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Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 12 de February de 2007 16:42

Citação:
Albino O M Soares
Se quiserem dar uma vista de olhos pela página de alguém que, qual Cardeal Diabo, tem na Igreja a missão de nos lembrar que o que fazemos ainda é pouco para merecermos o Reino de Deus, aqui fica a página:
[padremariodemacieira.com.sapo.pt]

Li uma parte da página e até onde li não encontrei algo sobre merecimentos para conquistar o Reino de Deus, mas gostei dessa parte que lá está:

A Amélia, companheira da Comunidade cristã de base de Macieira da Lixa que, porventura sem o saber, vive permanentemente mergulhada no Essencial que é invisível aos olhos e por isso mantém-se firme na Caminhada, como um carro de combate, contra ventos e marés.

A Martinha, de Amarante, surpreendente canto vivo de alegria e de festa que, embora incapaz de articular uma frase, de dar um passo ou de comer por sua mão, todo o seu corpo parece explodir de felicidade e de comunicação, sempre que me vê entrar na sua casa.

A Víctor Gama, de S. Pedro da Cova, um indomável trovão humano sentado numa cadeira de rodas que ninguém consegue calar, quando depara com situações em que outros companheiros com deficiência – elas e eles – são maltratados e injustiçados.

A Francelina, companheira da Comunidade cristã das Quartas-Feiras, um vivo e espantoso sacramento, no meio de nós, do desconcertante e libertador humor de Deus.

A José Maia, da Associação Cultural e Recreativa As Formigas de Macieira que, juntamente com a sua mulher Huguette, soube fazer seu o projecto Barracão de Cultura e está a revelar-se capaz de remover montanhas para conseguir a sua concretização na freguesia; e a Irene, sua filha adoptiva que, nas línguas de fogo da sua irreprimível alegria e no impetuoso vento do seu jeito de estar e de viver, é para nós fecunda epifania do Espírito Santo na manhã do Pentecostes.

Nas vossas diferentes deficiências, umas mais profundas, outras menos, continuais a ser para mim misteriosos e desafiadores rostos do Deus Vivo que reiteradamente nos salta ao caminho e nos grita a Boa Notícia de que a vida humana em plenitude só mesmo nas margens consegue ser vivida.

A minha pública gratidão.


Parece a mim o testemunho de quem ama as pessoas pobres.

Citação:
Albino O M Soares
Hoje o Pe Mário de Oliveira está empenhado na construção de um centro cultural em Macieira da Lixa a que chama Barracão de Cultura, contando com o apoio de pessoas de perto e de longe e de outras que se deixaram envolver numa aventura poética de suporte à iniciativa. Eis um exemplo tirado da lista dos poemas que estão on-line.
[mailx.fe.up.pt]
Também acho que não é apenas pessoa do contra, mas que tem teses interessantes na defesa do Evangelho como Boa-Notícia.

Depois da primeira msg, parece que tb o amigo está revendo algumas posições. Tb achei que o caso desse padre é mais complexo do que aquilo que vemos de primeira. :)



Editado 1 vezes. Última edição em 12/02/2007 16:49 por firefox.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 12 de February de 2007 16:46

Os pobres são a riqueza das nações.

*=?.0

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 12 de February de 2007 17:50

Como as coisas são...
pouco conhecia deste presbitero, como ele gosta de ser tratado, e estive a ler esta entrevista
[www.inepcia.com]

retirando a dureza das palavras, compreensível dada a forte indignação sentida, a mensagem dele faz todo o sentido.
Gostei mesmo de o ler.

Também gostei da meditação nº10 que está no site dele. Tenho de ler o resto.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 13 de February de 2007 01:35

Há quase um ano escrevi:

1.
Citação:
[A propósito das posições do P. Mário da Lixa sobre Fátima] o problema é que, como diz o refrão oriental, «quando o sábio aponta o sol, o estúpido olha para o dedo».
O P. Mário às vezes parece querer chamar a atenção para isso, mas dá tanta importância às verrugas e defeitos do dedo que aponta (ou que sofre de Parkinson), que acaba consumindo-se naquilo que tanto critica, perdendo também ele o sentido do essencial.

Fala então dos outros dedos da mão, das coisas a que apontaram tais dedos, dos anéis, das figas, das unhas mal cortadas e sujas...

Mas, com tal obsessão, não sai daí. E é uma pena. Tanta energia desbaratada, tanta falha no essencial. Tão «iluminado» que se cega a si mesmo.

E acaba por deitar fora o bebé com a água de o lavar...


2.
Citação:
[...] quanto à agudeza seu sentido da História. Quando alguém confunde sucessão com causalidade não pode ter um sentido muito agudo da História. A «história» da «deusa» de Fátima é um grosseirismo que não resiste a um agudo sentido histórico(*). Mas vende e faz (in)fiéis. E parodoxalmente faz nascer aquilo que tanto critica, já não «dentro», mas «fora» da Igreja. É o problema de muitos «iluminados», essa tentação de sempre.
(*)E quem nega o passado, dificilmente compreende agudamente o presente e menos credibilidade terá quando fala do futuro.

É algo desagradável falar deste tema, pelo carácter «pessoal» do mesmo. Implicitamente podemos fazer-nos juízes e isso é perigoso. Em todo o caso, que fique bem claro: não julgo as intenções mais íntimas do P. Mário da Lixa. As considerações que teço referem-se ao foro externo, às suas atitudes públicas e opiniões manifestadas. Ora, aqui eu vejo numerosos problemas.

a) Impressiona-me o tom marcadamente ideológico e muito pouco teológico-espiritual da forma como fala da Igreja, de Jesus e de Deus;

b) Parece-me contraditória (e oxalá não seja desonesta!) a sua forma de apresentar-se publicamente face à Igreja institucional. Por um lado, faz todo o tipo de ataques á hierarquia e ao clero, como se viu na sua mensagem em favor do «sim» no referendo. Por outro lado, usa a sua pertença ao clero para se afirmar: «Presbítero da Igreja do Porto». Um título mais «correcto», mais «limpo». Em relação ao primeiro aspecto, notemos, como exemplo, um pequeno extracto do seu texto colocado aqui antes:
Citação:
Deixem de pensar e de decidir pela cabeça e pela consciência funcional do clero. Façam como eu que penso pela minha cabeça e decido segundo a minha consciência pessoal.
Eu pergunto: mas não é um presbítero católico membro do clero? Não é o título que ele invoca uma forma de sublinhar o seu nome, de fazer com que seja mais lido? Não é esta uma posição claramente contraditória? E, claro, outras questões se poderiam fazer, como a de saber se ele não faz (fez) nesta campanha o mesmo que outros membros do (mesmo) clero, com a única diferença de que o sentido do apelo do voto era oposto. Ou será que só pensa pela cabeça própria quem pensa como ele?

c) Algumas vezes passo longo tempo a ler os seus escritos. Contudo, fico cada vez mais com a impressão de que as suas posições são essencialmente ideológicas, datadas (um discurso «à anos 70») e preconceituosas; nada ou quase nada têm de teológico e pouco ou nada de espiritual. Às vezes escreve (e muito!) sobre temas sobre os quais nada ou pouco sabe e sobre pessoas que nem conhece (ou de quem nem sequer leu nada), vivendo de velhos mitos e lugares-comuns, caindo num superficialismo atroz.

d) Creio compreender, pelo menos até certo ponto, que tenha uma importante área de influência entre certos «católicos-desiludidos-com-a-Igreja-hierarquia» ou, para usar outra expressão conhecida, certos «vencidos do catolicismo» (cfr. João Bénard da Costa). A forma como esgrime alguns conhecimentos mais «elevados» (nomeadamente históricos) -- desconhecidos da maior parte das pessoas -- embora usados quase sempre de forma incorrecta, faz com que muitos caiam no engodo do «iluminado». Assim se vê em todos ou quase os temas que aborda, de que são bons exemplos Fátima ou o pecado original. É característico das literaturas deste tipo um dado curioso que escapa aos especialistas(!): a ausência de dúvidas e, se as houver, ganha sempre a teoria da suspeita, que, longe de ser rigorosa, se alimenta do ressabiamento. Mas, na medida em que se deixar guiar pelo ressabiamento e crítica teologicamente infundada, não pode prevalecer.


