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Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 04 de April de 2006 01:20

E apesar do dialogo ecumenico com as igrejas ortodoxas estar bastante esmorecido tenho esperanças que dentro de anos, assim que esses paises recuperem verdadeiramente da noite de perseguição do comunismo ateu o dialogo ecumenico entre na sua caminhada decidida para uma plena comunhão.

sou um optimista incuravel.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de April de 2006 20:04

"O papel das mulheres no cristianismo nascente
2006-04-14 21:57:14

Elas estavam lá, desde o início. Cada vez mais, a investigação bíblica verifica que várias mulheres integravam o grupo dos que acompanhavam Jesus. "A conclusão a tirar é que, no tempo histórico da pregação de Jesus na Galileia, havia um número de mulheres que colaborava com Jesus e com os Doze [apóstolos] de maneira activa e consequente", diz o biblista Joaquim Carreira das Neves.

Numa sessão de um seminário internacional promovido pela Faculdade de Teologia (FT) da Universidade Católica, sobre a figura do Jesus histórico, este investigador afirmou que as mulheres eram discípulas de Jesus "em grau de igualdade com outros homens e mulheres que acreditavam em Jesus como profeta messiânico".

A questão é motivo de debate no cristianismo, de um modo especial dentro da Igreja Católica. Muitas vezes, o tema relaciona-se com o problema de saber se as mulheres podem ou não ser ordenadas como sacerdotes. A doutrina oficial da Igreja diz que tal não deve acontecer, escudada no argumento de que Jesus não teve mulheres nos doze apóstolos. No documento Inter insigniores, da Congregação para a Doutrina da Fé, então presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, o actual Papa afirmava que a Igreja "não se considera autorizada a admitir as mulheres à ordenação sacerdotal".

Carreira das Neves olha para esse texto como uma declaração "pastoral" e não dogmática que deixa espaço, por isso, para prosseguir a discussão. Certo é que, há mês e meio, numa reunião com párocos de Roma, o agora Bento XVI manteve a ideia do sacerdócio reservado a homens, mas admitiu que o lugar da mulher na Igreja deveria ser objecto de reflexão.

A actualidade não se pode desligar do que era a vida das primeiras comunidades cristãs. E, concordam cada vez mais os exegetas, as mulheres acompanharam os dois ou três anos de vida pública de Jesus. No mesmo seminário, Frédéric Manns, investigador e ex-director do Studium Biblicum Franciscanum, de Jerusalém, onde reside há 34 anos, afirmava também que "no grupo de permanentes que acompanhava Jesus havia mulheres".

Uma atitude tanto mais ousada quanto, no judaísmo da época, as mulheres eram marginalizadas ao ponto de não servirem como testemunhas.

O catalão Armand Puig i Tàrrech, falando na mesma iniciativa da FT, acrescentava que
"o cristianismo primitivo se construiu sobre o homem e a mulher, num nível de igualdade e fraternidade".

No último número da revista Le Monde de la Bible, estas ideias são confirmadas: Daniel Marguerat, professor de Novo Testamento em Lausanne (Suíça), cita os nomes de várias mulheres que são apresentadas nas cartas de Paulo como diaconisas (responsáveis pelo serviço da caridade nas comunidades cristãs). Essa presença de mulheres junto de Paulo ficou "retida por alguns mosaicos bizantinos", mas desapareceu em seguida "da memória cristã".

Na sua intervenção no seminário, Carreira das Neves referia o significado dos episódios em que as mulheres aparecem nos textos do Novo Testamento - ainda mais porque as atitudes de Jesus nesse campo contrariam a mentalidade do seu tempo.

"Da diaconia de serviço amplo e indistinto das mulheres históricas do tempo do Jesus histórico passa-se para a diaconia ministerial de muitas mulheres das comunidades cristãs primitivas."
Já quanto à Última Ceia, e em declarações ao PÚBLICO, Carreira das Neves hesita na resposta a dar: "É um problema insolúvel. O evangelho diz que os homens e mulheres que acompanhavam Jesus foram da Galileia a Jerusalém por causa da Páscoa - e não por causa de Jesus. Depois, na Última Ceia, só estão Jesus e os Doze porquê?"

Serão esses relatos da ceia pascal de Jesus uma reconstrução dos homens que entretanto passaram a dominar nas comunidades cristãs nascentes?

O frade franciscano diz que "não [há] dados para saber se que quem preside à eucaristia, no início, é homem ou mulher".

Mas, para este especialista, autor de vários livros sobre a figura histórica de Jesus, o importante não está em saber o que aconteceu na ceia pascal: o problema, hoje, é "uma questão da Igreja e não do Jesus da história".

Se "Jesus quebrou o sistema fechado da "honra e da vergonha" do patriarcalismo religioso judaico e da ética da família grega e romana", então a Igreja deve "repensar" a sua tradição, "recolocando a mulher no lugar que lhe compete, à luz da revelação da criação do homem e da mulher, depois de afastar os lugares bíblicos e teológicos do Antigo Testamento e Novo Testamento que prescreveram leis sobre a inferioridade da mulher em relação ao homem".

Fonte Público


( Sublinhados meus. ESte texto do público parece-me especialmente para merecer a nossa atenção. Não coloco o link da página porque não sei se está disponível para todos.

Gostaria sobretudo de relacionar este texto com as imagens das cerimónias de sexta feira no Coliseu de Roma. Ao lado do papa, em primeiro plano, ao longo de toda a cerimónia, a presença de mulheres , mulheres de várias nacionalidades.

/ Nenhuma usava os véus negros da tradição ( marca da sujeição ).

Um sinal.

Gostei.


Re: Um novo concílio?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 18 de April de 2006 09:29

Já tinha ouvido este argumento ao Pe. Carreira das Neves.

