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Ciência e Fé
Escrito por: Maria José Ribeiro (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 00:29

Fiz a pesquisa e não encontrei este tópico

Considero-o pertinente.

Vamos debatê-lo?

Encontrei uma pergunta relacionada com esse tema (em Zenit/org) de 27/4/06
Copio apenas a pergunta 5 e a resposta.

O que vai aparecer escrito é o que está na agência Zenit/org (a propósito já viram as fotografias das pessoas da agência e respectivas tarefas?)
Aqui vai:

"Papa responde a perguntas de jovens de Roma
No encontro de preparação para a Jornada Mundial da Juventude

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 27 de abril de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o conjunto de perguntas e respostas (espontâneas) de Bento XVI a jovens de Roma e do Lácio no encontro que mantiveram na praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 6 de abril com motivo da preparação do XXI Dia Mundial da Juventude.


5. Santo Padre, chamo-me Giovanni, tenho 17 anos, estudo no Liceu Científico Tecnológico "Giovanni Giorgi" de Roma e pertenço à Paróquia de Santa Maria Mãe da Misericórdia.

Peço-lhe que nos ajude a compreender melhor como a revelação bíblica e as teorias científicas podem convergir na busca da verdade. Muitas vezes somos tentados a pensar que ciência e fé entre si sejam inimigas; que ciência e técnica sejam a mesma coisa; que a lógica matemática tenha descoberto tudo; que o mundo é fruto da casualidade, e que se a matemática não descobriu o teorema Deus é porque Deus, simplesmente, não existe. Em síntese, sobretudo quando estudamos, nem sempre é fácil reconduzir tudo a um projecto divino, ínsito na natureza e na história do Homem. Por vezes, a fé vacila ou reduz-se a simples acto sentimental. Também eu, Santo Padre, como todos os jovens, tenho fome de Verdade: mas como posso fazer para harmonizar Ciência e Fé?

O grande Galileu disse que Deus escreveu o livro da natureza na forma da linguagem matemática. Ele estava convencido de que Deus nos deu dois livros: o da Sagrada Escritura e o da natureza. E a linguagem da natureza era esta a sua convicção é a matemática, por conseguinte, ela é linguagem de Deus, do Criador. Reflictamos agora sobre o que é a matemática: em si é um sistema abstracto, uma invenção do espírito humano, que como tal na sua pureza não existe. É sempre realizado aproximativamente, mas como tal é um sistema intelectual, é uma grande, genial invenção do espírito humano. O que surpreende é que esta invenção da nossa mente humana é verdadeiramente a chave para compreender a natureza, que a natureza está realmente estruturada de modo matemático e que a nossa matemática, inventada pelo nosso espírito, é realmente o instrumento para poder trabalhar com a natureza, para a pôr ao nosso serviço, para a instrumentalizar através da técnica.

Parece-me quase incrível que uma invenção do intelecto humano e a estrutura do universo coincidam: a matemática por nós inventada dá-nos realmente acesso à natureza do universo e faz com que ele seja utilizado por nós. Portanto, a estrutura intelectual do sujeito humano e a estrutura objectiva da realidade coincidem: a razão subjectiva e a razão objectiva na natureza são idênticas. Penso que esta coincidência entre quanto nós pensámos e como se realiza e se comporta a natureza, sejam um grande enigma e desafio, porque vemos que, no final, é "uma" razão que relaciona os dois: a nossa razão não poderia descobrir essa outra, se na origem das duas não se encontrasse uma razão idêntica.

Neste sentido, tenho a impressão que a matemática na qual Deus, como tal, não pode aparecer nos mostra a estrutura inteligente do universo. Agora existem também teorias do caos, mas são limitadas, porque se o caos prevalecesse, toda a técnica se tornaria impossível. Só porque se pode confiar na nossa matemática, também se pode confiar na técnica. A nossa ciência, que torna finalmente possível trabalhar com as energias da natureza, supõe a estrutura confiável, inteligente da matéria. E desta forma vemos que há uma racionalidade subjectiva e uma racionalidade objectiva na matéria, que coincidem. Evidentemente agora ninguém pode provar como se prova na experimentação, nas leis técnicas que as duas são realmente originadas numa única inteligência, mas parece-me que esta unidade da inteligência, atrás das duas inteligências, esteja realmente no nosso mundo. E quanto mais nós podemos instrumentalizar o mundo com a nossa inteligência, tanto mais sobressai o desígnio da Criação.

