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 07:32

Fui educado na igreja católica. Os meus pais são católicos praticantes e empenhados, embora bastante progressistas. A minha mãe é catequista e ambos fazem parte de equipas de casais.

Quando tinha 15 anos comecei a questionar-me sobre o que me tinham ensinado acerca de Deus. As minhas dúvidas foram dando lugar a convicções à medida que fui lendo estudando e amadurecendo.

Cheguei a uma altura em que deixei de me considerar católico pois o que me separava da doutrina era mais do que aquilo que me aproximava. Casei pela igreja mas não baptizei o meu filho.

Quando vim para África, em 2000, trouxe a Biblia comigo, quanto mais lia mais me afastava da igreja dos meus pais. Cá, tive o privilégio de contactar de perto com muitos credos, cristãos e não só, comecei a interessar-me pela história das religiões.

Actualmente considero que creio em Deus e que admiro profundamente a pessoa de Jesus cristo. Julgo que os seus ensinamentos e os seus exemplos são das mensagens mais importantes e úteis para nos ajudarem na nossa conduta.

O resto da doutrina católica deixou de ser relevante para mim. Dogmas e definições, sacramentos e rituais não fazem sentido na forma como creio em Deus. A Divindade de Cristo não a refuto nem a defendo, para mim é um aspecto puramente acessório. No entanto há outros aspectos da doutrina que contesto vivamente como o pecado original, a Imaculada Concepção de Maria e até o próprio culto mariano.

Creio em Deus, sem perder tempo a questionar-me sobre Ele pois está para lá da compreensão humana, e tento ter presente as palavras que resumem os evangelhos: Amai-vos uns aos outros.

O grande problema é que me sinto só. Não tenho ninguém com quem falar sobre Deus. Acolhi em minha casa durante umas semanas dois missionários Carmelitas bastante jovens com quem gostei muito de conversar. Respeitavam os meus pontos de vista encorajaram-me a encontrar o meu caminho à minha maneira e fizeram-me reconsiderar alguns pontos de vista.

Os meus amigos ou não ligam muito aos aspectos religiosos, ou as suas convicções são de tal maneira ortodoxas que não há lugar para troca de impressões.

Eu não quero convencer ninguem de nada, só gostava de poder conversar. Os meus pais dizem-me que a igreja está a mudar, e que no seu seio cabem pessoas como eu. Será verdade? Como posso ter ajuda na minha caminhada?

Obrigado

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Maria João Garcia (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 08:24

A Igreja mudou bastante. É verdade. O seu papel social é cada vez mais importante. Há também muitas paróquias com muitos jovens, em várias actividades, há muitos grupos de missionários, já há missas para crianças, a catequese é dada de forma mais intercativa e aberta às dúvidas das crianças...

Também passei por um momento como o que passaste. Neste momento voltei à Igreja. Não é perfeita, mas consegue-se fazer a diferença. Também qual é a religião que é perfeita? POdemos não seguir nenhuma e acreditarmos em Deus... SEm dúvida. Tentei fazer isso, mas senti-me tão sozinha... Aí percebi que DEus quer que vivamos em comunidade. Obviamente que a Bíblia é um grande guia, é a Sua Palavra e pode ajudar-nos a perceber onde estão os erros da nossa religião, mas também lá está esrito que devemos viver em comunidade.

Como costumo dizer, Jesus também tinha uma religião. Não deixou de cumprir com o seus preceitos, mas também não deixou de a criticar. Só cumpria com os preceitos que estavam conforme a Palavra do Pai.

Quanto à tua caminhada, não há nada como rezar e ouvir DEus. Pode levar tempo, mas Ele vai ajudar-te. O que te posso dizer, com base na minha experiência, é que há grupos na Igreja que nos ajudam bastante na nossa caminhada. É o caso dos grupos de missionários, do movimento Tai Zé (onde as orações são muito simples e muito bonitas e onde se dá muita importÂncia à Bíblia e ao silêncio), grupos paroquiais que se reúnem para falar e para rezar...

Enfim... POr que não voltas a procurar os carmelitas?

Força! O mais importante já o sabes: Amai-vos uns aos outros.


beijos em Cristo

[deusemtudoesempre.blogspot.com]

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 08:27

Riparius,

Bem vindo ao Paroquias. Claro que aqui há sempre espaço para o diálogo e a troca de ideias. Por isso desde já permite-me que tente refutar alguns dos teus pontos.

Questionarmo-nos sobre o que acreditamos não é falta de fé mas amadurecimento e crescimento. A forma como encaramos a fé, a Igreja, a Bíblia tem que obrigatoriamente ser diferente de quando somos crianças, adolescentes e adultos.

No entanto que acredito que tudo faz parte de um processo de confiança e relação pessoal com Deus.

Os dogmas, a doutrina, tudo não passa de pontos de partida e pistas para descobrirmos Deus nas nossas vidas, nos que nos rodeiam e em todas as coisas.