Parece-me tão óbvio, que nem percebo muito bem a surpresa que originou.

João (JMA)

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 19 de April de 2006 11:03

O papel preponderante dos homens como autoridade religiosa sobre as mulheres começou quando no chamado cristianismo (ou cristandade) se foi construindo uma hierarquia humana. ***1ªCor.11,3
Se cada membro tivesse uma tarefa na congregação (igreja) consoante o dom que recebeu de Deus, nunca se punham problemas de confronto e distinção de sexos nem de acepção de pessoas. Lc.20,21 *** Actos 10,34 *** Rom.2,11 *** Gal.2,6 *** Efésios 6,9 *** Colossenses 3,25

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.




Editado 4 vezes. Última edição em 19/04/2006 11:10 por Manuel Pires.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 20 de April de 2006 12:32

Talvez a Igreja de Cristo precise, se não de uma língua universal, pelo menos de um alfabeto universal. Este seria um bom tema para um novo concílio:
Um novo alfabeto na demanda de uma nova língua.

*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 20 de April de 2006 18:17


Re: Um novo concílio?
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 25 de April de 2006 19:31

"SIDA: Vaticano prepara declaração sobre uso de preservativo

O Vaticano está a preparar uma declaração sobre o uso de preservativos por parte de portadores de SIDA, depois de o Papa Bento XVI ter pedido ao Conselho do Vaticano para a Saúde para analisar a questão, indicou o cardeal Javier Lozano Barragan ao jornal Repubblica, em entrevista hoje publicada."

[diariodigital.sapo.pt]

Afinal confirma-se : a entrevista do Cardeal Martini não foi um acaso ne teve ao apoio do Vaticano. A ideia de que o preservativo é aceitável ( e até um imperativo) para prevenir a transmissão da sida vai brevemente ser a doutrina oficial da Igreja.

O cardeal Carlo Maria Martini, antigo Arcebispo de Milão, defendeeu recentemente numa entrevista que nos casais em que um dos parceiros tinha VIH/SIDA, o uso de preservativos era «um mal menor». ( logo aceitável)




Bento XVI não pára de surpreender.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 25 de April de 2006 23:36


Re: Um novo concílio?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 26 de April de 2006 01:34

Ou muito me engano ou finalmente alguém vai ler o parágrafo 15 da Humanae Vitae e concluir que se é lícito utilizar meios terapêuticos para curar doenças, mesmo que impeçam a procriação, também é lícito utilizá-los para evitar o contágio de doenças.

Como dizia o profeta, nada há de novo debaixo do Sol! (Ecl 1,9)

Luís Gonzaga

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 26 de April de 2006 22:39

A eficacia do preservativo na prevenção da transmissão de doenças depende da doença.

É melhor numas, noutras é bastante ineficaz.

[www.aidsportugal.com]

Preservativo com Eficácia Variável Consoante a DST

Os estudos têm documentado que a eficácia dos preservativos de látex – não os naturais ou de pele de cordeiro – na prevenção da gravidez e da disseminação do VIH. Com a sua utilização perfeita, (um preservativo usado todas as vezes, colocado antes de qualquer contacto cutâneo), a probabilidade de transmissão do VIH reduz-se cerca de 80%, o que se traduz numa probabilidade inferior a 1% ao ano.

Os especialistas afirmam que os preservativos reduzem o risco de transmissão de outras DST’s, mas é necessário investigar mais. Uma vez que algumas infecções se disseminam mais rapidamente que outras e que algumas podem ser transmitidas através de lesões não cobertas pelo preservativo, a eficácia deste varia com a doença.

Segundo um boletim de 2004 da Organização Mundial de Saúde e um relatório de 2001 dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, estudos individualizados descobriram que os preservativos reduzem o risco de: herpes genital em 30-92% nas mulheres, menos nos homens (não foram fornecidos números); gonorreia em 49-75% nos homens e 39-62% nas mulheres; clamídia em 26-90% em mulheres, 33% nos homens; doença inflamatória pélvica (resultante de gonorreia e infecção por clamídia) em 55%; tricomoníase em 30% nas mulheres, com redução significativa nos homens (números não fornecidos); sífilis em 40-60% em ambos os sexos; e úlceras genitais (cancróide) em 18-23%.

Não existe evidência de que os preservativos previnam o papilomavírus humano (HPV), que causa o cancro cervical mas que é habitualmente eliminado pelo sistema imunológico. Os estudos mostraram que os preservativos reduzem o risco de verrugas genitais causadas pelo (HPV) em 30% em mulheres e em 40% em homens, e reduzem o risco de carcinoma cervical nas mulheres.

Os preservativos reduzem o risco de gravidez para 3% ao ano com utilização perfeita e para 14% com a utilização típica, comparativamente a um risco de 85% sem método de contracepção.

Para mais informação sobre o relatório dos Institutos Nacionais de Saúde, visite o sítio: [www.niaid.nih.gov].

Associated Press (06.29.05)


Para a SIDA, por exemplo, este artigo afirma que a eficacia do preservativo reduz o risco de contagio 5 vezes.

Mas para outras doenças como o HPV de que existe por aí uma epidemia silenciosa que não é falada porque o seu tratamento não é tão caro como o da SIDA o preservativo é ineficaz.

Quanto ao HPV é motivo para elas ficarem preocupadas.

existem muitas mulheres infectadas com o HPV (papiloma). E quando digo muitas é mesmo muitas, a memoria pode me enganar mas parece-me que li que nalguns paises 30% das adolescentes está infectada. Tambem li que alguns especialistas esperam para as proximas decadas uma epidemia de cancro do utero devido a esta infecção (o cancro demora a desenvolver-se). Mas está em estudo e já nas fases finais, uma vacina contra o HPV.

