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O Inferno e o diabo...
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 11:21

Aqui vai mais uma proposta de tema (bem quente!). Creio que ainda não foi tratado, mas ainda não consegui ler todos os tópicos deste Fórum...

E o tema é:

O Inferno e o diabo


Tópicos relacionados para possíveis (des)envolvimentos:

- existência: sim ou não?
- significado: literal? simbólico?
- fundamentação bíblica: como interpretar os diferentes textos e imagens?
- que dizer das aparições que falam do inferno, como as de Fátima? E das hagiografias, cheias de relatos com diabos e diabretes?
- inferno e bondade de Deus: compatíveis?
- criação e diabo: o diabo é uma criatura de Deus? Ou uma espécie de "Deus ao contrário"?
- liberdade/responsabilidade e tentações "diabólicas": se é o diabo que nos tenta, como podemos ser livres? E onde começa a responsabilidade?
- possessões diabólicas: reais? doenças do foro psicológico/psiquiátrico?
- que comentário merecem os cultos satânicos?

[b[>:[[/b]


Alef

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 20:57

Sobre isto, concordo com Sartre : O Inferno são os outros.
E todos nós podemos ser para os outros um bocadinho diabólicos ou uns verdadeiros diabinhos ou mesmo uns pobres diabos, conforme as nossas escolhas existenciais e forma como vivemos a nossa condição humana - a liberdade. ( A possibilidade de escolha entre o Bem e o Mal).

Eui, por exemplo, já fiu acusada de ser o Belzebu do site e até houve propostas de reacender as fogueiras santas da Inquisição...
;º))

ana

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 20:59

Quanto ás possessões diabólicasm,neste momento são consideradas doenças mentais.

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 22 de January de 2003 21:55

De facto, um tema muito quente (o inferno)...

Como já disse há pouco, até ao fim de semana não vou ter muita disponibilidade, por isso, deixo apenas uma pequena introdução.

A minha opinião pessoal sobre o assunto, o Inferno e o Diabo, é: "Não sei...". E não sei, talvez não por não saber, mas por não ter a certeza de muita coisa, onde este assunto se inclui (pois, a fé é feita de muitas dúvidas). Por um lado, a doutrina católica diz-nos que existe o Céu, o Inferno e o Purgatório, mas por outro, a Igreja nunca confirmou que alguém estivesse no Inferno, embora no Céu, sabemos que pelo menos todos aqueles que foram beatificados ou canonizados se encontram junto do Pai Celeste.

Quanto ao Diabo, ainda é mais difícil de dizer o que quer que seja sobre o mesmo. A Igreja tem um manual oficial do ritual do exorcismo (ver notícia sobre Exorcismo traduzido. Mesmo entres os padres católicos, a opinião não é unânime: já falei com padres que defendem a existência do Diabo como ente, e outros que afirmam que não passa de uma metáfora.

A única coisa que sei, é que já presenciei coisas para as quais não encontro explicação científica. Mas também não posso dizer que "... são coisas do diabo."

Todavia, este é um assunto que me desperta muita curiosidade, ao ponto de ter comprado o livro Teologia da Salvação, BAC. Já o comecei a ler mas ainda estou longe de o acabar.

Até domingo,
Luis

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 11:16

Não vou ainda "botar sentença" sobre este tema. Apenas mais uma acha para a fogueira... Não sei se conhecem um ficheiro que circula pela Internet que se diz ser uma gravação dos sons do inferno (em mp3)... Há muitas páginas sobre o assunto, mas indico uma em português: <[www.geocities.com]; . O curioso é que muita gente leva isto mesmo a sério.

Não percebo como é que as pessoas gritam sem cordas vocais, mas isso é outra questão que terá a ver com a minha falta de fé :-) E o autor da descoberta garante que são vozes de "milhões de seres humanos juntos"...

Se alguém estiver ansioso em fazer o download do ficheiro, sem mais explicações, pode ir directamente a [www.geocities.com] .

Arrepiante!

Aposto que alguém colocará isto nas "Tangas diversas"...

