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O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 22:20

Em 1993 o Papa João Paulo II publicou a Enciclica "Veritatis Esplendor" [www.vatican.va]. Sentindo o afastamento de alguns sectores da Igreja, do ensinamento do magisterio diz o Santo Padre:



4. Sempre, mas sobretudo ao longo dos dois últimos séculos, os Sumos Pontífices, quer pessoalmente quer em conjunto com o Colégio Episcopal, desenvolveram e propuseram um ensinamento moral relativo aos múltiplos e diferentes âmbitos da vida humana. Em nome e com a autoridade de Jesus Cristo, eles exortaram, denunciaram, explicaram; fiéis à sua missão, nas lutas a favor do homem, confirmaram, ampararam, consolaram; com a garantia da assistência do Espírito da verdade, contribuíram para uma melhor compreensão das exigências morais nos âmbitos da sexualidade humana, da família, da vida social, económica e política. O seu ensinamento constitui um contínuo aprofundamento do conhecimento moral, dentro da tradição da Igreja e da história da humanidade.

Hoje, porém, parece necessário reflectir sobre o conjunto do ensinamento moral da Igreja, com a finalidade concreta de evocar algumas verdades fundamentais da doutrina católica que, no actual contexto, correm o risco de serem deformadas ou negadas. De facto, formou-se uma nova situação dentro da própria comunidade cristã, que experimentou a difusão de múltiplas dúvidas e objecções de ordem humana e psicológica, social e cultural, religiosa e até mesmo teológica, a propósito dos ensinamentos morais da Igreja. Não se trata já de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do património moral, baseada sobre determinadas concepções antropológicas e éticas. Na sua raiz, está a influência, mais ou menos velada de correntes de pensamento que acabam por desarraigar a liberdade humana da sua relação essencial e constitutiva com a verdade. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja; pensa-se que o próprio Magistério possa intervir em matéria moral, somente para «exortar as consciências» e «propor os valores», nos quais depois cada um inspirará, de forma autónoma, as decisões e as escolhas da vida.
Em particular, deve-se ressaltar a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas, difundidas mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas, sobre questões da máxima importância para a Igreja e a vida de fé dos cristãos, bem como para a própria convivência humana. Em particular, pergunta-se: os mandamentos de Deus, que estão escritos no coração do homem e fazem parte da Aliança, têm verdadeiramente a capacidade de iluminar as opções quotidianas dos indivíduos e das sociedades inteiras? É possível obedecer a Deus e, portanto, amar a Deus e ao próximo, sem respeitar em todas as circunstâncias estes mandamentos? Generalizada se encontra também a opinião que põe em dúvida o nexo intrínseco e indivisível que une entre si a fé e a moral, como se a pertença à Igreja e a sua unidade interna se devessem decidir unicamente em relação à fé, ao passo que se poderia tolerar no âmbito moral um pluralismo de opiniões e de comportamentos, deixados ao juízo da consciência subjectiva individual ou à diversidade dos contextos sociais e culturais.



5. Neste contexto, ainda agora actual, amadureceu em mim a decisão de escrever — como já anunciei na Carta Apostólica Spiritus Domini, publicada no dia 1 de Agosto de 1987, por ocasião do segundo centenário da morte de S. Afonso Maria de Ligório — uma Encíclica destinada a tratar «mais ampla e profundamente das questões relativas aos próprios fundamentos da teologia moral» , fundamentos esses que são atacados por algumas tendências actuais.

Dirijo-me a vós, veneráveis Irmãos no Episcopado, que partilhais comigo a responsabilidade de guardar a «sã doutrina» (2 Tim 4, 3), com a intenção de precisar alguns aspectos doutrinais que se revelam decisivos para debelar aquela que constitui, sem dúvida, uma verdadeira crise, tão graves são as dificuldades que acarreta à vida moral dos fiéis e à comunhão da Igreja, bem como a uma convivência social justa e solidária.