Na maior parte das pessoas o organismo elimina o virus ou este mesmo ficando não dá sintomas. Mas há estirpes mais agressivas que provocam cancro nas mulheres (aos homens raramente causa problemas ou sintomas).

Nalguns paises é feito o despiste sistematico deste virus.

No artigo diz-se que o preservativo reduz o risco de verrugas vaginais em 30 a 40%. É melhor que nada mas é pouco. Em termos de comparação contra a SIDA o perservativo tem uma eficacia de cerca de 80%. Que significa isto?
Significa que para uma doença o risco de transmissão fica reduzido a 60 a 70 % daquilo que era e para outra fica reduzido a cerca de 20%.

De notar a ausencia de referencias à hepatite. A hepatite tambem se transmite por via sexual e mata mais pessoas em portugal que a SIDA (mas mais uma vez o custo do seu tratamento é mais baixo do que a SIDA). Mata mas não aparecem nas estatisticas como mortes por hepatite mas sim como por cirrose.
A hepatite é muito mais contagiosa que a SIDA.

O preservativo reduz a probabilidade de contágio. Deve dar-se a informação correcta às pessoas. Difundir uma ideia de absoluta segurança que o preservativo não tem é enganá-las. Levará algumas pessoas a terem comportamentos que colocarão em risco a sua vida e a de outras pessoas.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: mpp (IP registado)
Data: 27 de April de 2006 11:29

Quanto ao uso do preservativo na redução da probabilidade de contágio de doenças, referem-se nas relações do casal (matrimónio) ou nas relações extra-conjugais e dos depravados fornicadores (porneia) impudicos ?! (Apoc. 21,8)

«Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós.» (João 14,18)



Editado 1 vezes. Última edição em 27/04/2006 11:30 por mpp.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: gcff (IP registado)
Data: 29 de April de 2006 17:05

Caríssimo Miguel,

Por onde começar na vastidão de questões que a sua questão coloca? Antes de mais deixe-me dizer-lhe que me vejo obrigado a concordar com o que escreveu camilo num comentário à sua questão- acho que a expõe de forma algo pessoal. Do meu ponto de vista a Igreja Católica não é essa ususpadora das consciências humanas e da sua liberdade de pensamento que o Miguel retrata ser. A Igreja é conservadora, é uma realidade; durante muitos anos impôs a sua verdade como verdade absoluta através do método que expõe, ou seja denegrindo o livre pensamento; isso passa-se ainda hoje? Não creio. Infelizmente o grande problema nesta questão parece-me estar entre diferenças práticas e teóricas, i.e., entre aquilo que diz a Igreja do Vaticano e aquilo que vivemos nas nossas igrejas paroquiais. E digo-lhe pela minha experiência que a vivência a nível local é muito mais aberta, despreconceituosa e despreconceituada que as directivas (será herético chamar-lhes assim?) que vêm do Vaticano. Esta diferença é preocupante? É concerteza, mas bem menos do que o quadro que pinta. Esperemos que no futuro a prática altere a teoria (não é o que acontece sempre?). Claro que pode advogar que essa vivência mais saudável do cristianismo depende em grande medida da paróquia que frequentamos. Eu diria que depende quase inteiramente. Saberá melhor do que eu que a palavra Igreja vem de Ecclesia, palavra grega que significa assembleia, reunião de homens, logo é normal que em algumas (não será em todas?) comunidades se gerem caciquismos. Estamos perante duas soluções: ou aprendemos a gerir isso e tentamos enriquecer o cristianismo da nossa paróquia ou mudamos para uma paróquia mais vivencialmente cristã (que, confesso, foi o que fiz).
Apreciei a eloquência dos seus ataques ao despotismo de pensamento da Igreja e se me permite acrescentava uma outra obra digna de ser citada. Sttau Monteiro naquele que é o seu maior rasgo de genielidade, "Felizmente há luar!", no diálogo entre o Principal Sousa e a principal personagem Matilde de Mello sintetiza, de uma maneira digna de ser levada a palco, a situação que descreve. Mas note que Matilde de Mello diz que a sua vida muda quando conhece Gomes Freire. Muitos de nós teremos tido esse momento em que Gomes Freire surgiu na nossa vida, i.e., em que deixámos de ser católicos de tradição para o sermos também de convicção, em que optámos por uma fé mais profunda, baseada num conhecimento mais profundo de Deus e do mistério divino. E aqueles que não conheceram ou não aceitaram os seus Gomes Freires, todos aqueles que não se questionam, todos aqueles que aceitam simplesmente a verdade da Igreja? A minha avó disse desde sempre "não leio a Bíblia para não duvidar" e a ela chegam-lhe bem as cartas de Santa Teresinha do Menino Jesus (que nos fariam bem a todos). A minha perspectiva é diametralmente oposta. Mas será por isso a fé dela menor que a minha fé? Será a fé daqueles que não aceitam a dúvida menor do que a fé dos que duvidam? O que mede a fé? Lembre-se que o dom mais precioso de Deus ao Homem é o livre arbítrio.
Quanto à questão fundamental da sua questão, a existência dum novo concílio, vejo-me obrigado a concordar novamente com camilo, num outro comentário, já mais extenso, que lhe ofereceu. Não me parece que haja necessidade de um novo concílio, parece-me que há necessidade de que as pessoas, incluindo os Senhores da Igreja, se lembrem do velho concílio. A perspectiva pode parecer cliché, mas ainda assim acredito nela. Um concílio deve julgar sobre a teologia e a praxis da sua Igreja e a verdade é que as ideias daqueles que defendem um novo concílio não vão muito além daquelas redigidas no velho, e não vão sobretudo na sua essência. E um concílio altera isso- coisas essênciais. Conhecerá de certo da História da Igreja que o final do séc. XIX foi fértil em concílios. O facto de terem sido vários fez assim tanta diferença? Claro que a Igreja deve estar a par do mundo e perder o seu hábito francês de, por razões de chic , chegar sempre ligeiramente atrasada a tudo. Mas as questões que hoje se colocam nesse sentido não são questões de base e podem ser resolvidas fora de um ambiente conciliar.
Por último, caríssimo Miguel, deixe-me agradecer-lhe este tema. Obrigado por ter pegado numa questão que se vai tornando cliché como esta e, ao expô-la de forma tão eloquente, nos fazer pensar sobre coisas que são essenciais. Continue!

