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Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 08 de September de 2006 16:51

Inacreditavelmente ( ou não para quem está atento a o fluir de certas manifestações), começa a afirmar-se em alguns sectores da igreja um recuo face á superação do eterno conflito entre ciência e religião.

Uma franca investida contra o conheciemento científico e a afirmação do paradigma religioso com explicação da realidade parecer-nos-ia absurda há apenas umas décadas atrás, mas eis que vai fazendo o seu percurso...

Paradigmática é a falsa discussão entre Evolução e Criacionismo, emergindo o Criacionismo, com uma argumentação pseudocientífica, a que vejo aderir, com laivos de fundamentalismoreligiosos , alguns opinion makers que dizem representar o catolicismo.

O facto do papa himself achar que este é um tema que merece debate á porta fechada , quando existe um século de descobertas científicas que confirmam a teoria da evolução e quanado as mais recentes descobertas da genética afirmam indubitávelmente que o ser humano resulta de um processo evolutivo,
levanta-me as miores perplexidades.

Um tempo de sombras, este?

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 08 de September de 2006 17:06

"Evolução ou criação
Vasco Pulido Valente no Público

Em Castel Gandolfo, o Papa Bento XVI reuniu na semana passada um grupo de teólogos para discutir o criacionismo. Existem, em grosso, dois tipos de criacionismo e dois tipos de criacionistas.
Para simplificar, o primeiro tipo de criacionismo sustenta a verdade literal da Bíblia sobre a criação do homem.
O segundo tipo, um pouco menos primitivo, embora à superfície aceite Darwin, vê um "desígnio inteligente" na evolução: em geral, mas não em exclusivo, sob forma de uma espécie de "ascensão" do "simples" para o "complexo".

Parece, em princípio extraordinário, que o Papa resolva reabrir uma polémica com mais de um século e meio, sabendo ainda por cima que terá contra ele toda a comunidade científica. Infelizmente, o académico e sofisticado Ratzinger não concorda.

Porquê? Para começar, por causa da América. Só um americano em três (de facto, 20 e tal por cento) acredita na teoria da evolução (à volta de 60 por cento em Portugal).

A direita religiosa, decisiva no Partido Republicano, quer meter o criacionismo no currículo escolar. E o próprio Bush, com a sua habitual sagacidade, já disse que os dois lados deviam ser igualmente ensinados.

Na Europa, a loucura não chegou tão longe. Por enquanto. De qualquer maneira, esta pressão popular (em crescimento) põe um problema ao cristianismo e à Igreja Católica em particular. Um problema curioso: por um lado os crentes pedem cada vez mais liberdade; por outro voltam ao fundamento da fé. Se pensarmos bem, uma tendência muito natural e lógica.
O indivíduo isolado precisa de uma certeza absoluta e simples.

Darwin e o evolucionismo demonstram que a evolução da vida no planeta foi um processo material e mecânico. Pior: demonstram que foi um processo aleatório.

Isto dispensa, como se compreenderá, a intervenção divina e, mais gravemente, retira qualquer sentido à história humana, excepto o que a humanidade, ou parte dela, por um tempo, lhe conseguir dar.

Uma ideia insuportável num mundo instável, policêntrico e multicultural: e mesmo num mundo estável, fechado e monocultural.
A ressurreição do criacionismo vem daqui, como de resto o "desígnio inteligente", que nenhuma evidência empírica valida e é, muito transparentemente, um nome de Deus.

Que fará o Papa? Não se pronunciar equivale, no fundo, a reconhecer o evolucionismo.

Negar o evolucionismo (ou preferir a "via média" do "desígnio inteligente") arrasta a Igreja para uma posição insustentável. Vale a pena ir seguindo o caso."

( Sublinhados meus)

Re: Obscurantismo
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 08 de September de 2006 22:18

Date: 2006-08-25

Cardinal Schönborn Proposes Evolution Debate

Calls for More Science, Less Ideology

RIMINI, Italy, AUG. 25, 2006 (Zenit.org).- Cardinal Christoph Schönborn is proposing an ideology-free debate on the theory of evolution, and wants to clarify the Church's position on the topic.

The archbishop of Vienna presented his proposal Thursday to a packed auditorium at the Meeting of Friendship Among Peoples, organized by the Communion and Liberation Movement in Rimini, Italy.