Se esta Encíclica, há muito esperada, é publicada somente agora, é porque pareceu conveniente fazê-la preceder do Catecismo da Igreja Católica, que contém uma exposição completa e sistemática da doutrina moral cristã. O Catecismo apresenta a vida moral dos crentes, nos seus fundamentos e múltiplos conteúdos, como vida dos «filhos de Deus»: «Reconhecendo na fé a sua nova dignidade, os cristãos são chamados a levar desde agora, uma "vida digna do Evangelho de Cristo" (Fil 1, 27). Pelos sacramentos e pela oração, recebem a graça de Cristo e os dons do Seu Espírito, que disso os tornaram capazes». Portanto, ao remeter para o Catecismo «como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica», a Encíclica limitar-se-á a afrontar algumas questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja, sob a forma de um necessário discernimento sobre problemas controversos entre os estudiosos da ética e da teologia moral. Este é o objecto específico da actual Encíclica, que pretende expor, sobre os problemas em discussão, as razões de um ensinamento moral baseado na Sagrada Escritura e na viva Tradição apostólica, pondo em evidência, ao mesmo tempo, os pressupostos e as consequências das contestações que atingem um tal ensinamento.

Apesar de dificil leitura, ajuda a colocar as questões devidamente.



Editado 1 vezes. Última edição em 02/11/2006 22:30 por Paulo.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 22:24

"Portanto, ao remeter para o Catecismo «como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica», a Encíclica limitar-se-á a afrontar algumas questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja, sob a forma de um necessário discernimento sobre problemas controversos entre os estudiosos da ética e da teologia moral."

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 22:38

29. A reflexão moral da Igreja, sempre realizada à luz de Cristo, o «bom Mestre», desenvolveu-se também na forma específica de ciência teológica, chamada «teologia moral», uma ciência que acolhe e interroga a Revelação divina e, ao mesmo tempo, responde às exigências da razão humana. A teologia moral é uma reflexão que se refere à «moralidade», ou seja, ao bem e ao mal dos actos humanos e da pessoa que os realiza, e neste sentido está aberta a todos os homens; mas é também «teologia», enquanto reconhece o princípio e o fim do agir moral n'Aquele que «só é bom» e que, doando-Se ao homem em Cristo, lhe oferece a bem-aventurança da vida divina.

O Concílio Vaticano II convidou os estudiosos a porem «especial cuidado em aperfeiçoar a teologia moral, cuja exposição científica, mais alimentada pela Sagrada Escritura, deve revelar a grandeza da vocação dos fiéis em Cristo e a sua obrigação de dar frutos na caridade para a vida do mundo». O mesmo Concílio convidou os teólogos «a buscar constantemente, de acordo com os métodos e exigências próprias do conhecimento teológico, a forma mais adequada de comunicar a doutrina aos homens do seu tempo; porque uma coisa é o depósito da fé ou as suas verdades, outra, o modo como elas se enunciam, sempre, porém, com o mesmo sentido e significado». Daí o posterior convite, lançado a todos os fiéis, mas dirigido particularmente aos teólogos: «vivam, pois, os fiéis em estreita união com os demais homens do seu tempo, e procurem compreender perfeitamente o seu modo de pensar e sentir, qual se exprime pela cultura».

O esforço de muitos teólogos, incentivados pelo encorajamento do Concílio, já deu os seus frutos com interessantes e úteis reflexões sobre as verdades da fé a crer e a aplicar na vida, apresentadas de forma mais adequada à sensibilidade e às questões dos homens do nosso tempo. A Igreja e, em particular, os Bispos, a quem Jesus Cristo confiou primariamente o ministério de ensinar, acolham com gratidão um tal esforço e estimulem os teólogos a prosseguirem o trabalho, animados por um profundo e autêntico temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria (cf. Prov 1, 7).

Ao mesmo tempo, porém, no âmbito das discussões teológicas pós-conciliares, foram-se desenvolvendo algumas interpretações da moral cristã que não são compatíveis com a «sã doutrina» (2 Tim 4, 3). Certamente o Magistério da Igreja não pretende impor aos fiéis nenhum sistema teológico particular nem mesmo filosófico, mas para «guardar religiosamente e expor fielmente» a Palavra de Deus, ele tem o dever de declarar a incompatibilidade com a verdade revelada de certas orientações do pensamento teológico ou de algumas afirmações filosóficas.



