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Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 13:48

Albino Soares, que afirmações pouco substanciaveis vê na cristologia actual?
Quanto ao episodio de Galileu desconfio vagamente que nunca foi propriamente uma definição dogmatica nem sequer está relacionado com a cristologia. Aliás eu que conheço razoavelmente bem a ciencia actual, principalmente a fisica e a matematica, não estou ver as implicações da ciencia na cristologia. Aliás fora o caso da bioetica nem sequer estou a ver que implicações tenha a ciencia na teologia actual que precisem de ser analisadas num concilio.

CP, esperava que lhe agradasse esse texto do CAA, um dos mais radicais (e frequentemente um dos mais irracionais) ateus antirreligiosos que conheço. Parece-me que o milenarismo actual não está propriamente ligado a um recrudescimento da fé mas sim com o enfraquecimento das igrejas tradicionais, de qualquer modo é assunto para outro topico, não desviemos este do seu tema.

Trento, o que concluo é que não lhe agradam algusn aspectos da Igreja e do rumo que o Papa e os Bispos lhe estão a dar e espera que um concilio, convocado pelo Papa e participado pelos Bispos lhe altere esse rumo. Não me parece plausivel. A Igreja pode incorporar aspectos democraticos ou não mas essencialmente sempre foi e sempre será Apostolica, ou seja são os Bispos e o Papa que tem o encargo de guiar os cristãos. Ao Papa compete sempre confirmar os irmãos na fé. Não é um concilio que vai alterar isso.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 13:54

Mas voltando ao tema.

Um concilio só me parece oportuno actualmente no quadro do dialogo ecumenico.
Um concilio para liberalizar a Igreja como claramente aqui propoem afasta-la-ia da maior esperança do dialogo ecumenico que é a igreja ortodoxa.

A Igreja ortodoxa saiu 15 anos atrás de decadas de feroz perseguição de regimes ateus. Está ainda a recompor-se.

sobre a evolução da sociedade, se é inevitavelmente liberal ou haverá um regresso do conservadorismo é uma incognitca.

a ler:

[www.usatoday.com]

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 14:26

Camilo,
As obras específicas de Jesus Cristo estão bem patentes nos Evangelhos:
os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os famintos são alimentados, os mortos ressuscitam etc; estes são os sinais do reino que Jesus Cristo veio inaugurar.
Veio inaugurar imbuido dos "genes" de Deus (porventura genes espirituais).
É interessante que na forma baptismal do credo não figura o "todas as coisas por ele foram feitas". Talvez por ser uma frase que se presta a alguma dificuldade de interpretação. Eu acredito que Jesus Cristo é um acontecimento na plenitude da Revelação, mas num contexto cultural com limites próprios.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 16:53

Eu julgo que o concílio não deve estar subordinado a uma qualquer necessidade de diálogo ecuménico. Não que eu não ache que o diálogo ecuménico seja pouco importante. Eu acho que é fundamental. MAs não é apenas numa direcção, no caso na direcção dos ortodoxos. Não se deve esquecer que ainda há pouco tempo houve um diálogo muito frutífero com os luteranos acerca precisamente da eucaristia e, salvo erro, da suposta mediação dos santos. De resto, não acho que se deva impedir a nossa própria reflexão com a desculpa do diálogo ecuménico. A verdade não se compadece disso também...

Há um mal estar na Igreja, hoje em dia e isso é evidente quando os dois únicos articulistas padres dos jornais portugueses escrevem os dois artigos que escreveram no passado fim de semana. Não vale a pena esconder, dizer que são pessoas descontentes e pessoas que não se enquadram bem no sistema actual... é evidente que não se enquadram, mas porque de facto há um divórcio que me parece estar a instalar-se dentro da Igreja entre aqueles que querem realmente ir mais além e os que querem 'conservar' o que está e, se possível, retroceder ao que existia dantes...

