Sobre a atenção que se deve dar às visões e aparições
Escrito por:
firefox (IP registado)
Data: 13 de December de 2006 08:08
Estou transcrevendo para cá o texto abaixo, postado em outro tópico, por considerar que seja, talvez, de interesse para muitos.
A igreja católica normalmente não emite opinião sobre aparições pq considera isso assunto de devoção e fórum pessoal dos fiéis. Muitos católicos consideram que Deus lhes fala através de sinais, que podem ser sonhos, visões, impressões etc. Não se pode proibir isso, como não faz sentido proibir sonhos, mas a igreja está no papel de instruir e a instrução normalmente vai no sentido de os católicos não darem muita atenção a esse tipo de coisa, que uma fé amadurecida não precisa disso. São João da Cruz, doutor da igreja, é muito claro nesse aspecto:
Subida do Monte Carmelo
CAPÍTULO XI
Do impedimento e prejuízo que podem causar ao entendimento as apreensões apresentadas sobrenaturalmente aos sentidos corporais exteriores. Atitude da alma nesse caso.
1. (...) As pessoas espirituais podem e costumam ter representações de objetos sobrenaturalmente percebidos pelos sentidos: por exemplo, os olhos divisam formas e personagens do outro mundo, tal ou tal santo, bons ou maus anjos, luzes e esplendores extraordinários. O ouvido escuta palavras misteriosas, ora proferidas por essas aparições e outras vezes sem saber donde vêm. (...)
2. Ora, importa saber que, não obstante poderem ser obra de Deus os efeitos extraordinários que se produzem nos sentidos corporais, é necessário que as almas não os queiram admitir nem ter segurança neles; antes é preciso fugir inteiramente de tais coisas, sem querer examinar se são boas ou más. Porque quanto mais exteriores e corporais, menos certo é que são de Deus. Com efeito é mais próprio de Deus comuncar-se ao espírito, - e nisto há para a alma mais segurança e lucrio, - do que ao sentido, fonte de frequentes erros e numerosos perigos. (...) o sentido corporal é tão ignorante das coisas espirituais como um jumento é das coisas racionais, e mais ainda.
3. Quem estima esses efeitos extraordinários erra muito, e corre grande perigo de ser enganado, ou, ao menos, terá em si total impedimento para ir ao que é espiritual. Como já dissemos, os objetos corporais nenhuma proporção têm com os espirituais, por isso deve-se sempre pensar que, nos primeiros, mais se encontra a ação do mau espírito em lugar da ação divina. O demônio, possuindo mais domínio sobre as coisas corporais e exteriores, pode com maior facilidade nos enganar neste ponto, do que nas mais interiores e espirituais.
4. Quanto mais exteriores são esses objetos e formas corporais, menos proveito trazem ao interior e ao espírito, pela grande distância e desproporção que há entre o que é corporal e o que é espiritual. Embora comuniquem algum espírito, como acontece sempre que vêm de Deus, mesmo assim o proveito será menor do que se estas manifestações houvessem sido mais espirituais e interiores. São de natureza a produzir erro, presunção e vaidade; porque sendo tão paupáveis e materiais, movem muito os sentidos. A alma, levada por essas impressões sensíveis, dá-lhes grande importância, abandonando a luz da fé para seguir essa falsa luz que então parece a seus olhos o meio para elvá-la ao objetivo de suas aspirações, isto é, à união divina; entretanto, quanto mais se interessar por essas coisas, mais se afastará do caminho e se privará do meio por excelência que é a fé.
5. (...) É necessário, portanto, rejeitar sempre tais representações e sentimentos, porque ainda quando viessem de Deus a alma não o ofenderia agindo assim, nem deixaria de receber o efeito e os frutos que Deus tem em vista conceder-lhe.
6. Eis a razão: nas visões corporais e nas impressões sensíveis, ou mesmo nas comunicações mais interiores, quando são obra de Deus, o seu efeito se produz instantaneamente no espírito sem dar à alma tempo de deliberar para aceitá-las ou rejeitá-las. (...) as comunicações de Deus penetram intimamente o espírito e movem a vontade a amar, deixando seu efeito a alma, embora queira, não pode resistir mais do que o vidro ao raio de sal que o atravessa.
7. A alma, portanto, jamais há de atrever a querer admitir tais comunicações extraordinárias, mesmo mandadas por Deus. Porque daí resultam seus inconvenientes. Primeiro: a perfeição da fé, que a deve reger, vai diminuindo; pois tudo o que experimenta , sensivelmente, muito prejudica a fé, a qual ultrapassa todo o sentifo. E se a alma não fecha os olhos a essas coisas, afasta-se do meio que a leva à união divina. Segundo: as impressões sensíveis são impedimento para o espírito, quando não são recusadas: porque detendo-se nelas não pode viar o mesmo espírito ao que é invisível. Esta é uma das razões pelas quais declarou o Senhor a seus discípulos a necessidade de sua ausência para que descesse sobre eles o Espírito Santo. O mesmo motivo fez com que ele não deixasse Maria Madalena chegar-se a seus pés, depois de ressuscitado, para firmá-la, assim, na fé. Terceiro: a alma se prende com sentimento de propriedade a essas visões e não progride na desnudez do espírito e na verdadeira resignação.Quarto: o fruto interior dessas comunicações vai se perdendo, porque a alma conecntra a atenção no que elas têm de sensível, isto é, no menos importante. (...) Quinto: a alma vai perdendo as mercês divinas, porque as recebe com apego e não se aproveita bem delas. Recebê-las com apego e não se aproveitar é querer aceitá-las; e não é para issso que Deus as concede, pois o espiritual jamais se há de persuadir serem elas de origem divina. Sexto: querendo admitir esses favores de Deus, a alma abre porta ao demônio para enganá-la com outros semelhantes, pois, como disse o Apo'stolo, pode o inimigo transformar-se em anjo de luz (2Cor 11,14), e sabe muito bem dissimular e disfarçar as suas sugestões com aparências boas.
8. Convém, pois, a alma repelir de olhos fechados essas representações, venham de onde vierem. Se assim não fizesse, daria tanta entrada às do demônio, e a este tanta liberdade, que não somente teria visões diabólicas a par das divinas, mas aquelas iriam se multiplicando e estas cessando, de tal maneira que viria tudo a ser do demônio e nada de Deus. Assim tem acontecido a muitas pessoas incautas e ignorantes: julgam-se tão seguras nessas comunicações, que grandemente lhes custou a volta a Deus na pureza da fé. E muitas jamais puderam voltar, por terem as ilusões do demônio lançado nelas profundas raízes. Aí está porque é conveniente fechar a entrada de nossa alma a essas visões, negando-as todas. (...)
(...)
O capítulo segue, mas como exemplo o que veio aqui já deve ter sido suficiente. No que diz respeito a possibilidade de uma mensagem recebida expontaneamente por algum católico, pois é disso que o texto trata, a igreja não diz nem que é possivel, nem que é impossível. nem que é do demônio e nem que é de Deus. A regra de que se conhece a árvore pelos frutos ainda valeria; mas, as recomendações para que os católicos evitem dar atenção a essas coisas existem da parte de vários dos seus doutores. Embora ainda não como "ordem", mas como "conselho".
Paz e Bem.