Alef

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 11:17

De novo o "link", porque em cima não ficou "linkável":

[www.geocities.com]

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 12:34


Bem... Este ficheiro é mesmo esquisito, mas parece-me demasiado fabricado. O facto de o volume ser aumentado mesmo no final da "pregação" para aumentar o susto é demasiado suspeito. :o)

E, que me perdoem, mas também tenho muita falta de fé em que o Inferno esteja no centro do mundo (mas isso não se deixou de acreditar até há pouco tempo) nem que as almas, sem cordas vocais, possam gritar...

Mas há mais aspectos curiosos... Segundo o artigo, estes senhores andavam com microfones há mão que podiam aguentar pelo menos 244ºC e que não se pudesse andar por aí com perfuradores a gravar mais sons do Inferno... Até se podia editar um CD "A Sinfonia dos Danados", com os gritos das almas dos quatro pontos do globo! LOL

Acho que são coisas destas que descredibilizam o Inferno. Tanto quanto sei, é o "lugar" mais frio do mundo...

Mas depois partilharei algo mais sobre o assunto.

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 12:42


Tenho ainda comentários a fazer ao que a Ana disse no início...

O Inferno será isso sim "a ausência" dos outros.

Acho que se pode dizer que tu por aqui és um verdadeiro mafarrico diabólico (diabolos - divisor) que em nada parece acreditar e só gera a confusão e discórdia... Estarás possuída? :o)

E quanto a essa de dizeres que as "possessões demoníacas" são consideradas doenças mentais, não se pode afirmar nada assim tão peremptoriamente. Claro que existem muitos cientistas, psicólogos e psiquiatras que o quererão afirmar assim, mas existem outros, mais objectivos, que reconhecem que em alguns casos existem coisas inexplicáveis que aparentemente os exorcismos (curiosamente de diversas religiões) parecem tratar melhor que a mais avançada terapia ocidental...

Claro que no passado as histerias, principalmente em mulheres, eram tomadas como possessões, bem como diversas doenças mentais. Mas não se pode generalizar e ainda hoje parece que há por aí com cada caso mais esquisito e "paranormal"...

Estou apenas a afirmar que as dúvidas existem e que nada é assim tão claro como queres acreditar.

Mas pessoalmente, até que concordo em que hajam possessões... Mas não o posso afirmar peremptoriamente também.

Parece-me ser um assunto que deve ser respeitado e tratado com seriedade.

Acima de tudo, o Inferno parece-me ser uma exigência óbvia da nossa liberdade: porque se não pudéssemos REALMENTE ficar em Inferno, não faria sentido sermos REALMENTE salvos... Toda a fé não passaria assim de teoria humanista subserviente a um deus menor...

Quanto a construir uma pira para "aquecer" o diálogo contigo, deixa lá, eu nunca impliquei isso...

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 12:51


Epa... Desculpem o Português das últimas mensagens... :o)

Já agora, se forem ao sítio original [www.geocities.com] verão que se trata apenas de mais uma "apologética" protestante que, como fazem as demais, aposta numa particular forma de "evangelização" (leia-se proselitismo), apoiando-se tanto quanto possa no medo do Inferno, chegando a verificar-se estas coisas tão fabricadas...

Onde é que vai parar a divisão e o fundamentalismo...?

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 25 de January de 2003 21:28

POssuida ,não estou, mas ás vezes fico possessa...sobretudo quando me chamam..... mafarrico........ =:ºP
LOL
Falando seriamente, não será a negação do diabo uma outra forma de negação de dEUS?

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 18:46


:o)

De "dEUS"?

Há uma forma de negação do diabo que é essencial realizar (evangelizar): a da personificação do mal. Essa concepção sim, deve ser negada porque é falsa. Também a perspectiva supersticiosa de associar tudo quanto seja mau ou malévolo a essa figura, incluindo no domínio da doença em que as possessões eram observadas sem discriminação criteriosa...

Vamos aproximando-nos aos poucos da questão fundamental: se "ele" existe ou não... :o) E se sim, como.