Por fim, para chegar à questão definitiva, digo: Deus ou existe ou não existe. Há apenas duas opções. Ou se reconhece a prioridade da razão, da Razão criadora que está na origem de tudo e é o princípio de tudo a prioridade da razão é também prioridade da liberdade ou se defende a prioridade do irracional, segundo o qual tudo o que acontece na nossa terra e na nossa vida seria apenas ocasional, marginal, um produto irracional a razão seria um produto da irracionalidade. Por fim, não se pode "provar" um projecto ou outro, mas a grande opção do Cristianismo é a opção pela racionalidade e pela prioridade da razão. Parece-me que esta seja uma óptima opção, que nos mostra como por trás de tudo haja uma grande Inteligência, na qual podemos confiar.

Mas hoje o verdadeiro problema contra a fé parece ser o mal no mundo: perguntamos como pode ser ele compatível com esta racionalidade do Criador. E aqui temos realmente necessidade do Deus que se fez carne e que nos mostra como Ele não seja apenas uma razão matemática, mas que esta razão originária também é Amor. Se olharmos para as grandes opções, a opção cristã também é hoje a mais racional e a mais humana. Por isso, podemos elaborar com confiança uma filosofia, uma visão do mundo que esteja baseada nesta prioridade da razão, nesta confiança de que a Razão criadora é amor, e que este amor é Deus."

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Maria José Ribeiro (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 00:52

Desculpem, mas pode não estar bem claro.
Passo a dizer: a pergunta acaba em "harmonizar ciência e fé"

A resposta do Santo Padre começa em: "O grande Galileu"

Outra coisa: como vos disse eu não tenho possibilidade de indicar o link para que vocês tenham acesso clicando. Procurei dar as informações necessárias.

Adeus e um bom fim de semana "grandinho".

Re: Ciência e Fé
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 01:25


Re: Ciência e Fé
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 17:14

Deixem-me aventurar-me um nadinha por uma «camada» mais profunda do problema, mesmo que ao correr das teclas...

Nestes temas de relação entre fé e ciência ou fé e razão parece-me que há muitos pressupostos não devidamente discutidos e que deitam demasiada poeira sobre a discussão, transformando aquilo que poderia ser uma reflexão profunda em generalizada diatribe «ideológica».

Um desses pressupostos é o da plataforma comum em que se põem os termos da relação (só se pode relacionar coisas que comunguem de alguma base de relação, a que chamo aqui «plataforma comum»).

Parece-me que tal «plataforma comum» é de tipo «gnoseológico» (perdoem-me os «palavrões»), isto é, supõe-se que fé e ciência são duas formas de conhecimento, possivelmente contrapostas, pelo que o que estará em jogo na relação ciência-fé é a maior ou menor capacidade de conhecer ou de atingir resultados. Isto pode levar a graves equívocos, porque se «busca» o que anteriormente se pôs, tornando a «investigação» um «fingimento» e a discussão uma perda de tempo. E num tempo em que a fundamentação deu lugar à ideologização, pior.

Portanto, haveria que dar um passo atrás e analisar criticamente os pressupostos. Por exemplo:

- podemos relacionar a fé com a ciência em termos de conhecimento sem aferir se a fé é ou não uma forma de conhecimento?
- Que relação há entre fé e conhecimento? Será a fé uma forma de conhecimento? [Mas: que é conhecer?]
- Se conhecêssemos mais de Deus teríamos mais fé? [Nesse caso, não teria o Diabo que estar no céu? :-)]

Isto levanta outras questões não menos graves, que têm a ver com a própria definição de fé. De facto, tradicionalmente (cfr. tradição tomista) define-se a fé em termos intelectuais: a fé seria o assentimento a um juízo fundado no testemunho de outrem. Esta «veneranda» definição é bastante problemática, quase tão problemática como as famosas «cinco provas» (melhor, «vias») da existência de Deus. Uma tal definição é muito parcial, porque coloca a fé ao mero nível do juízo, mas haveria que perguntar se o processo intelectivo humano se reduz ao nível do juízo e raciocínio. É uma visão bastante pobre da fé, mesmo que tenha S. Tomás por «padrinho». Creio que na Bíblia a fé é algo mais que um assentimento face a um juízo. Só há assentimento face a um juízo tido por verdadeiro se antes houver outra coisa, por exemplo, a admissão de que se trata de um juízo passível de ser aceite ou que a pessoa que o formula é «veraz».