Pode parecer naif ou ingênuo mas acreditar, ter fé é antes demais um acto de confiança e tem que ser um acto voluntário. Nem todos têm a sorte de terem revelações divinas.

Dizes que acreditas em Deus mas em qual?

Existe um padre jesuita frances, Francois Varillon que explica muito bem a questão dos dogmas e que encontra dentro deles uma hierarquia de importância.

Não te preocupes que tenhas dúvidas com o pecado original, a Imaculada Concepção de Maria e até o próprio culto mariano. Acredita, que estou sempre em luta com estas coisas e com a dinização que fazem de Maria.

Se me permites recomendo-te a leitura de três livrinhos, que de repente me dou conta, foram todos escritos por Jesuitas.

O primeiro chama-se o Principe e a Lavadeira. Parece um título de um livro de crianças mas é um livro excelente para quem procura.

Depois recomendava-te leres o Deus das Surpresas, de um Jesuita ingles chamado Gerard W. Hughes. Muito bom. É daqueles livros que não se lê mas vai-se lendo.

Depois se quiseres assim uma coisa mais para o técnico e para pôr ideias mais organizadas, recomendava-te ler a Alegria de Crer e de Viver do Padre Francois Varillon. Para quem gosta de ter um visão bem clara e esquematizada da fé, não conheço melhor.

E depois que apareças aqui muitas vezes, que leias (se tiveres tempo existem alguns tópicos antigos que são muito bons) e que participes com as tuas dúvidas, questões e pontos de vista.

Em comunhão

Em comunhão

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 09:26

Agradeço as respostas.

Talvez eu tenha uma atitude demasiado critica, e seja demasiado intransigente com as minhas convicções. Embora já não questione a minha fé julgo que sósinho não chego a Deus.
Entretanto outros dilemas começaram a surgir. Não sei como vou educar o meu filho em termos religiosos. Eu não tenho capacidade para o educar, também não quero que lhe ensinem coisas que vão manifestamente contra as minhas convicções. Se estivesse em Portugal confiava-o à minha mãe, pois ela conhece e compreende as minhas convicções, sem no entanto concordar. A minha mulher era uma católica praticante quando a conheci. Como muitos católicos praticantes nunca se tinha verdadeiramente questionado sobre a sua fé. Eu fiz-lhe ver alguns pontos de vista e agora estou arrependido. Pois neste momento ela desinteressou-se completamente das questões da fé. O meu filho tem 3 anos. Regularmente rezo com ele. Notei que ele associava a lua a algo de bom e protector. por isso todas as noites pedimos protecção à lua e lhe agradecemos o dia. Achei por bem não introduzir nesta idade conceitos abstractos, mas incutir-lhe a noção do divino. No natal aproveitei a imagem do menino para lhe começar a falar de jesus. Antes de se deitar ,quando me esqueço ele vem ter comigo ou com a mãe e pede para dizer "obigado".

No entanto sei que se não o incluir num grupo ele não vai ter as bases suficientes para ter uma consciência religiosa no futuro. Eu não quero criar um ateu.

Apreciei muito os conselhos de Tilleul mas não entendi a pergunta "Em Que Deus acreditas?" sempre me ensinaram que Deus é único. Não tenho a menor dúvida que o Deus em que acredito é o mesmo Deus em que acredita o meu motorista Abdul a quem chama de Alá, e que venera em cinco orações diarias. Eu acredito numa entidade superior infinitamente boa. Não sei nada da sua natureza, designios, vontade, forma, etc. S´´o tenho A tenho em mim como o superlativo absoluto do bem.

Por vezes dou por mim a pensar que por não acreditar no que me foi ensinado estou a ser arrogante porque contradigo opiniões de quem sabe mais que eu, outras acho que estou a ser humilde pois admito que não tenho capacidade para conhecer.

Vou tentar adquirir on-line os livros indicados ou procura-los aqui nas edições paulistas de Maputo.

Obrigado a todos

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 09:30

Riparius,

um amigo meu, não criado católico, dizia-me que tinha inveja de mim por ter "nascido e crescido" na Igreja Católica (o raciocínio seria aplicável também a outras igrejas). A razão, dizia ele, é que eu estava sempre com um pé dentro da Igreja. Podia discordar disto ou daquilo, mas nem por isso deixava de poder considerar-me católico, e definir assim também a minha identidade e a forma de me ver a mim mesmo.

Ele já não tinha essa vantagem, dizia-me. Sendo cristão mas não tendo feito o seu percurso dentro de uma igreja específica, sentia-se separado da Igreja Católica (e também de outras) por aspectos doutrinais com os quais discordava.

De certa forma é verdade. A maior parte dos católicos nem faz ideia de quais são os dogmas, e nem por isso deixam de ser católicos.