At a press conference Wednesday, the cardinal, explained that the Church does not hold the position of "creationist" theories on the origin of life and man, which draw scientific consequences from biblical texts.

In fact, he added, there is "no conflict between science and religion," but, rather, a debate "between a materialist interpretation of the results of science and a metaphysical philosophical interpretation."

Cardinal Schönborn, who sparked a worldwide debate in 2005 with an article in the New York Times on the subject, called for clarification of the difference between the "theory of evolution" and "evolutionism," the latter understood as an ideology, based on scientific theory.

By way of example, the cardinal mentioned Karl Marx and Friedrich Engels, who saw in the publication of Charles Darwin's "The Origin of Species," "the scientific foundation for their Marxist materialist theory. This is evolutionism, not theory of evolution."

The archbishop of Vienna warned against the application of this evolutionist ideology in fields such as economic neo-liberalism, or bioethical issues, where there is the risk of creating new eugenic theories.

More than a theory

Journalists asked the cardinal what Pope John Paul II meant in his address to the Pontifical Academy of Sciences, in Oct. 1996, when he spoke of evolution as "something more than a theory."

Cardinal Schönborn explained that the phrase meant that "the theory, as scientific theory, has been expanded with new scientific data, but of course that phrase cannot be interpreted as an 'Amen' of the Catholic Church to ideological evolutionism."

The archbishop of Vienna noted a document published by the International Theological Commission in 2004, with the approval of Cardinal Joseph Ratzinger, entitled "Communion and Service: The Human Person Created in the Image of God."

He said the paper clarifies the distinction between ideology and science, and "gives an answer to those who wished to interpret John Paul II's phrase in an ideological sense."

"What I desire intensely is that, also in school programs, questions be explained, at the scientific level, opened by the theory of evolution, such as the famous question of the missing rings," Cardinal Schönborn said.

The cardinal said that 150 years after Darwin's theory, "there is no evidence in the geological strata of intermediate species that should exist, according to Darwin's theory."

He continued: "He himself said in his book that this is a hole in his theory and asked that they be found.

"This should be discussed in a serene manner. If a theory is scientific and not ideological, then it can be discussed freely."

Re: Obscurantismo
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 08 de September de 2006 23:01

Aqui fica o artigo (em inglês) que despoletou o debate actual.
Deixo também as ligações para as catequeses do Cardeal Schonborn (apenas seis actualmente traduzidas para o inglês), dadas na catedral de Santo Estevão em Viena, sobre esta temática:

Primeira Catequese
Segunda Catequese
Terceira Catequese
Quarta Catequese
Quinta Catequese
Sexta Catequese



Editado 3 vezes. Última edição em 08/09/2006 23:08 por Aristarco.

Re: Obscurantismo
Escrito por: Ovelha Tresmalhada (IP registado)
Data: 08 de September de 2006 23:46

Pessoalmente, não creio que haja motivo para grandes preocupações.

Ratzinger, o grande teólogo e agora Papa, é inteligente, lúcido e sensato demais para dar azo a que se recuperem teorias estúpidas negadoras dos conhecimentos científicos alcançados nos últimos séculos, e a que se reavive o conflito estéril e definitivamente ultrapassado entre Ciência e Religião.

Se ele decidiu reunir com os seus antigos alunos, em privado, para fazer uma espécie de ponto de situação sobre o debate que se trava, em especial nos EUA, entre evolucionistas e criacionistas (o qual, segundo os ecos que nos vão chegando, parece estar a atingir o nível da pura irracionalidade, sobrepondo-se as convicções ideológicas emotivas à serena objectividade dos factos), é porque entendeu que daí podem resultar valiosos frutos que contribuam para serenar os ânimos e esclarecer e orientar as mentes eventualmente perturbadas ou mal informadas.

Basta, aliás, ler o tom desta notícia da Agência Ecclesia e o extracto transcrito pelo Aristarco no post acima para concluir que não há nenhuma razão para alarme.

O que é interessante é registar a hiper-excitação que a notícia provocou em certos quadrantes os quais, tomando os seus desejos por realidades, proclamam já que o Vaticano se apresta a negar a teoria da evolução. Não tarda muito, as TV e os jornais de referência, com a objectividade que os caracteriza sempre que falam de coisas realcionadas com a Igreja, dão como certo que Bento XVI condena as teorias de Darwin e que propõe a interpretação literal do Génesis...