Então surgem outras questões:

- Que é realmente a fé?
- Que relação há entre fé e inteligência (no sentido de processo intelectivo humano)?

Claro, há aqui outra questão: a relação com a verdade. A própria definição tomista acentua o aspecto de verdade na fé, já que para S. Tomás o lugar da verdade é o juízo. Ora, será assim? Reduz-se a verdade a isto? Reduz-se a fé à aceitação de «verdades» de «juízos»? Eu creio que não. Uma tal ideia coloca mais ou menos ingenuamente a fé no mesmo plano da ciência, como se a fé fosse um processo paralelo à ciência que se distinguiria apenas por ter um «objecto» diferente: Deus. Reduzir Deus a um objecto de conhecimento é o problema de muitas filosofias e teologias, a começar por Aristóteles. E o Deus de Aristóteles não é o Deus revelado em Jesus Cristo. Não creio que nenhum de nós alguma vez dirija uma prece a um «motor imóvel» ou que passemos a ser pessoas de fé pela mera certeza de que Deus criou o universo.

Parece-me, pois, que na maior parte das vezes se discutem as coisas pela rama e haveria que ir ao fundo das questões, analisando criticamente os pressupostos. Em vez de uma definição mais ou menos racionalista da fé, há que dizer que a fé é uma entrega pessoal a um alguém pessoal que se nos apresenta como absolutamente verdadeiro e que é fundamento último das nossas vidas. É uma visão muito mais bíblica e metafisicamente mais profunda que a anterior. Isto explica que haja pessoas que não tendo muitos «conhecimentos» sobre Deus sejam pessoas de grande fé; e vice-versa.

Coloca-se muitas vezes a fé em termos de «racionalidade»/«irracionalidade», mas novamente com pressupostos não clarificados. Um deles é o da redução da inteligência à razão ou -- pior -- o de se pensar que o homem se caracteriza por uma oposição sentir-inteligir, cabendo a ciência ao inteligir e a fé ao sentir. Graves equívocos históricos em que caíram muitas boas cabeças. Com isto se parte para a identificação tautológica de inteligência com razão e destas com ciência. Desta forma aparecem dicotomias muito pouco sensatas e pouco fundadas entre ciência e fé.

Claro que para tratar destas questões com princípio, meio e fim é preciso pensar, e pensar incomoda...

Há por aí muitos «sonos dogmáticos» e creio que o pior neste momento nos nossos meios lusitanos é o estranhamente persistente e «ingénuo» espírito positivista.

Alef

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 18:57

A Fé é a catapulta para o futuro e exige o espírito da realidade, para não ser crendice. A Ciência ajuda-nos a ter um espírito preciso da realidade. Para lá deste espírito está a sabedoria interpretativa ou mitológica.

---Zénite---

Deus habita o tempo,
o todo e o nada.
Vive na ágape,
no eros no amor.
É mandamento, direito,
abnegação.
É proximidade, face escondida,
imensidão.
É misericordioso;
sejamo-lo também.

---Jesus Cristo---

Quem é este Homem?
- É a tese de Deus,
o alfabeto dos cristãos,
a esperança da humanidade.

*=?.0

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 19:25

Caro Albino:

1. Dizes que «A Ciência ajuda-nos a ter um espírito preciso da realidade.»

Pergunto: Como se sabe isso?


2. Noutra mensagem escreveste: «A fé tem sempre como suporte a Ciência.»

Pergunto: Como se pode fundamentar esta afirmação? Só existe fé onde houver ciência? Como caracterizas à luz da tua afirmação a fé dos Apóstolos?


3. Nessa mesma mensagem continuas assim: «E Ciência é a consciência que se tem da realidade.»

Pergunto: 1) Que entendes por realidade? 2) Quando tenho consciência de que tenho sede ou de uma dor, isso insere-se na ciência, ou há realidade que escapa à ciência como consciência? E quando falo da consciência de ser amado? 3) Podemos falar em consciência das partículas quânticas? 4) Quando temos consciência, onde está a prioridade: na consciência propriamente dita ou naquilo de que temos consciência?