Parece-me que a História da Igreja já mostrou até à saciedade quem são os verdadeiros «reformadores» da Igreja. São aqueles que se mantêm «dentro». Pense-se no caso de S. Francisco de Assis ou em tantos teólogos que precederam o Concílio Vaticano II. A atitude geral do P. Mário parece-me demasiado contraditória na sua «pertença» à Igreja. na verdade, ficamos sem saber se partilha realmente do mesmo credo, nos seus vários artigos, nomeadamente no que diz respeito à Igreja e a Jesus Cristo. Não sei mesmo se isso lhe interessa.

Alef

PS.: 1. Este meu «post» não incidia exclusivamente sobre o seu «apelo» ao «sim» no referendo, mas pergunto: em que se distingue «essencialmente» o discurso do P. Mário do do Bloco de Esquerda na sua argumentação?


2. Não é necessário analisar de novo a sua argumentação pela despenalização/liberalizado do abrto, já que nisto manifesta um mero seguidismo acrítico, mas vale a pena ver alguns erros clamorosos no consteúdo «eclesiástico» no mesmo «apelo»:

a) Parece desconhecer completamente as condições para uma excomunhão. Cai no superficialismo e na falsidade.

b) É manipuladora (aliás, completamente falsa!) a razão indicada para que o aborto possa ser causa de excomunhão. Não são apenas as mulheres as que podem incorrer em pena de excomunhão, o que invalida completamente a sua argumentação.

c) É grosseira e incorrecta a referência à «Cristandade» a propósito da publicação do Código de Direito Canónico. Mas os anacronismos não são uma surpresa nos seus escritos. No tempo da Cristandade não havia nenhum Código de Direito Canónico.

d) Também é bastante problemática a sua comparação entre as penalizações do Código de Direito Canónico e o Código Penal português. Serão instâncias comensuráveis, nos termos em que as apresenta?

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 13 de February de 2007 04:49

Oi Alef.

De início quero dizer que gostei do seu post pelo tom da crítica que achei bem pertinente! Como vc, vou tentar não me fixar na pessoa do padre, que não cabe a mim julgar, mas às idéias, e, principalmente, à questão da pertença à igreja. O nome dele aparece como autor das idéias, mas agradeço se não nos prendermos a uma pessoa particular.

Citação:
Alef
As considerações que teço referem-se ao foro externo, às suas atitudes públicas e opiniões manifestadas. Ora, aqui eu vejo numerosos problemas.
a) Impressiona-me o tom marcadamente ideológico e muito pouco teológico-espiritual da forma como fala da Igreja, de Jesus e de Deus;

Aqui não tenho certeza se te entendi, se falavas do tom acusativo ideológico-político ou do tom agressivo ideológico-teológico. Talvez pelo amálgama que o padre citado faz da política com a teologia fiquei na dúvida. É até possível que eu concorde contigo, em parte. Já vi esse filme antes encenado por padres da teologia da libertação que foram se fazendo extremistas, mas pela história do padre relevo muito. Considero que ele ainda fala ferido. Apesar de dizer que não tem mágoas, é humano e separar essas coisas é sempre difícil. A crítica dele é focada na hierarquia, que ele desqualifica como parte da igreja, em bloco, e daí vem muito do impacto desagradável que ele causa. Do modo como ele o faz parece pouco caridoso e até injusto com muitos, mas de novo chamo a atenção para a história dele, e por isso relevo muito. Se ele foi ferido não seria o caso da igreja agora ter mais paciência e o suportar (no sentido de dar suporte)? É nesse sentido que entendo o "suportai-vos uns aos outros". É muito fácil magoar os outros, temos sempre uma justificativa, mas acolher... exige mais de nós.

Citação:
Alef
b) Parece-me contraditória (e oxalá não seja desonesta!) a sua forma de apresentar-se publicamente face à Igreja institucional. Por um lado, faz todo o tipo de ataques á hierarquia e ao clero, como se viu na sua mensagem em favor do «sim» no referendo. Por outro lado, usa a sua pertença ao clero para se afirmar: «Presbítero da Igreja do Porto». Um título mais «correcto», mais «limpo». Em relação ao primeiro aspecto, notemos, como exemplo, um pequeno extracto do seu texto colocado aqui antes:
Citação:
Deixem de pensar e de decidir pela cabeça e pela consciência funcional do clero. Façam como eu que penso pela minha cabeça e decido segundo a minha consciência pessoal.
Eu pergunto: mas não é um presbítero católico membro do clero? Não é o título que ele invoca uma forma de sublinhar o seu nome, de fazer com que seja mais lido? Não é esta uma posição claramente contraditória?

Aqui vou separar. (1) "Deixem de pensar e de decidir pela cabeça e pela consciência funcional do clero." e (2) "Façam como eu que penso pela minha cabeça e decido segundo a minha consciência pessoal."

Concordo inteiramente com a 1a frase e imagino que nem seja preciso explicar a razão. Simplesmente pq cada um relaciona-se pessoalmente e diretamente com Deus na sua consciência, e mesmo considerando as mediações é claro que cada um terá que haver-se sozinho com Deus um dia, não cabendo aí lugar para nenhum corporativismo. É sendo fiel a Deus que cada um será fiel a igreja, é o paradoxo: quem não ouve a sua consciência acaba por prestar um desserviço à igreja.

Já a 2a frase causa-me profundo mal-estar. O "façam como eu" para mim soou altivo. Ficou parecendo que desconsiderou todos os outros, mas conheço muitos que permaneceram obedientes e nem por isso deixaram de ser fiéis ao Espírito. Não quero julgar o padre, falo no geral, mesmo até por mim, que por vezes critico bastante a igreja. Apesar das críticas nunca me senti fora dela, procurei sempre repensar e repensar de novo as minhas escolhas tendo a igreja como interlocutora - e olha que há casos em que isso é difícil! Qdo se torna muito difícil o jeito é apelar para o bom humor, procurar não guardar mágoa, rir de mim e até da igreja: os meus irmãos teimosos com quem divido o pão, por quem sou responsável, como eles são por mim. Muitas vezes o teimoso sou eu, e eles me suportam. O jeito é levar no bom humor! Esse balaio de gatos, a minha igreja, ou arca de Noé, se alguém preferir uma imagem mais bíblica. Seja como for, aprendi que a humildade, a paciência, são frutos do Espírito. (1 Cor 13). Mesmo perdendo a paciência, não deixar o sol se por sob a ira, perdoar, a si e aos outros. O sofrimento pode gerar mágoa, mas tb pode te ensinar a ter compaixão, a entender a dor do outro. Tudo isso é marca do Espírito, que sempre concorre para o bem daqueles que o buscam de coração.

Citação:
Alef
c) Algumas vezes passo longo tempo a ler os seus escritos. Contudo, fico cada vez mais com a impressão de que as suas posições são essencialmente ideológicas, datadas (um discurso «à anos 70») e preconceituosas; nada ou quase nada têm de teológico e pouco ou nada de espiritual. Às vezes escreve (e muito!) sobre temas sobre os quais nada ou pouco sabe e sobre pessoas que nem conhece (ou de quem nem sequer leu nada), vivendo de velhos mitos e lugares-comuns, caindo num superficialismo atroz.

Conheço essa mistura de profetismo (que nos faz curiosos - vc continua a ler) com superficialismo (que deixa sempre a impressão de que ele não foi a fundo, que fez pouco de aspectos importantes). Sinto isso tb nos escritos de alguns teólogos que temos por cá, mas mesmo assim tb perco algum tempo a lê-los - acho que sou curioso como vc. A maior parte do tempo, entretanto, prefiro ler teólogos de maior responsabilidade e profundidade, como um Rahner ou um Geffré ou um Haring.

Citação:
Alef
d) Creio compreender, pelo menos até certo ponto, que tenha uma importante área de influência entre certos «católicos-desiludidos-com-a-Igreja-hierarquia» ou, para usar outra expressão conhecida, certos «vencidos do catolicismo» (cfr. João Bénard da Costa). A forma como esgrime alguns conhecimentos mais «elevados» (nomeadamente históricos) -- desconhecidos da maior parte das pessoas -- embora usados quase sempre de forma incorrecta, faz com que muitos caiam no engodo do «iluminado».