O mesmo tom, aliás, desse exímio escriba com esplêndido domínio do verbo, ácido comentador, por vezes arguto e lúcido observador, mas inconsequentemente corrosivo, impenitente pessimista e convicto ateu com uma costela anticatólica, que é VPV.

Cito, da sua crónica transcrita pela CP, esta passagem, que é bem o exemplo da confusão entre factos cientificamente demonstrados e conclusões puramente filosóficas ou ideológicas que deles se extraem:

Citação:
Darwin e o evolucionismo demonstram que a evolução da vida no planeta foi um processo material e mecânico. Pior: demonstram que foi um processo aleatório. Isto dispensa, como se compreenderá, a intervenção divina e, mais gravemente, retira qualquer sentido à história humana, excepto o que a humanidade, ou parte dela, por um tempo, lhe conseguir dar.


Não podia haver melhor exemplo do que é uma atitude verdadeiramente simplista, obscurantista e nada científica, precisamente aquilo que, infundadamente, se imputa a Bento XVI e, com toda a razão, aos criacionistas radicais. É que uma coisa é a teoria científica da evolução, experimentalmente comprovada por Darwin e outros - aí estamos no domínio dos factos; outra coisa é pretender que ela implica a inexistência de um Deus Criador e a total ausência de sentido para o mundo e para a vida - e aqui já estamos no domínio das afirmações de base ideológica, que exorbitam do que consensualmente se entende por ciência.


Darwin, tanto quanto se sabe, ao render-se à evidência das suas descobertas, não rejeitou nunca a posibilidade de um Deus Criador, gerador e impulsionador de todos os processos evolutivos. Não sejam, portanto, os evolucionistas mais papistas que o papa...

Mas, enfim, aguardemos com curiosidade que fumo sairá desse mini-conclave de tanta sumidade teológica!

Re: Obscurantismo
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 00:12

Ovelha Tresmalhada

De acordo.

pontosvista

Re: Obscurantismo
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 01:34

Caros amigos:

A teoria da evolução (darwinista/neodarwinista) nunca foi experimentalmente demonstrada nem é um facto demonstrado. Como se poderia demonstrar experimentalmente algo que ocorreu ao longo de milhares de anos? A teoria da Evolução é isso mesmo, uma teoria, ou seja, um modelo estruturado que explica um aspecto importante da realidade física. Depois é perfeitamente possível questionar a teoria da evolução no plano estritamente ciêntifico começando pela noção de que um ser vivo pode surgir espontaneamente de matéria inerte.

A sua aceitação e popularidade deve-se não a que a evidência a favor seja arrebatadora e a evidência contra insubstancial, mas ao facto de permitir fundamentar uma filosofia materialista e concepção naturalista do homem.
Não é por acaso que Marx se entusiasmou tanto com ela que quis dedicar a Darwin a segunda parte de Das Kapital (Darwin recusou a distinção).

Quanto ao texto apresentado de Vasco Pulido Valente além de anedótico é um autêntico absurdo. É obvio que o articulista pontifica sobre algo que manifestamente desconhece. Então não é que o nosso articulista esta convencido que a Igreja Católica defende o evolucionismo naturalista e exige que ela não o negue?!! É certo que a Igreja Católica já cometeu vários erros ao longo da sua história milenar mas este honra lhe seja feita ainda não cometeu. Se a Igreja Católica reconhecesse a veracidade da teoria da evolução neodarwinista isso implicaria negar Deus como criador de todas as coisas , pois a mesma teoria como o articulista reconhece afirma (não demonstra) que a origem e evolução da vida no planeta foi um processo material, mecânico e aleatório sem qualquer intervenção divina.

A Igreja católica tem adoptado uma variante da teoria da evolução a que se dá o nome de evolução teísta. Afirma que Deus iniciou a vida na terra e permitiu que os princípios evolutivos levassem o homem até ao estado actual, talvez com um pouco de ajuda divina aqui e ali. É uma espécie de "via média" a que o nosso articulista faz referência e que segundo ele "arrasta a Igreja para uma posição insustentável"

Epafras

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 02:13

"Quanto ao texto apresentado ...além de anedótico é um autêntico absurdo. É obvio que o articulista pontifica sobre algo que manifestamente desconhece"

Sinceramente, esta é uma frase que eu escreveria sem hesitação a propósito dos pseudo argumentos a- científicos que pretendem negar a teoria da Evolução.

