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Onde falharam os fariseus?
Escrito por: Rute (IP registado)
Data: 25 de August de 2006 16:50

Boa tarde!!!
Depois de umas férias, volto com energia renovada, tanta que até proponho um novo tópico! ;o)

A imagem dos fariseus, tal como construída nos evangelhos, desde há muito que me levanta algumas questões. No outro dia lia um passo do evangelho de Mateus (12,1-14) e não pude deixar de me questionar, por isso decidi propor este tópico.

Em Mateus 12 aborda-se uma questão bastante problemática nos evangelhos: o Sábado. O evangelista pretende claramente mostrar o poder de Cristo sobre o mundo, assim, encontramos uma série de narrativas de milagres que comprovam isso. As curas atestam o poder de Jesus sobre a doença, a tempestade acalmada, sobre as forças da natureza, a expulsão de demónios, sobre as forças espirituais. Segue-se a cura do paralítico que, conforme descrita pelo evangelista, mais do que demonstrar o poder de curar salienta a sua capacidade de perdoar os pecados humanos. Assim, em dois capítulos (8 e 9), fica bem claro que Jesus pode dissolver todas as forças negativas interiores e exteriores ao homem: a doença, as forças naturais destrutivas, os demónios e, até, o pecado! Agora, no capítulo 12 pretende-se mostrar que Jesus é até superior ao Sábado, ou seja, à Lei! Para isso são narrados dois episódios; um deles é a cura de um homem no sábado, o outro, que o precede imediatamente, o episódio que gostaria de discutir. Jesus, num sábado, vagueia com os seus discípulos numa seara. Os seus discípulos tinham fome, começaram a arrancar espigas e a comê-las. Os fariseus indignam-se. O texto continua com a argumentação de Jesus e, no fim, os fariseus saem como esperávamos, com a imagem de “hipócritas profissionais”. Com as suas tradições negavam comida a alguém que tinha fome!!

Mas voltemos a ler o texto e pensemos nele. Os fariseus eram um grupo de judeus cujo objectivo de vida era cumprir a lei tão escrupulosamente quanto possível. Para isso criaram um conjunto de regras explicativas da lei, para que não restassem dúvidas quando esta não era absolutamente clara. Convém ter em conta que Deus fizera o seguinte convite ao povo de Israel: “Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Levítico 19, 2). E deixa bem claro como podem fazer isso: “O Senhor te constituirá para si em povo santo, como te jurou, enquanto guardardes os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andardes nos seus caminhos.” (Deuteronômio 29:9)

Assim sendo, neste contexto a atitude dos fariseus parece fazer todo o sentido, Deus convida o seu povo a ser santo, a estar à parte dos outros povos, como modelo para eles, para que se saiba que o seu Deus é santo e diz claramente que isso deve ser feito através do cumprimento da Lei. Que reacção melhor do que tentar seguir escrupulosamente todos os mandamentos? Certamente que os fariseus teriam dificuldade em compreender o papel da graça de Deus, mas se a compreensão do mistério de Deus fosse completa e perfeita para alguém na terra, a vinda de Jesus teria sido escusada. Os fariseus não tinham uma compreensão plena da vontade de Deus, certo, mas seria por isso a sua fé inaceitável? É que se lermos os textos dessa forma, a conclusão só nos pode deixar a todos em maus lençóis... Os fariseus, eram homens piedosos, tementes a Deus e que queriam agradá-Lo. Talvez nem sempre da melhor forma, muitas vezes demonstrado falhas graves de personalidade, mas não nos acontece isso a todos nós? Não faz parte da natureza humana? E não confiamos nós na graça de Deus, na sua paciência e no seu amor? Por que é que é diferente com os fariseus? O que os incompatibiliza com Deus? Pode alguma coisa incompatibilizar-nos com Deus?

Mas voltando ao passo em questão. É de notar que a lei proibia claramente qualquer tipo de trabalho ao sábado. Os fariseus consideravam trabalho recolher alimentos. Excesso de zelo? Talvez, mas não nos esqueçamos que, quando Deus alimenta o seu povo no deserto com maná, declara taxativamente que o maná não pode ser recolhido ao sábado. A cada véspera de sábado devem ser recolhidas duas medidas de alimento para cada pessoa. E se alguém tivesse fome num sábado por não ter recolhido alimento de véspera, não havia certamente excepção e não cairia nem um floco de maná do céu! Não estão afinal os fariseus a defender aquilo que o Seu Deus defendera no deserto?