Uma vez, que andava a matutar em tudo isto, perguntei a vários amigos: "afinal, porque é que vocês são católicos, e não de outra qualquer denominação cristã?". Responderam-me "porque nascemos nesta Igreja, e é aqui que nos sentimos bem". Eu vejo as coisas um bocado assim. É bom estar inserido numa comunidade, mas isso não significa que se tenha de concordar com tudo. Nesse aspecto, acho que não há como ser prático. Mas claro, é o meu ponto de vista. Se não fosse, teria de ter a maçada de ir estudar a qual igreja. E penso que qualquer católico de boa fé teria de o fazer também...

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 09:43

Riparius,

A pergunta sobre Deus tem a ver com as caracteristicas que vês nEle?

Que imagem fazes dEle no teu íntimo, como interages com Ele, de que forma Ele influencia a tua vida?

O Deus único é-lo para as religiões monoteistas do médio-oriente, há quem tenhas muitos Deus, há quem veja a Deusa e por aí fora.

Em comunhão

Em comunhão

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 10:55

Acho que a minha fé está do ponto de vista racional fortemente alicerçada. Na prática a minha interacção com Deus é muito pequena. Posso dizer que tenho uma relação distante mas reconfortante. Sem interagir ou solicitar, sei que Ele está comigo. Não me dirijo a Deus com ferquência. Dou mais vezes por mim a conversar com a minha falecida avó, de quem tenho muitas saudades. Peço-lhe conselhos e desbafo em pensamento. Na cultura Bantu do sul de moçambique, é utilizada a mesma palavra para designar Deus e antepassados. Eu ponho-me a pensar se eles não tem razão. Se numa etapa posterior da existência nós não nos fundimos com Ele. Como não tenho, nem espero ter resposta a esta pergunta, resta-me a sensação de reconforto destas "conversas" com a minha avó, e a certeza de que Deus me está a ouvir. Sejam quais forem os mecanismos utilizados, sinto que estou a orar.
Sinto mais proximidade do que quando recitava terços ou ia a procissões. O que falta é essa comunhão com os outros. Mas na terra de onde venho as manifestações colectivas de fé eram segundo o meu ponto de vista encaradas pelos fieis como obrigações sociais ou rituais sem sentido. À missa ia-se porque sim, aos sábados á tarde para não atrapalhar o domingo, e quanto mais curtas mais concorridas. A minha outra avó deixou dinheiro para se lhe rezarem 30 missas. Lembro-me de uma grande discussão quando o padre começou a partilhar as intenções na mesma missa. Ninguém queria que o seu ente querido ficasse com uma fração da eucaristia. o pároco fazia-nos sentir miseráveis a cada homilia. Comecei a procurar Deus no meio de todo aquele folklore e não achei nem vestigios Dele. Cada vez que me imagino a entrar naquela igreja outra vez perco logo a vontade de me reaproximar. No entanto recordo com saudade as celebrações feitas em casa dos meus pais pelo padre que orienta as Equipas de Nossa Senhora.

Gostava de saber se há mais visitantes do forum que partilham de parte das minhas questões. Talvez se pudesse formar um grupo de ex-católicos à procura de Deus. Talvez nos pudessemos ajudar uns aos outros.

Obrigado por me aturarem

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 12:34

o individualismo implica solidão. Além disso rejeitar a Igreja, uma igreja, implica que Deus não se tenha revelado, o que implica um afastamento da humanidade, logo solidão.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 15:58

Caro Camilo:

Julgo que fui mal intrepertado. Quando falo de caminhada solitária refiro-me só ao ponto de vista da fé. Felizmente encontrei noutras actividades e noutras organizações o convivio e a entreajuda que qualquer ser necessita. Dedico-me ao voluntariado numa organização não religiosa. Faço parte de varios grupos, e socialmente não me sinto só. O problema é mesmo no campo da fé. Actualmente as pessoas ou não têm uma consciencia religiosa que lhes permita manifestarem-se sobre estes assuntos, ou então têm vergonha de o fazer. Acho que há um pudor de Deus. Depois há os ateus exibicionistas e os crentes dogmaticos, para não dizer fundamentalistas. Em ambos os extremos é impossivel ter uma conversa. Noto também que há pessoas que duvidam e se quetionam, mas que perferem não espressar as suas duvidas pois tentam fugir delas com medo que tais pensamentos as levem à perdição.
Acredito que o individualismo possa levar à solidão. Mas no resto das afirmações não encontro uma lógica clara. Pedia que se pudesse me explicasse melhor.

Obrigado
Riparius

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 23:36

Durante a historia da humanidade a quase totalidade dos homens acreditou que de uma forma ou doutra Deus além de criar o mundo também se interessou por ele. Na perspectiva cristã Deus interessou-se de tal modo que além de se ir revelando, de ir ensinando aos homens o caminho do bem, a sua vontade, Ele proprio se fez homem, habitou entre nós e sacrificou-se por nós para que possamos um dia participar da vida divina.