Teoria esta que tem sido continuamente confirmada durante um século e meio por evidências científicas nas mais diversas áreas do conhecimento - biologia, física, paleontologia, arqueologia e, sobretudo na última década, a genética, sobretudo nas peqsuisas sobre o genoma das várias espécies e a evolução genética da espécie humana.

Por outro lado é para mim completamente incompreensível ( um absurdo total) a afirmação de que:

" Se a Igreja Católica reconhecesse a veracidade da teoria da evolução neodarwinista isso implicaria negar Deus como criador de todas as coisas"

Mas a teoria darwinista baseia-se numa abordagem naturalista , num processo aleatório mas de acordo com leis naturais...

Ora os Criacionsitas revelam uma fraca Fé se não acreditam que Deus pode ter usado mecanismos tão elaborados, complexos e aleatórios como os preconizados pela teoria da Evolução para dotar de capacidade reflexiva algumas das suas criaturas... graças a uma estrutura cerebral chamada neocortex cujo apareciemnto resultou de uns milhões de anos de evolução...

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 02:20

Permitam-me que realce uma frase do OT:

que uma coisa é a teoria científica da evolução, experimentalmente comprovada por Darwin e outros - aí estamos no domínio dos factos;

outra coisa é pretender que ela implica a inexistência de um Deus Criador e a total ausência de sentido para o mundo e para a vida - e aqui já estamos no domínio das afirmações de base ideológica, que exorbitam do que consensualmente se entende por ciência."

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 02:28

E o que eu questiobo não é sequer a possibilidade da Igreja colocar em causa uma sólida teoria científica ( o que de facto, como afirma VPV arrastaria a Igreja para uma posição insustentável), o que coloco em causa é o porqu~E do Vaticano achar sequer interesse em discutir este tema ( sobretudo nos moldes em que está a ser feito.

Isso
é que me preocupa.

Re: Obscurantismo
Escrito por: dimensao7 (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 11:07

Disse Epafras:

“A teoria da evolução (darwinista/neodarwinista) nunca foi experimentalmente demonstrada nem é um facto demonstrado.”


Ao ler o texto de Epafras não consegui reter uma sonora gargalhada. Nem tanto pelo que diz, algo pelo que se contradiz, muito pela convicção com que o faz mas, sobretudo, por aquela capacidade, que, só tem quem ignora a complexidade das coisas deste mundo, para extrapolar do plano das ideias, preconceitos e desejos pessoais para o plano dos ideais de toda uma sociedade, nação ou neste caso religião.

E confesso que a coisa já estaria no arquivo morto das minhas memórias. Não fosse o caso dela me recordar outros episódios recentes.

O 1º passou-se quando em conversa de circunstância com uma mulher que rondaria a casa dos 50 me apercebi que ela não acreditava que o Homem tivesse ido à Lua. Ou seja ali estava alguém que passara a sua adolescência e juventude em plena corrida espacial com Laikas, Sputniks, Astromacacos, Armstrong a dar “um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade”, passeios espaciais, salvamentos heróicos e desastres terríveis, enfim um verdadeiro Astro Big Brother: em directo na Mundovisão, e ainda assim ela negava o que os seus sentidos tinham presenciado e o que o mundo afirmava. Enfim a pessoa em questão tinha sobre outros aspectos da vida uma visão bastante mística. O que me leva à seguinte questão:

Pode alguém que nega tão flagrantemente a realidade objectiva ter uma verdadeira fé religiosa ou será que nessa como nas outras coisas limitam-se a ter fezadas e palpites?


O 2º caso foi uma notícia dada recentemente por esse jornal paladino da Verdade e deontologia jornalística que dá pelo nome de Correio da Manhã. Sobre o título “Relatividade em causa: Operário arrasa Einstein” tentava-se vender a história de António Saraiva operário com o 11º ano e um curso de pilotagem da escola náutica que alegadamente tem uma teoria capaz de reduzir a pó um século de investigação científica. Para isso só precisa de realizar uma experiência num avião a 900 km/h. Apesar de lhe podermos reconhecer algum brio, iniciativa e modéstia (afinal não pediu um supersónico) não deixa de ser interessante notar que a experiência em causa vinha em manuais escolares, (pronto, se calhar não era nos do 11º era nos do 12º...), foi realizada há um século não foi preciso um avião a velocidade de rotação da terra (Máx:1650 km/h) chegou, e o seu resultado foi confirmar a constância da velocidade da luz, exactamente o contrário do que ele pretende demonstrar. (Outra vez uma questão de fé? “Desta vez é que é.”)