Editado 1 vezes. Última edição em 02/11/2006 22:40 por Paulo.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 22:40

"o Magistério da Igreja não pretende impor aos fiéis nenhum sistema teológico particular nem mesmo filosófico, " quanto mais um método contraceptivo!!!

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 22:43

"mas para «guardar religiosamente e expor fielmente» a Palavra de Deus, ele tem o dever de declarar a incompatibilidade com a verdade revelada de certas orientações do pensamento teológico ou de algumas afirmações filosóficas."

Tem o direito e o dever de declara a incompatabilidade dos metodos com a verdade revelada.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 02 de November de 2006 23:49

Mas qual verdade revelada?

"
Citação:
guardar religiosamente e expor fielmente» a Palavra de Deus,"

Onde é que a Palavra de Deus expõe fielmente os métodos contraceptivos?
Em que parte do Evangelho?
Qual acitação bíblica que anuncia a suprema bondade dos método de Billings ou do m. sintotérmico?

E continuo á espera que respondas á minha pergunta:

[
Citação:
b]Qual diferença objectiva[/b], do ponto de vista moral, entre um acto sexual praticado na ausência da ovulação da mulher, com a finalidade exclusiva de desse acto não resultar nenhuma gravidez (métodos contraceptivos "naturais" ) e o mesmo acto sexual, praticado precisamente nas mesmas circunstãncias, na ausência da ovulação da mulher, pela utilização de um outro qualquer método contraceptivo ???

No dia em que alguém me consiga dar uma explicação coerente para esta resposta, sem nenhuma contradição absurda...



Editado 2 vezes. Última edição em 03/11/2006 00:00 por catolicapraticante.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 01:48

Paulo

A condenação da contracepção não se fundamenta na verdade revelada mas na lei natural (Humanae Vitae 11), como já tiha escrito no tópico Ética.

Mesmo a propósito: citaste acima uma passagem da Veritatis Splendor onde se lê:

Citação:
a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos

Poderias esclarecer o que é esta lei natural? Como se caracteriza? Como se pode saber se um dado preceito faz parte da lei natural? Dou-te quatro exemplos de preceitos morais que gostaria de saber se fazem ou não parte da lei natural e porquê:
1) Não matarás.
2) Não usarás a contraceptivos.
3) Não fumarás.
4) Não cobrarás juros quando emprestares dinheiro.

pontosvista

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 10:50

Há uma passagem biblica que condena a contracepção

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 11:20

Citação:
Há uma passagem biblica que condena a contracepção

Nomeadamente?

pontosvista

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 12:57

Sim, gostava de saber qual é.


É que, se há uma proibição bíblica da contracepção, ela só pode dizer respeito a .... "métodos naturais" ( que eram os únicos usados nos tempos bíblicos).


Ou seja, neste caso, a Biblia proibiria os métodos contraceptivos permitidos hoje pela Igreja.
Em suma - o ensino da Igreja contraria os preceitos bíblicos.

Mais uma contradição absurda.



Editado 1 vezes. Última edição em 03/11/2006 13:12 por catolicapraticante.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 23:28

Pontosvista:

Veritatis Splendor

44. A Igreja referiu-se frequentemente à doutrina tomista da lei natural, assumindo-a no próprio ensinamento moral. Assim, o meu venerado predecessor Leão XIII sublinhou a essencial subordinação da razão e da lei humana à Sabedoria de Deus e à Sua lei. Depois de dizer que «a lei natural está escrita e esculpida no coração de todos e de cada um dos homens, visto que esta não é mais do que a mesma razão humana enquanto nos ordena fazer o bem e intima a não pecar», Leão XIII remete para a «razão mais elevada» do divino Legislador: «Mas esta prescrição da razão humana não poderia ter força de lei, se não fosse a voz e a intérprete de uma razão mais alta, à qual o nosso espírito e a nossa liberdade devem estar submetidos». De facto, a força da lei reside na sua autoridade de impor deveres, conferir direitos e aplicar a sanção a certos comportamentos: «Ora, nada disso poderia existir no homem, se fosse ele mesmo a estipular, como legislador supremo, a norma das suas acções». E conclui: «Daí decorre que a lei natural é a mesma lei eterna, inscrita nos seres dotados de razão, que os inclina para o acto e o fim que lhes convém; ela é a própria razão eterna do Criador e governador do universo».