Subjacente à rejeição de uma igreja está uma cultura da liberdade mas também do individualismo. Há uma rejeição, ou pelo menos um colocar em duvida, toda e qualquer revelação que Deus tenha feito aos Homens. Há um querer começar tudo de novo, do principio. Esta perspectiva tem implicita a ideia de que Deus tendo criado o mundo não comunida com ele, se comunica não podemos sabe-lo ou então comunica apenas com quem bem entende. Logo a esta ideia está subjacente uma irredutivel solidão na religião, será portanto uma religião que tende a ter imensa dificuldade a ajudar a fazer a ponte entre os Homens e mesmo na relação com Deus tenderá a ser fragil, terá tendencia a ficar reduzida a uma metafisica.
Ah! E pode-se muito bem ser solitario no meio de muitas pessoas.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 12 de January de 2007 20:21

riparius


Nada disso, ficas no meio de nós! Tu não és ex.católico, tu és um católico desleixado que vai ir ao normal :))) Isso acontece a muitos, depois tornam-se verdadeiros católicos!!!

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 15 de January de 2007 02:17

Olá riparius,

Li agora os teus posts desse tópico e queria deixar alguns comentários. Não te ligues muito às críticas, tire algo de bom delas e não desista de te aproximar dos outros.

1- os autores que o Tilleul indicou são realmente muito bons, particularmente o Pe Varillon. Outro autor jesuita que indicaria é o Willian Barry, dele qualquer livro é bom, mas chamo sua atenção para dois: "Para encontrar Deus em todas as coisas" e "Deus e você: a oração como relacionamento pessoal". Outra autor que deve te ser interessante é Thomas Merton, beneditino.

2- há uma congregação que certamente sacudiria vc, pela sua história relatada aqui: tente se informar sobre Charles de Foucault e os Irmaozinhos de Jesus.

3- qualquer espiritualidade sadia, mesmo a experiência eremitica, acaba sempre por conduzir ao próximo, então não encarre como algum ruim a solidão pq necessariamente não o é. Aprenda a viver com isso e se o Espírito te move em direção ao próximo, abra-se a Ele.

Citação:
riparius
Talvez eu tenha uma atitude demasiado critica, e seja demasiado intransigente com as minhas convicções. Embora já não questione a minha fé julgo que sósinho não chego a Deus.

Não questiona mais a sua fé? Como pode ser? Não existe aposentadoria nesse campo, meu amigo. Quase todo mundo uma vez andou comendo pó, mas algo levanta a gente de novo. Uma regra da espiritualidade é que não existe modo de estar parado, quem não avança acaba por retroceder. Talvez esteja cansado, mas tente encontrar um modo de voltar a orar, se não consegue ânimo para orar, então tente orar pedindo esse ânimo, hehehe. Comece por enumerar coisas que gostaria de agradecer, ou vá meditar sobre um versículo, encontre algum modo, é só começar que a coisa segue :) Não ligue para as distrações, se elas vierem pergunte a Deus pq elas estão ali ou peça que Ele as afaste, mas não desista. Se tudo mais parecer falhar, comece a agradecer a Deus por elas e peça que lhe ensine através delas - elas vão sumir, pode acreditar. Levante-se! Sem culpa nem medo.

Citação:
Entretanto outros dilemas começaram a surgir. Não sei como vou educar o meu filho em termos religiosos. Eu não tenho capacidade para o educar, também não quero que lhe ensinem coisas que vão manifestamente contra as minhas convicções. (...) O meu filho tem 3 anos. Regularmente rezo com ele. Notei que ele associava a lua a algo de bom e protector. por isso todas as noites pedimos protecção à lua e lhe agradecemos o dia. Achei por bem não introduzir nesta idade conceitos abstractos, mas incutir-lhe a noção do divino.

Uma "noção do divino" não é algo abstrato? Quem sou eu para dizer como educar seu filho, mas um conselho que daria é não ensinar algo que depois que ele crescer descubra não ser lá muito certo. Adote uma linguagem mais simples se quiser, é boa coisa, mas não lhe transmita uma fé pobre. Poderia admirar a beleza da lua com ele, vê-la como presente, falar de um criador... mas... divinizar a lua? Bem, vc que sabe, só achei estranho.

Citação:
Apreciei muito os conselhos de Tilleul mas não entendi a pergunta "Em Que Deus acreditas?" sempre me ensinaram que Deus é único. Não tenho a menor dúvida que o Deus em que acredito é o mesmo Deus em que acredita o meu motorista Abdul a quem chama de Alá, e que venera em cinco orações diarias. Eu acredito numa entidade superior infinitamente boa. Não sei nada da sua natureza, designios, vontade, forma, etc.

A pergunta é mais profunda que isso, por exemplo: Deus perdoa? Deus ama? Deus é uma pessoa? Deus é produto da razão? Como é o Deus em que acreditas? É deus ou Deus? O único Deus é único, mas nem todos vão a Ele. Observe os sinais, por exemplo, amor, bondade, justiça...

Citação:
Por vezes dou por mim a pensar que por não acreditar no que me foi ensinado estou a ser arrogante porque contradigo opiniões de quem sabe mais que eu, outras acho que estou a ser humilde pois admito que não tenho capacidade para conhecer.