Jesus não vem revogar a Lei, mas lança sobre ela uma luz e encara-a numa perspectiva, a perspectiva da graça divina, que a muda completamente! A revolução que Jesus propõe é bastante violenta, é preciso que tenhamos noção disso. Os fariseus viviam a sua vida centrados em Deus, revelado na Lei. Jesus vem revelar Deus na dádiva de um amor total. As consequências desta diferença são imensas. E as mudanças são sempre difíceis, e muito mais as que implicam Deus ou a perspectiva que Dele temos. A revolução teológica que Jesus propõe é infinitamente superior a qualquer Vaticano II (e bem sabemos o que lhe aconteceu, ou não aconteceu...). Os fariseus defendem a sua percepção de Deus quando a sentem ameaçada.

Confesso, sinto-me muitas vezes identificada com os fariseus. Tentam viver uma vida de acordo com aquilo que para eles é o convite de Deus, o convite de serem santificados pela Lei, defendem acerrimamente aquilo em que acreditam e, ao contrário da imagem de “hipócritas profissionais” que os evangelhos deles tentam dar, seriam sinceros na sua fé. Erram, mas não erramos todos? Não compreendem totalmente o mistério de Deus, compreende alguém? São orgulhosos? Talvez... Mas quem de nós é que num qualquer momento não agradeceu a Deus por ser diferente do vizinho do lado? Acrescentam uma série de regras à lei? Sim, mas porque a consideram sagrada, basta ler alguns tópicos deste fórum para perceber que se faz o mesmo com a comunhão, ou com a eucaristia como um todo (para não falar da infinidade de regras que se acrescentam à vida pessoal de cada um de nós, basta dar uma vista de olhos num qualquer tópico que aborde o tema da sexualidade para não restarem dúvidas...). Afinal, o que há de tão errado nestes homens para assim serem rejeitados por Cristo? Que erro cometem os fariseus que os afasta do amor de Deus? É que, não encontrando diferenças abismais entre os fariseus e qualquer ser humano bem intencionado no seu serviço a Deus, a questão levanta-me problemas sérios. Que erro cometem que os leva a condenações tão fortes e veementes? Afinal, onde falharam os fariseus?

Um abraço,
Rute
Ps. Espero que as vossas férias também tenham sido boas!!! :o)

Re: Onde falharam os fariseus?
Escrito por: (IP registado)
Data: 25 de August de 2006 17:37

Sabes o que acho, Rute? É que os fariseus eram pessoas que seguiam uma conduta sem coragem. Amarravam-se a regras que tomavam como absolutas. Prescindiam da liberdade para sentir a segurança de poder dizer "isto é certo" ou "isto é errado".

Mas, na verdade, cada um de nós é como é. O que é válido para um pode não ser para outro, e há tantas circunstâncias...

Amar os outros, que é o que temos de fazer, não é seguir regras... Há regras que são consequência de amar. Quem ama não mata. Mas se se reduz Deus a um conjunto de regras, é tão estéril...

Eu acredito que Deus nos quer felizes, e quer que façamos os outros felizes. Para isso, deu-nos vários dons, como a inteligência e a sensibilidade. Acho que temos o dever de usar esses dons, e os fariseus não o fizeram. Reprimiram-nos, antes, vendendo-se pela segurança de regras já feitas.

Acho que há pouco de louvável em seguir algo se a adesão ao que se segue não é feita de coração. Quando se abdica da consciência e do espírito crítico, passamos a ser menos humanos.

Finalmente, cada um de nós tem a sua própria individualidade, o seu próprio caminho, a sua sensibilidade. As leis que existem devem-nos ajudar, devem ser um ponto de partida, mas nunca o ponto de chegada. Esse é, espero, aquele onde devemos deixar que Deus nos conduza. Mas se apenas olharmos para as leis, não chegamos longe.

De resto, pelo que se vê nos Evangelhos, parece que os fariseus eram mesmo hipócritas. Do que se lê, não parece que tentassem viver uma vida de acordo com aquilo que para eles era o convite de Deus, mas sim pelo que lhes era mais fácil. Sim, às vezes é mais fácil ser fundamentalista do que viver em liberdade e aceitar a responsabilidade que isso acarreta. Eu diria que o que afastava os fariseus do amor de Deus era a sua atitude calculista e cínica.

Mas claro, é apenas uma opinião, que me saíu agora sem pensar muito. :)

Beijo!