O homem pode reconhecer o bem e o mal, graças àquele discernimento entre o bem e o mal que ele mesmo realiza com a sua razão, em particular com a sua razão iluminada pela Revelação divina e pela fé, em virtude da lei que Deus outorgou ao povo eleito, a começar pelos mandamentos do Sinai. Israel foi chamado a acolher e viver a lei de Deus como particular dom e sinal da eleição e da Aliança divina, e, ao mesmo tempo, como garantia da bênção de Deus. Assim, Moisés podia dirigir-se aos filhos de Israel, perguntando-lhes: «Que povo há tão grande que tenha deuses como o Senhor, nosso Deus, sempre pronto a atender-nos quando O invocamos? Qual é o grande povo, que possua mandamentos e preceitos tão justos como esta Lei que hoje vos apresento? (Dt 4, 7-8). Nos Salmos, encontramos os sentimentos de louvor, gratidão e veneração que o povo eleito é chamado a nutrir pela lei de Deus, a par da exortação a conhecê-la, meditá-la e levá-la à vida: «Feliz do homem que não segue o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem toma assento na reunião dos enganadores; antes, põe o seu enlevo na lei do Senhor e sobre ela medita, dia e noite» (Sal 1, 1-2); «A lei do Senhor é perfeita, reconforta o espírito; os Seus testemunhos são fiéis, tornam sábio o homem simples. Os Seus mandamentos são rectos, deleitam o coração; os Seus preceitos são puros, iluminam os olhos» (Sal 18 19, 8-9).

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 23:42

Paulo

Ficámos a saber o mesmo. Dos quatro preceitos que apresentei, quais pertencem à lei natural? E porquê?

Dito de outro modo:

Citação:
a lei natural está escrita e esculpida no coração de todos e de cada um dos homens, visto que esta não é mais do que a mesma razão humana enquanto nos ordena fazer o bem e intima a não pecar

Então a lei natural é diferente para cada cultura? Se há comportamentos que numa cultura são aprovados e noutra não, em que fica a lei natural? Desempatamos pela maioria?

pontosvista

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 23:47

Veritatis Splendor 53

53. A grande sensibilidade, que o homem contemporâneo testemunha pela historicidade e pela cultura, leva alguns a duvidar da imutabilidade da mesma lei natural, e consequentemente, da existência de «normas objectivas de moralidade» , válidas para todos os homens do presente e do futuro, como o foram já para os do passado: será possível afirmar como válidas universalmente para todos e sempre permanentes certas determinações racionais estabelecidas no passado, quando se ignorava o progresso que a humanidade haveria de fazer posteriormente?

Não se pode negar que o homem sempre existe dentro de uma cultura particular, mas também não se pode negar que o homem não se esgota nesta mesma cultura. De resto, o próprio progresso das culturas demonstra que, no homem, existe algo que transcende as culturas. Este «algo» é precisamente a natureza do homem: esta natureza é exactamente a medida da cultura, e constitui a condição para que o homem não seja prisioneiro de nenhuma das suas culturas, mas afirme a sua dignidade pessoal pelo viver conforme à verdade profunda do seu ser. Pôr em discussão os elementos estruturais permanentes do homem, conexos também com a própria dimensão corpórea, não só estaria em conflito com a experiência comum, mas tornaria incompreensível a referência que Jesus fez ao «princípio», precisamente onde o contexto social e cultural da época tinha deformado o sentido original e o papel de algumas normas morais (cf. Mt 19, 1-9). Neste sentido, a Igreja afirma que «subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre». É Ele o «Princípio» que, tendo assumido a natureza humana, a ilumina definitivamente nos seus elementos constitutivos e no seu dinamismo de caridade para com Deus e o próximo.

Ocorre, sem dúvida, procurar e encontrar, para as normas morais universais e permanentes, a formulação mais adequada aos diversos contextos culturais, mais capaz de lhes exprimir incessantemente a actualidade histórica, de fazer compreender e interpretar autenticamente a sua verdade. Esta verdade da lei moral — como a do «depósito da fé» — explicita-se ao longo dos séculos: as normas que a exprimem, permanecem válidas em sua substância, mas devem ser precisadas e determinadas «eodem sensu eademque sententia » conforme as circunstâncias históricas do Magistério da Igreja, cuja decisão é precedida e acompanhada pelo esforço de leitura e de formulação próprio da razão dos crentes e da reflexão teológica.