Faça as duas coisas, siga a sua consciência, e procure, procure, procure, procure formar melhor a sua consciência. Uma coisa boa, existe um pensamento do Confúcio que diz que tão importante qto saber a resposta para um pergunta é saber onde procurar pelas respostas. Se vc ainda cultiva a leitura da Biblia, ainda procura ensinar ao seu filho sobre Jesus e ainda procura fazer o bem, então ainda continua no bom combate. Outros tentam combater bem de outro modo, não precisa desrespeitá-los por isso, mas tb não precisa tentar carregar todo tipo de "arma" só pq existem "armas" diferentes.

Paz e Bem.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 15 de January de 2007 07:57

Riparius,

Estarás a fazer a travessia do deserto?

*=?.0

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Sister of Mercy (IP registado)
Data: 15 de January de 2007 21:46

Olá Riparius

Eu também tive um período na minha vida em que questionei o ser católica por ter nascido numa família mais ou menos católica, só que, ao contrário do que refere o Zé, não me deixei ficar aqui por comodismo: fui mesmo ler sobre todas as religiões que encontrei! Desde o Budismo ao Zoroastrismo! E cheguei a uma brilhante conclusão: a maioria das religiões não vale nada e algumas religiões são boazitas, com várias coisas boas e outras más. Mas nenhuma é excelente e muito melhor que as outras, nesse grupo francamente aceitável de religiões, onde incluo algumas outras versões do Cristianismo, mas também o Taoísmo, por exemplo, de que guardei muitas influências. Temos muito a aprender com as religiões, mesmo com as absurdas, mas não podemos esquecer que o que aprendemos é sempre muito mais sobre nós que sobre Deus, porque Esse, convenhamos, está um bocado acima das nossas possibilidades de entendimento. Ler sobre religião fez-me ver muitas coisas doutra maneira, mas acabei por voltar para a tradição católica porque acho que esta religião pertence realmente ao grupo das melhores e é a religião dos meus antepassados, a maneira tradicional de entender Deus. Se eu tivesse um filho, criava-o como católico, mas se ele me perguntasse "Deus existe?" respondia-lhe "não sei, filho, mas tenho a sensação que sim e que todo o Universo faz sentido por causa disso". Ao fim e ao cabo, a fé é só isso, mesmo.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 16 de January de 2007 17:02

Não há salvação senão em MIM
Ninguem chega ao Pai senão por Mim.

Será que isto é mesmo verdade?
Será que o meu motorista Abdul, muçulmano, um grande amigo e uma excelente pessoa, está condenado?

Eu não baptizei o meu filho. Para já sei que já não vai para o limbo, pois foi extinto por decreto Papal em 2006. Se continuar sem ser baptizado vai ser condenado?

O Deus em que eu acredito não comete estas atrocidades.

Também sei que no seio da igreja já há muitas pessoas a contestar este processo penal Divino e outros mandamentos eclesiasticos.

Acho que a Igreja se devia preocupar menos com normas e dogmas. Devia dar uma margem de liberdade para as pessoas acreditarem naquilo que lhes parece melhor sem se sentirem excluidas da igreja.

Devia concentrar-se no ecencial: Amar a Deus e ao próximo. Ajudar as pessoas a conseguir serem melhores sem preocupações Teologicas.

Eu não sei se a nossa existência terá continuidade depois da morte. Se haverá recompensa ou castigo. Não sei nem quero saber. Tento fazer o bem porque sim.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 16 de January de 2007 19:05

Olá riparius,

Citação:
Não há salvação senão em MIM
Ninguem chega ao Pai senão por Mim.

Será que isto é mesmo verdade?
Será que o meu motorista Abdul, muçulmano, um grande amigo e uma excelente pessoa, está condenado?

Até onde sei a igreja, enquanto tal, nunca afirmou que alguém está condenado; a rigor, nem de Judas podemos falar isso, pq ninguém sabe o que acontece no último segundo qdo a pessoa dá o seu último suspiro e entrega seu o espírito. E se nesse momento a pessoa se arrepende do mal que cometeu e reconhece o Senhor que buscava qdo praticava o bem? O caso dos que foram condenados a morte na cruz junto com Jesus é paradigmático.

E sobre o que escreveu acima, um católico pode continuar entendendo que Cristo salva, e há pelo menos mais de um modo de entender em que sentido Cristo salva o seu amigo mulçumano. Ora, se acreditamos que Cristo é Deus, e Deus é Amor, então é o amor que salvará Abdul, sendo o Adbul tb salvo por Cristo. Percebe? Não devemos fazer de Cristo um obstáculo para nos aproximar dos outros qdo na verdade ele é a ponte. Tb foi dito sobre ele: "Eu sou a porta, e aquele que passa através de mim encontrará a vida eterna", assim como tb "não os repreendeis, pq quem não está contra nós está a nosso favor". Sempre existe uma esperança salvadora para aqueles que praticam o bem, tb estao trabalhando para a construção do Reino, ainda que talvez não saibam dizer o nome do Senhor da vinha do mesmo modo que nós.