Diz o Camilo:

"O conciliarismo foi uma doutrina já rejeitada, o concilio não impoem nada ao Papa sem a concordancia deste". A meu ver ( e pobre de mim) este é um dos disparates que anda por aí e não consigo entender uma religião em que o concliarismo seja assumido como inferior à vontade doutrinal de um único indivíduo, mesmo que ele seja Sua Santidade (de resto, nem é isso que a doutrina diz: a infalibilidade papal só existe em comunhão com os bispos... em que ficamos?). É que Sua Santidade não existe por si nem independente dos bispos que lhe dão sentido ou dos cristãos que são TAMBÉM a Igreja. Não há papa sozinho nem sem o conjunto dos Cristãos. Esta teoria de que 'A Igreja sou eu' é chão que ainda dá frutos mas que urge e com rapidez eliminar... Toda a história mostra isso e esse é um dos resquícios de medievalidade/luta contra a modernidade (cf. Vaticano I) que francamente me parecem ser de pelo menos discutir. Não me parece haver qualquer sentido cristológico nem evangélico em tal doutrina. E não me venham com a historia da chave que S. Paulo esteve-se nas tintas para isso e quando achou que as coisas estavam mal impôs literalmente outro caminho. A Igreja não é individual nem a doutrina da Igreja é mono-motivada ou mono-revelada.... nesse sentido, não há papa que sempre tenha razão nem papa que sempre acerte... querem exemplos... desde Bento IX a Pio IX, passando por Alexandre VI, a lista é infindável.

2 - "A Igreja não é uma democracia". Claro que não é: mas também não é uma ditadura em que só uns quantos têm o direito de dizer e de assumir o que é a verdade. Admito que tenha de haver regulação, mas o Espírito sopra ONDE QUER, não onde nós queremos. E o Espírito manifesta-se na IGREJA, não em alguns membros da Igreja; mesmo que eles sejam o Papa e o seu entourage. Não digo que tudo o que eu próprio penso seja a verdade... claro que não. Mas digo que isso tem de ser conversado, discutido, pensado, reflectido. O pior que pode haver é uma fé imposta de cima para baixo. Era isso que os saduceus do Templo faziam... e foi contra isso que Jesus também se manifestou. De resto, em Deus nada é estabelecido desde cima... tudo vem de baixo: de nós, que o ouvimos. Na lógica vaticanista e hierárquica, por vezes parece-me que o melhor seria que tudo estivesse estabelecido à partida e que Deus, agora substituido pela hierarquia, tivesse dito tudo o que deveriamos fazer: para os outros, nós, bastaria seguir. Não foi assim que Deus se nos revelou, que eu saiba. Não há democracia, mas todas as grandes transformações da Igreja realizaram-se em concílio.

3- Achar que os bispos se reúnem actualmente em sínodos é, de facto, uma fantasia. Nem os sínodos permitem grande discussão, nem as conclusões são grandes novidades. A agenda está estabelecida à partida e os sínodos limitam-se a ser meras assembleias selectivas de ratificação de posições previamente estabelecidas. Só não vê, quem não conhece como as coisas funcionam.

É óbvio que o Vaticano II não está todo cumprido. Já nem vai ser. Isso é algo que todos os que estão um pouco mais dentro da Igreja percebem. São tantas as coisas que são ditas contra o Concilio e contra as suas 'liberdades' que se percebe que já não se irá mais longe no sentido do seu cumprimento, no ponto em que estamos. É contra isso que Frei Bento Domingues e o Pe. Anselmo Borges, da Sociedade Missionária, estão. É contra isso que eu estou. Não apenas porque não se cumpriu: mas porque há temas que importa retomar, do celibato dos padres, ao REAL papel dos leigos nas suas paróquais, da organização eclesiástica ao nível local (há regiões onde o sistema de paróquias faliu, onde os padres visitam a sua paróquia uma vez por mês) ao problema das vocações e da ordenação de pessoas casadas, da questão da masculinidade do sacerdócio, à abertura do catolicismo a outras sensibilidades estéticas e espirituais, das questões da sexualidade, à abertura da Igreja e da liturgia aos que não se enquadram estritamente na moral dita católica, etc etc etc... Se isto se discute, se isto, como este forum mostra à saciedade são problemas reais, por que não as cúpulas discutirem-nos A SÉRIO sem agendas pré-fabricadas e conclusões a ratificar? Qual o medo de um novo concílio? Que tèm medo de perder? Ou não acreditam de facto no Espírito?