É claro que tudo isto seria irrelevante excepto para psicólogos apaixonados pelo estudo de personalidades alienadas e jornalistas caloiros interessados em estudar o melhor método de construir notícias para vender jornais. Não fosse o caso do autor da notícia juntar a sua própria ignorância à confusão do António, ao compará-lo ao astrofísico João Magueijo, catedrático de Física no Imperial College de Londres, que tem vários trabalhos sobre física relativista publicados nas melhores revistas da especialidade. Isto e mais umas falsidades sobre as razões subjacentes aos problemas que João Magueijo teve com a publicação do seu livro. Quem está dentro destes assuntos diverte-se ou indigna-se mas acabará por esquecer a notícia sem lhe dar particular relevo. Mas quem os desconhece, porventura a vasta maioria, acredita e acaba construindo uma imagem da realidade, neste caso da ciência e da forma de fazer ciência, completamente deturpada. E quando acordar, se acordar, do engano provavelmente ingressará nessa legião que não pára de engrossar de cínicos e desconfiados. Afinal quando os profissionais da informação se tornam em mercenários da desinformação em quem vamos acreditar?

(Para quem estiver interessado deixo aqui o link para o artigo. Já agora leiam os comentários dos leitores que também são significativos deste estado de coisas.)

Isto conduz-me a uma 2ª reflexão: Não deixa de ser curioso que na era da informação de massificada haja tanta desinformação. Ou talvez não, já que afinal este veículo de comunicação por excelência que a todos aproxima chamado Internet é paradigmaticamente um dos principais canais de difusão lixo e ruído informacional.
Provavelmente aqui como noutras áreas teremos de viver sempre na dualidade dos opostos. Mais informação conduz sempre a mais desinformação. Poderemos eventualmente reduzi-la em percentagem mas nunca acabar com ela.


Este estado de coisas justifica a posição de alguns em relação às questões científicas. Ignorância, desinformação e descrédito. Mas isto é só o pano de fundo, ingénuo seria se não realizasse que por detrás de polémicas como a da teoria do Criacionismo há também, como alguém já o afirmou 2ªs intenções, como o tentar justificar de determinadas posições ideológicas muitas vezes racistas e fundamentalistas.

E nesta luta contra o obscurantismo também não endeusemos os cientistas. Tal como os padres são homens e como qualquer homem passíveis de erros, ideias de poder, preconceitos, invejas, vinganças, medos, etc. Não é pois de estranhar que por detrás de alguns destes movimentos rotulados como anti-científicos ou pseudo-científicos (por ex. Igreja da Cientologia) se encontrem homens de ciência E que muitos fundamentalistas fanáticos sejam homens cultos. É assim no presente como já o foi no passado, lembrem-se de Josef Mengele.



Editado 1 vezes. Última edição em 09/09/2006 11:12 por dimensao7.

Re: Obscurantismo
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 16:38

Citação:
Sinceramente, esta é uma frase que eu escreveria sem hesitação a propósito dos pseudo argumentos a- científicos que pretendem negar a teoria da Evolução.

Como se pode ver provavelmente não existe em toda a ciência natural outra teoria que tenha sido mais "protegida" da evidência contrária pelos seus seguidores que esta.

Pseudocientífico e obscurantista é tratar uma teoria científica como uma "vaca sagrada" cujas virtudes hão-de ser aceites com fervor religioso, e cujos defeitos hão-de ser calados sob anátema.

As discrepâncias das evidências, a complexíssima história dos hominídeos (cujo capítulo final está longe de ter sido escrito), a implausibilidade dos mecanismos propostos para o surgimento inicial da vida (Evolução prebiótica) são somente alguns dos aspectos a ter em conta.

O evolucionismo neodarwinista é um modelo com o qual se interpreta uma vasta quantidade de dados; está longe de ser um facto demonstrado. Muitas evidências militam contra a validade deste modelo, e tenho a impressão de que mais cedo ou mais tarde deverá ser abandonado pelos cientistas (incluindo os ateus).

Citação:
Teoria esta que tem sido continuamente confirmada durante um século e meio por evidências científicas nas mais diversas áreas do conhecimento - biologia, física, paleontologia, arqueologia e, sobretudo na última década, a genética, sobretudo nas peqsuisas sobre o genoma das várias espécies e a evolução genética da espécie humana.