Cristo é um presente e é assim que devíamos levá-lo aos outros, não como um tipo de arma ou de condenação. Se a igreja anunciasse e desse testemunho do evangelho de um modo mais claro, se não fossemos tao cheios de inconsistencias e pecados, com certeza muitos que hj se afastam dela a abraçariam de bom grado.

Paz e Bem.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Sister of Mercy (IP registado)
Data: 20 de January de 2007 16:20

Concordo com o Firefox. Quando Jesus diz "através de mim" e olhando para tudo o resto que ele disse e fez, isso só pode ser compreendido como "através da minha filosofia de vida". Basta ver a parábola do filho que diz que obedece mas não obedece e do que faz o contrário. Para Jesus é evidente que é a maneira como as pessoas vivem, as escolhas que fazem, que determina se são boas ou más, não é o nome que dão às coisas nem pormenores como a posição em que rezam!

Mas não concordo contigo, Riparius, quando dizes que a Igreja devia dar mais liberdade às pessoas para pensarem o que quiserem. Tem que haver uma ética e uma cosmogonia comum, se assim não fosse, qual era o sentido de sermos uma Igreja? Era o mesmo que dizer que a rainha de Inglaterra pode ser republicana! É claro que pode, mas então tem que deixar de ser a rainha de Inglaterra, não achas? Se não te identificas com a Igreja, tens bom remédio: deixa-a. Se achas que tem aspectos bons e maus, luta contra os maus e pelos bons, faz alguma coisa! Apresenta propostas concretas a pessoas concretas, não te limites a lamentar o estado da Igreja num forum. Eu acho que há muita coisa que está mal, mas eu ando a tentar fazer um grupo que melhore um aspecto da situação. É coisa pouca, mas já é fazer alguma coisa. Se cada um se responsabilizar por um bocadinho, isto melhora.

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 22 de January de 2007 20:42

" Eu sou a videira e vocês os ramos ".
Um ramo quando cortado não dá frutos e seca .
A aliança do Cristo gera para nós a incrível possibilidade de diálogo com Ele , encontro na oração.Se eu não converso com Ele , não tenho intimidade com Ele , não O conheço.
Se me afasto do Mestre , vou por caminhos escuros e atalhos perigosos.
só o Cristo pode dizer EU SOU , sim , Ele é aquele que está lá sempre a sua espera .Lembre-se que és Batizado .
Ser Católico é unido ao Cristo caminhar no mundo fazendo-o melhor, denunciando a loucura humana que maltrata nossa companheira de destino, a Terra .Denunciando a cruel exclusão e dominação , é dar voz ao sem voz, é ser profeta...

Missa não pode comprada nem vendida ... nem a missa á só pra uma pessoa ...
Falta compreender o sentido do ritual.
Mas todo ritual , dogma,religiosidade popular, tudo fica sem sentido quando não encontro o Cristo, homem - Deus..quando o coração não bate mais forte por Ele, quando não há paixão.
Podes até dizer que não compreendes as estruturas humanas construidas teologicamente, mas a solidão que sentes ... é o afastamento do Cristo.
O corpo sem alimento definha, a alma sem o Cristo morre e nem percebe disto.
" Meu coração só repousa em Ti , Senhor".
Chame por Ele ,não por sua avó!Grite por Ele, insista, bata na porta ,não resista ao Espírito,se entregue ,se coloque a Sua disposição.Sem medo de ter dúvidas e sem medo de ter certezas, se o Mestre o aceitar como discípulo você compreenderá.
em comunhão

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de January de 2007 07:08

Caros amigos:

Sem «desmerecer» ninguém, este foi um dos melhores tópicos que li por estas bandas. Obrigado, riparius, pela tua transparência e um bem-haja a quantos entraram neste diálogo tão delicado e respeitador! Estes diálogos podem ser realmente muito enriquecedores.

Gostei das sugestões que foram dando. Apreciei particularmente a sugestão do firefox referente a Charles de Foucault. Às vezes a experiência de outros ilumina a nossa própria experiência. E quando se trata da busca de Deus (ou de deixar-se encontrar por Ele), então isto tem ainda maior significado.

O tema de crença/descrença interessa-me particularmente (qualquer dia vou propor uma conversa «séria» com a Lena!), porque me parece que o crente e o descrente comungam de muito mais do que possa parecer. Infelizmente, não raras vezes cada um vê o outro pela lente esfumada dos seus preconceitos. E tanto em comum! Não é por acaso que há uns anos foi escrita uma curiosa peça de teatro que põe em cena um denso diálogo entre F. Nietzsche e Santa Teresa do Menino Jesus. Desenganem-se os que estão habituados a pensar em Santa Teresa do Menino Jesus como a «santa de cera», uma espécie de versão pietista católica da «Barbie». Nada disso!

Evidentemente, e perdoe-se-me a caricatura, não falo do (des)crente «acomodado», mas daquele que sente na carne o desafio mais radical da sua vida: o «salto» da fé. [Sobre o que entendo por fé, veja-se um resumo e respectivos «links» aqui.]