Editado 1 vezes. Última edição em 03/11/2006 23:50 por Paulo.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 23:52

Depois de leres a Enciclica encontrarás respostas para essas perguntas.
Aconselho-a como companhia até ao Natal.
Abraço.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 03 de November de 2006 23:58

Citação:
Veritatis Splendor
cuja decisão é precedida e acompanhada pelo esforço de leitura e de formulação próprio da razão dos crentes e da reflexão teológica

No caso da contracepção a razão dos crentes e a reflexão teológica apontavam e apontam no sentido da sua admissibilidade.

No caso dos juros houve uma mudança radical na Igreja ao longo dos séculos.

Será razoável falar de algo que é comum à natureza humana mas que só a hierarquia católica é capaz de detectar (condenação da contracepção, por exemplo) ?

No fundo a "lei natural" não tem nada a ver nem com a natureza nem com o que da natureza do homem se manifesta em todas as culturas. Serve apenas para que a hierarquia católica possa impor normas morais que não consegue justificar com a revelação cristã.

pontosvista

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 04 de November de 2006 00:03

Mais uma vez a resposta:

46. O suposto conflito entre liberdade e lei afirma-se hoje com especial intensidade no caso da lei natural, e particularmente no que se refere à natureza. Na verdade, os debates sobre natureza e liberdade acompanharam sempre a história da reflexão moral, subindo de tom no Renascimento e na Reforma, como se pode deduzir dos ensinamentos do Concílio de Trento. A época contemporânea está caracterizada por uma tensão análoga, mesmo se num sentido diferente: o gosto pela observação empírica, os processos de objectivação científica, o progresso técnico, algumas formas de liberalismo levaram a contrapor os dois termos, como se a dialéctica — senão mesmo o conflito — entre liberdade e natureza fosse uma característica estrutural da história humana. Noutras épocas, parecia que a «natureza» submetesse totalmente o homem aos seus dinamismos e até aos seus determinismos. Ainda hoje, as coordenadas espaço-temporais do mundo sensível, as constantes físico-químicas, os dinamismos corpóreos, os impulsos psíquicos, os condicionamentos sociais parecem ser, para muitos, os únicos factores realmente decisivos das realidades humanas. Neste contexto, também os factos morais, não obstante a sua especificidade, são com frequência tratados como se fossem dados estatisticamente comprováveis, como comportamentos observáveis ou explicáveis somente com as categorias dos mecanismos psicossociais. E assim alguns estudiosos de ética, obrigados por profissão a examinar os factos e os gestos do homem, podem ser tentados a medir a própria ciência, senão as suas prescrições, baseando-se numa relação estatística dos comportamentos humanos concretos e das opiniões morais da maioria.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 04 de November de 2006 00:06

A Igreja sempre ensinou que nunca se devem escolher comportamentos proibidos pelos mandamentos morais, expressos de forma negativa no Antigo e no Novo Testamento. Como vimos, Jesus mesmo reitera a irrevogabilidade destas proibições: «Se queres entrar na vida, cumpre os mandamentos (...): não matarás; não cometerás adultério; não roubarás, não levantarás falso testemunho» (Mt 19, 17-18).



53. A grande sensibilidade, que o homem contemporâneo testemunha pela historicidade e pela cultura, leva alguns a duvidar da imutabilidade da mesma lei natural, e consequentemente, da existência de «normas objectivas de moralidade» , válidas para todos os homens do presente e do futuro, como o foram já para os do passado: será possível afirmar como válidas universalmente para todos e sempre permanentes certas determinações racionais estabelecidas no passado, quando se ignorava o progresso que a humanidade haveria de fazer posteriormente?