Abraço fraterno,

Miguel

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 18:36

[www.agencia.ecclesia.pt]

Conciliarismo:
Doutrina errónea que afirma a superioridade do concílio ecuménico sobre o Papa, a quem poderá julgar e depor. Defendida por alguns teólogos medievais, em clima de tensão entre alguns príncipes e o papado, nomeadamente durante o *Cisma do Ocidente (1378-1417), foi condenada pelo Conc. Vat. I (Const. Pastor Aeternus, 1870), de que se fez eco o Conc. Vat. II (LG III).

Realmente há nesta questão um resquicio medieval, um conciliarismo implicito (doutrina que esteve na moda na idade media). Se há algo disparatado é querer um concilio para impor ao Papa algo que ele não quer. Não resulta e nunca os bispos iriam por aí.

é uma ilusão pensar que se a Igreja fosse mais liberal conseguiria cativar mais pessoas. A Igreja não deve ser mais ou menos liberal para agradar a ninguem, deve procurar antes a verdade e ser fiel à Verdade.
Nos paises protestantes europeus as igrejas são mais liberais e o abandono religioso é ainda maior. E também têm graves problemas de vocação religiosa.

Quanto à democraticidade na Igreja algumas pessoas com maior instrução teriam uma grande surpresa se muitas das medidas que preconizam fossem realmente implementadas.

[www.paroquias.org]

lê a resposta da Ana sobre as imagens dos santos nas igrejas.
A enorme maioria dos cristãos e dos catolicos tem uma formação muito debil mas iriam exercer o mesmo direito de voto que tu. E como são muitos mais que aqueles que têm formação poderiam dominar na grande maioria das zonas.

É mais tempo de evolução, de consolidação das reformas já feitas que de uma nova revolução.

E não é de mais repetir, o conciliarismo foi uma doutrina defendida por alguns teologos medievais que foi já repudiada.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 23 de March de 2006 01:29

A verdade, caro Camilo, é que te refugiaste numa definição de autoridade, e não discutiste. E, não é verdade que o conciliarismo esteja totalmente abandonado... não o é actualmente. Depois, não se trata de impor nada ao papa. Trata-se de particpar com o Papa e os fiéis do pensamento sobre o futuro da Igreja. É também má doutrina achar que o Papa sozinho tem o direito de dizer o que bem entende: não é assim - a declaração da infalibilidade papal só acontece em comunhão com os bispos.

É muito curioso Camilo: os teus argumentos sao praticamente os mesmos do que os que eram apresentados na epoca de Pio XII, contra um novo Concílio: é que João XXIII foi mesmo contra a opinião de muitos. Depois, que mal poderia trazer um novo Concílio? Que coisa má iria impor? A discussão? O pensamento? A abertura a propostas? O Espírito sopra na Igreja e o Concílio é uma das suas melhores expressões...

Abraço fraterno

Miguel



Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 23 de March de 2006 09:56

Amigo Miguel:

E no entanto, move-se.... :

htp://www.proconcil.org

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 23 de March de 2006 10:15

Não existe uma autoridade imperial que seja fecunda. Existem sim vozes individuais que chamam e apelam. É assim que eu vejo o papel do Papa. Ele é a voz que chama à reunião. E após o chamamento o coro repete e a assembleia faz-se eco do que ouviu.
[www.proconcil.org] (funcionará assim?)

*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 23 de March de 2006 10:27

Muito obrigada Trento, desculpem as repetições.

Vale a pena consultar o site.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 23 de March de 2006 15:04

Gerard Hughes, S.J. autor de um livro chamado "O Deus das Surpresas" escreve que uma Igreja que nao se questiona eh uma igreja mais como as muitas seitas que existem.

A hierarquia nao se pode auto-intitular dona e senhora da verdade. Dos muitos santos quantos foram Papas? Quantos Papas foram considerados doutores da Igreja? Diz a historia que muitas vezes os grandes santos de hoje eram os considerados loucos pela hierarquia.