Abraço-o em Cristo,

Filipe

Re: Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 01 de May de 2006 03:03

Caro Filipe,

Vamos por partes:

1. Eu não disse em parte alguma que a Igreja Católica no seu todo e como grande instituição era uma ‘usurpadora de consciências e da sua liberdade de pensamento’. A igreja, como assembleia, claro que não é. Contudo, talvez importe distinguir planos: para já um plano mais paroquial; um plano mais académico. Era possível ir ainda mais longe, mas estes serão suficientes.

No plano paroquial, parece-me que tens razão: tudo depende de paróquia para paróquia. E se a Igreja até parece aceitar o livre-pensamento (e daí, nem tanto), não é assim muitas vezes em termos práticos. Também a nível paroquial. É claro que um pároco deve zelar pela ‘sã doutrina’, pela recta transmissão da fé, etc... O problema não é tanto esse: é óbvio que nenhum catequista pode querer ensinar que Jesus Cristo não é o Filho de Deus. Mas pode levar os seus catequizandos a aprender por si, sobretudo os adultos ou adolescentes, a pensar por si, a questionar algumas coisas da nossa fé, da nossa religiosidade, das várias espiritualidades dentro da Igreja, a aprender a escolher, a saber e compreender por si ‘as razões da nossa fé’. E, de facto, se há paróquias em que há uma vivência “muito mais aberta, despreconceituosa e despreconceituada que as directivas que vêm do Vaticano”, há outras em que tal não acontece e em que se acaba por negar os que querem questionar, fazer perguntas ou ‘pensar por si’; é disso que estou a falar. E este é um problema que acaba por criar internamente esquizofrenias difíceis de explicar. Porque, por um lado, nas tuas paróquias, a Igreja diz-se obediente e dependente do Vaticano, por outro não liga a 100% a tudo o que o Vaticano diz, faz por vezes uma interpretação/adaptação local do que emana dos documentos papais e curiais (e não estou contra isso, antes pelo contrário)... mas não sei, também me soa a próximo do esquizofrénico... Depois, a paróquia A (ou deveria dizer o padre A??) é muita aberta, aceita bem ‘alguns divorciados’, por exemplo, procura reagir sem preconceitos perante alguns casamentos ou baptismos de filhos de uniões de facto ou de casais de divorciados; ao lado, a paróquia B (ou o padre B) tem pelo contrário uma visão bem mais estrita e legalista e esforça-se por seguir literalmente o magistério e a doutrina... Mais uma vez, cheira-me a esquizofrenia... De qualquer modo, não quero generalizar e peço desculpa se é essa a impressão que dá; mas é preciso apontar também por vezes o dedo e dizer que há paróquias em que, quem não pense ou entenda a fé da mesma maneira que o padre é posto de parte. Podia dar exemplos, desde o catequista que se recusou a falar sobre uma suposta ‘queda primordial do diabo’ e foi afastada, até àquele que resolveu explicar a adultos de forma mais científica o episódio de Adão e Eva e foi silenciado (aconteceu há pouco tempo!), a quem quis organizar um debate sério sobre religiosidade popular e novas formas de religiosidade e foi impedido, etc etc etc... Há bons exemplos, mas a nível paroquial também há maus exemplos de quem impede os fiéis de crescerem por si ou de porem os seus próprios saberes ao serviço da fé... Se é preocupante, talvez não seja assim tão pouco; e devem ser assuntos equacionados... mas enfim, reconheço, claro, que nem tudo ao nível de um concílio!!!!

No plano académico, são muitos os exemplos de teólogos que foram silenciados por fazerem o mesmo exercício – o Camilo tem razão: é claro que um teólogo católico não pode ensinar coisas que vão completamente ao arrepio do que é o centro do Cristianismo. Contudo, pode e deve fazer questionar e fazer avançar o conhecimento de Deus. Já te perguntaste por que razão nem o Fr. Bento Domingues nem o Fr. Luís França, nem o Pe. Anselmo Borges dão aulas na Católica? Ou por que razão alguns académicos insignes da nossa praça deixaram o sacerdócio (continuando a ser católicos)? Não quero, naturalmente, entrar em polémica nem revelar o irrevelável, mas nem tudo é um mar de rosas na teologia em Portugal. E Portugal é tão pequenino... Não sou eu que o digo, mas confirmo o que o Pe. Anselmo Borges diz: ‘Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta’; ou ‘os hierarcas eclesiásticos corrigiram a façanha de Cristo, baseando-a em milagre e autoridade. . A tua avó parece-me ter aprendido bem a lição. ;-)

Acredita que não sou pessimista. Nem é próprio do cristão ser pessimista. Eu sei e congratulo-me com os tantos exemplos fantásticos de paróquias e de professores. O que eu fiz no início deste tópico, não tem nada a ver com pessimismo nem com uma visão negra da Igreja, que não partilho. Resultou antes de mais da leitura na mesma semana de dois artigos que me pareceram muitíssimo interessantes e que lançavam uma série de questões indispensáveis. Não sei se é defeito se feitio, mas não acho que o pintar tudo de cor de rosa ou tudo negro seja particularmente estimulante: não é verdade que o mundo seja a dois tons. Contudo, por vezes é preciso apontar alguns reis nus; não digo negar que existem os ricamente vestidos, mas apontar claramente o que está nu. E esses artigos, julgo que o fazem bem.