Re: Onde falharam os fariseus?
Escrito por: (IP registado)
Data: 25 de August de 2006 17:49

Gostava de acrescentar uma coisa, mesmo que não seja totalmente relacionado: eu acredito que Deus nos quer ver felizes. Que quer mesmo que sejamos pessoas felizes. E por isso mesmo, quer que sejamos nós mesmos. Não o nosso eu egoísta, mas o nosso eu mais profundo. Deus respeita essa liberdade, essa personalidade. Eu acredito na bondade intrínseca das pessoas. Acho que se não tivéssemos condicionamentos, maus exemplos, traumas, etc, seríamos seres puramente bondosos. Talvez a esses condicionamentos se possa chamar o pecado original... O que temos de fazer, ao longo da vida, é irmo-nos libertando do que nos oprime. Dos nossos egoísmos, materialismos, das prisões (dos véus, se preferirem) que nos impedem de ser essa pessoa que realmente somos. Acho que se não tivéssemos a visão escurecida, veríamos com clareza que o que Deus nos pede é o melhor para a nossa felicidade, é o que está mais em harmonia com quem realmente somos.

Assim, qualquer regra que seja dada pela Igreja (e aqui é que me desvio um bocado do tema, e tento ver quando é que nós, hoje em dia, somos também fariseus) tem de ser bem pensada. É que se algumas regras me parecem muito claras (não matar, por exemplo) e universais, outras parecem ser mais consequências filosóficas do que significa amar. Ou seja, a Igreja, instituição milenar onde se congregaram alguns dos melhores pensadores de todos os tempos, aponta um determinado caminho para nós. Esse caminho é suposto conduzir-nos onde queremos ir, a esse estado de harmonia (de santidade). Mas cada um de nós tem de pensar nessas regras, para ver se nos conduzem mesmo onde queremos ir...

Parece-me que muitas vezes, de tanto olhar para as regras, tiramos os olhos do horizonte e perdemos o caminho...

Desculpem se também me perdi um bocadinho do tema em discussão.

Re: Onde falharam os fariseus?
Escrito por: dimensao7 (IP registado)
Data: 27 de August de 2006 11:59

Caros Foristas, bom dia

Ao ler muitas das coisas que se escrevem por esse mundo fora fico com a sensação que na generalidade se fala mais por ouvir dizer do que por pensamento reflectido e próprio.

E não me refiro só á religião. Oh não! Muito simplista seria. É em tudo. Atira-se o boato e depois o pobre visado que se desenrasque a mostrar que é tudo uma grande mentira quando toda a gente já ouviu dizer a toda a gente que é verdade, não só isso mas mais umas flores que entretanto se acrescentaram. Afinal que piada tem contar uma estória e não lhe acrescentar uns floreados? Sobretudo se for sórdida. Contador com pouca imaginação seria concerteza. E no entanto como eu suspiro por jornalistas com muito menos imaginação e muita mais ética deontológica.

Mas o que raio tem isto a ver com o tema? Perguntarão desconfiados os foristas mais normativos por esta altura. Bom é que se eu recuar uns séculos apenas poderei substituir a palavra jornalista, por cronista e se recuar 1900 anos poderei substituir a palavra cronista por evangelista. Embora nesta última substituição tenhamos em mente que devemos ser muito mais indulgentes nos comentários. È que ao contrário dos outros 2 tipos o evangelista não tinha a obrigação de ser fiel à História. A obrigação dele era em propagar a Boa Nova e convencer os gentios. A sua verdade decorria da íntima convicção de que aquele era o caminho, independentemente do que levava as pessoas a percorrê-lo. Era assim como um director de marketing com profundas convicções ideológicas. Acreditava no produto e no que ele representava mas se preciso fosse não se coibia a criar uns apologéticos slogans publicitários para o vender.

(Apesar da nossa presunção, as coisas, há 2000 anos, não eram em muitos aspectos assim tão diferentes de hoje. Hoje estamos apenas mais profissionais, massificados e temos melhores ferramentas à disposição.)

Se na verdade acreditamos que Jesus subiu aos céus após a morte, nunca ninguém disse que ele tivesse caído dos céus no acto de nascimento. Pelo contrário, foi um filho do seu tempo, um judeu piedoso que acreditava na lei de Moisés e amava o seu povo. E se o seu pensamento se revelou à posteriori para além do tempo, não podemos deixar de imaginá-lo, pelo menos na juventude, muito antes se tornar um profeta com uma doutrina própria, a frequentar a sinagoga com os seus pais, como bom judeu que era. Ou seja: José, Maria e por arrasto Jesus terão com certeza pertencido a um grupo religioso, um qualquer dos muitos que pululavam na Palestina ocupada pelos Romanos. O que levanta uma pergunta?

A que grupo religioso terá pertencido Jesus?