Hoje vive-se um divisao entre aqueles que assumem o risco de seguir em frente para o incerto confiando no Espirto Santo (Leiam Dom Pedro Arrupe sobre este tema) e aqueles que acham que eh voltar para atras que se vai voltar a nao sei o que.

Camilo, achas que eh com Latim que se vai voltar a ter os jovens na Igreja? Achas que eh com a procissao do Santissimo que se vao atrair os agnosticos e ateus? Ou sera que eh com pompa, circunstancia e cabecao que se vao atrair mais vocacoes?

Assentar poeira e nao andar sempre a mudar? Os 72 foram enviados 2 dois com um cajado numa mao e uma tunica de forma a nunca a estarem em permanente mudanca.

Os dois discipulos de Joao Batista quando seguiram Jesus que Ele nao tinha casa, estava em permanente movimento...

Gostava que respondesses a algumas destas perguntas Camilo...

Em comunhao

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 24 de March de 2006 00:17

Isto das pessoas que se acham inspiradas pelo Espirito Santo tem muito que se lhe diga. O mais frequente é não passar de uma soberba vã de pessoas que se julgam donos do Espirito Santo contra a opinião dos sucessores dos Apostolos. E comparam-se aos doutores da Igreja!
Será que nunca ouviram dizer que a humildade é a base de todas as virtudes e sem ela nada de bom se faz?

Jesus confiou a sua Igreja aos Apostolos e a Pedro o cargo de confirmar os irmãos na fé.
Os Bispos rejeitam o conciliarismo, esperar um concilio para contrariar as tendencias do Papa é uma ilusão infantil.

A questão não é o medo ou não de um concilio. A questão é que um concilio implica um esforço grande da Igreja e tem de ter fortes motivos para ser convocado.

Parece que actualmente há muito debate feito, quer o Concilio Vaticano II quer o Papa João Paulo II produziram muitos documentos e sugestões que ainda não estão devidamente implementadas e absorvidas pelos fieis.
Antes de se produzir mais e mais debate (quantas vezes esteril) é preciso absorver melhor, aprofundar aquilo que já está proposto.

Um pequeno exemplo, há muito que está proposto os padres viverem em pequenas comunidades. Só agora se começam a ver os primeiros exemplos, ainda muito imperfeitos.

Um novo concilio para propor grandes alterações (coisa muito incerta) que não serão implementadas?

Quanto às perguntas do Tilleul, não me parece que as missas voltem a ser em latim a não ser em casos muito excepcionais. Num caso de uma multidão em que nenhum grupo linguistico tenha peso significativo tanto dá serem em latim como em chines, a maior parte das pessoas não vai perceber quase nada para além dos gestos. Aliás provavelmente a maior parte perceberia melhor se fosse em latim que em russo ou alemão.

As procissões são apreciadas em certos meios. São profissões publicas de fé e não devem ser desprezadas. O povo simples gosta delas e um dos erros de algumas pessoas com alguma formação (mas não muita) foi desprezar a religiosidade popular, acabou-se por deitar fora o bebé com a água do banho.

Quanto à pompa e etc, o risco hoje (pelo menos nas missas a que vou) não está tanto em fazer-se cerimonias religiosas excessivamente pomposas mas sim cerimonias religiosas demasiado descuradas. A liturgia actual funciona melhor quando tem muita gente a acolitar, quando é feita com calma e serenidade, dá mais dignidade, a majestade divina fica mais realçada.
Mas nas missas a que vou na maior parte dos casos a liturgia é um pouco atabalhoada, sem a devida dignidade.
Numa cidade deveria existir espaço para missas jovens, de crianças, para estrangeiros, para pessoas com maior formação intelectual e religiosa, para quem gostasse de uma missa com mais solenidade. Pois deveria mas para isso era preciso que as paroquias colaborassem mais. Ora aqui está outra coisa que está recomendada mas ainda não está implementada.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 24 de March de 2006 02:24

"A questão não é o medo ou não de um concilio. A questão é que um concilio implica um esforço grande da Igreja e tem de ter fortes motivos para ser convocado".