2. Quanto a um novo concílio. Concordo que o Vaticano II está em grande parte por cumprir. É verdade. E até concordo com o facto de que muitas das ideias dos que defendem um novo concílio não vão muito mais além do que está no Vaticano II. Contudo, há também muitas ideias que já existiam na altura e que são hoje problemas ainda mais urgentes, e que importa talvez discutir de forma alargada. Chamem-lhe concílio ou o que quiserem. De resto, não me parece que seja verdade que não se apresentem problemas essenciais que convinha serem (re-)discutidos (de resto, não me recordo de muitos concílios nos últimos séculos: depois de Trento, houve o Vaticano I em 1870 e depois o Vaticano II nos 60’s).

Mas, caro Filipe: não achas relevante discutir o sacerdócio e a sua ‘configuração’ latina, expressa na necessidade impositiva do celibato? Ou a sua feição exclusiva e “irreformavelmente” masculina? Ou a actual formação académica e pastoral de muitos padres? Ou o problema mais global das vocações? Não estamos para já a discutir se o preservativo pode ser utilizado ou não... estamos a discutir algo que é constitutivo do cristianismo em geral e /ou do catolicismo latino em particular. Não tenhas dúvidas: nenhum destes assuntos mudará ou será sequer seriamente discutido sem um concílio ou algo semelhante. Não creio que, por hipótese, em relação a estes temas, um qualquer papa tomasse uma opção diferente da actual ou promovesse sequer o seu questionamento/discussão sem a convocação de uma reunião muito alargada de bispos (chamem-lhe concílio ou o que quiserem).

Não achas relevante discutir a Igreja e o seu governo? O papel da Cúria e a dignidade cardinalícia? A democratização da Igreja, ou como alguns gostam de dizer, fraternização da Igreja? Isso não se fará de cima para baixo. Seria uma extraordinária surpresa que fosse a própria Cúria a descentralizar o governo da Igreja quando ela própria não tem feito outra coisa nos últimos 30 anos senão centralizá-lo...

Não achas relevante que se discutam as questões de bioética e todos os problemas relacionados com a sexualidade? Não digo abrir as portas e aceitar sem pensar todos os ‘progressos’; digo abrir as portas à discussão e não à imposição de uma qualquer Humanae Vitae só porque sim. Penso que e fundamental repensar a contracepção e pelo menos conversar a sério e sem tabus sobre a moral esquizofrénica em que certamente cerca de 90% dos católicos vive... Alguma coisa vai mal, e nem as tantas directivas do anterior e tão querido Papa resolveram minimamente o problema... E discutir o papel dos divorciados na Igreja, nos seus serviços e na liturgia; o mesmo para os homossexuais: clarificar qual a sua posição litúrgica, por exemplo. Como diz o João (JMA) ‘é chocante a colocação de muitos católicos fora da comunhão com a Igreja’ e ‘considero mesmo ser um abuso de direito que a hierarquia da Igreja pratica quando se serve do Evangelho para assumir o poder de perdoar os pecados e se esquece de ler o resto do Evangelho, que lhe dá como missão Evangelizar’. Eu subscrevo a afirmação, porque sei de tantas proibições e tantos interditos, alguns com sentido, mas tantas e tantas vezes aplicados com um legalismo estrito e sem real amor evangélico (admito também que haja excepções). A verdade é que para os grupos que refiro acima não lhe são vedados apenas os sacramentos, como aqui já disse: em muitas paróquias, é a participação na liturgia e na vida activa (e não apenas passiva) na paróquia que lhe está vedada. Não achas relevante pelo menos conversar sobre isso?

Não achas relevante que se discuta seriamente a desertificação das Igrejas? Eu sei que o número não é o mais importante. Mas os números significam indivíduos a quem nós temos obrigação de anunciar o Evangelho... Não te perguntas, quando vês a média de idades em tantas Igrejas (admito, claro, que haja excepções, e que nesse campo Portugal é um pequeno paraíso... só que o mundo não é Portugal) o que será daquelas comunidades daqui a 40 anos? A verdade é que a prática dominical não tende a aumentar; a prática dos sacramentos de iniciação tende até a diminuir, bem como esse sacramento tão social como o matrimónio. Não achas que isso tem de ser discutido? Devemos assistir a isso de braços cruzados ou com a esperança de que uns padres mais inspirados sejam ordenados e capazes de galvanizar as pessoas para a Igreja?

Não achas relevante discutir e levar pelo menos a pensar sobre o actual modelo da paróquia como célula da comunidade cristã, encimada por um padre, como representante do bispo? Não achas relevante pensar se será possível manter o actual sistema paroquial-sacerdotal, perante a terrível falta de vocações, quando, de facto, o paradigma que o motivou está cada vez mais ultrapassado com a melhor formação e capacidade de trabalho efectivo de muitos leigos. Não será possível repensar e alargar o papel dos leigos na Igreja, na efectiva condução de muitas comunidades (chamem-lhes o que quiserem)?

Não achas importante discutir, estudar e reconfigurar os cristianismos’ não-europeus? Repensar a liturgia em termos bem mais globais, no sentido senão de uma abertura à diversidade, pelo menos de abertura às culturas locais? Não significa isto, que eu ache que necessariamente a liturgia tem de ser mudada. Mas julgo que deve ser pelo menos questionada. Para tal não é necessário um concílio? Chama-lhe o quiseres. Desde que seja uma reunião realmente participada e fraternal, livre e aberta.