Não se pode negar que o homem sempre existe dentro de uma cultura particular, mas também não se pode negar que o homem não se esgota nesta mesma cultura. De resto, o próprio progresso das culturas demonstra que, no homem, existe algo que transcende as culturas. Este «algo» é precisamente a natureza do homem: esta natureza é exactamente a medida da cultura, e constitui a condição para que o homem não seja prisioneiro de nenhuma das suas culturas, mas afirme a sua dignidade pessoal pelo viver conforme à verdade profunda do seu ser. Pôr em discussão os elementos estruturais permanentes do homem, conexos também com a própria dimensão corpórea, não só estaria em conflito com a experiência comum, mas tornaria incompreensível a referência que Jesus fez ao «princípio», precisamente onde o contexto social e cultural da época tinha deformado o sentido original e o papel de algumas normas morais (cf. Mt 19, 1-9). Neste sentido, a Igreja afirma que «subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre». É Ele o «Princípio» que, tendo assumido a natureza humana, a ilumina definitivamente nos seus elementos constitutivos e no seu dinamismo de caridade para com Deus e o próximo.

Ocorre, sem dúvida, procurar e encontrar, para as normas morais universais e permanentes, a formulação mais adequada aos diversos contextos culturais, mais capaz de lhes exprimir incessantemente a actualidade histórica, de fazer compreender e interpretar autenticamente a sua verdade. Esta verdade da lei moral — como a do «depósito da fé» — explicita-se ao longo dos séculos: as normas que a exprimem, permanecem válidas em sua substância, mas devem ser precisadas e determinadas «eodem sensu eademque sententia » conforme as circunstâncias históricas do Magistério da Igreja, cuja decisão é precedida e acompanhada pelo esforço de leitura e de formulação próprio da razão dos crentes e da reflexão teológica.

Convem mesmo ler o texto.... a serio.
Depois conversamos. Senão tenho de copiar a enciclica toda para aqui. Ela tem as respostas que procura.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 04 de November de 2006 01:37

Paulo

O ponto 46 da VS está completamente ao lado. Não estamos aqui a discutir a questão da liberdade humana.

Quanto ao resto, sei encontrar a encíclica no site do Vaticano. Obrigado, mas não preciso que o Paulo me indique a sua existência nem preciso da sua repetição. Em contrapartida, esperava que o Paulo me mostrasse como é que se aplica tudo o que a encíclica diz às quatro normas que indiquei. Não se esqueça ainda do que escrevi acima e que ficou sem resposta:
Citação:
Citação:
Veritatis Splendor
cuja decisão é precedida e acompanhada pelo esforço de leitura e de formulação próprio da razão dos crentes e da reflexão teológica


No caso da contracepção a razão dos crentes e a reflexão teológica apontavam e apontam no sentido da sua admissibilidade.

No caso dos juros houve uma mudança radical na Igreja ao longo dos séculos.

Será razoável falar de algo que é comum à natureza humana mas que só a hierarquia católica é capaz de detectar (condenação da contracepção, por exemplo) ?

pontosvista

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 04 de November de 2006 07:54

Paulo ( joão Luís)

1 - Verifico que não respondeste ás minhas perguntas.
Por impossibilidade?

2- Tem-se aqui falado á saciedade de "lei natural" para justificar um determinado tipo de método contraceptivo.
O que, mais uma vez, raia o absurdo.

Todas as fêmeas de todas as espécies sexuadas têm coito no periodo da ovulação. Na maior parte das espécies é só neste periodo que existe coito. Isto corresponde a uma lei natural - a necessidade de coito durante periodo fértil da fêmea para haver reprodução.


Ora, haverá algo mais antinatura do que um comportamento em que só há sexo fora do periodo fértil da fêmea??


Como se pode argumentar que se está a seguir uma lei natural quando se está efectivamente a violar uma "lei natural"???


3 - Mais complexo ainda - haverá algo de "natural" no comportamento humano?
Ou tudo, mas mesm0 tudo ( até o conceito de natural", é antes de mais uma construção cultural.



Editado 1 vezes. Última edição em 04/11/2006 08:18 por catolicapraticante.

Re: O Ensino do Magistério sobre questões de Ética.
Escrito por: Paulo (IP registado)
Data: 04 de November de 2006 13:03

Gostava pontosvista que me referisses onde é que a contracepção, nomeadamente a que usa metodos quimicos é comum à natureza humana. Onde é que a reflexão teologica foi nesse sentido?
Não respondi à tua pergunta, porque me pareceu que ja tinhas as respostas, e não ha necessidades de armar ciladas.

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