Plenamente de acordo. Mas sabem? Penso (e posso enganar-me; não sou dos que acha que o Espírito santo passa sempre por mim; espero que não tenha sido a pensar em mim que o CAmilo falou. Não foi isso que eu disse, e ele certamente percebeu isso lol. De resto, volto a lembrar que nem sempre a opinião do bispo de Roma é considerada individualmente 'inspirada'), penso que hoje, talvez quase tanto como no final dos anos 50, a Igreja precisa mesmo de uma discussão que não se limite aos Sínodos. Talvez quem viva em Portugal não perceba isso bem. Portugal é no panorama religioso europeu, considerado geralmente um oásis. Recordo-me, por exemplo, que a propósito do Encontro de Taizé em Lisboa, os próprios Irmãos, muito habituados a conhecerem a Igreja europeia e a viajarem também por todo o mundo, disseram que tinham ficado pasmados não apenas com a adesão dos portugueses (que são naturalmente acolhedores), mas também com a nossa vida paroquial. Já conversei também com eles sobre Milão e eles admitem que a diferença (e é Itália!) foi enorme. Repito, não apenas no acolhimento mas na própria actividade e dinamismo paroquial. Da minha experiência, do que conheço, digo precisamente o mesmo. Portugal não é a regra é a excepção, para melhor.
MAS fora daqui, com pequenas excepções, a Europa e o mundo ocidental, de modo geral, está muito longe do catolicismo... Quase toda a Europa Central e do Norte é hoje um quase deserto religioso... E não estou a exagerar... o mundo ocidental está muito muito longe até da vida da iniciação sacramental; não há vocações; não há paroquianos; há, em França, padres com mais de 30 paróquias cada um! E a verdade é que perante isto é pouco o que os leigos podem de facto fazer; é pouco o que os bispos podem de facto permitir.
Dir-me-ão: com os protestantes ainda é pior. É verdade. Mas isso não nos deve deixar felizes. É para aí que caminhamos a passos largos.
Fora da Europa, fala-se de um cristianismo nascente... E verdade, mas digo-o com um sorriso. O cristianismo africano é tão bonito mas tantas vezes afastado das directrizes liturgicas e europeistas do Vaticano. Depois... sejamos sinceros: as vocações em África são em grande parte como eram as vocações em Portugal há 50 anos atrás: a fuga da miséria, a possibilidade de estudar, a procura de uma segurança, o medo da guerra. Claro, uma minoria dos seminaristas africanos irá ser padre por vocação. Mas, basta uma conversa com alguns deles para percebermos que muitos não estão lá por causa de uma vocação. Ela pode ser 'educada', claro, mas...
E, depois, o Cristianismo africano, como o sul-americano ou o asiático é também muito sincretista, mais ainda do que na Europa. São frequentes as manifestações de uma religiosidade que tendo pouco de cristã, tem pouco também de 'vaticanista'... Muitas dessas manifestações são lindas; serão profundas; mas a Cúria está mais longe delas 'do que os céus da terra'. E a diversidade das manifestações litúrgicas, ou pelo contrário a sua completa uniformização (de que o latim é só uma das facetas) tem de ser rediscutida.
A própria teologia católica não direi que está hoje moribunda, longe disso, mas está em grande medida manietada e impedida de pensar livremente, constantemente com medo da heresia, depois da centralização que a dupla Woytila-Ratzinger impuseram (e digo mesmo impuseram, porque a resistência foi imensa em imensas universidades europeias e americanas). As perseguições internas continuam, como ainda há pouco se mostrou no caso de Masiá... Se homens como o Bento Domigues ou o Anselmo Borges se sentem descontentes, desanimados ou desiludidos devemos também pôr a possibilidade de eles serem inteligentes (e até agora têm provado sê-lo, julgo eu) para não virem dizê-lo por puro capricho ou má-vontade. Ela existe...