Agora cuidado amigo, para não cair no mesmo erro do padre, de julgar à baciada ;)

Citação:
Alef
Assim se vê em todos ou quase os temas que aborda, de que são bons exemplos Fátima ou o pecado original. É característico das literaturas deste tipo um dado curioso que escapa aos especialistas(!): a ausência de dúvidas e, se as houver, ganha sempre a teoria da suspeita, que, longe de ser rigorosa, se alimenta do ressabiamento. Mas, na medida em que se deixar guiar pelo ressabiamento e crítica teologicamente infundada, não pode prevalecer.

Imagino que não te seja surpresa que também tenho críticas ao uso que fazem das devoções populares, notadamente contra o modo dolorista e a imagem ameaçadora de um deus que precisaria ter sua fúria aplacada por uma virgem chorosa. Deus acaba num mal papel, muito distante do Abba de Jesus. Ainda assim, todavia, acho que não recorreria ao discurso do padre por causa de razões pastorais: acho que o tom agressivo e desmolidor de tudo acaba por ferir aqueles a quem queria ajudar, causa resistência e dá menos fruto. Aqui, para aliviar o tom e curtir uma "crítica" mais saborosa, recomendo, se ainda não conhece, dois filmes brasileiros: "O santo que não acreditava em Deus" e "O auto da compadecida". Acho que a alegria e o bom humor acabam tb por educar de algum modo - sempre, sempre, dependendo dos olhos de quem vê.

Citação:
Alef
Parece-me que a História da Igreja já mostrou até à saciedade quem são os verdadeiros «reformadores» da Igreja. São aqueles que se mantêm «dentro». Pense-se no caso de S. Francisco de Assis ou em tantos teólogos que precederam o Concílio Vaticano II. A atitude geral do P. Mário parece-me demasiado contraditória na sua «pertença» à Igreja. na verdade, ficamos sem saber se partilha realmente do mesmo credo, nos seus vários artigos, nomeadamente no que diz respeito à Igreja e a Jesus Cristo. Não sei mesmo se isso lhe interessa.

Em parte concordo contigo, embora ache que parte da "obediência" é às vezes "desobediente". Acho que há um quê de ideologia tb nisso de fechar tudo numa obediência passiva que a ninguém da hierarquia incomoda. Claro que um cisma sempre causa muito trauma e é algo para ser evitado, e quando o padre pareceu não se preocupar com esse perigo demonstrou não ter ouvido para o "espírito católico". Pode ser o caso até, imagino, dele dizer algumas verdades que deixam de sê-lo pela falta do amor quando o diz, no sentido da Verdade que alimenta, da Verdade que liberta, a Fé!

Acho a figura dele confusa, um tanto ambígua, gosto de algumas coisas e de outras não. Não desconsidero todas as críticas dele somente pq não estão completamente embasadas na melhor teologia acadêmica, mas tb não abraço tudo só pq é do contra.

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 13/02/2007 04:51 por firefox.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de May de 2007 09:08

No seu estilo inconfundível de Padre que faz questão de celebrar a Eucaristia com a Vida e com regueifa escreveu um provocante livro intitulado:
Salmos, versão século XXI, sobre o ritmo melódico dos salmos 1 a 50.
Custa a digerir, mas não faz mal. A sua leitura é proveitosa. Destaco destes os, 8, 41, 45 e 50.

*=?.0

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 20 de December de 2007 10:41

Do seu diário aberto:

2007 DEZEMBRO 19



Inesperadamente, 23 Africanos, provenientes de Marrocos, deram esta semana à costa portuguesa, numa pequena ilha de Olhão, Algarve. Deveriam ser acolhidos/recebidos em festa e rodeados de muita ternura. Como heróis. Venceram a distância através do mar, nem sempre ameno, muitas vezes, revolto. Numa embarcação desajeitada, pequena de mais para tantos que eles eram, todos jovens, entre os quais uma linda adolescente de 15 anos. Foi uma aventura, a fazer lembrar a dos portugueses de antanho, quando "descobriram" (?) a África, a Índia e o Brasil. Apresentaram-se cheios de fome. De sede. Gritantemente desidratados. Desarmados. Até assustados. E com ar de perdidos. A necessitar de cuidados médicos imediatos e de alimentos. Eram Africanos. Cidadãos africanos. Seres humanos. Em tudo iguais a nós, excepto na cor da pele e na língua, diferenças que tornam ainda mais bela a Humanidade que todas, todos somos, os Povos que todos somos. Alertadas, nem eu quero saber por quem, as autoridades do lugar apareceram em poucos minutos. Prontas para algemar/prender o grupo dos jovens Africanos a cair de fome. Desidratados. Assustados. Sobreviventes, nem eles sabem como o conseguiram. E assim se fez. Para nossa vergonha. Dias antes, em Lisboa, com toda a pompa e circunstância, o Governo português, com o nosso Pinóquio primeiro-ministro e ainda presidente em exercício da União Europeia, acolheu/recebeu um conjunto bem maior de Africanos, de todos os países de África. Todos tiveram, à chegada ao aeroporto, honras e tratamento de chefes de Estado e de Governo. Vip's. Porque, Diplomacia obriga. Melhor, Hipocrisia política - que outra coisa é a Diplomacia, mesmo a do Estado do Vaticano?! - obriga. Muitos deles (ou todos?) ditadores, assassinos, genocidas dos seus próprios Povos. Todos foram recebidos/acolhidos como chefes de Estado e de Governo. Nenhum deles foi algemado e preso à chegada, nem depois, enquanto permaneceram no nosso país. Pelo contrário, andaram de banquete em banquete, tudo pago pelo Estado português, mais de dez milhões de euros! A Polícia portuguesa, armada até aos dentes, estava presente em peso, à chegada. E depois, enquanto eles permaneceram no nosso país. Mas apenas para os proteger, não fosse a cólera popular - terroristas ou malcriados, dizem os Executivos - manifestar-se e apontar-lhes na cara e aos gritos os crimes de lesa-Humanidade, de lesa-Povos, por que eles são responsáveis. Acham que assim, com comportamentos assim, tão desiguais e tão inumanos, vamos a algum lado? Acham que é deste modo, com Executivos que se comportam assim, que avançamos para um mundo de Povos, uma só Humanidade de Povos, todos iguais, todos diferentes, todos companheiros, todos irmãos? A Cimeira União Europeia-África, realizada dias atrás, pode ter concluído com grandes tratados, importantes acordos assinados por todos os chefes de Estado e de Governo. Todos foram rasgados, desfeitos esta semana nas águas do Mar da ilha Culatra, em Olhão, Algarve, com o que fizeram aos 23 Africanos que inesperadamente deram àquela costa portuguesa/europeia. E porquê? Porque, naquele momento e neste acontecimento não-agendado, ficou claro como água límpida, que a Europa e a África não são, nunca serão os respectivos Executivos, nem os de hoje, nem os de amanhã. A Europa e a África são apenas os Povos. Sem os Povos, não há África nem Europa. A União Europeia, de que alguns politicamente ingénuos tanto se orgulham é dos Executivos dos 27 países que a ela aderiram. Não é a União Europeia dos Povos Europeus. Se fosse, seria de todos os Povos Europeus-em-comunhão-com-os-demais-Povos-do-Mundo, não apenas de 27 países. Porque os Povos do Mundo são potencialmente irmãos. Só o Inimigo dos Povos é que faz com que eles se tornem fratricidas, Caim e Abel em duelo, que nem o chega a ser, porque o atacado Abel é simplesmente vítima, não ataca nem se defende. É sumariamente assassinado por Caim, quando poderia e deveria ser abraço e beijado por ele, acolhido na sua diferença. Mas isto que Caim faz contra o Abel é obra do Inimigo dos Povos e da Humanidade, Inimigo todo-poderoso, perverso, mentiroso, assassino. Disfarçado de deus, de divino. No mito das origens, do livro bíblico do Génesis, vestiu a forma de Serpente-que-fala-e-seduz, a deusa da fecundidade dos Cananeus que os Hebreus foram encontrar no terreno que conquistaram, graças, já então, à superioridade da sua estratégia militar. O que, naquele Mito de origem, a mítica deusa-Serpente diz à Mulher e leva a Mulher a dizer ao Homem, portanto, à Humanidade no seu todo neles representada, é mentira. E o que pretende com essa mentira não é que eles, como seres humanos que são, como Povos que são, vivam e vivam em abundância, na sororidade/fraternidade cada vez mais universal. O que ela pretende, como mítica deusa, como ídolo, é matá-los, roubá-los, destruí-los como Povos iguais e diferentes. Para poder ficar a reinar sobre eles, enquanto Povos mortos-vivos, submissos, vassalos, feitos-lesmas, sem pensamento próprio, sem autonomia, sem Poesia, sem Utopia, sem Liberdade, sem Afectos. Apenas sexos prostituídos, violência, ódios, pragmatismo, rotinas, banalidades, ritos religiosos presididos por sacerdotes de mentira, cultos-em-série-fruto-do-medo-e-alimentadores-do-medo, súbditos alienados e pagantes dos Executivos. Os 23 Africanos que deram à costa algarvia deveriam ter sido acolhidos/recebidos em festa e rodeados de muita ternura. Em vez disso, foram algemados e presos. E, depois de ouvidos pelo Juiz, não pelos seus irmãos/irmãs Portugueses da Ilha de Culatra e de Olhão, aonde haviam acabado de chegar, como sobreviventes de uma incrível e heróica aventura em busca de Pão, de Justiça, de Bem-Estar, de Trabalho remunerado, de Paz, foram recambiados de autocarro, noite já adiantada, como bichos, para o Porto, onde há um Centro construído para receber quem, como estes Africanos de Marrocos, ousar entrar indocumentado o nosso país europeu e civilizado. Por ali ficarão, como estrangeiros/prisioneiros deste tipo, até que o processo judicial chegue ao seu termo. O resultado final, mais do que previsível, é que, depois de cumpridas todas as formalidades legais - vêem o eufemismo dos Executivos e a sua hipocrisia, que invocam leis que eles próprios criaram e aprovaram para defenderem os seus interesses e os interesses do Dinheiro que manda neles, para, desse modo "legal", se dispensarem da prática da sororidade/fraternidade para com os outros Povos?! - todos estes jovens Africanos serão recambiados para Marrocos, de onde vieram em busca de Pão e de Dignidade. Têm de aprender, eles e todos os outros Povos não Europeus, que Portugal e a Europa são para os Portugueses e para os Europeus, não para os Africanos ou Asiáticos, a não ser aqueles que nos der jeito contratar e apenas enquanto nos der jeito, porque depois, rua com eles! Pode ter futuro uma Europa assim? Um Portugal assim? Um Mundo assim? A minha esperança, viva esperança, reside nos Povos. Não nos Executivos. Estes só existem para servir/proteger/defender/zelar pelos interesses do Inimigo da Humanidade e dos Povos. São mentirosos e assassinos como ele. Recorrem a eufemismos, como por exemplo, lei, estado de direito, autoridades legitimamente constituídas, tribunais, democracia, direitos humanos, respeito pelos acordos internacionais. Tudo hipocrisia. Tudo mentira. Tudo folclore. Basta que, inopinadamente, chegue à costa marítima de um deles, ou à fronteira terrestre, ou ao aeroporto, um pequeno grupo de 23 Africanos ou Asiáticos, à procura de viver mais e melhor, mediante trabalho remunerado, para toda essa mentira oficial e institucionalizada ser desmascarada e cair como um baralho de cartas. Foi assim com estes jovens Africanos, provenientes de Marrocos. Mas não nos deixemos desfalecer, porque os Executivos não são eternos. A minha esperança - a nossa esperança - reside, há-de residir, nos Povos do Mundo. E a minha esperança não é uma esperança qualquer. É Esperança Teológica, aquela que rebenta no coração de Deus Vivo, o de Jesus, criador de Povos iguais e diferentes, e que rebenta também no mais íntimo dos Povos, nomeadamente naqueles Povos com fome e sede de Justiça, de Dignidade, de Pão, de Sororidade/Fraternidade. Esta Esperança com fundamento inamovível é que mudará o Mundo. Porque é criadora. E lá, onde estiver actuante, faz-se Política, não Poder. Faz-se Acção Política, não Terrorismo de Estado. Gera Povos inconformados, insubmissos, audazes, desobedientes ao Inimigo, militantes de Causas, fraternos, solidários, unidos. São Povos assim que derrubarão os Executivos que nos humilham a todos e nos maltratam, exploram e desprezam, tratam como descartáveis. E, depois de derrubarem os Executivos, estes Povos também decapitarão o Inimigo deles e da Humanidade. Até agora, têm-no respeitado e aos seus Executivos, porque ele, habilmente, se lhes apresenta como deus, o deus-Dinheiro, todo-poderoso e único que tem de ser adorado por eles. Quando descobrirem que ele é o Inimigo deles, da Humanidade, do Planeta e do Universo, que ele é o anti-Deus, o ídolo por antonomásia, mentiroso e assassino por natureza, os Povos do mundo, em lugar de se lhe submeterem, decapitá-lo-ão, como o frágil David (= os Povos desarmados, mas lúcidos) fez a Golias (= o Dinheiro ou Grande Capital, armado até aos dentes e arrogante quanto ele), uma metáfora bíblica e profética que já sugere, desde então, por onde os Povos devem avançar, sem recorrerem a nenhuma das armas do Inimigo, apenas com as suas inteligências, as suas imaginações criadoras e os seus afectos sem limite, todos Abel, nenhum Caim, como sempre tem feito o Inimigo que sistematicamente nos tem posto a recorrer às mesmas armas dele e uns contra os outros, a única maneira dele se perpetuar no Tempo, com novos Executivos que podem ter começado por o combater, mas depois se tornam depressa nos seus novos aliados. A minha Esperança, que brota do coração de Deus Vivo, o de Jesus, diz-me que os Povos do Mundo estão à beira de dar pela marosca - a Ideologia - do Inimigo e dos seus Executivos. Saberão resistir-lhe e aos seus Executivos todos, também os religioso-eclesiásticos, hoje, de novo, muito activos. E saberão abrir o caminho do Futuro, que é dos Povos irmãos, todos diferentes, todos iguais, uma só e mesma Humanidade em muitas línguas e cores de pele e culturas. E as Igrejas? Ah! Ou se convertem (= mudam de Deus) e correm a tornar-se profeticamente parteiras de Povos assim, ou desaparecerão como todos os outros Executivos do Inimigo. O que, em verdade, em verdade vos digo, só me causará alegria, muita alegria. Porque o que o Deus Vivo, o de Jesus, em última instância quer, não é que haja Igrejas/Religiões, mas que todos os Povos do Mundo sejam um e constituam uma só Humanidade em muitos Povos, constituída na Liberdade e na Sororidade/Fraternidade universal, a única Globalização que nos dignificará a todos, seres humanos e Povos. E ao Planeta.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 11 de April de 2008 10:42