Alef

Fé e Ciência
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 21:27

A minha opinião é :
[list][*]A Fé (quase sempre) precede a Ciência. Excepto: Quando o conhecimento aparece como que por acaso.[*]A Fé pode subsistir sem a ciência. [*]A Fé e a Ciência completam-se. [*]A Fé cristã genuína não é cega. [*]É fé cega é como que uma simples «sugestão» (hipnotismo, droga, etc.). [*]As chamadas ciências inexactas estão em evolução. Podem estar muito próximas das realidades sem chegar a atingi-las
[/list]

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.




Editado 2 vezes. Última edição em 29/04/2006 21:33 por Manuel Pires.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 23:49

Caro Alef,

Não sei se consigo ir a uma cama tão funda como tu foste mas aqui fica o comentário. Creio que quando se fala da dicotomia entre fé e ciência para além da questão do conhecimento, como afirmas, há a questão do método ou processo de criar ou descobrir esse conhecimento, sobretudo na questão da experiência da ciência.

Dou um exemplo. Ainda há bem pouco tempo falávamos aqui na eficácia da oração. Todos os crentes acreditam que a oração (vou restringir este exemplo ao caso da cura de doenças) tem efeitos. Isto é, é possível eu rezar pedindo a Deus que me cure ou cure alguém que não eu, e isso seja um factor de melhora ou cura. O problema para a ciência é que isto não acontece sempre. Isto é, eu não consigo definir uma hipótese e desenvolver uma tese que me prove a hipótese inicial. Por vezes a oração funciona, por vezes não funciona. Para nós crentes isto faz sentido. Nós pedimos algo a Deus e cabe a Deus decidir se atende ou não o nosso pedido. O problema é que Deus não é tido nem achado na ciência.

Posso não dizer que a fé seja uma forma de conhecimento mas será pelo menos uma fonte de conhecimento. Quando eu digo que acredito em Deus, consciente ou inconscientemente existe uma imagem que eu faço de Deus, mesmo que seja algo abstracto. Haverá certamente algumas características de Deus que eu acredito, e isso será conhecimento. Mas será possível utilizar a ciência para provar ou não esse conhecimento? Eu penso que não. Não hoje, nem nunca, porque a ciência restringe-se sempre ao mundo físico. Ora Deus está para além dessa dimensão. Isto será o mesmo que tentar medir o tempo com uma régua: são dimensões distintas.

Concordo inteiramente com a tua definição de fé, embora me pareça que estamos a falar de fé cristã na medida em que falamos da entrega a alguém pessoal.

Quando estudei (superficialmente) S. Tomás fiquei com a noção de ser um conhecimento próprio do seu tempo (como todo o conhecimento) mas que para hoje algumas das noções e conceitos careciam de adaptação. As cinco vias até podem provar a existência de Deus, mas não provam que esse Deus é o Deus revelado por Jesus Cristo.

Luís

Re: Fé e Ciência
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 23:50

Mas, Manuel, o que entendes exactamente por fé?

Referes a expressão comum «fé cega», dizendo que «a Fé cristã genuína não é cega». Que «vê» essa fé genuína?

Alef

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 30 de April de 2006 13:37

Caro Alef,
Quando o Homem toma consciência de si a primeira coisa que faz é ir ao encontro da realidade, o que pode começar pelo simples chuchar do dedo grande do pé. A isto eu chamo Ciência. Em estadios avançados a pessoa humana utiliza instrumentos para descobrir o universo em que vive. A perspectiva em que nos colocamos ou o testemunho que adoptamos condicionam esta consciência. Quando questionamos o nosso destino surge a Fé e a necessidade de interpretar os dados da realidade. A Fé existe tanto na Ciência como na Religião. A Fé é força de renovação e construção. Por exemplo, há aviões porque alguém acreditou, com base nas observações que fazia, que tal era possível. Se eu digo que Jesus Cristo é o Senhor, estou a fazer um acto de Fé, pois irei pautar a minha vida pelo exemplo e ensinamentos que ele me dá, com base na experiência de que Ele é o Ressuscitado, conforme o testemuho dos Apóstolos e discípulos, ou da experiêcia pessoal que fizer de que Ele vive e é fonte de nova vida. Poderá pôr-se a questão sobre qual Fé é mais importante: a da Ciência ou a da Religião. Eu penso que não podemos prescindir de qualquer uma delas.
Mas quando se diz que todas as coisas foram feita por intermédio de Jesus Cristo, como está no Credo de Niceia, está-se a fazer não um acto de Fé, mas a redigir especulação (Jesus Cristo tanto quanto sei não é fabricante de telemóveis, de pontes romanas, ou de pirãmides egípcias). Por isso prefiro o Credo dos Apóstolos. Mas a incerteza faz parte da estrutura da Fé e possivelmente do próprio universo. É sobre o ser/não ser ou talvez, fundamento da Liberdade, que poderá estar assente a razão da nossa existência.