Há hoje uma evidente esquizofrenia na moral católica. Serão seguramente menos de 10% os casais católicos que seguem a maioria das 'prescrições' doutrinárias emanadas do Vaticano; serão muitos os afastados da comunhão (e de dar catequese, e de fazer leituras, e de representar a paróquia em alguma actividade, e de ter alguma voz na própria paróquia, até por vezes de participar no coro, e de baptizar os seus filhos, etc etc etc - falo de divorciados, de casais em união de facto, de homossexuais, de transsexuais, de prostitutas e ex-prostitutas, etc etc etc), e embora todos os casos devam ser analisados separadamente e poderem ter soluções diferentes, as leis da Igreja, sem qualquer discussão e muitas vezes sem nenhuma razão razoável ou teologicamente séria, estão a fazer infelizes milhares de católicos, de "proto-católicos" ou de "ex-católicos", homens e mulheres como nós, amados do mesmo modo por Deus, mas não tanto pela Igreja, sejamos sinceros, que não lhes veda apenas os sacramentos.

São tantas e tantas as razões que me preocupam a sério. Mesmo a sério. Não que eu não ache que se deva avançar, por exemplo, nas comunidades de párocos. Claro que sim (embora, da minha experiência, me pareça que a maioria não quereria). Mas isso é apenas uma medida paliativa de algo que está a mudar... Pode ser lento, mas é o paradigma de catolicismo que está a mudar... e isso é hoje, para mim (mas posso, claro, enganar-me) evidente. Não quero ser pessimista. Há afinal também tantos e tantos sinais de beleza hoje em dia. Mas há também tantos e tantos problemas graves. E claro que tenho confiança no Espírito. Mas não estará também o Espírito a falar-nos através destes problemas? Não sei... Mas pergunto-me.

Abraço fraterno

Miguel

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 24 de March de 2006 08:26

Dos salmos:
"Louvarei o Senhor de todo o coração no Conselho dos Justos e na Assembleia. Grandes são as obras do Senhor, admiráveis para os que nelas meditam".
Necessitamos urgententemente que a Igreja trabalhe em conselho, como exemplo a dar ao mundo de que autoridade é um serviço.
Não se trata de conciliarismo. Trata-se de colegialidade, onde a iniciativa individual se junta à força da comunidade e à mútua potenciação de clarividência e eficácia. ( Nota: A confirmação na Fé não vem do Papa, como diz o Camilo, mas dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, que actuam invocando o Espírito Santo). O papel do Papa é simplesmente o de chamar os cristão à proximidade e à reunião- "e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".

*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 24 de March de 2006 17:16

Caro MigueL: Apreciei a profundidade do teu texto, que exprime uma realidade vivida ( e falada, embora discretamente) por todos aqueles que conhecem com mais profundidade a realidade da Igreja de hoje.


Existe um etnocentrismo arrepiante e desfasado nos que defendem a "missa em latim" como forma de "inteligibilidade" universal...


"
Citação:
Aliás provavelmente a maior parte perceberia melhor se fosse em latim que em russo ou alemão.

ESquecem-se smpre da àfrica, do Oriente, da América, enfim.. são conceitos umbiguistas....


Re: Um novo concílio?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 27 de March de 2006 10:02

O Miguel tocou num ponto muito sensível e, eventualmente, mais urgente que outros que coloquei como temas possíveis para o Concílio.

É chocante a colocação de muitos católicos fora da comunhão com a Igreja.

Considero mesmo ser um abuso de direito que a hierarquia da Igreja pratica quando se serve do Evangelho para assumir o poder de perdoar os pecados e se esquece de ler o resto do Evangelho, que lhe dá como missão Evangelizar.

E sobretudo: "Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. 31O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes."

Se os bispos e os padres lessem a última Encíclica e meditassem sobre ela, seria já um princípio no bom caminho.



João (JMA)

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 27 de March de 2006 11:47

Para a Igreja de Cristo ser Una, Santa, Católica e Apostólica ainda há muito a fazer, muita restruturação a emprender e muita oração por dizer.
Oremos...

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 27 de March de 2006 13:31

A Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica.
Quem negue isto, nega um dos artigos do Credo.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 27 de March de 2006 14:00

A Fé é o sustento do futuro e não do passado.

*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 27 de March de 2006 14:03

O Albino não está a negar o credo, mas a apontar caminhos a seguir.

A Igreja não é um "produto acabado" mas um caminho de todos os dias.