Enumeremos os mais populares no seu tempo:

Zelotes ou nacionalistas: oriundos da Galileia, o mesmo lugar de origem de Jesus, eram revolucionários que defendiam a expulsão dos romanos pela força da palestina. Bastantes analistas defenderam que Jesus era um Zelote ou que pelo menos simpatizava com a sua causa. Parece que um dos 12 apóstolos era ou tinha sido um militante Zelote.
Esta tese foi defendida sobretudo por quem via Jesus, mais do que como líder religioso, como um político que tinha dirigido um movimento de libertação da Palestina. No entanto ela foi perdendo peso e hoje é difícil de defender. Jesus como bom judeu pode efectivamente ter albergado sentimentos nacionalistas mas o certo era que acreditava mais na força e na acção de Deus sobre os homens do que nos métodos da violência. Esta foi sempre censurada. Inclusivé várias vezes reprimiu aos discípulos os instintos belicistas e lhes recordou que não era essa a revolução que vinha trazer.

Essénios: muito se especulou sobre os Essénios sobretudo após a descoberta em 1947 dos famosos pergaminhos dos Essénios de Qumran localidade próxima das margens do Mar Morto. Antes de se conhecer a totalidade do seu conteúdo era dito que Jesus poderia ser o famoso Mestre de Justiça de que se falava nos manuscritos. Ou seja chegou-se a pensar que Jesus podia ter sido um dos líderes dessa comunidade religiosa que censurava alguns dos aspectos da religião judaica. Se assim fosse tombaria grande parte da originalidade do cristianismo que passaria a ser apenas a continuação histórica da religião daquela comunidade que já existia vários séculos antes do nascimento de Cristo e se prolongou até 68 d.C. quando foram destruídos pelas tropas de Tito e Vespasiano. Conta-se que na altura houve pânico no Vaticano e se ouvia o ranger de dentes e o roer de unhas pelos seus corredores. Os ânimos só acalmaram quando após a tradução em várias línguas se conheceu o conteúdo dos escritos. Eram apenas simples reproduções de alguns livros da Bíblia, das regras daquela comunidade e das discussões teológicas sobre os livros sagrados.
Pôde assim conhecer-se a vida e doutrina daqueles Essénios radicais e concluir-se que estas pouco tinham a ver com as de Jesus. Uma das principais diferenças residia no carácter elitista da sua doutrina e no total repúdio dos pagãos e gentios. Pelo contrário o cristianismo sempre se apresentou como religião universal que não fecha as suas portas a ninguém, já que anuncia um Deus pai de toda a humanidade.

Saduceus: Ná! Jesus não pertenceu decerto a estes. Eram a casta sacerdotal e representavam a oficialidade do templo. Os seus abusos de poder e práticas corruptas foram sempre alvo das críticas mais ferozes de Jesus. A afronta directa à sua autoridade e “modus vivendi”, feita por Jesus ao expulsar os vendilhões do templo, levaria a que conspirassem a sua eliminação física. O que conseguiram ao promoverem a sua crucifixão.

Fariseus: Pois... são o que resta. Se Jesus pertenceu a um grupo religioso certamente foi a este. Mas quem eram os Fariseus?
Os Fariseus eram o grupo dominante do judaísmo. Eram assim, a bem dizer, para os judeus o que os católicos são para os cristãos, eram o “main stream”. Ou seja o mais provável quando se encontrava um judeu é que este fosse Fariseu. Ao contrário do que se pensa eram até bastante liberais acreditando por exemplo na ressurreição dos corpos.

É claro que por esta altura alguém estará a dizer incrédulo. Jesus Fariseu? Como pode ser? Então e as acusações dos evangelistas que os apresentam como os seus grandes inimigos e perseguidores?

Vamos por partes:

1º - Não nos podemos esquecer que foi um Fariseu famoso no seu tempo, José de Arimateia, quem ofereceu o seu túmulo para que nele fosse enterrado Jesus. Também eram fariseus os que avisaram Jesus para que fugisse depois de saberem que Herodes o procurava para o matar. E sobretudo o que poucos sabem é que bastantes das afirmações que são atribuídas como originais a Jesus já pertenciam à doutrina liberal dos Fariseus. Um dos casos é a famosa frase de Jesus “O sábado foi criado para o Homem e não o Homem para o Sábado”, que os Fariseus repetiam contra os grupos mais tradicionais que faziam do descanso de Sábado uma coisa formal e estrita. Da mesma forma os Fariseus contestavam a prática do “olho por olho, dente por dente” e preconizavam antes a regra do “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” regra que Jesus leva mais longe ao pregar o perdão e o amor aos inimigos.
É que os Fariseus para além das normas escritas da Lei, defendiam uma tradição oral não codificada, entre a qual figurava, por exemplo, que a circuncisão realizada no oitavo dia não infringia o sábado. E algumas das suas discussões com Jesus reproduziam algumas das discussões doutrinais entre grupos diferentes de Fariseus que, tal como entre nós cristãos, interpretavam de formas diferentes as leis e a tradição. Mas mais precisamente essas discussões mostram que embora Jesus não pertencesse de forma estrita ao grupo, pelo menos os conhecia muito a fundo e partilhava algumas das suas doutrinas. E mais do que isso, hoje parece certo que se Jesus não pertencesse de algum modo ao grupo, estes nem teriam perdido tempo a discutir com ele; tê-lo-iam simplesmente depreciado ou ignorado como mais um louco que se fazia passar por Messias.