Pessoalmente, encaro a luta contra o mal de uma forma bastante pacífica. A tentação colabora com a santidade e é nessa base, pela conquista e sobrevivência ao pecado, que compreendemos a necessidade de um constante processo de arrependimento, cura e conversão, ou seja, de "exorcismos".

Todo esse mal é vil e auto-destrutivo. Não é necessariamente uma louca gritaria de pânico e terror. É simplesmente o temível vazio e desgraça de se afastar de Deus. Viver à mercê de ídolos enganadores e desumanizantes.

No entanto, existem coisas mais esquisitas... que ninguém consegue explicar objectivamente, "cientificamente". Temos explicações teológicas, que estão sempre para além dos resultados observáveis em significação.

Isto do exorcismo, considerando como reais as possessões demoníacas e portanto a existência de demónios, também implica falar em anjos e em autênticas actividades bélicas entre Céu e Inferno, o que nos levaria por meandros absolutamente transcendentes e quase mitológicos...

Mas afinal, é certamente mais objectivo e responsável da nossa parte ouvir o que a Igreja, i.e., o Papa, que a representa na totalidade, tem para dizer sobre este assunto.

Não sei se estou certo, porque não o consigo confirmar, mas parece-me que foi João Paulo II que disse a seguinte frase que, vinda de Sua Santidade, muito me faz pensar:

"Quem não acredita no diabo, não acredita no Evangelho".


João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 22:36

Penso que o Mal existe. Como existe o BEm . A grande dificuldade é que ás vezes não há uma ténue linha, ou uma fronteira definida entre uma coisa e outra... Isso é que é angustiante. Por isso as escolhas podem ser difíceis.

ana

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 23:35


O mal torna-se permissível porque colabora no apuramento e identificação do bem. Se não existissem ambos, existiria uma só coisa, nem bem nem mal.

Não existiria amor nem liberdade. Como seríamos sem o bem... e sem o mal?

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 00:07

Uma referência à Sagrada Escritura...

Diabo - do grego Diabolos - Aparece 34 vezes na Bíblia Sagrada, tradução da Difusora Bíblica (também conhecida pela Nova Bíblia dos Capuchinhos): Sb - 1, Mt - 6, Lc - 5, Jo - 3, Act - 2, Ef - 2, 1 Tm - 2, 2 Tm - 1, Hb - 1, Tg - 1, 1 Pe - 1, 1 Jo - 2, Jd - 1, Ap - 6 (Sb 2,24; Mt 4,1; 4,5; 4,8; 4,11; 13,39; 25,41; Lc 4,2; 4,3; 4,5; 4,13; 8,12; Jo 6, 70; 8,44; 13,2; Act 10,38; 13,10; Ef 4,27;6,11; 1 Tm 3,6; 3,7; 2 Tm 2, 26; Hb 2, 14; Tg 4,7; 1 Pe 5,8; 1 Jo 3,8; 3,10; Jd 1,9; Ap 2,10; 12,9; 12,12; 20,2; 20,3; 20,10).

Inferno - do grego Geenna - Aparece 5 vezes na Bíblia Sagrada, tradução da Difusora Bíblia - 1 vez em cada um dos livros Jb, Mt, Lc, Tg, 2 Pe: (Jb 26,6; Mt 23,15; Lc 10,15; Tg 3,6; 2 Pe 2,4).

Luis

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 00:35


Pois é, "Inferno" pode ser traduzido de diferentes formas e tem várias significações. Uma delas que fica por explicar é o Purgatório que é diferente do Inferno...

Luís, parece-me que te faltam algumas citações, pelo menos de Geenna. No sítio que citaste, eis as citações que se indicam para Geenna (bem estava a estranhar que fossem só essas 5): Mt 5,22; Mt 5,29; Mt 5,30; Mt 10,28; Mt 18,9; Mt 23,15; Mt 23,33; Mc 9,43.45.47; Lc 12,5; Tg 3,6! Aqui, não se inclui Jb 26,6; Lc 10,15; 2 Pe 2,4.