João (JMA)

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 29 de March de 2006 00:18

Ez 3, 17-19

17*«Filho de homem, nomeei-te sentinela da casa de Israel; se ouvires uma palavra saída da minha boca, tu lha dirigirás da minha parte. 18Se Eu digo ao pecador: 'Vais morrer', e tu não o exortas e não falas para o afastar do mau caminho, para que ele possa viver, é ele, o pecador, que perecerá por causa do seu pecado; mas, é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. 19Mas, se tu avisares o pecador e ele não se emendar da sua perversidade e má conduta, então ele morrerá por causa do seu pecado; mas tu terás salvo a tua vida.


Evangelizar não é conseguir o maior numero de socios para o clube-igreja. Não me parece que seja simplesmente conseguir reunir o maior numero possivel de pessoas para assistir a cerimonias religiosas.
Evagelizar implica permanecer fiel à plena exigencia evangelica, sendo os homens livres de aderir a Jesus Cristo ou não.
Muito preferivel teria sido que em epocas passadas a Igreja tivesse tido a coragem de deixar cair os ramos secos, os homens que se diziam cristãos mas que mercadejavam escravos, que se diziam cristãos mas que cometiam as mais diversas violencias.

Satanas tentou Jesus mostrando-lhe todos os reinos e dizendo-lhe:

Mt 4, 9 «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.»

É uma tentação que também afecta o Corpo Mistico de Cristo, a Igreja. Conseguir mais um adepto torcendo um pouco a fidelidade ao Evangelho.
Mas para que serve o sal se perder o seu sabor?

Mt 7, 21 «Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu.

A concepção de colegalidade e do papel do papa e dos bispos que o Albino Soares tem não é a que consta dos documentos do Vaticano II. Pelo menos não foi assim que a interpretei e prece-me que também não é assim os bispos a interpretam.
Há nesses documentos uma omissão, um espaço para debate. O papel relativo dos bispos e do Papa não está muito definido na teologia catolica. Mas de qualquer modo o papel do Papa é incontornavel. Um concilio não se pode sobrepor ao Papa e o Papa tem de confirmar os documentos conciliares.

Há neste momento mecanismos de consulta que não existiam antes do concilio vaticano II. Há tambem muita reflexão, muitos documentos que ainda não foram interiorizados.
Reflectir por reflectir não me parece uma solução. Algumas pessoas têm o fascinio do debate e julgam que a evangelização passa essencialmente por falar, reflectir. Um concilio ocuparia os melhores e mais dedicados membros da Igreja num tempo em que me parece que é mais de aprofundar e difundir a vasta reflexão já feita. Reflexão essa que poderia resultar numa montanha a parir um rato.

Sobre a resistencia de teologos e a perseguição a estes. Um professor contratado para uma faculdade de medicina tem de dar o programa estabelecido, se quiser ensinar homeopatia obviamente não pode faze-lo numa faculdade de medicina. Um professor que queira ensinar teologia numa universidade catolica terá de ensinar a teologia que o Papa e os bispos entendem ser aceitavel e catolica. Eu que quase não li nada do que escrevemos teologos li dislates que cheguem. Depois do Vaticano II parece-me ter existido um efeito de pendulo, de uma doutrina monolitica passou-se para o seu oposto. O que originou uma sensação de relativismo religioso nos fieis, a enorme maioria dos quais não tem interesse, e logo não tem tempo, para analisar as elucubrações dos teologos.
Nas universidades, noutras areas, é costume valorizar-se a originalidade. Embora as ideias tenham uma mortalidade infantil extremamente elevada. A valorização de um teologo pelo simples facto de ter ideias novas, de tocar notas diferentes do resto da orquesta de teologos, pode dar origem a erros crassos. E é certo que aos média não interessam os excelentes teologos que não desafinam da orquesta, esses não dão nas vistas, mas sim os teologos que desafinam.
Qualquer pessoa pode reflectir e apresentar as suas conclusões e duvidas, não pode é exigir que estas sejam aceites pela Igreja como católicas e muito menos querer um lugar de professor numa universidade catolica enquanto as defende.


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