As «razões» são importantes, mas não são tudo, melhor, são uma parte muito pequenina. No «olho do furacão está sempre a pessoa humana diante da (im)possibilidade de dar o «salto». Um não o dá por coerência com a sua consciência; outro dá-o inevitavelmente na oração.

Aqui tocamos sempre algo de muito misterioso, sagrado, diria eu. E neste campo são particularmente tocantes os relatos de conversões. Entre muitas e famosas, recordo sempre a de dois importantes intelectuais do século passado, um homem e uma mulher, a saber, García Morente e Edith Stein. Deixo a seguir uma cópia de A este propósito, vale sempre a pena recordar a história de grandes conversões. Estou a lembrar-me de García Morente e Edith Stein. Relatos que nos deixam «tocar» algo de muito profundo. Dos meus «papéis digitais», deixo uma cópia a seguir, em espanhol.

Alef

Re: A minha solitária caminhada
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de January de 2007 07:15

Relato da conversão de Manuel García Morente (extracto):

Citação:
"EL HECHO EXTRAORDINARIO".
Manuel García Morente.

29 Abril 1937


La conversión de Manuel García Morente, catedrático de Ética en la Universidad de Madrid, y en 1936, decano de la Facultad de Filosofía, se convirtió en el siglo XX, en uno de los acontecimientos más relevantes del mundo intelectual y religioso de nuestro país. Disponemos de un documento excepcional, por tratarse de la narración en primera persona del camino que recorrió hasta encontrarse con Dios. El mismo redactó en septiembre de 1940 un extenso relato de su conversión en la soledad de unos días de oración. El manuscrito -"sesenta densas cuartillas"- lo conserva una de sus hijas, María Josefa, que lo encontró entre sus papeles después de su muerte. El único interés que le movía a redactarlo era darlo a conocer a su director espiritual en el Seminario de Madrid, D. José María García de Lahiguera. La intención de Morente era abrir su alma a quien le conocía y le podía orientar, venciendo su vergüenza y pudor, para contar lo acontecido aquella noche del 29 al 30 de abril de 1937. Anteriormente a nadie había hablado de su conversión con tanto detalle, pero sobre todo, de lo que sucedió a continuación de su conversión, que él mismo califica de "hecho extraordinario". Le confía el deseo de conocer su opinión y su consejo "y no volver ni a aludir a esto ni siquiera ni aún con usted mismo". Ni García Morente, ni su director espiritual, mientras éste vivió, jamás enseñaron o hablaron de este documento, que no fue hecho público hasta después de su muerte. "Yo preferí el silencio", comentó el mismo García de Lahiguera . "Él lo aceptó humildemente, pues ni indirectamente curioseó en mi opinión. ¡Esto es sacrificio de la curiosidad y verdadera humildad! ¡Murió, pues, sin saber mi juicio sobre el hecho más grande de su vida!". El “hecho extraordinario” sucede en París, en donde está García Morente, exiliado, tras el asesinato político de un familiar. Este es un trozo del relato:


Estaban radiando música francesa: final de un sinfonía, de Cesar Frank; luego, al piano, la Pavanne pour une infante défunte, de Ravel: luego, en orquesta, un trozo de Berlioz intitulado L'enfance de Jesus... Cuando terminó, cerré la radio para no perturbar el estado de deliciosa paz en que esa música me había sumergido y por mi mente comenzaron a desfilar, sin que yo pudiera oponerles resistencia, imágenes de la niñez de Nuestro Señor Jesucristo. Vile en la imaginación caminando de la mano de la Santísima Virgen, o sentado en un banquillo y mirando con grandes ojos atónitos a San José y a María (...) Y así poco a poco se fue agrandando en mi alma la visión de Cristo hombre clavado en la cruz en una eminencia dominando un paisaje de inmensidad, una infinita llanura pululante de hombres, mujeres y niños sobre los cuales se extendían los brazos de Nuestro Señor crucificado. Y los brazos de Cristo crecían, crecían y parecían abrazar a toda aquella humanidad doliente y cubrirla con la inmensidad de su amor. Y la cruz subía, subía hasta el cielo y llenaba el ámbito todo y tras ella también subían muchos... Subían todos, ninguno se quedaba atrás, solo yo, clavado en el suelo veía desaparecer en lo alto a Cristo rodeado por el enjambre inacabable de los que subieron con él...

