Caro M.Martins.
Li a tua mensagem dias depois de a teres escrito e estive logo nessa altura para te responder. Todavia, considero que o tempo não
estraga as respostas, apenas as melhora. Quanto muito deixa-as na mesma.
Existe uma enorme diferença entre os livros de Neale Donald Walsch e os da Alexandra Solnado. Neale fala de Deus. Não diz se o Deus de Jesus Cristo, se Alá, se o Deus Hindú, o que seja. Apenas Deus. Os livros da Alexandra não - ela afirma que falou com Jesus Cristo.
Mais, o discurso de "Deus" em Neale não tem nada a ver com o de Alexandra. Só para teres uma ideia das pérolas humorísticas da Alexandra, num dos seus primeiros livros, a dada altura a vinte e tal de Dezembro, Jesus ter-lhe-á dito no final de uma mensagem: "Agora tenho de ir ter com os meus amigos para festejar o meu aniversário!". Ora, isto é de levar às lágrimas de tanto rir. Acho que filho de peixe sabe nadar, e o caso da família Solnado é prova disso. Filha de um dos maiores humoristas portugueses, Alexandra prova nos livros que escreveu, que o humor é caso sério na família.
Nas "Conversas com Deus", a história é de Amor. Não há detalhes aniversariantes. Apenas uma tomada de consciência do infinito Amor de Deus. Sempre unido à liberdade e responsabilidade. É isso que Deus diz a Neale nos seus livros. "
Somos os únicos responsáveis por aquilo que nos acontece", "
Não devemos criar expectativas mas aceitar o que a vida nos dá como se fosse o melhor que nos pudesse acontecer". Responsabilidade, aceitação e gratidão.
O primeiro livro, mais até que os seguintes, surpreendeu-me por essa mensagem de amor incondicional, que raramente vejo noutros livros - os ditos "cristãos". Como diz o Albino, é esta ideia bem clara que Deus é infinitamente bom que se destaca dos livros. Na minha mensagem eu digo que gostei bastante de ler estes livros e que de facto me tocaram mas alerto para alguns factos que os livros defendem que vão contra a doutrina da Igreja.
Choca-nos a ideia que Hitler esteja no Céu! Focamo-nos no pecado da pessoa, passando-nos completamente ao lado a infinitude do perdão, da graça e do amor de Deus. Por isso faz todo o sentido pensarmos que "
Não se pode compreender completamente Deus enquanto não entendermos que Hitler está no Céu!. " Já pensaste que a Igreja se pronuncia sobre pessoas que estão no Céu e nunca disse palavra sobre as que estão no Inferno?
Ao contrário do Vítor, não me arrependo de ter lido os livros (e agora que falo neles, sinto de novo vontade de os reler, houvesse tempo e não outros já em espera...). Sinto que contribuíram para o meu crescimento espiritual e que me fez muito bem tê-los lido.
É curioso que grande parte da minha aprendizagem e crescimento espiritual são feitos a partir de livros e autores ditos não-cristãos. Reconheço que é sempre um risco pois está sempre presente o desafio de saber, do que se lê, o que está contra ou de acordo com a doutrina da Igreja. Mas a diversidade e criatividade na apresentação são sempre muito diferentes.
Não é por acaso que por diversas vezes que diferentes pessoas da Igreja reconhecem aspectos positivos (e outros perigosos) daquilo que genericamente é aceite como New Age. (Digo genericamente porque na prática ninguém é New Age, basta pensarmos que por vezes se cataloga de New Age tudo o que vai de Wicca ao Reiki, do tarot ao espiritismo, da reencarnação ao ateísmo, já para não falar do panteísmo, comida vegetariana e ecologia. Uma
lista infindável.) Por isso me surpreendeu quando te referes aos livros como "puro lixo".
Claro está que não os comparo com a Bíblia.Mas também não comparo mais nenhum livro com a Bíblia...
Como disse atrás, gosto de ler outros autores que à partida sei que não são cristãos. Por exemplo, Ken Wilber (o meu preferido), Deepak Chopra (embora não tenha gostado do "Terceiro Jesus"), Thich Nhat Hanh, Dalai Lama, Eckhart Tolle (O Poder do Agora), Don Miguel Ruiz, Jack Kornfield, Jon Kabat-Zinn, entre muitos outros. Curioso que já tenha lido mais livros do Dalai Lama do que dos vários Papas da Igreja. Acho que esta diversidade tem contribuído significativamente para o meu crescimento espiritual e como não sigo o famoso "Index", estou descansado quanto à escolha da leitura.
Termino partilhando convosco um excelente livro que estou agora a ler, cristão por sinal. Chama-se
Jesus Hoje, de Albert Nolan, publicado pelas Paulinas e é, provavelmente, o melhor livro de espiritualidade cristã que já li em língua portuguesa. Recomendo vivamente.
Obrigado,
Luís Gonzaga