*=?.0

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 30 de April de 2006 15:34

Caro Alef:
A fé no sentido genérico é qualquer tipo de crença.
No caso de um cientista que se esforça por conseguir um evento, a partir de várias premissas, começa por ter fé de que está no caminho certo, apesar de que, desde já, saiba que tem que fazer alguns acertos. Procura, faz experiências, esforça-se até encontrar e provar que estava certo. Aquilo que era apenas fé passou a fazer parte do domínio da ciência, mesmo que depois outros tenham que fazer ainda mais correcções.
A «fé cega» é o conjunto de crenças das pessoas que acreditam em tudo o que lhe dizem.
A «fé cristã genuína» é a que é mencionada em Hebreus cap 11.
Citação:
1*Ora a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem.

A fé genuína, baseada na palavra de Deus, vê o testemunho da fonte que lhe merece credibilidade, e enquanto essa fonte lhe merecer credibilidade. Logo que chegue à conclusão que afinal foi enganado, faz um ajuste em relação a essa fé. Por exemplo quando eu era pequenino acreditava em tudo o que mãe me dizia porque tinha a certeza que ela nunca me mentia. Agora, já com alguma experiência, tenho de fazer correcções porque embora ela nunca me mentisse, em algumas coisas ela me ensinava mentiras que alguém lhe impingiu. Ela só tinha a 2ª classe, e por isso não se podia esperar mais discernimento dela. A fé genuína é orientada pelo discernimento e pala compreensão das situações.
A fé cega é como a fé dum político, ou dum membro de uma claque de futebol que agem com alguma dose fanatismo, quer sejam movidos pela ignorância quer por um grande desejo de que as coisas sejam assim como eles crêem.
Para um fã do futebol fanático o seu clube é sempre o melhor, mesmo que perca sempre. O mesmo se pode dizer em relação àquilo que geralmente se chama de religião.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 01 de May de 2006 21:24

Caro Albino:

A definição que dás de ciência é bastante peculiar. Se todo o encontro com a realidade é ciência, então o próprio termo pode ser facultativo… E não falemos da necessidade de um método... Não dizes o que entendes por realidade, mas pergunto se o homem que «vai ao encontro da realidade» não é ele também realidade. Teremos uma realidade que vai ao encontro de «outra»? Haveria que perguntar: e por que razão vai ao encontro da realidade? Inatismo?

Dizes que «quando questionamos o nosso destino surge a Fé e a necessidade de interpretar os dados da realidade.» Pergunto: podemos então falar de uma fé teísta, de uma fé agnóstica e de uma fé ateia? É que todos, teístas, agnósticos e ateus podem questionar o próprio destino.

Prossegues: «A Fé existe tanto na Ciência como na Religião. A Fé é força de renovação e construção. Por exemplo, há aviões porque alguém acreditou, com base nas observações que fazia, que tal era possível.» A primeira frase deste extracto daria pano para mangas, porque pode ter muitas leituras. Tanto daria para ver a fé como um poder imaginativo capaz de «prever» a realização de probabilidades, como a fé como a necessidade de «dar o salto» para algo que não se vê com antecipação, mas onde se joga o sentido do momento presente. Ou seja, haverá sempre um elemento «prospectivo» (antevejo, «sem ver tudo», que o «resultado» futuro dá sentido ao que faço agora, podendo ser esse futuro o encontro de algo que busco cientificamente ou o sentido definitivo para a minha vida e para a História).