Caro Filipe,

Percebo muito do que dizes, e fico realmente contente por pertenceres a uma paróquia viva e activa, integradora e motivadora. Mas, e espero não ser demasiado pessimista, olho em volta e vejo tantas coisas a discutir, que acho que estamos a falhar na nossa missão, se não o fizermos.... Num concílio ou noutra assembleia qualquer, séria, livre e alargada. Já aqui o disse e repito: por vezes fico com a sensaçao de que o Vaticano gostaria que Deus não tivesse dado liberadde ao homem; seria muito mais fácil que o homem aceitasse sem pestanejar todas as directivas e não quisesse discutir nada. Como a tua avó! :-))
Mas sabes? Eu tenho mesmo muita confiança no futuro. Pergunto-me muito nas minhas reflexões sobre se o Espírito Santo não estará a falar-nos através de tantos e tantos problemas e aparentes incapacidades... Não sei (e quem sou eu para o interpretar?)... mas pergunto-me... e tenho esperança... de resto, pelo menos isso não nos roubou Pandora.

Também fico contente por entrares no forum e, devia talvez ter começado por aí, dou-te as boas-vindas por isso.

Um abraço fraterno

Miguel

Re: Um novo concílio?
Escrito por: gcff (IP registado)
Data: 01 de May de 2006 13:25

Caro Miguel,

A resposta a tudo quanto me pergunta é- sim! Acho importante que tudo isso seja discutido e até com alguma urgência. De resto, se não acreditasse na discussão e nesse ideal neo-clássico de que desta nasce a razão não teria comentado o seu postnem tão pouco me teria inscrito neste forum (obrigado pelas boas-vindas).

Depois de ler atentamente a sua resposta devo reconhecer que a análise que deixei em resposta ao seu primeiro comentário baseia-se de sobremaneira na minha vivência pessoal, i.e., na análise da vivência cristã na minha paróquia. Na verdade, confesso que dos assuntos em que mais tenho meditado é no grande (absoluto?) poder que o pároco exerce na sua paróquia. Qual Luís XIV no seu Versailles agrupa em torno de si quem entende e nestes delega o poder de comandar a paróquia´, mas tudo, absolutamente tudo, continua a passar pelas suas mãos. Daí que acho absolutamente honesto que substitua na sua resposta paróquia A por padre A. O funcionamento são e cristão de uma paróquia depende fundamentalmente da sanidade e cristandade do seu pároco. E nós, os paroquianos, que opinamos nós sobre uma paróquia que também é nossa? Usando as suas palavras é no mínimo esquizofrénico.

Quanto às questões que levanta sobre a teologia e a praxis da Igreja, depois de ler a sua resposta, onde as inclui, e depois de pensar sobre o assunto creio, como já disse, que tem razão. De facto, lembro o Congresso da Nova Evangelização, que como sabe decorreu no passado Novembro, que pouco ou nada alterou na maneira como o cristianismo é vivido na cidade. Cumprindo a velha máxima romana de [i]pão e circo
cobrou a exorbitante quantia de €280 para a inscrição enquanto divertia aqueles que não puderam pagar esta importância com concertos e afins. Se há coisa em que concordo consigo é que nada mudará de cima para baixo. De resto, como escrevi na resposta ao seu comentário, terá que ser a prática a influenciar a teoria.

Sem mais, agradeço-lhe por tudo.

Abraço-o em Cristo,

Filipe

Re: Um novo concílio?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 01 de May de 2006 17:17

A questão das vocações - que estão em crise - levantada pelo Miguel não será uma resposta do Espírito Santo à teimosia humana?

O homem não quer mudar nada, é pelo imobilismo. Com uma crise de vocações como aquela que vivemos não pode adiar mais de uma ou duas décadas toda a (re)definição do sacerdócio.

Nada de grave aliás: a ordenação de homens casadosjá se encontra como "reserva" na mente dos próprios bispos. Basta ver os comentários do último sínodo. A inclusão dessa questão na discussão já prefigura a mudança. É só aguardar o decurso do tempo.

Mas essa inevitabilidade não irá resolver o problema. Será apenas um adiamento de mais reformas inevitáveis. Que, num segundo momento, irão passar por um de dois caminhos: celibato opcional ou alteração do modelo de paróquia.

Quer um quer outro serão mais um caminho de regresso ao Evangelho e à pureza das primeiras comunidades cristãs.

O celibato passando a ser opcional permitirá que aqueles que hoje em dia se afastam do sacerdócio por se quererem casar permaneçam exercendo a sua vocação. Apesar dos números não serem divulgados consta que em Portugal nada menos do que 600 sacerdotes se terão afastado do sacerdócio para se casarem.

E permitirá eventualmente àqueles para quem o celibato foi motivo de não escolha desse caminho a possibilidade de se colocarem ao serviço dos outros como sacerdotes.

A alteração do modelo de paróquia para uma gestão da mesma pelas comunidades e na qual os sacerdotes exercem apenas aquilo para que se prepararam, terá o duplo efeito de aproximar mais a comunidade da paróquia e de permitir ao sacerdote consumir a totalidade do seu tempo com o apoio espiritual e pastoral às suas comunidades.

Em qualquer dos casos será uma aproximação à Verdade do Evangelho.

Mas não ficaremos com o problema resolvido.

Resta saber qual destes dois caminhos será trilhado primeiro. Ambos necessários e ambos insuficientes.