Por ter actualidade aqui fica mais uma nota do seu diário aberto:
DIÁRIO ABERTO


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2008 ABRIL 10

"Primeiro, esqueçam o que é habitual ouvir dizer por aí que vivemos numa sociedade pós-cristã; depois convençam-se de que, pelo contrário, vivemos numa sociedade pré-cristã, e logo verão que o problema maior das vocações na Igreja estará definitivamente ultrapassado. Verão igualmente que nem sequer será correcto continuarmos mais a falar de "crise de vocações". Haveremos, sim, de constatar que vivemos num momento privilegiado de cultura de vocações, as mais díspares".
A receita, de todo inesperada, é de um credenciado especialista católico romano, padre canossiano, doutor em Psicologia pela Universidade Gregoriana que na semana passada esteve no nosso país, a animar as Jornadas de Pastoral Vocacional, promovidas pela Diocese do Porto. Amedeo Cencini, que também é consultor do Vaticano, é assim, com todo este simplismo, que responde à grande angústia dos responsáveis maiores da Igreja católica no Ocidente, o da falta de vocações. O dramático da questão é que a mera mudança de linguagem não altera a realidade. E o credenciado especialista romano deveria saber isso melhor do que ninguém, até porque é também licenciado em Ciências da Educação pela Universidade Salesiana. E a verdade é que hoje não há vocações, porque o nosso mundo mudou, e a nossa Igreja não. Essa é que é essa. O Mundo mudou radicalmente. E a Igreja, nas suas cúpulas maiores, a começar pela cúpula romana, com Bento XVI à frente, e também nas suas bases, insiste em fazer regressar a Sociedade e o Mundo à Idade Média. Decididamente, já não sabe a quantas anda. Tem saudades das cebolas do Egipto, em lugar de avançar com audácia, deserto adentro, rumo a uma Humanidade e a um Mundo que hoje cada vez mais a dispensam e até vivem muito bem sem ela. Não há vocações na Igreja e ainda bem que não há, deveria ter dito nas Jornadas da Diocese do Porto o especialista que veio de Roma. O facto é sinal de que as novas gerações já não vão mais nessa mentira eclesiástica que transformou os velhos mitos, a começar pelos velhos mitos das origens, em realidade histórica e, em nome deles, negou e continua a negar sistematicamente os dados da Ciência, como se esta fosse demoníaca e não prolongamento no Tempo da Revelação de Deus, o de Jesus, cujo Espírito, como o Vento, sempre sopra onde quer e como quer, sem ter de pedir licença a ninguém, muito menos ao papa e aos cardeais da Cúria Romana, ou aos senhores bispos residenciais instalados nos seus privilégios, totalmente incapazes de seguirem o rasto do salutar "Tornado" que Ele está a causar na História. Esta é que é a questão fundamental. As novas gerações não vão mais nas catequeses dos seus avós nem mesmo dos seus pais e mães. Já não ouvem o sino da torre da igreja paroquial, por mais que ele teime em dar horas durante o dia, precedidas daquela estúpida melodia do 13 de Maio da nossa vergonha. E, se alguns das novas gerações ainda são obrigados pelos pais a frequentar as catequeses paroquiais até ao Crisma, tais catequeses, de tão absurdas e pré-científicas que são, redundam num decisivo contributo para fomentar ainda mais o cada vez mais generalizado fenómeno do ateísmo contemporâneo. Que pároco católico é que não sabe que o dia do Crisma, na paróquia, presidido e administrado pelo bispo diocesano, é também o dia do abandono definitivo, por parte dos crismados, da Igreja, tal como ela está hoje aí, carregada dos velhos mitos, em vez de cheia do Espírito Santo, o de Jesus, esse mesmo que, dia e noite, está aí a fazer novas todas as coisas? E é esta Igreja assim envelhecida e instalada na sua preguiça institucional e nas suas rotinas de séculos - os textos litúrgicos, por exemplo, que todos os domingos são rezados, por igual em Roma ou em Timor-Leste, estão redigidos numa linguagem tão absurda que causam vómitos às novas gerações, de tão enigmáticos e pré-científicos que são, coisa mais sem graça e sem verdade - que ainda tem a lata de vir falar em missão e em vocações para a Missão?! Tenham vergonha na cara, senhores cardeais da Cúria Romana e senhor Papa, senhores bispos residenciais e senhores párocos. O problema, antes de mais, são vocês próprios. São vocês que, em vez de estarem prontos a dar razões da vossa Fé e da vossa Esperança, em linguagem do século XXI, limitam-se a falar do alto das vossas cátedras que são de mentira, porque feitas de mitos, de letra que mata, de rotinas, de preguiças. Ou vocês têm a audácia de deixar todo esse lixo litúrgico, toda essa horrível catequese moralista e mentirosa, pré-científica, mítica, todas essas doutrinas museológicas, todos esses privilégios, todas essas vestes que fazem de vocês todos, os últimos palhaços da defunta Cristandade, todos esses tiques eclesiásticos de caca que já fedem, todos esses palácios-túmulo onde insistis em viver, todas essas hipocrisias farisaicas e passais alegremente, sem ouro nem prata, apenas com Jesus, o de Nazaré, ao Deserto e a viver em Deserto, na humilde e sábia postura de discípulos das novas gerações, e, uma vez aí, podereis chegar a nascer do Alto, do Espírito, ou acabareis a falar sozinhos como os dementes crónicos desse gigantesco hospital psiquiátrico em que se tornaram o conjunto dos vossos palácios, dos vossos templos e dos vossos santuários. O credenciado especialista que veio de Roma deveria ter-nos dito, gritado isto nas Jornadas do Porto. O problema não são as novas gerações, geradas pelo Espírito Santo, o de Jesus. O problema somos nós, os que constituímos a Igreja católica e insistimos em ser eclesiásticos, em ser clérigos, em ser funcionários que se repetem, semana após semana, ano após ano, numa rotina geradora de dementes, porventura, muito agitados, mas como todos os dementes crónicos, já sem cura. Somos nós o problema, é este Sistema eclesiástico que teimamos em conservar, em lugar de o fazermos implodir. Se vivemos numa sociedade pós-cristã ou pré-cristã, esse é ainda um olhar/falar muito eclesiástico, sem qualquer interesse para as novas gerações que se estão nas tintas para esse tipo de olhar/falar. Vivemos numa sociedade cada vez menos mítica, porque cada vez mais científica. E a Fé hoje - a de Jesus, obviamente, não a religiosa, que essa é sempre intrinsecamente demencial - só faz estremecer corações e mentes, se vestir de Ciência, não de mito. O mito já foi veículo, fio condutor da Boa Notícia de Deus Vivo que explicita o que o seu Espírito está a fazer acontecer na História. Já foi, mas quando eram outros os tempos. Hoje já não é mais. Hoje é bloqueio. E as novas gerações nem sequer têm pachorra para estudar os mitos e assim entenderem a Mensagem que através deles se pretenderia ou pretende anunciar. Somos uma Igreja que envelheceu, que parou no Tempo. Carregamos esse Pecado Mortal. E nem sequer damos por isso. Deixamos de ser Luz do Mundo. Na nossa preguiça, passamos de Vanguarda da História, a carro vassoura. E hoje, já nem carro vassoura somos. Apenas um montão de sucata, ou luxuoso museu, em múltiplos museus, que os turistas visitam, como quem visita uma exposição de restos de dinossauros. Não há vocações na Igreja, nesta nossa Igreja católica, e ainda bem. Saibam que essa falta de vocações é uma dádiva do Espírito. Ele sabe o que está a fazer. E se não estamos disponíveis para O acompanhar, à velocidade do Vento que ele é, ora tsunami, ora brisa, ora vento glaciar, ora vento quente, ele avançará sem nós. Não bastam os ritos do Baptismo e do Crisma, ou da Eucaristia. Decisivo é o Espírito. E este há muito que já não PASSA pelos nossos templos nem pelos nossos santuários, nem pelos nossos ritos, mesmo os chamados sete Sacramentos. Aliás, o Espírito nunca passou por esses lugares de religião e de poder clerical/sacerdotal/eclesiástico/religioso, nem por esses ritos. Esses não são lugares nem ritos que o Espírito frequente. Só mesmo eclesiásticos, clérigos ou leigos, mais ou menos alienados, dementes, com a demência do Religioso. O Espírito do que gosta é de actualizadas práticas políticas maiêuticas e estas acontecem na História, no Mundo, no Secular. E, se alguma vez, acontecerem também dentro dos templos é para os fazer implodir e atirar quem os frequenta para a Rua, para o Mundo. Não é isso que paradigmaticamente nos relata o Livro dos Actos dos Apóstolos, quando eles, contra as ordens do próprio Jesus, teimavam em manter-se na sala de cima do Cenáculo e, depois, no Templo? Não abalou o Espírito aquele lugar? E não fez com que todos os que lá estavam a repetir orações/salmos de outros tempos e ritos sem sentido se vissem de repente na Rua e a falar/testemunhar aos povos, nas línguas deles, não mais na língua dos velhos mitos? Mas semelhante operação/revolução, para hoje ser coroada de êxito, exige que deixemos de vez as cátedras, os templos, os lugares sagrados que são, afinal, de demência religiosa, os privilégios adquiridos, ao longo dos séculos. Exige que nos tornemos discípulos dos povos, a partir das novas gerações, que é o que quer dizer a expressão evangélica de Lucas de sermos entendidos nas línguas de cada povo. A mudança é radical e já estou a ouvir os cardeais da Cúria Romana, o Papa e os Bispos residenciais e os párocos, todos à uma, a dizer como o velho Nicodemos a Jesus: Mas como pode alguém nascer do Alto, de novo, do Vento, se é velho? E o mais que conseguem adiantar como solução é mais do mesmo, como seria voltar a entrar no ventre materno e nascer outra vez. Mais do mesmo. E para mais do mesmo, já basta assim, como estamos. O desafio é, por isso, total. E provavelmente, nem o papa, nem os cardeais da Cúria Romana, nem os bispos residenciais, nem os párocos, nem as leigas/os leigos católicos que hoje temos, seremos capazes de uma tal operação. Não que o Espírito não possa fazer dos velhos nova criação, e das pedras filhas e filhos de Abraão. Mas teríamos de estar dispostos a deixá-lo PASSAR por nós e a ficar connosco. Teríamos de morrer/ressuscitar. Teríamos de colocarmo-nos ao ritmo do Espírito, segui-lO por onde quer que ele vá e nos leve. Estamos dispostos a tanta simplicidade e a tamanha humildade? O credenciado especialista que veio de Roma ao Porto trouxe um dizer novo, mas conteúdos velhos, os de sempre. E se hoje na nossa Igreja há um problema de linguagem, há sobretudo um problema de conteúdos e de posturas. A linguagem vem por acréscimo, se tivermos a audácia de mudar de posturas e de conteúdos, exactamente, por esta ordem que acabo de dizer. Primeiro, é preciso mudar de postura. Deixar os locais religiosos que são todos de demência; deixar os privilégios que são todos uma aberração, deixar os mitos que são todos museu, e assumir-se como discípulos dos Povos, a partir das novas gerações, lá onde eles e elas estão, de modo que nos entendam nas suas próprias línguas, hoje as da Ciência, as da Proximidade, as dos Afectos, todas posturas próprias de intelectuais verdadeiramente orgânicos. Os conteúdos terão de ser também novos, melhor, Novíssimos. Mas mais do que novíssimas doutrinas, têm de ser Novíssimas Práticas, as Práticas Políticas Maiêuticas de Jesus, o do Século XXI e do Terceiro Milénio, já se vê. A Igreja deste Milénio será jesuânica ou não será. Esqueça por isso a Igreja tudo o que disse e fez até hoje, inclusive, os dogmas que definiu como coisa definitiva, esqueça até o Cristianismo sem Jesus que difundiu pelo mundo, durante os últimos dezasseis séculos que foram de Cristandade Ocidental. E atreva-se a ser outro Jesus, simplesmente. O do Terceiro Milénio, obviamente. Será então Igreja outra. Mais invisível do que visível. Com ministérios, mas sem hierarquia. Presença-fermento, por isso, sem necessidade de locais próprios, muito menos de templos, nem os velhos nem outros novos a construir. E até sem corpo próprio, à parte da Humanidade. O seu corpo será o de toda a Humanidade, onde ela é, terá de ser discreto, mas fecundo e transformador fermento. Saibam que é já por aqui que tento andar, desde que fui ordenado presbítero da Igreja do Porto. Mas a verdade é que quase ninguém, de dentro, me quer ouvir, muito menos tomar a sério. Acham até - e fazem-no constar de boca a ouvido - que estou louco, o que é uma outra maneira de dizer que eu estou possesso do diabo. Mesmo assim, posso garantir-lhes que nunca como hoje me experimentei tão profundamente presbítero da Igreja do Porto, a do século XXI. Melhor, aprendiz de Presbítero. Quem mais, então, entre todos os meus irmãos presbíteros, bispos e demais católicos leigos e leigas se atreve a andar também por esta mesma via que eu procuro andar, a via de Jesus, feita de deserto e em deserto?