Distingues depois entre «um acto de fé» (por exemplo: «Jesus Cristo é o Senhor») e uma especulação («que todas as coisas foram feitas por intermédio de Jesus Cristo») e dizes rejeitar a segunda porque Jesus Cristo não é fabricante de telemóveis, de pontes romanas ou pirâmides egípcias. Aqui há um problema transversal de que suspeitei logo no início da tua mensagem e também na do Manuel Pires, que é o problema dos conteúdos da fé. Tende-se a ver a fé como um assentimento de conteúdos. Eu creio que isso NÃO é o elemento primário da fé. Certamente dizer que «Jesus é o Senhor» é um acto de fé, mas a fé não se reduz a conteúdos, nem é o mais característico. Certamente que há conteúdos na fé, mas não são o primário. O primário do acto de fé quando digo «Jesus Cristo é o Senhor» é a minha entrega pessoal a uma pessoa que reconheço como fundamento da minha vida (isso é ser «Senhor»). Certamente há algo de especulação quando queremos dizer os conteúdos da fé, mas não esqueçamos o núcleo da questão. É que o núcleo também está presente quando digo «Por Ele todas as coisas foram feitas».

Valeria a pena aprofundar um pouco mais isto, mas por agora convém simplesmente uma «pequena» ressalva. O Credo não diz exactamente que todas as coisas que conhecemos (telemóveis, pontes romanas ou pirâmides egípcias) foram criadas por Jesus Cristo no sentido da produção de coisas. Certamente o Verbo de Deus encarnou em Jesus Cristo, mas quando dizemos «Jesus Cristo» temos em conta a realidade histórica de Jesus. Ora, o Credo refere-se ao Verbo Eterno de Deus e à Criação. Por outro lado, seria bom conhecer o contexto histórico destas formulações, as especulações neoplatónicas do tempo (concretamente Plotino), a ideia das «sementes germinais» ou «sementes do Verbo» ou «Logoi spermatikoi», etc. O Credo de Niceia não atribui ao Verbo a produção de objectos como fazes crer.

Portanto, e para resumir, creio que a fé não se define primariamente pelos conteúdos.

Santo Agostinho dá conta disto com a distinção entre «credere Deo» e «credere in Deum», cujas diferenças de matiz não sei muito bem como sairia melhor em Português (Miguel, estás por aí?). «Credere Deo» seria dar crédito ao conteúdo do que Deus diz. É uma concepção de fé bastante limitada, pelo que Santo Agostinho propõe que a fé é um «credere in Deum», que acentua o crer na «pessoa» Deus. Depois explica que «credere in Deum (est) credendo amare, credendo diligere». Crer em Deus é amar acreditando.

Penso que a noção de fé como entrega é ainda mais feliz que a definição de Santo Agostinho, mas a definição do bispo de Hipona é suficientemente clara para sublinhar o aspecto pessoal da fé. Não se ama um conteúdo da mesma forma que uma pessoa, não se acredita da mesma forma que existe vida na Andrómeda ou que Deus é o fundamento da minha vida.

Por isso, quando dizes que tanto há fé na ciência como na religião, posso aceitar a expressão, mas é um guarda-chuva muito grande que abriga muitas concepções de fé, não ficando claro o que significa a fé em Deus e em que medida ela está próxima da fé existente em ciência. Creio que são coisas bastante diferentes, embora se possam estabelecer analogias.

De qualquer forma, talvez queiras vincar um elemento muito válido: a fé tem sempre algum elemento de confiança, que é uma característica de todo o agir humano, incluindo a ciência. Ninguém poderia viver sem este elemento e sobre isto já escrevi alguma vez por cá. Se quiséssemos banir da nossa vida elementos não científicos em breve estaríamos loucos. A percentagem de conteúdos «provados cientificamente» no nosso dia-a-dia é ínfima. A cada momento «confiamos»: que a cadeira onde me sento aguenta o meu peso e não está armadilhada, que ninguém está à porta para me matar, que o tecto não me cai em cima, etc., etc. Confiamos também na maior parte dos conhecimentos ou informações que recebemos de outros, mesmo sabendo que muitas vezes recebemos informações erradas. Penso tantas vezes nisso ao ler algumas das mensagens que neste fórum seguem a «hermenêutica da suspeita»…

Contudo, parece-me importante alertar para o seguinte: é pobre a concepção de fé que se cinge aos conteúdos e uma forma «armadilhada» de colocar o problema quando se relaciona fé e ciência, como já escrevi antes. Por isso é tão importante prestar atenção aos pressupostos…