Vê também Hades. Parece-me que seja (ainda com toda a discussão que estas interpretações merecem) a "mansão dos mortos", Sheol em hebraico, Purgatorium em Latim.

Repare-se que "as portas do Inferno (Hades, não Geenna)" refere-se ao ministério de ligar e desligar de Pedro (cf. Mateus 16,18+). Alguém se lembra das indulgências (ainda válidas e recomendáveis)?

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 00:46


Referências ao Hades na Escritura (segundo o portal Crosswalk):

Mt 11,23; Mt 16,18; Lu 10,15; Lu 16,23; Act 2,27; Act 2,31; 1 Cor 15,55; Ap 1,18; Ap 6,8; Ap 20,13; Ap 20,14.

Interessante é reparar que a Geenna é tomada como a condenação eterna e o Hades como lugar de corrupção e tormento mas geralmente ligada à passagem entre Céu e Inferno ou à sobrevivência à morte. Temos a Geenna como morte (Inferno) certa e uma diferença clara entre morte e Hades, quase como opostos.

Dizias tu Luís, aqui há tempos, que não encontravas evidências bíblicas para o Purgatório? :o)

João

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 09:33

Bom, mais umas "achas" para a fogueira, com dois artigos de quem não acredita na "fogueira" e tenta "desmitizar" o diabo... Seu autor: P. Óscar Quevedo, fundador do CLAP, Centro Latino-Americano de Parapsicologia. Como são artigos muito longos (respostas a perguntas), aqui vão dois "links":

- [www.catolicanet.com.br]

- [www.catolicanet.com.br]

Alef

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 09:35

Oops, esqueci-me de "ligar a ficha". Repito os links:

- [www.catolicanet.com.br]

- [www.catolicanet.com.br]

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana paula (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 11:32

Histeria, Demônios e Inquisição

No final da Idade Média, a histeria passava a agregar genitália com o demônio. Aquelas criaturas femininas que curavam com poções mágicas, copulavam e faziam pactos com o demônio, entravam em transe e, como castigo, acabavam condenadas à fogueira. Segundo as ordens do papa Inocêncio VIII, em 1484, “... realmente, nos últimos tempos chegou a nossos ouvidos, o que certamente nos afligiu com amarga tristeza, que muitas pessoas, de ambos os sexos, sem pensar em sua salvação e afastando-se da Fé Católica, abandonaram-se a demônios, íncubos e súcubos. Por isso, decretamos e ordenamos que os já mencionados inquisidores tenham o poder para proceder à justa correção, ao encarceramento e ao castigo de quaisquer pessoas, sem embaraço e impedimento (...)”

Sobre o “tratamento” das bruxas-histéricas publicou-se em 1486 um famoso manual chamado Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas). Alguns trechos desse Malleus Maleficarum pode nos dar uma pálida idéia da dimensão da histeria, não apenas das pacientes mas, da sociedade à sua volta.

“.... Os carrascos aproximaram-se, então, removendo-lhe o sambenito. Ela não esboçou qualquer resistência. Quando um eles, porém, tocou o laço que prendia o largo roupão ao corpo, ela gritou e recuou. As mãos fortes dos carrascos buscaram-na incontinente, imobilizando-a. O tecido que cobria seu corpo foi retirado e sua nudez pecaminosa expôs-se aos nossos olhos piedosos, alertados para os perigos e artimanhas do inimigo do Senhor, que a fez tão bela e tão sedutora com o único propósito de ceifar almas para o fogo do inferno. Percebi, porém, que ela estava mais magra do que era antes do processo”.

Os carrascos trataram, inicialmente, de raspar-lhe todos os pêlos à procura de algum sinal de malefício. De olhos fechados, ela parecia não se importar. Penso que isso tenha pesado contra ela no julgamento do representante do bispo, muito embora ele não se manifestasse a respeito. Lamentei, como todos devem ter lamentado, que tal mulher se tivesse deixado desencaminhar, incorrendo na heresia que acabaria por levá-la a uma condenação capital, caso não se arrependesse...”