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 11 de April de 2008 11:55

A linguagem é forte porque generaliza, mas a mensagem é muito importante. Os maiores obstáculos ao Espírito nos tempos de hoje vêm de dentro da organização da Igreja.

pontosvista

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 11 de April de 2008 14:29

De qualquer modo é importante manter a calma e a serenidade. As religiões são como a côr da pele: são diferentes; e as perspectivas pessoais sobre a história são como as flores: são mais que muitas e diferentes.
Mas não devemos esquecer que "a preguiça é a mãe de todos os vícios".

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Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 11 de April de 2008 18:34

E por que tantas religiões e só um Deus?

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 15 de April de 2008 19:14

A mais fecunda actividade humana é claramente multicêntrica. Pretender que tudo deve ser decidido ao nível de uma única cabeça ou de um único comité redunda habitualmente em formas brutais de opressão, muito ao jeito da política da besta e do correspondente uniformismo ideológico.

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Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 11:15

Devo especificar que para mim a besta (cf Apocalipse 13) é uma percentagem do que cada um de nós é: serão 0,01%, 0,1%, 1%, 10% ou 50% conforme o aprumo do sentido que cada um(a) dá à sua vida. E tem a ver com a incapacidade de aceitação do outro(a), na sua fragilidade, nas suas carências, nos seus sonhos, nas suas potencialidades e na sua forma própria de amar. Talvez ninguém seja 100% besta, mas é um facto que juntos também podemos construir a maior das bestialidades. Para que tal não aconteça é que existem os profetas.

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Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 31 de October de 2008 12:42

Por se referir ao Sínodo da Palavra aqui fica mais um excerto do diário aberto do Padre Mário de Oliveira, a viver em Macieira da Lixa:



2008 OUTUBRO 30



Frei Herculano Alves - quem, pelo menos entre as gentes católicas e cristãs em geral do país e na Universidade católica do Porto, onde ele é professor de renome, o não conhece como o mais reputado frade capuchinho actual da Bíblia?! - acaba de publicar um breve artigo sobre o Sínodo dos Bispos, encerrado dia 26 em Roma. Pude lê-lo na Agência Ecclesia. E não gostei. O que ele diz sobre a Bíblia parece ter tudo de oportunidade, mas é demasiado ambíguo. Parece que a desgraça maior da Humanidade é o facto de a Bíblia ainda não andar na pasta pessoal e nas mãos de cada católico, como já anda, por exemplo, naquelas pastas, todas iguais, e nas mãos, todas formatadas por uma ideologia aterrorizadora, das Testemunhas de Jeová que, desde há anos, não há maneira de largarem as portas das casas das pessoas, sempre dois a dois, como terá feito Jesus, quando enviou as suas discípulas, os seus discípulos dois a dois em missão, essa, porém, não aterrorizadora como a dos dois a dois de Jeová, mas subversiva e fecundamente libertadora para a Liberdade. Sugere nesse artigo - e nisso até parece arrojado, mas não é - que as paróquias católicas, em lugar de rezarem rotineiramente a missa todos os dias da semana, criem, cada uma, a sua Escola da Bíblia e passem a ler mais a Bíblia, inclusive, a rezar a Bíblia - é a chamada Lectio [leitura] Divina, agora tão na moda entre os católicos e tão do gosto dos bispos e até do papa Bento XVI - e passem também a estudar mais a Bíblia. Chega a dizer neste texto que o Deus da Bíblia é o único Deus - não há outro fora dela, escreve sem pestanejar - e que com a leitura rezada da Bíblia entramos na intimidade com Ele. Sou amigo, e irmão, também no ministério de presbítero, ainda que viva há muitos anos riscado do Anuário Católico, de Frei Herculano e, durante vários anos, participei, na minha qualidade de director do Jornal Fraternizar, em sucessivas Semanas Bíblicas, realizadas em finais de Agosto, no Seminário do Verbo Divino, em Fátima. Sempre lhes dei, depois, o devido relevo jornalístico, com algum saudável acento crítico, na edição seguinte do Fraternizar, nesses anos, ainda de periocidade mensal. Até que desisti. De ano para ano, a rotina instalou-se e as Semanas Bíblicas perderam (não sei se alguma vez o tiveram!) o Espírito, esse mesmo que sopra forte como tsunami e terno como suave brisa em Jesus, o de Nazaré. A princípio, nem os bispos apareciam por lá, num inequívoco sinal de que não estavam com a iniciativa dos Frades. Mas, perante a crítica que o Fraternizar fez dessa notória ausência e indiferença episcopais, alguns bispos lá começaram a aparecer e até a intervir, sobretudo, a presidir à missa de encerramento. E tudo se banalizou, à medida que se institucionalizou, rotinizou. Nunca mais passei por lá. Mantém-se, ainda assim, a permuta do Fraternizar com a revista Bíblica, neste momento, de novo dirigida por Frei Herculano. Mas até a Revista perdeu Sopro, Espírito. Limita-se a escrever o óbvio. Trazia, ultimamente, algum salutar sobressalto a colaboração de um biblista latino-americano que, a partir de dada altura, passou a desenvolver um tema bíblico em cada edição da revista. Mas há meses, até ele foi suspenso de escrever e de fazer conferências e até homilias na missa que, porventura, ainda queira continuar a celebrar. Roma e os bispos do seu país não gostaram que ele pusesse em dúvida a existência histórica do mítico casal humano Adão e Eva e, consequentemente, o mito do pecado original. E pumba!, há que o proibir de falar em público e de escrever. É perito em Bíblia, em exegese / hermenêutica bíblica e, mesmo assim, tiraram-lhe a palavra. Foi pena, porque, com o desaparecimento deste especialista em Bíblia, a Bíblica perdeu até o pouco de "sal" que ele lhe dava em cada edição. Roma e os bispos do país do Pe. Ariel proibiram-no, do pé para a mão, de continuar a falar e a escrever sobre a Bíblia. E nem este facto levou Frei Herculano a mudar o seu discurso sobre a Bíblia. Até parece que se revê nessa condenação do seu colega e colaborador da revista que dirige. Tanto assim, que, neste seu artigo, repete à saciedade que a Bíblia é a Palavra de Deus e que sem o conhecimento dos seus livros, não se pode ser cristão. Mas então não dá para perceber que há um certo uso da Bíblia que serve apenas para adormecer e envenenar as pessoas que a lêem e estudam? Os párocos, por exemplo, que estão aí no activo, não leram-estudaram todos a Bíblia, durante o Curso de Teologia, na Universidade católica? E valeu-lhes de alguma coisa? Mudou-lhes a mente e, sobretudo, a vida? Não são, na generalidade, meros funcionários do Religioso, comerciantes de missas ditas a correr e sem o mínimo de preparação, nem de Espírito Santo, o de Jesus? Não são os primeiros a presidir a todo o tipo de romarias e procissões religiosas que certas comissões de festas da paróquia promovem, ano após ano, numa manifestação de Paganismo católico, o mais absurdo e fomentador de incultura das populações? Não são os primeiros a ter a Bíblia em casa, mas bem fechada? Ou a lê-la com frequência, mas apenas à letra, como faz qualquer Testemunha de Jeová ou qualquer pastor fundamentalista que está à frente de Igrejas dizimistas que promovem cultos sobre cultos e correntes de oração sobre correntes de oração, só para, com isso, ganharem muito dinheiro à pala da "Palavra de Deus", ao mesmo tempo que ajudam a embrutecer e a assustar as populações que se deixam enganar e comer por elas e pelos seus pastores?! Podemos ignorar toda esta realidade que, hoje, está aí diante dos nossos olhos, quando falamos e escrevemos sobre a Bíblia e sobre a necessidade de a ler e de a rezar? Não é muita ingenuidade da nossa parte? Pior, não é muita insensatez da nossa parte? Pode o meu amigo Frei Herculano, especialista em Bíblia e até tradutor dela, a partir das línguas originais, o hebraico e o grego clássicos, escrever, como escreve, neste artigo, que o Deus da Bíblia é o único Deus que existe e fora dele não há outro? Ignora, por exemplo - eu sei que não ignora, mas fala-escreve como se ignorasse - que foi em nome do Deus da Bíblia, tal como os sumos-sacerdotes do Templo de Jerusalém, os doutores da Lei, os fariseus e os saduceus, todos crentes nele e seus arautos, a liam e interpretavam todos os sábados nas respectivas Sinagogas espalhadas pelo país, que Jesus, o de Nazaré, foi preso, julgado, condenado à morte e executado na Cruz sob Pôncio Pilatos? Este Facto Maior - a Maior Revelação de Deus, o de Jesus, na História - não lhe diz nada? Não o faz estremecer? Não o leva sequer a hesitar, quando defende com tanta insistência que o Deus da Bíblia é o único Deus e fora dele não há outro? A ser verdade, então o Deus da Bíblia não é pai da Mentira e Assassino desde o princípio, em nome do qual todos os profetas antes de Jesus foram assassinados pelos sacerdotes do Templo e pelos reis que os sacerdotes do Templo ungiam e abençoavam, ou, pelo menos, perseguidos e caluniados por uns e por outros, como os piores dos seres humanos, votados, por isso, ao ostracismo mais desprezível? O Deus da Bíblia ainda é o Deus de Jesus, o de Nazaré? Não é um ídolo, e da pior espécie? Não foi por Jesus ter desvelado, desmascarado, denunciado que o Deus da Bíblia era um ídolo, o mais perverso dos ídolos, que os sumos-sacerdotes o mataram, em coligação com o representante do Império no país militarmente ocupado? Será que pensamos bem o que escrevemos e dizemos, quando nos pomos a escrever, falar, dissertar sobre a Bíblia e o Deus da Bíblia? Os últimos três mil anos de História - os mesmos em que passou a haver Bíblia, ainda que não tão completa como a que temos hoje, já que a Bíblia como a temos hoje levou mil anos a ser escrita - não nos revelam nada sobre ela e sobre o Deus dela? Não foi em nome da Bíblia e do Deus da Bíblia que se realizaram e ainda continuam a realizar-se os piores massacres de populações indefesas, os piores genocídios, os piores atentados à Natureza, as piores destruições de culturas dos povos e de civilizações da antiguidade e da actualidade? A prática generalizada do famigerado mandamento "Votar ao anátema", que consistia em matar todos os sobreviventes duma terra ou país, após uma invasão militar vencedora, não é na Bíblia que se inspira e não aparece lá como uma prática mandada realizar pelo Deus da Bíblia?! Que crimes à face da Terra e contra a própria Terra, dos inúmeros que se cometeram e cometem ainda hoje - entre os quais, as nossas famosas invasões e conquistas, desde Afonso Henriques para cá, sem esquecer as Cruzadas e as nossas "descobertas" e conquistas de há pouco mais de 500 anos, que culminaram na ocupação e no saque sem limite dos respectivos povos e na criação do Império colonial português, não foram todos ou quase todos inspirados, directa ou indirectamente, na Bíblia e em obediência a ordens do Deus da Bíblia? Não é nessa mesma linha que quase sempre foram e ainda vão as chamadas Missões católicas e protestantes? Haja modos, Frei Herculano! Haja modos, senhores bispos católicos de todo o mundo que se fizeram representar no Sínodo em Roma (dois foram portugueses, António Taipa, auxiliar da Diocese do Porto, e Anacleto, auxiliar do Patriarcado de Lisboa), quando falam, dissertam sobre a Bíblia como Palavra de Deus. Haja modos, papa Bento XVI que a tudo preside e agora, depois do Sínodo ter encerrado, vai fazer publicar um Documento Final, assinado por ele, sobre o assunto debatido no Sínodo, e com orientações para toda a Igreja. Haja modos, cardeais da Cúria Romana. Porque, se não houver modos, da parte de todos vós, tudo o que disserdes e ensinardes pode ir na linha do que diz Frei Herculano neste seu curto texto publicado na Ecclesia. E o resultado só pode ser desastroso, causa até de mais ateísmo. Porque a Bíblia tem o que se lhe diga. Não pode ser sacralizada. Sacralizá-la - os Capuchinhos e outros editores de Bíblias em vernáculo - até lhe chamam "Bíblia Sagrada - é convertê-la num ídolo, num tabu, num talismã que é bom ter em casa para afastar maus olhados e desgraças nessa casa!!! Até onde vai a demência humana! Não basta que cada pessoa tenha uma Bíblia e a traga consigo (já viram quanto dinheiro entrava nos cofres dos Frades Capuchinhos, editores das traduções católicas em português, difundidas, inclusive, nos PALOPs, se cada pessoa que lê português corresse a comprar uma Bíblia para a trazer sempre consigo e a abrir sempre que lhe apetecesse ou se sentisse metido em algum sarilho?!). Pois é, Frei Herculano, como bem sabe, a Bíblia custa dinheiro, como os outros livros também, é certo. Mas, se, depois de a comprarem, levadas pela publicidade eclesiástica, as pessoas não entenderem nada do que lêem, por manifesta falta de formação bíblica e cultural em geral e, sobretudo, por falta de Fé, a mesma Fé de Jesus, de que valeu gastarem o seu dinheiro?! Haja modos, volto, pois, a dizer! Para começar, ousemos desmentir o slogan posto a circular, desde há séculos, esse mesmo que diz que a Bíblia é a Palavra de Deus. Não é. Por trás e por dentro dos seus livros, nomeadamente, os do Primeiro Testamento, há muita ideologia, a do Poder davídico-salomónico, por ordem do qual, o mais antigo relato mítico das origens, por exemplo, o tal que fala de Adão e Eva, da Serpente e do paraíso, da Queda ou Pecado e da consequente expulsão, foi escrito. Para desse modo, melhor impor o mito de que a sua casa real e a sua dinastia vinham directamente de Deus, esse mesmo que agora se diz que é o Deus da Bíblia. E para melhor impor ao mundo o outro mito de que o povo que resultou da junção das 12 tribos, graças a uma hábil estratégia político-militar de David-Salomão, até então separadas e autónomas, era o povo eleito, escolhido por Deus, esse mesmo que hoje dizemos que é o Deus da Bíblia. Por favor, senhores bispos e meus queridos irmãos Capuchinhos (é o que significa o título Frades, proveniente do substantivo Frater, latino), tenhamos modos e tento na língua que fala e na mão que escreve sobre a Bíblia. A Bíblia não é a Palavra de Deus. Quase sempre é tão-só a Palavra do Poder divinizado, com ambições imperialistas, sempre mentiroso e assassino! Não o diz a História destes últimos três mil anos? Porque havemos de difundir mentira sobre mentira, quando só a Verdade nos faz livres? A Palavra de Deus - sabem-no tão bem como eu - não é um livro, nem um conjunto de livros, 73, na versão católica, que são os que "fazem" a Bíblia, tal e qual a temos, nós, Igreja Católica. A Palavra de Deus é um Homem de carne e osso, é um Ser Humano histórico, que nasceu uns quatro a seis anos antes do ano 1, da chamada Era Comum (e. c), em Nazaré e acabou crucificado, em Abril do Ano 30, em Jerusalém, também em nome do Deus da Bíblia. O seu nome é Jesus, "o carpinteiro", "o filho de Maria" (olhem que nem pai tem, só mãe, o que então era a pior das desonras!), no atrevido dizer-testemunhar do Evangelho de Marcos que, surpreendentemente, é um dos 73 livros da Bíblia em versão católica, infelizmente, hoje, mais do que domesticado pelas cúpulas eclesiásticas. Jesus é, pelo menos para as, os que vivemos a sua mesma Fé, feita de Práticas Políticas e Económicas Maiêuticas, a Palavra de Deus entre-nós-e-connosco. Na medida em que é o Ser Humano plenamente possuído, habitado, conduzido pelo Espírito Santo, o de Deus-Abbá, seu e nosso Pai/Mãe universal, esse mesmo Espírito, sem o Qual toda a palavra feita letra, da Bíblia que seja, sempre mata. De modo que Deus que nos faça humanos até ao limite e para lá do limite, só mesmo o de Jesus, um Deus a quem nunca ninguém viu, nem verá, mas que se tornou, subversiva e fecundamente, visível como o nosso Abbá nas Práticas e nas Palavras Maiêuticas de Jesus, o Filho por antonomásia, a quem os do Deus da Bíblia crucificaram. Mas até Jesus, o de Nazaré, tem que ser acolhido-praticado com toda a nossa inteligência afectiva e com todo o nosso discernimento cordial, porque as cúpulas das Igrejas já o travestiram de mítico Cristo todo-poderoso-e-milagroso e, com ele e em nome dele, sistematicamente nos enganam, ludibriam, anestesiam, domesticam, oprimem, submetem, humilham, excomungam e, finalmente, se, mesmo assim, continuarmos a resistir-lhes e a desmascarar os seus santos e sagrados crimes, matam-nos, inclusive, de forma cruenta. Quem se atreve a desmentir-me? Só se for em nome do Deus da Bíblia e do mítico Cristo que inventaram para fazer as vezes de Jesus, a quem crucificaram. Em nome de Jesus, a quem crucificaram, e do seu e nosso Deus Abbá, é impossível alguém desmentir-me. Apareça o primeiro que se atreva!