Alef

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 02 de May de 2006 09:58

O grande mal dos teólogos é usar uma linguagem fora do vulgar que a maioria das pessoas não compreendem.
Eu prefiro usar uma linguagem comum, popular, e particularizar as situações para distinguir aquilo que as pessoas chamam de FÉ, mas não salva, porque é diferente da FÈ que atrai as pessoas a Jesus Cristo e à Salvação.
Portanto, posso dizer que há dois tipos de fé a que salva e a que engana.
A fé apenas como crença não salva, porque como está escrito em Tiago
posso dizer:
Citação:
19«Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror.»

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de May de 2006 10:14

Caro Alef,
Penso que a nossa linguagem não nos permite exprimir de forma inequívoca, realidades profundas. Por isso vamos tentando acertar as agulhas. O que há de mais inequívoco na Fé cristã é o testemunho pessoal. Jesus veio ao mundo para dar testemunho da verdade, por isso não escreveu nada (mas não era astrónomo, costumo dizer). Jesus escreve poemas com a vida. Literariamente o que há de mais inequívoco são os Mandamentos. E Jesus Cristo deixou-nos um Mandamento Novo, que não precisa de ser escrito pois é fácil de decorar. A Fé cristã começa na profunda transformação que este mandamento opera na nossa vida e por aí vamos até à esperança numa vida para lá dos horizontes temporais em que vivemos. Mas por vezes caiu-se no que costumo chamar de ideolatria. É preciso ter cuidado para não se confundir Fé com ideias, liberdades poéticas ou dogmáticas, que por vezes se impõem aos outros por métodos que são a própria negação dos mandamentos que serviram de base à construção na Fé. Por exemplo: é grave e triste o que está escrito em Hebreus 10, 26 e seguintes quanto à liberdade religiosa. Será que o seu autor era adepto do Cristo faz tudo, mata tudo e arrasa tudo? Quanto se fala que há perda de Fé, não será exactamente o contrário. Ou seja a Fé das pessoas cresceu ao ponto de recusarem uma Fé feita de demagógicas afirmações, desprovidas de precisão e exactidão, virtudes que abundam na Ciência?

*=?.0

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 02 de May de 2006 11:33

Como acho muito pertinente a citação mencionada de Hebreus 10,26 peco licença para transcrever e destacar essa citação biblica:
Citação:
26*De facto, se pecamos deliberadamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, não nos resta nenhum sacrifício pelos pecados, 27*mas somente a terrível espera do julgamento e o ardor de um fogo que se prepara para devorar os rebeldes. 28*Se aquele que transgride a Lei de Moisés é, sem piedade, condenado à morte com base em duas ou três testemunhas, 29*quanto maior castigo pensais que merecerá o que tiver calcado aos pés o Filho de Deus, tiver considerado profano o sangue da aliança, pelo qual foi santificado, e tiver ultrajado o Espírito da graça?

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 02 de May de 2006 21:43

Muito obrigado pela citação.
Em Exodo 20, 13 está escrito:
"Não matarás"- inequívoco, como sempre, quando se trata de Mandamentos.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 03 de May de 2006 10:32

É verdade. Em exodo 20,13 está escrito «Não matarás».
Esta é a regra geral. Mas YHWH tem direitos sobre toda a vida.
No caso dos Israelitas, Deus impunha como castigo a determinadas prevaricações a pena de morte que tinha que ser executada pelo colectivo. Neste caso, e apenas neste caso, não era pecado porque estavam a obedecer à Lei de Deus.
Presentemente, com a destruição do Templo, Deus retirou previlégios ao povo de Israel porque colectivamente abandonou o Seu pacto. Portanto a pena de morte é uma grave violação à vontade de YHWH. No novo pacto(ou aliança) estabelicido por intermédio de Jesus Cristo não há pena de morte aprovada por Deus.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 03 de May de 2006 14:53

Caro Manuel:

Dizes que «a fé no sentido genérico é qualquer tipo de crença». Não sigo esta definição de fé. O «genericamente» não autoriza ao deslocamento do âmbito próprio da fé para outro que lhe é alheio. Além disso, «crença» realça a noção de conteúdos e isso não é o elemento mais radical da fé. Veja-se o que escrevi antes ao Albino. A «fé» do cientista «de que está no caminho certo» desloca o âmbito da palavra (âmbito religioso) para um âmbito análogo, mas bem diferente.