A anterior frase ou é uma expressão de desejo ou uma manifestação do desconhecimento das múltiplas e profundas diferenças entre as diferentes aproximações à teoria evolutiva. Cabe destacar que isto ocorre entre cientistas que crêem que a evolução ocorreu; só que não se ponham de acordo como.
Além disso acontece precisamente o contrário do que a catolica praticante diz. O avanço na biofísica e na bioquímica acumulou evidência contrária a noções clássicas do neodarwinismo

Agora vamos às implicações metafísicas do darwinismo e do neodarwinismo (evolucionismo naturalista)

Como cristão devo ter claras as implicações do evolucionismo naturalista. Não é admissível adoptar a posição de que a ciência e a religião são actividades humanas lícitas porém devem permanecer separadas, cada uma na sua própria esfera. Isto como dizem os brasileiros é conversa para boi dormir, porque evolucionismo naturalista supõe uma concepção do homem que tem profundas implicações morais e metafísicas.

Na formulação da teoria da evolução neodarwinista é básica a pressuposição de que a evolução foi e é um processo aleatório, sem guia nem objectivo. Esta pressuposição não só nega a origem divina da ordem criada, mas também a providência e a dignidade do homem como ser criado à imagem e semelhança de Deus, tornando-o simplesmente num produto sofisticado de um "relojoeiro cego"

Rejeito o pressuposto filosófico de que a evolução representa um processo natural aleatório e carente de propósito, e estou convencido que qualquer um que se considere cristão também o fará. Portanto nunca o darwinismo e o neodarwinismo que são estritamente naturalistas (por exemplo a selecção natural como causa evolutiva) podem ser aceites pelos cristãos e a igreja católica nunca o aceitou. Aceita a possibilidade da evolução mas não adere a nenhuma destas teorias.

Em jeito de conclusão: se alguém quiser adoptar o evolucionismo naturalista ou materialista que por definição exclui toda a intervenção sobrenatural como filosofia religiosa é livre de fazê-lo, duvido é que possa continuar a ser cristão.

Epafras

Re: Obscurantismo
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 18:13

Caro dimensão7:
Já vi que o seu forte é o exercício da culpabilidade por associação. Só porque ousei criticar a teoria da evolução associa-me com uma mulher de 50 anos que não acredita que o homem foi à lua, com uma notícia do Correio da manha, com pseudo-científicos da Igreja da Cientologia, reparei que fez o mesmo com o forista Sandro Pontes noutro topico associando-o ao presidente do Irão e aos terroristas do onze de Setembro. Isto além de ser intelectualmente desonesto leva a que não obtenha resposta às suas mensagens.

Re: Obscurantismo
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 18:20

Citação:
Não é admissível adoptar a posição de que a ciência e a religião são actividades humanas lícitas porém devem permanecer separadas, cada uma na sua própria esfera.

Epafras

O mundo mudou desde Copérnico. Até lá pensava-se assim. Hoje é mesmo necessário separar claramente os dois domínios. Isto não quer dizer que não haja cientistas religiosos. Quer apenas dizer que em ciência não se coloca Deus como hipótese e que em teologia não se usam teorias científicas como pressuposto.

Uma teoria científica pode pressupor que há fenómenos aleatórios. É possivel ver se um fenómeno é aleatório através da estatística. Isso não quer dizer que por detrás não possa haver um Deus que conduz os eventos. Nem o cientista pode provar a inexistência de Deus nem o teólogo deve chamar científica à sua convicção que, no fundo, os fenómenos são conduzidos por Deus.

Um exemplo: a força da oração. Se os domínios pudessem misturar-se, como sugere o Epafras, deveria ser possível constatar estatisticamente a força da oração. Escolhíamos 1000 doentes em circunstâncias semelhantes e pedíamos a uma comunidade que orasse por 500 deles. Ao fim de algum tempo os 500 pelos quais foram feitas as orações deveriam estar melhor do que os outros.


Citação:
Rejeito o pressuposto filosófico de que a evolução representa um processo natural aleatório e carente de propósito, e estou convencido que qualquer um que se considere cristão também o fará.

Isso não é problema porque o pressuposto filosófico não é necessário à teoria.

