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Religião e religiões: para onde vamos?
Escrito por: Susete (IP registado)
Data: 17 de July de 2006 10:41

Religião e religiões: para onde vamos?


Anselmo Borges
Padre e professor de filosofia


Agora, quando for a Madrid, já não vou ter a alegria de beber um copo com o meu amigo José María Mardones. Foi-se embora deste mundo no final de Junho. De repente. Sem tempo para uma palavra de despedida. Aos 63 anos.

A última vez que nos encontrámos foi em Setembro, aqui em Portugal, aonde veio para participar, como especialista em filosofia e sociologia da religião, no Congresso sobre "Deus no século XXI e o futuro do cristianismo". A sua comunicação teve como tema: "Religião e religiões: donde vimos, onde estamos, para onde vamos?" Fica aqui, como homenagem, uma síntese pobre da sua análise.

Donde vimos?

Vimos de um cristianismo de cristandade, com pretensões hegemónicas sobre a cultura, a sociedade e a política, que se julgou detentor exclusivo da revelação de Deus e com o monopólio da salvação: "fora da Igreja não há salvação". Nesse cristianismo, aninhava-se uma concepção objectivista da verdade, que implicava a intolerância frente ao erro e a perseguição e liquidação das pessoas sob o pretexto de erradicar doutrinas falsas. Era um cristianismo de coloração fundamentalista e integrista.

Onde estamos?

Estamos a assistir ao "desmoronamento" do cristianismo de cristandade. A descristianização é um dado, a prática cristã é minoritária, a religião perdeu a sua evidência social para passar a ser um assunto pessoal e privado. Assistimos ao mesmo tempo ao "aparecimento de formas de integrismo religioso" no Islão e fora dele. Frente ao relativismo cultural, compreende-se a atracção exercida por "religiões fortes".

Ao mesmo tempo que perde o monopólio religioso - "a religiosidade deambula fora das Igrejas" -, a instituição eclesial cristã está a tornar-se verdadeiramente universal: nos princípios do século XX, mais de 70% dos cristãos encontravam-se no Norte desenvolvido; no início do século XXI, 70% estão no Sul. O que representará para o futuro do cristianismo o facto de a maioria dos seus membros serem africanos, latino-americanos e asiáticos?

Deparamos hoje com uma enorme sede de Mistério. O cristianismo de cristandade, ao colocar no centro o institucional, o jurídico, o doutrinal e dogmático, marginalizou o primado do experiencial, pessoal e místico. Por isso, a crítica à Igreja é acompanhada por apelos constantes a "penetrar dentro da experiência religiosa" e da vivência do Mistério do divino.

Para onde vamos?

É difícil fazer projecções, mas já se deixam pressentir alguns cenários enquanto tendências.

A globalização económica e cultural favorece uma visão pluralista do fenómeno religioso, de tal modo que o próprio cristianismo aparece como mais uma religião entre outras. Precisamente esta nova situação cria condições para o diálogo inter-religioso.

Não se trata, porém, de cair no uniformismo. Pelo contrário, o aprofundamento do fundo místico-experiencial das diferentes religiões pode e deve ser fonte de maior enriquecimento mútuo. Sem a atenção à riqueza própria de cada tradição religiosa, poderia surgir o medo de perder a identidade, de tal modo que, em vez do encontro, caminhássemos então para um choque ou confronto religioso.

Avançamos para "uma reforma ou revolução espiritual". O abandono da prática religiosa institucionalizada não significa abandono da preocupação espiritual. A desvalorização dos elementos institucionais e doutrinais deslocará o acento para o Mistério vivo, a interiorização e o sentido pessoal da vida. Não estamos já a assistir a novos movimentos religiosos e a novas formas de religião e espiritua- lidade?

Vamos para "um pluralismo religioso com uma maioria de formas experimentais e pouco sérias". Concretamente no âmbito da sociedade e da cultura do consumo, a religiosidade de muitos será um "experimentalismo de religiosidade difusa e sincrética" e o consumo de objectos e sensações. Mas esta entronização do materialismo consumista "só pode deixar o coração árido e gelado, incapaz de penetrar no humano e aí escutar o palpitar do divino".

J. M. Mardones era um intelectual prestigiado, um trabalhador incansável, um homem amável que rejubilava com a alegria de viver. Crente convicto e lúcido, sabia dialogar com os não crentes. Combateu toda a forma de religião exploradora do Homem, concretamente a "teologia do mercado". Para ele, crentes e não crentes têm uma causa comum: a defesa do Homem. Confidenciou-me: "Qualquer dia deixo a vida académica para dedicar-me exclusivamente aos pobres na América Latina."

Re: Religião e religiões: para onde vamos?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 17 de July de 2006 13:10

Caminharemos para uma religião sem templos, já que Deus habita mais no íntimo de cada um do que em estruturas de argamassa ou de pedra. Uma religião em que o centro são as pessoas e não Deus, já que Deus dispensa que nos preocupemos com Ele. Uma religião feita de mais testemunho e menos formalismos ideológicos.

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Re: Religião e religiões: para onde vamos?
Escrito por: Maria João Garcia (IP registado)
Data: 17 de July de 2006 13:13

Quando li este texto, lembrei-me de Tai Zé. Quando conheci o movimento, senti como que uma reviravolta na minha maneira de ver Deus e a religião. Achei que era aquilo que eu queria: viver para os outros, viver num espírito de união, seguindo Jesus Cristo que ensinou a Palavra do Pai e nos deixou o Espírito Santo.

Acho que as religiões - apesar de algumas mudanças que já se vão fazendo sentir - estão fechadas no que diz respeito ao lema de Jesus CRisto. Ide e ensinai todos os povos e sede um como Eu e o Pai.

Deus é amor e pede, como principal madamento, que nos amemos uns aos outros. Ele chega a dizer que no fim seremos julgados por amar e por não amar. É este espírito vivo de evangelização, contacto com os outros, união entre povos que faz falta nas actuais religiões. Por isso, é que se vê cada vez mais pessoas a enveredarem por comunidades ecuménicas. Lembro-me quando o encontro de Tai Zé foi em Portugal. Não participei como queria por estar a trabalhar - não pude mesmo tirar férias -, mas ainda fui a conferências e a orações e acolhi em minha casa duas húngaras, uma católica, a outra protestante. Aquele espírito de unidade, amor, confiança e entrega mexeu bastante comigo e vi melhor DEus naqueles momentos do que nos dogmas e nos príncípios religiosos. Não estou a dizer que estes não são importantes, mas falta esta aproximação entre as pessoas, para nesses sacramentos e nesses dogmas consiguirmos ver Deus, perceber a Sua Palavra e pô-la em prática. tal como Jesus nos ensinou.

Um dos momentos que mais me marcou de Tai Zé em POrtugal foi rezar o Pai Nosso com imensas pessoas de várias línguas, todas juntas e de mãos dadas. Outro foi na noite de fim de an0, quando à meia-noite ainda não tínhamos acabado a oração e as pessoas (na maioria jovens) continuaram dentro da Igreja sem quererem saber da festa que estava lá fora.
Lá está, é este sentir Deus que falta nas religiões.



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