Esse manual de diagnóstico para bruxas, o Malleus Maleficarum (1487; Martelo das Bruxas), dividia-se em três partes. A primeira ensinava os juízes a reconhecerem as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. A segunda expunha todos os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os. A terceira regrava as formalidades para agir “legalmente” contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las (não necessariamente nessa ordem).

A primeira parte do Martelo das Bruxas descreve quadros comportamentais perfeitamente compatíveis com a histeria. As maneiras de se identificar uma bruxa eram muitas, segundo o manual. Fora denúncias espontâneas e aquelas obtidas sob tortura, qualquer coisa servia como indício de bruxaria. Um ataque histérico ou epiléptico era a prova de possessão demoníaca, ser canhoto equivalia a ter feito pacto com o demônio, não comer carne de cabra, inclusive. Grave também era não ir às missas, mostrar-se inquieto, apresentar tiques nervosos, adoecer subitamente. Manchas no corpo era fatal, principalmente quando insensíveis à dor. Essas eram prova das mais válidas de ser, quem as tivesse, um servidor de Satanás.

Historicamente, um dos casos mais famosos e que relaciona visivelmente a histeria com a bruxaria, foi o julgamento e condenação de 18 ou 19 bruxas em Salem, uma cidade da Nova Inglaterra (EUA) em 1692.

Naquele ano, centenas de pessoas foram acusadas de praticar bruxaria. Entre junho e setembro, 18 pessoas foram condenadas e enforcadas e outra morreu de forma ainda mais bárbara, esmagada por pedras. Essas moças e mulheres acusadas manifestavam, todas, um forte comportamento histérico.
Foi só em 5 de março de 1954 que a Câmara de Deputados do Estado de Massachusetts aprovou uma lei inocentando seis das dezenove mulheres executadas em Salem no ano de 1692. Isto equivale a um julgamento de bruxas em pleno século XX, pois se apenas seis mulheres foram absolvidas, implicitamente as outras treze tiveram sua condenação confirmada! Embora em 1957 a Comunidade de Massachusetts tenha revogado a extinção dos direitos civis das condenadas como bruxas em Salem, a que saibamos nada se fez para inocentar aquelas outras doze criaturas vítimas da intolerância (NetEstado, 1997).

Mais recente, em novembro de 2000, o Vaticano condenou exageros litúrgicos em sessões de cura. A Congregação para a Doutrina da Fé, que atualmente é o órgão do Vaticano que substituiu a Santa Inquisição, voltou a causar polêmica através de um documento sobre curas e exorcismos. O documento, de 17 páginas, está sendo visto por alguns especialistas como uma crítica à Renovação Carismática Católica, um movimento leigo, de inspiração pentecostal, que valoriza orações para cura e contra opressões do demônio.

O recente documento, assinado pelo prefeito da Congregação, cardeal Joseph Ratzinger, significa um progresso nas idéias que atrelam histeria com possessão. Embora o texto afirme que as orações dos fiéis para que Deus os cure de suas enfermidades sejam legítimas, ele ressalta que ... "qualquer coisa que se assemelhe a histeria, artificialidade, histrionismo e sensacionalismo deve ser afastada dessas práticas de cura." (O Estado de S.Paulo, 2000)


Relacionando a sugestionabilidade com seitas de transe e possessão, Fernando Portela Câmara tem excelente artigo. "A cultura popular brasileira dispõe de um extraordinário recurso para o equilíbrio biopsicossocial de suas comunidades, ou pelo menos das chamadas “camadas populares”. Trata-se do sincretismo religioso onde as seitas espiritistas são o elemento comum desta cultura. permeando a população do país em todos os recantos. Estas seitas são amplas e diversificadas e se incluem aqui, dentre as mais conhecidas, o espiritismo Kardecista, de origem européia mas aclimatado a cultura popular brasileira, os cultos afro-brasileiros trazidos pelos negros escravos (candomblé, quimbanda, catimbó, xangô, batuque), os dos índios nativos da terra (pagelança, paricá) e o culto brasileiro por excelência derivado de um sincretismo entre todas estas: a umbanda.