Citação:
Portanto nunca o darwinismo e o neodarwinismo que são estritamente naturalistas (por exemplo a selecção natural como causa evolutiva) podem ser aceites pelos cristãos e a igreja católica nunca o aceitou.

A ciência tem que ser estritamente naturalista. A ciência só pode estudar o que é observável, mensurável. As teorias científicas têm que ter consequências práticas observáveis que permitam a refutação da teoria. Caso contrário o que se tem não é ciência.

Citação:
Em jeito de conclusão: se alguém quiser adoptar o evolucionismo naturalista ou materialista que por definição exclui toda a intervenção sobrenatural como filosofia religiosa é livre de fazê-lo, duvido é que possa continuar a ser cristão.

Se por evolucionismo naturalista fala de uma filosofia que exclui Deus do processo de criação da natureza, então que o adopte não pode ser cristão. Se por evolucionismo naturalista fala de uma teoria biológica que não considera que Deus conduziu a evolução, então pode ser cristão. E se tentar introduzir Deus na teoria biológica deixa de ser cientista.

pontosvista

Re: Obscurantismo
Escrito por: dimensao7 (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 18:33

Resumindo Caro Epafras

O que se conclui é que para si não é uma questão de erros da teoria, que nem os aponta, ou de desvirtuamento da realidade e dessa Verdade última e isenta que deve ser o objectivo da Ciência e da Fé.

Não gosta da teoria apenas porque não condiz com as suas expectativas intelectuais. Está certo. É um caminho de vida. Espero só para seu bem que não aplique o principio nos caminhos do seu dia a dia. Por ex. é muito perigoso ir a descer escadas e dar um passo em frente quando os degraus viram á direita só porque não concorda com a perspectiva arquitectónica do arquitecto. Garanto-lhe que nestes casos a dor não é só metafísica.

Quanto à exclusão do cristianismo de todos os Evolucionistas. Também é livre de imaginá-lo. Se não se importar de ser despromovido da maior religião Universal e ficar a pertencer a uma seita minoritária. Em franca expansão mas ainda assim muito minoritária. Já sei que pensa que mais valem poucos mas bons. Mas permita-me também a liberdade de centrar a minha perspectiva nos poucos e que acrescente:
Felizmente.

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de September de 2006 19:09

"
Citação:
Citação:
O avanço na biofísica e na bioquímica acumulou evidência contrária a noções clássicas do neodarwinismo
"

Eis um exemplo paradigmático de Uma das estratégias da ideologia anti-ciência disfarçada de criacionismo : utilizar uma argumentação "para-científica" generalista e bastante vaga ( com uma breve referência a determinadas categorias/disciplinas do conhecimento científico) para debitar um conjunto de desinformações vagas e imprecisas que pretensamente colocam em causa a teoria da Evolução.

Faz-se isto com uma leveza, uma inconsistência e um sentido de definitivo que é em si mesma uma demonstração de falta de reflexividade e de racionalidade 8 que caracteriza o métodod científico), omitindo completamente as concretas demonstrações científicas da validade deste modelo científico explanatório da realidade obtidas, precisamente através da bioquímica ou da biofísica…nomeadamente na área da genética…

Mas da complexidade da ciência que é impossível de aprofundar num fórum como este) ao simplismo das ideologias anti-ciência, parece-me que as reflexões do Dimensão7 se aplicam integralmente a este epifenómeno perigoso ( a emergência da ideologia criacionista), que é mais um sintoma de uma turbulência globalizante do que uma verdadeira questão em si mesma.


Enquanto teoria - modelo científico e explicativo da realidade – a Teoria da Evolução é talvez uma das mais sólidas e consistentes teorias científicas e, o que é mais curioso, é que á medida que avança o desenvolvimento da biotecnologia e que aumenta o conhecimento em áreas absolutamente cruciais para o confronto da Evolução, mais este sistema de conhecimentos aparece reforçado.

POrtanto, como sintetizou o dimensão, trata-se de uma discussão estritamente metafísica.

Mais grave ainda é a afirmação do Epafras:

Como cristão devo ter claras as implicações do evolucionismo naturalista. Não é admissível adoptar a posição de que a ciência e a religião são actividades humanas lícitas porém devem permanecer separadas, cada uma na sua própria esfera.”