2º - E a opinião dos evangelistas? A resposta a esta questão reside no lapso temporal que medeia entre a morte de Jesus e a altura em que são escritos os evangelhos. Isto coincide também com o momento em que as primeiras comunidades cristãs se separam das suas raízes judaicas para entrar em contacto com outros povos entre os quais os Romanos. Os Fariseus, grupo dominante, continuavam apegados à ideia que a religião judaica era exclusiva do Povo Eleito e não viam com bons olhos a abertura do judeo-cristianismo como religião universalista a gentios e pagãos. Por isso perseguiram com dureza os judeus cristãos impedindo-os, por exemplo, de continuar a entrar nas sinagogas, como o tinham feito até então os judeus circuncidados convertidos a Jesus.
Perante este estado de coisas, os evangelistas atribuíram aos Fariseus do tempo de Jesus – que de facto tinham uma outra tolerância para com os cristãos – as culpas do que estava a acontecer no momento. E relatam todos os ataques feitos em vida de Jesus, fosse por quem fosse aos Fariseus. Todas as disputas e insultos lhes são atribuídos quando se desconfia que, de facto, os seus maiores opositores, até pelo desfecho final, fossem os Saduceus. A atitude dos evangelistas contra os Fariseus foi tão dura que «fariseu» passou a ser sinónimo de hipócrita, vocábulo que colocam na boca de Jesus contra os Fariseus pois então, como agora, as disputas também passavam por diabolizar e denegrir o opositor.

Sem dúvida Jesus deve ter tido disputas com os Fariseus, sobretudo com aqueles que eram mais legalistas e que se apoiavam mais na letra que no espírito da Lei. Mas poderiam as disputas ir até ao ponto de que os Fariseus fossem o grande inimigo do Mestre? Não creio. Até pelo facto de que em todo o processo contra Jesus, nunca aparecem envolvidos os Fariseus. Além de que, durante a sua vida, muitos são tão seus amigos que o convidam a comer em suas casas.

Jesus não foi um judeu iconoclasta que se insurgisse contra a religião dos seus pais ou do seu povo, mas apenas contra os exageros dos puritanos daquele tempo, que punham – como fazem hoje bastantes Cristãos – os preceitos jurídicos das leis acima do espírito que elas representavam, submetendo-lhes assim a consciência das pessoas.



Editado 1 vezes. Última edição em 27/08/2006 12:15 por dimensao7.

Re: Onde falharam os fariseus?
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 27 de August de 2006 17:22

Cara Rute:
Esta pergunta é simples de responder e não necessita de grandes arrazoados.

Jerónimo diz o seguinte: "Es una arrogancia criminal añadir algo a las Escrituras; lo que está escrito, créelo; lo que no está escrito, no lo busques" (Jerónimo, Adversus Helvetium)

E o erro dos Fariseus foi precisamente este: Acrescentar algo às Escrituras. Eles criam e ensinavam o que não estava escrito, e por isso Jesus os censurava fortemente conforme se pode ver pelas seguintes Escrituras:

"Então chegaram a Jesus uns fariseus e escribas vindos de Jerusalém, e lhe perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Pois Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e, Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Qualquer que disser a seu pai ou a sua mãe: O que poderias aproveitar de mim é oferta ao Senhor; esse de modo algum terá de honrar a seu pai. E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus. Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem. (Mat. 15:1-9)


Quando os discípulos passaram para o outro lado, esqueceram-se de levar pão. E Jesus lhes disse: Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Pelo que eles arrazoavam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. E Jesus, percebendo isso, disse: Por que arrazoais entre vós por não terdes pão, homens de pouca fé? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil, e de quantos cestos levantastes? Nem dos sete pães para os quatro mil, e de quantas alcofas levantastes? Como não compreendeis que não nos falei a respeito de pães? Mas guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então entenderam que não dissera que se guardassem, do fermento dos pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus.
(Mat 16:12)

Bem haja
Epafras



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