Quando estudamos todas estas seitas encontramos um fenômeno único sobre o qual assenta-se toda a diversidade dos seus rituais e crenças: o transe com possessão. Por outro lado, quando estudamos o transe ritual em nossa cultura popular, podemos aprender muita coisa e aumentar significativamente nossa comunicação com nossos paciente, muitas vezes membros ou simpatizantes destes cultos.

Estas seitas oferecem aos seguidores uma terapia transcultural baseada no transe ou mediunismo, recebendo nomes como “desenvolvimento da mediunidade”, “assentamento do santo”, etc. dependendo de sua origem. Esta forma de psicoterapia, não verbal e dessensibilizadora, ocorre em sessões repetidas até o desaparecimentos dos sintomas e restabelecimento do equilíbrio emocional da personalidade. Ocasião em que muitas vezes acontece a conversão do padecente, agora curado, na fé professada pelo culto.

Os indivíduos que se beneficiam desta transeterapia são via de regra aqueles que sofrem de todos as formas de transtornos dissociativos (ou conversivos) e suas múltiplas nuanças (estas nem sempre reconhecidas pela maioria dos psiquiatras). Também as fobias simples, o transtorno do pânico, o transtorno de estresse pós traumático, a maioria das disfunções sexuais, etc, condições que apresentam fenomenologia dissociativa, muito se beneficiam com esta forma de psicoterapia transcultural."



A Histeria nos Homens

A análise etimológica da palavra histeria nos traz ecos das superstições do passado. Como vimos, não foram poucos os que disseram que só mulheres poderiam ser histéricas e que era rematado absurdo falar-se em histeria masculina, uma vez que, etimologicamente, o vocábulo vem de "hyster", Grego para "útero".

Na realidade, o vocábulo não nos diz nada sobre a doença, mas sim sobre o estágio da Medicina na época em que o nome foi cunhado, muitos e muitos séculos antes de Freud. Antes de Freud e Charcot, acreditava-se que os sintomas descritos como histéricos eram causados por uma mirabolante migração uterina, estando assim a doença anatomicamente vinculada às mulheres.

Durante muitos séculos, a histeria não era somente uma queixa feminina. Ela foi atribuída a uma espécie de manifestação da fraqueza moral da mulher, como parte de sua habilidade em mentir, sua imaturidade, seus caprichos e lágrimas e necessidade de chamar a atenção. "Como regra geral, todas as mulheres são histéricas," escreveu o médico francês Auguste Fabre em 1883, acrescentando... "O que constitui o temperamento de uma mulher é basicamente a histeria".

Se, no tempo de Platão, o útero provocava nas mulheres um vivo desejo de gerar filhos e que, passando as épocas férteis e não se dando a concepção, este útero desapontado "começava a irritar-se perigosamente, se agitando em todas as direções, no corpo da mulher, ocasionando doenças de todos os tipos", hoje a maioria dos estudiosos desvincula a doença da esfera feminina.

Prefere-se estudar a histeria na esfera da mente, independente do gênero, podendo, assim, falar de homens histéricos. O vocábulo claramente perdeu qualquer relação com o significado etimológico de seus componentes e, embora o caráter histérico seja mais freqüente nas mulheres, os homens também podem ser acometidos pelo histrionismo.

Há até quem conteste a supremacia feminina em relação a esse traço do existir humano e, de fato, se considerarmos que os homens histéricos podem manifestar essa mazela de forma diferente e atípica, aí então a casuística ficaria praticamente igual.


Ballone GJ - Transtornos do Espectro Histérico - in. PsiqWeb, Internet, disponível em [www.psiqweb.med.br] revisto em 2002

Re: O Inferno e o diabo...
Escrito por: ana paula (IP registado)
Data: 27 de January de 2003 11:44

Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais. Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes transtornos eram classificados entre diversos tipos de "histeria de conversão".
Inclui-se nessa classificação:


F44.3 Estados de transe e de possessão
Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente. Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.

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