João (JMA)

Re: Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 01 de May de 2006 19:51

Caro Filipe,

espero que o 'sem mais', não signifique perda de vontade de continuar a participar. Se foi algo/como disse, peço desde já desculpa... relendo hoje talvez tenha sido um pouco seco demais. Estou certo de que todos por aqui apreciámos bastante o que escreveste e a forma como o fizeste. E é da conversa que nasce algo de positivo. Nestes tempos tão vivos e tão motivadores, este forum serve para tentar conversar sobre assuntos, exprimir opinões e pontos de vista, estabelecer comentários. Ajudaste-me a talvez recentrar o meu discurso e a valorizar igualmente os excelentes exemplos de paróquias e párocos que ainda temos. E a retomar um tópico já moribundo :-)

Só um pequeno comentário ao que disseste sobre a nova evangelização, e, se te parecer bem, poderíamos também alargar a conversa a esse tópico: quais te parecem ser os caminhos de uma nova evangelização. Acho muito pertinente o que apontaste: muita festa, muitos eventos para a malta, mas não muita uva. A isso recordo também o que aqui foi então dito sobre esse assunto: isto de chamar Nova Evangelização e de propor como dois acontecimentos centrais do Congresso uma procissão com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima à cabeça e uma peregrinatio às relíquias de Santa Teresinha, parece no mínimo curioso, ou não será?

Um abraço fraterno,

Miguel

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 02 de May de 2006 15:22

Suponho que um concílio serve para reconciliar as pessoas.
Por isso, reconciliemos-nos uns com os outros e com YHWH, em vez de procurarmos os tribunais das nações.
Amemos os nossos inimigos.
Perdoemos-nos mutuamente.
«... não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade
Amemo-mos como Jesus nos amou.
Citação:
12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.




Editado 1 vezes. Última edição em 02/05/2006 15:29 por Manuel Pires.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 03 de May de 2006 22:27

JMA, creio que existirão em Portugal 600 sacerdotes suspensos. Mas nem todos terão passado a essa situação para se casarem. Na maior parte dos casos terá sido esse o motivo mas nem sempre.

Quanto à gestão das paróquias pelos paroquianos duvido muito que desse os resultados que esperas. Daria maior participação na vida paroquial mas maior conflitualidade dentro das paroquias. O maior problema seria a falta de preparação teologica e espiritual (principalmente espiritual) dos leigos. As pessoas que vejo defender essa reforma normalmente julgam que teriam mais influencia dentro da sua paroquia. Mas pelo que vi no conselho pastoral quando lá estive existe uma grande probabilidade das paroquias serem instrumentalizadas para fins politico-partidarios e de leigos sem preparação nem real vocação religiosa (em sentido lato) tomarem as redeas à paroquia. Devido à falta de preparação da maior parte dos catolicos é muito plausivel que os leigos que passassem a ter mais influencia não fossem os mais preparados mas os mais popularuchos, os mais inculturados na cultura local... mas as culturas locais têm muito de cristão mas também muita coisa contraria à fé cristã.

Daí que eu temo que se as paroquias fossem governadas com maior democraticidade seriam esses leigos a dominar.

Segue informação suplementar por mensagem privada.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: gcff (IP registado)
Data: 06 de May de 2006 12:09

Caríssimo Miguel,

"Sem mais", "Agora que fico sem notícias", "Sem mais para contar", são expressões de puro aspecto formal para terminar uma carta, ou, neste caso um comentário, querendo eu apenas dizer com "Sem mais" que, naquele momento, não tinha mais nada a acrescentar. De resto, não fiquei ofendido com nada do que me escreveu, mas sim pensativo. E olhe que isso para mim é óptimo!

Modéstia à parte acho que a pequena conversa que estabelecemos levantou várias questões, muitas não se prendendo até de forma directa com um novo concílio. Quanto ao que me pergunta sobre o Congresso da Nova Evangelização terei gosto em dar-lhe a minha opinião em privado, uma vez que ela é bastante negativa e não é do meu interesse ferir susceptibilidades. Mas posso deixar-lhe algumas opiniões principais: como disse, foi tudo muito à romama, pão e circo para o povo, e os eruditos (ou os endinheirados) que discutam. Efectvamente, caro Miguel, diga-me quantas pessoas conhece que não só podem pagar €280 para a inscrição e ainda estão livres da parte da manhã. Lembre-se que o Congresso decorreu no espaço de uma semana e as sessões tinham lugar de manhã! Eu digo-lhe quantas pessoas dessas eu conheço: senhoras de "sensibilidade e bom senso" que habitam a zona que se alarga do Rato à Estrela, incluindo a Lapa e Campo de Ourique. É claro que esta análise é exagerada, mas é também verdade que é mais real do que eu gostaria.
E quanto a resultados do Congresso? O Miguel sabe-me informá-los sobre eles? É que se sabe eu adoraria saber! O que é que saiu dali, nem que seja no papel? Se saiu alguma coisa, que terá saído, não me parece que as pessoas estejam informadas. Quer fazer o teste? Na missa de domingo aborde um paroquiano comum de meia-idade sobre o Congresso e veja se ele sequer se lembra dele! A minha paróquia tem cerca de 3.000 paroquianos, sendo 500 a 350 activos, não me parece que mesmo nestes últimos muitos me saibam informar sobre alguma coisa referente ao Congresso!
Quanto ao problema da evagenlização, é um problema que continua mal-resolvido. E em Portugal esse problema tem contornos muito complexos. É que no nosso país é preciso evangelizar os católicos, i.e., toda essa massa de gente que se diz religiosamente católica, e que o é culturalmente, mas que não tem qualquer vivência espiritual. Se eu acho que devíamos ir para a rua apregoar Cristo ou fazer cartazes com muitos peixes a dizer "Ser católico é fixe!" como se sugeriu na minha paróquia há uns tempos? Não, não acho. O meu avô dizia muitas vezes que os católicos não dão escândalo. Esta máxima, é verdade, adormeceu muitas vezes a Igreja, mas é também uma das suas maiores características. É que os católicos não se impõem, nem procuram impor-se. Não há entre os católicos aquele espécie de dom e contra-dom em que eu faço-te pertencer a uma comunidade, a ti que estás só, mas tu aumentas a nossa logística. O católico evangeliza pelo seu exemplo sem nunca se impor. Claro que as coisas são mais complexas e que há métodos subtis de chamar as pessoas (no fundo essa é a ideia). Mas os católicos não estão nessa espécie de luta desenfreada que as igrejas reformadas me parecem ter para a angariação de pessoas, porque é isso que acaba por ser. Isto é daquelas coisas que faz com que eu seja fortemente católico.