No me cabe la menor duda que esta especie de visión no fue sino producto de la fantasía excitada por la dulce y penetrante música de Berlioz, pero tuvo un efecto fulminante en mi alma: ese es Dios, ese es el verdadero Dios, Dios vivo, esa es la Providencia viva, me dije a mí mismo. Ese es el Dios que entiende a los hombres, que vive con los hombres, que sufre con ellos, que los consuela, que les da aliento y les trae la salvación. Si Dios no hubiera venido al mundo, si Dios no se hubiera hecho carne en el mundo, el hombre no tendría salvación, porque entre Dios y el hombre habría siempre una distancia infinita que jamás podría el hombre franquear... Pero la distancia entre mi pobre humanidad y el Dios teórico de la filosofía me había resultado infranqueable, demasiado lejos, demasiado ajeno, demasiado abstracto, demasiado geométrico e inhumano. Pero Cristo, pero Dios hecho hombre, Cristo sufriendo como yo, más que yo, muchísimo más que yo, a ese sí que lo entiendo y ese sí que me entiende. A ese sí que puedo entregarle filialmente mi voluntad entera tras de la vida. A ese sí que puedo pedirle, porque sé de cierto que sabe lo que es pedir y sé de cierto que da y dará siempre, puesto que se ha dado entero a nosotros los hombres. ¡ A rezar, a rezar! Y puesto de rodillas empecé a balbucir el Padrenuestro y ¡horror! Don José María, ¡se me había olvidado!

Permanecí de rodillas un gran rato ofreciéndome mentalmente a nuestro Señor Jesucristo con las palabras que se me ocurrían buenamente. Recordé mi niñez, recordé a mi madre a quien perdí cuando yo contaba nueve años de edad, me representé claramente su cara, el regazo en el que me recostaba estando de rodillas para rezar con ella. Lentamente, con paciencia fui recordando trozos del Padrenuestro, algunos se me ocurrieron en francés, pero al traducirlos restituí fielmente el texto español. Al cabo de una hora de esfuerzo logré restablecer íntegro el texto sagrado, y lo escribí en un libro de notas. También pude restablecer el Avemaría. Pero de aquí no pude pasar. El Credo se me resistió por completo, así como la Salve y el Señor mío Jesucristo. Tuve que contentarme con el Padrenuestro que leía en mi papel, no atreviéndome a fiar en un recuerdo tan difícilmente restaurado y el Avemaría que repetí innumerables veces hasta que las dos oraciones se me quedaron ya perfectamente grabadas en la memoria. Una inmensa paz se había adueñado de mi alma...

En el relojito de pared sonaron las doce de la noche. La noche estaba serena y muy clara. En mi alma reinaba una paz extraordinaria. Aquí hay un hueco en mis recuerdos tan minuciosos. Debí quedarme dormido. Mi memoria recoge el hilo de los sucesos en el momento en que me despertaba bajo la impresión de un sobresalto inexplicable. No puedo decir exactamente lo que sentía: miedo, angustia, aprensión, turbación, presentimiento de algo inmenso, formidable, inenarrable, que iba a suceder ya mismo, en ese mismo momento, sin tardar. Me puse de pie todo tembloroso y abrí de par en par la ventana. Una bocanada de aire fresco me azotó el rostro. Volví la cara hacia el interior de la habitación y me quedé petrificado. Allí estaba Él. Yo no lo veía, no lo oía, yo no lo tocaba, pero Él estaba allí.

En la habitación no había más luz que la de una lámpara eléctrica de esas diminutas, de una o dos bujías, en un rincón. Yo no veía nada, no oía nada, no tocaba nada, no tenía la menor sensación, pero Él estaba allí. Yo permanecía inmóvil, agarrotado por la emoción. Y le percibía. Percibía su presencia con la misma claridad con que percibo el papel en que estoy escribiendo, y las letras, negro sobre blanco, que estoy trazando, pero no tenía ninguna sensación ni en la vista ni en el oído, ni en el tacto, ni en el olfato, ni en el gusto. Sin embargo, le percibía allí presente con entera claridad, y no podía caberme la menor duda de que era Él, puesto que le percibía aunque sin sensación. ¿Cómo es esto posible? Yo no lo sé, pero sé que Él estaba allí presente y que yo, sin ver, ni oír, ni oler, ni gustar, ni tocar nada, le percibía con absoluta e indiscutible evidencia. Si se me demuestra que no era Él o que yo deliraba, podré no tener nada que contestar a la demostración, pero tan pronto como en memoria se actualice el recuerdo, surgirá en mí la convicción inquebrantable de que era Él, porque lo he percibido.

No sé cuánto tiempo permanecí inmóvil y como hipnotizado ante su presencia. Sí sé que no me atrevía a moverme y que hubiera deseado que todo aquello - Él allí - durara eternamente, porque su presencia me inundaba de tal y tan íntimo gozo, que nada es comparable al deleite sobrehumano que yo sentía. Era como una suspensión de todo lo que en el cuerpo pesa. ¿Cuándo terminó la estancia de Él allí? Tampoco lo sé. Terminó. En un instante desapareció. Una milésima de segundo antes, estaba Él allí, y yo le percibía, y me sentía inundado de ese gozo sobrehumano que he dicho. Una milésima de segundo después, ya Él no estaba allí. Ya no había nadie en la habitación, ya estaba yo pesadamente gravitando sobre el suelo y sentía mis miembros y m fuerza sosteniéndose por el esfuerzo natural de los músculos.

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