Portanto, detecto aqui a mesma dificuldade que apontava na minha mensagem ao Albino: a fácil identificação da fé (religiosa) com determinados conteúdos. Essa concepção de fé é pobre e até alheia à Bíblia. Se a justificação vem pela fé (que «opera», mas deixemos isso para outra altura), e se a fé são conteúdos, por que razão o Demónio não se salva? Se a fé é que justifica, por que razão no «episódio» do Juízo Final, não há um «exame doutrinal», mas sim um «exame ao amor»? Não será isto suficiente para mostrar como as concepções «genéricas» estão muitas vezes contaminadas?

Mencionas outro elemento importante: a credibilidade do testemunho. A nossa fé é apostólica, isto é, parte da fé e do testemunho dos Apóstolos. Certo. Contudo, não á verdadeira fé enquanto não fizermos nós próprios a experiência de entrega pessoal a um Deus pessoal que se «revela» como fundamento da minha vida. E isto sem desmerecer a componente comunitária da nossa fé.

Resta-me perguntar: é possível a fé sem oração?

Creio que não respondeste à minha questão: uma vez que contrapões «fé cega» e fé genuína, que é que vê uma fé genuína? É que adianto que penso que nenhuma fé é cega…

Alef

Fé e Ciência.
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 03 de May de 2006 15:41

É verdade há na verdade um grande tipo de "fé" que é pobre, não só em conteúdo, mas ainda mal orientada. Este tipo de "fé" é a que é mais fácil de encontrar no mundo em que vivemos e há quem se aproveite ...
Contudo a FÉ que nos conduz a YHWH não pode ser cega.
Quanto à oração e a FÉ posso citar uma passagem bíblica, pois para quem tem FÉ até o Espirito Santo pede em seu lugar.
Quanto às perguntas que parecem também afirmações deixo a resposta para o próprio Deus, porque eu não sou nem o Legislador nem o Juiz.
Quanto à credibilidade do testemunho é necessária para que a nossa fé possa nascer e sustentar-se. Não há ninguém que possa ter fé em nada. A minha fé tem um testemunho anterior aos dos Apóstolos. Baseia-se primeiro no testemunho de Jesus Cristo. Os Apóstolos, com a acção do Espírito Santo, apenas lhe dão continuidade. Quanto à nossa entrega a YHWH relacionada com a FÉ é como que uma bola de neve que quanto mais rola mais cresce. Quanto à componente comunitária pode ajudar-nos muito, mas também pode servir como que uma pedra de tropeço que impede que a nossa fé se desenvolva no sentido correcto.
Eu distingo dois tipos de fé. A fé cega que se baseia em mitos, no engano das tradições e muitas vezes das conveniências. Este tipo de fé (crença) não é bíblica. Mas vamos dizer a essas pessoas que não têm fé! ... Herdaram a sua fé das tradições e costumes dos seus antepassados e não querem passar daí. Eu também costumo dizer que isso não é FÉ, mas «fezadas»; são crendíces.
A fé genuína, faz com que uma pessoa, porque ama a YHWH, o seu Deus, procura saber qual a sua vontade e agradar-Lhe.
É por isso que ao falar de fé e FÉ tenho necessidade de ser bem explícito e não me basear em definições teológicas que não fazem parte do domínio popular.
Como você disse Deus não nos faz uma "exame doutrinal", mas examina-nos o coração. É precisamente isso o que conta para YHWH, Deus. Contudo, o coração leva-nos a agir. Uma pessoa que se contenta com as suas crenças não pode ter o tipo de FÉ que agrada a YHWH.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ciência e Fé
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 04 de May de 2006 10:00

A este propósito lembrei-me da imagem de Sto António que tenho em casa.
Quando comtemplamos a vida dos santos contemplamos a concretização do projecto de Deus neles. A Fé cristã é sobretudo um projecto pessoal de conversão e comunitário de partilha, porque em Deus, tal como a luz do sol, tudo é gratuito.
A Fé é também viver a gratuidade da graça de Deus; viver a graça e a verdade por Jesus Cristo.

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