Sem mais, mas esperando a sua resposta, caro Miguel,

Abraço-o em Cristo,

Filipe

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Rute (IP registado)
Data: 08 de May de 2006 13:11

Caríssimo Filipe,

Esse truque de dizer que não falas de alguma coisa e depois escreveres 20 linhas sobre essa coisa não é novo... velhos esquemas retóricos... ;o)

Mas acho que fizeste em bem em escrever, penso que opiniões fundamentadas de quem se afirma fortemente católico só podem ser benéficas e construtivas. Depois de ler a crítica de quem está "por dentro", atrevo-me a lançar a opinião de quem vê de fora, como é o meu caso.

Penso que abordas no teu post duas das características fundamentais do catolicismo. Uma delas bastante positiva: a não imposição. Não há nem da parte da Igreja nem da parte dos católicos que conheço uma tentativa de se impor (excepto algumas tentativas de proselitismo mais ou menos irónicas ;o)). Eu conheci de perto aquilo a que chamas "luta desenfreada que as igrejas reformadas para a angariação de pessoas" e devo dizer que, se é verdade que em muitos casos resultam de um sentimento genuíno de interesse nos outros (quando achamos que temos o melhor, tentamos mostrá-lo aos que estão à nossa volta), a realidade é que Deus nunca se impõe, Deus espera pacientemente que haja uma abertura, mínima que seja, do ser humano para aí implantar a Sua luz de amor. Não menosprezo o papel de outros humanos para esse "implante" de Deus em nós, nem o poderia, se não fossem algumas pessoas que estão à minha volta, não sei se sentiria neste momento a presença de Deus. Mas nenhuma dessas pessoas se impôs, ou impôs alguma crença, nenhuma delas alguma vez me "evangelizou" e não foi preciso: os seus exemplos de vida, a partilha amistosa de ideias foram suficientes. E fizeram muito mais efeito do que muitos anos de "evangelização". O Evangelho não é senão Amor e o Amor não se ensina, não se impõe, vive-se e partilha-se! A atitude que sempre senti da parte da Igreja Católica, não tanto a nível institucional, mas a nível pessoal, foi uma atitude de inclusão, sem imposição. Sempre fui acolhida e nunca ninguém me tentou impor uma visão de nada, tive sorte nas pessoas que conheci?, sem dúvida alguma. Mas penso que este fórum é um bom exemplo de como a partilha e a inclusão podem funcionar sem a mínima noção de proselitismo.

Uma outra característica, essa bastante menos positiva, penso eu, é a falta de informação. Os católicos, de uma forma geral, e obviamente que haverá muitas excepções, são pouco informados quanto à religião. Ser-se católico é em muitos casos uma questão cultural e noutros uma questão de fé quase cega e desinformada. O exemplo que citaste da tua avó "não leio a bíblia para não duvidar" é, penso, paradigmático. Curiosamente, em conversa com uma católica alemã em Taizé, percebi que isso não é uma realidade que se estende a todo o catolicismo, também para ela lhe parecia inconcebível um cristão não ler e meditar na bíblia. não posso deixar de pensar que, num país de tradição protestante, o próprio catolicismo sofreu uma evolução positiva "aprendendo" com o exemplo alheio. Para quem vê de fora, pelo menos para mim, este é um dos grandes desafios que o catolicismo nos países latinos tem a enfrentar, porque as novas gerações dificilmente seguirão uma fé cega e desinformada, porque dificilmente numa geração em que a informação surge de todos os lados e em sentidos tão diversos (e por vezes tão dispersantes), não é possível persistir num sistema herdado da época da Inquisição.
Penso que o fenómeno Código Da Vinci é disso um bom exemplo. Se houvesse preocupação séria de formação por parte da Igreja, se os crentes, admito que não todos, mas uma boa parte deles estivessem minimamente informados sobre a existência e as características dos evangelhos apócrifos, o livro dificilmente teria o sucesso que teve! Literaria e estilisticamente é fraco, o argumento está bem construído mas não chega aos calcanhares de qualquer policial à "Agatha Cristie"! Qual o motivo do sucesso? "Vem revelar a verdade escondida", não que revele alguma coisa, é um romance ficcional e não dá nenhuma novidade, mas para quem está desinformado qualquer coisa, pouco original e pouco científica que seja, constitui novidade. Talvez uma politica de informação resultasse melhor do que uma politica de repressão e de boicote... Por vezes sinto que partes da Igreja têm receio que o poder do Amor de Deus seja mais fraco que a racionalidade humana!

Citando Paulo:
"Estou convencido de que nem a morte nem a vida,
nem os anjos nem os principados,
nem o presente nem o futuro,
nem as potestades,
39nem a altura, nem o abismo,
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, Senhor nosso." (Rm 8,38-39)

Uma fé informada pode ser uma fé bastante mais forte e resistente, uma fé que duvida e investiga e pensa pode abrir caminho a uma compreensão mais plena de Deus. Porque nada nos pode separar do Amor de Deus, muito menos a capacidade de raciocínio de que ele nos dotou!

Um abraço,
Rute

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