Para contestar esta afirmação radical usarei as palavras de um conhecido cristão:

We cannot say: creation or evolution. The exact formula is creation and evolution, because both respond to two different questions. “

Este cristão parece admitir integralmente que a ciência e a religião são actividades humanas que respondem a diferentes questões, em esferas diferentes.

E, escreveu, o mesmo cristão:

"The story of the dust of the earth and the breath of God does not tell us how man originated. It tells us what he is. “

Ora, parece-me que todos aceitamos que o papa é cristão.
Foi ele o autor destas palavras.

Extractos do livro "Creation and Sin," escrito por Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI

Re: Obscurantismo
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 10 de September de 2006 00:30

Caro Pontos de vista:

Citação:
Isso não é problema porque o pressuposto filosófico não é necessário à teoria.

Não existe teoria da evolução no sentido neodarwinista sem esse pressuposto. Esse pressuposto faz parte da própria formulação da teoria que considera a origem da vida em geral e do homem em particular, como fruto do azar e carente de direcção ou propósitos superiores.

Cara catolicapraticante:
Citação:
Enquanto teoria - modelo científico e explicativo da realidade – a Teoria da Evolução é talvez uma das mais sólidas e consistentes teorias científicas.

Exactamente, disse bem, modelo científico e explicativo da realidade não um facto demonstrado, quanto ao facto da teoria ser sólida e consistente isso corre por sua conta. Eu considero que a teoria neodarwinista se baseia em evidência circunstâncial e contradictória. Não há nenhum facto conhecido que a faça por exemplo preferível ao que se denomina "desenho inteligente". Seria bom que tivessemos a clara consciência que é uma forma particular, e não necessariamente a melhor (muito menos a única) de interpretar a evidência.

Epafras

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de September de 2006 00:52

Caro Epafras:

Vejo que não aceita a Teoria da Evolução.

É uma opção metafísica individual e estritamente subjectiva.
.

Pode ter a mesma postura ideológica face á teoria geral da Gravidade.

O que não significa a negação da Evolução ou da Gravidade.

E, como escreveu o Dimensão 7 - negar o conhecimento científico todo, concerteza que o podemos negar, mas cuidado com as consequências , que não são nada metafisicas...

Por exemplo, não se atire de um sétimo andar só porque a teoria geral da Gravidade teve de ser reformulada ou poder ser baseada em evidências circunstanciais e contraditórias.

E deixe de tomar a vacina da gripe anual, porque os vírus não sofrem mutações genéticas em contacto com o ambiente de forma a melhor se adaptarem.
São tudo invenções da teoria da evolução.



Uma última nota - fundamental - o "desenho inteligente", além de pouco inteligente, não é uma teoria científica,nem como tal deve ser debatida, pelo que baralhar conceitos e inquinar discussões opondo categorias radicalmente diferentes, não é clarificador em termos metodológicos.

Re: Obscurantismo
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 10 de September de 2006 02:14

Epafras

Citação:
Não existe teoria da evolução no sentido neodarwinista sem esse pressuposto. Esse pressuposto faz parte da própria formulação da teoria que considera a origem da vida em geral e do homem em particular, como fruto do azar e carente de direcção ou propósitos superiores.

Onde é que vai buscar tal ideia? Ou confunde a teoria da evolução (em biologia) com alguma filosofia daí derivada?

Citação:
Exactamente, disse bem, modelo científico e explicativo da realidade não um facto demonstrado

Toda a ciência é feita de teorias que, já agora, não podem ser demonstradas. As teorias usadas são aquelas que se adequam melhor aos factos mas que permitem a sua refutação.

Citação:
Eu considero que a teoria neodarwinista se baseia em evidência circunstâncial e contradictória. Não há nenhum facto conhecido que a faça por exemplo preferível ao que se denomina "desenho inteligente".

Para se poder comparar qualquer teoria biológica com o "desenho inteligente" seria preciso que o "desenho inteligente" apresentasse a possibilidade de refutação. Que facto ou experiência poderia provar que o "desenho inteligente" está errado?

Citação:
Seria bom que tivessemos a clara consciência que é uma forma particular, e não necessariamente a melhor (muito menos a única) de interpretar a evidência.

Há muitas formas de interpretar a evidência. O que acontece é que muitas delas não são ciência.

Para se perceber melhor o que é ciência e o que é outra coisa, vale a pena ler este texto de Stephen Jay Gould.

pontosvista

Re: Obscurantismo
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de September de 2006 14:16

Obrigada pelo texto, CA.

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