Editado 1 vezes. Última edição em 31/10/2008 12:43 por Albino O M Soares.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 31 de October de 2008 13:36

Tanto azedume, tanta má-vontade, tanto gosto em ver o negro...

A partir de certa altura deixei de ler...

Um exemplo entre muitos:

Citação:
Não foi em nome da Bíblia e do Deus da Bíblia que se realizaram e ainda continuam a realizar-se os piores massacres de populações indefesas, os piores genocídios, os piores atentados à Natureza, as piores destruições de culturas dos povos e de civilizações da antiguidade e da actualidade?
(Nota: o sublinhado é meu)

Ainda continuam?!

Os piores?!

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 31 de October de 2008 13:56

Um facto é que temos de ser cautelosos com as palavras, enquanto veículo de ideias que pretendermos impôr aos outros. As palavras e as ideias devem ser tidas como plasma de comunicação entre as pessoas e não como veículo de dominação. E que precisamos de fomentar prácticas políticas em consonância com a Fé, enquanto força do sentido, parece-me uma sugestão valiosa.

*=?.0

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 31 de October de 2008 14:30

Um bom conselho para dares ao autor das palavras que trouxeste, Albino.

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 04 de November de 2008 09:30

Mas a Bíblia não é um livro isento de erros. Passagens como esta ( Números 31 )

"14Moisés, porém, irou-se contra os oficiais do exército, os chefes de milhares e os chefes de centenas, que regressavam da batalha, 15e disse-lhes Moisés: «Porque deixastes com vida todas as mulheres? 16*Foram elas que, instigadas por Balaão, arrastaram os filhos de Israel a trocar o SENHOR por Baal-Peor, o que foi causa do flagelo na assembleia do SENHOR. 17Vamos, matai, agora, todo o rapaz, e toda a mulher que tenha tido relações com homens; 18mas conservai em vida todas as raparigas que não tiveram relações com homens e elas serão para vós",

que surgem após um magistral " Não matarás " são de facto de estarrecer.

Outra questão também magistral, é que durante muitos séculos se considerou que a Bíblia não tinha erros, mesmo cosmológicos, porque se considerava Cristo como causa determinante do Universo e portanto as suas palavras não podiam estar erradas nestes domínios do conhecimento. Toda a gente sabe dos horrores cometidos contra os que começaram a desvendar os mistérios do Cosmos (se bem que ainda hoje, e em nome do absolutismo, Ratzinger tente impor a cosmologia ptolomaica à civilização).

Quanto ao direito a chacinar, ver chacinas nas Américas, no Vietname, em África, quase sempre com um silêncio clerical confrangedor.

Claro que o problema não é Deus, que nos dá o essencial, nem Jesus Cristo, que nos dá as causas de convergência para o nosso dia a dia, mas tão só nós, os Homens e Mulheres, ora pela petulância ora pela cobardia.

*=?.0

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 04 de November de 2008 09:45

Caro Albino:

Funcionar com um Deus (deus) à nossa imagem e semelhança dá espaço a todo o tipo de violências.

O mesmo se pode dizer das descontextualizações quando se trata de ler um texto.

Mas também as meias verdades ou as não-verdades são formas de violência. Dizer que «em nome do absolutismo, Ratzinger tent[a] impor a cosmologia ptolomaica à civilização» é um absurdo, uma violência contra a verdade.

Alef

Re: Padre Mário de Macieira
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 04 de November de 2008 13:51

Albino,

Os conhecimentos dos homens foram evoluindo ao longo dos tempos, assim como a sensibilidade para e com o que nos rodeia e com o que construímos. Todas as sociedades humanas foram capazes de grandes gestos e grandes crueldades, qualquer que fosse (seja) o Livro Sagrado (escrito ou não) que as orientou. Reconhecer os erros do passado é uma forma de não perseverar neles no futuro. Ver na história da humanidade apenas os erros que foram cometidos e não ver os gestos bonitos, grandes e pequenos, que foram feitos, é uma forma muito parcial e errada de olhar para o passado. Uma forma particular de cegueira...

Estás a ler a Bíblia sem a contextualizar no tempo e espaço em que foi escrita, com os olhos e sentimentos dos dias de hoje? É tão errado como lê-la segundo a ideia de que tudo o que lá está é para seguir como se fosse um manual de instruções.

Quanto às chacinas, vejo que a Igreja tem denunciado muitas formas de violência, seja através de chamadas de atenção do Papa, seja por missionários, padres e religiosos que estão junto das populações, seja por movimentos de leigos que estão no terreno... As notícias estão aí, talvez não recebam muita divulgação pelos meios de comunicação social, mas estão. Mesmo em épocas em que violências foram cometidas em nome de Deus, sempre houve quem se insurgisse, sempre houve vozes que denunciavam o que estava mal.

Cassima

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