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Um novo concílio?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 20 de March de 2006 01:51

Hoje os artigos do Fr. Bento Domingues e do Pe. Anselmo Borges são bastante interessantes. Não tenho aqui o primeiro (se alguém o arranjar, ponha-o também aqui), que até está mais directamente relacionado com a ideia de fazer novo concílio, mas posto o segundo. Engano-me muito ou há mesmo algum mau estar dentro da Igreja e do modo como Ela é hoje vivida? E não não acho preocupante esse mau estar. Acho óptimo e é tempo de dizer bem alto que ele existe e que há coisas que têm de mudar...

Retirado de: [dn.sapo.pt]

Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX, deixou escapar um dia, numa aula, uma daquelas observações que nunca mais se esquecem: na Igreja Católica é obrigatório confessar os pecados graves e mortais, mas não estava a ver que algum bispo ou padre ou superior religioso, ministro ou professor católico se tenha confessado do pecado grave e, frequentemente, mortal, da ignorância culpada, da incompetência fatal, da inteligência irresponsavelmente menorizada.

Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta. Como se a fé não tivesse de conviver com a inteligência, com a dúvida e com a pergunta. Os cristãos - mas isso acontece com todas as religiões - parece que ficam tolhidos na sua capacidade de perguntar. No entanto, Jesus morreu a rezar esta pergunta infinita que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" e, perto de nós, M. Heidegger, um dos filósofos mais influentes do século XX, escreveu que "a pergunta é a piedade do pensamento".

Na Igreja, valoriza-se a obediência, referindo constantemente aquele passo de São Paulo: "Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz". Mas quase nunca se explica o que é essa obediência de Cristo, ocultando que, para obedecer a Deus e ao que Deus quer - dignidade, futuro, fraternidade, liberdade -, teve de desobedecer aos opressores, nomeadamente a uma religião que, em vez de libertar, oprimia.

Tanto entre os crentes como entre os ateus e os sem religião não faltam os que sabem, com saber certo, sem qualquer dúvida nem hesitação, o que é Deus, em que consiste a vontade divina para cada pessoa, qual é o sentido da História e do mundo. Entronizados no poder, definem dogmas, estabelecem normas e mandam com soberania inquestionável.

Os seres humanos são, por natureza, frágeis, carentes e, por isso, é quase inevitável que, entre a liberdade e a segurança, a maioria não hesite em escolher a segurança.

É isso que Ivan, em Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, diz que o Grande Inquisidor disse a Cristo num calabouço do Santo Ofício, onde O tinha mandado prender: que O queima na fogueira como o pior dos hereges, e a razão é que a liberdade de fé tinha sido para Ele a coisa mais preciosa.

Não foi Ele que disse tantas vezes: "Quero tornar-vos livres?" Cristo não percebeu que "o homem não tem preocupação mais torturante do que encontrar alguém em quem possa delegar o mais depressa possível a dádiva da sua liberdade."

"Em vez de Te apoderares da liberdade das pessoas, acrescentaste ainda mais à sua liberdade!", diz-lhe o Inquisidor.

Por isso, os hierarcas eclesiásticos corrigiram a façanha de Cristo, baseando-a em milagre e autoridade. Agora, todos sabem em que hão-de acreditar e o que devem fazer, sem terem de perguntar porquê nem de escolher. "E as pessoas ficaram contentes por serem de novo guiadas como um rebanho e por ter sido tirada dos seus corações a dádiva terrível que tanto sofrimento lhes causava." Daí a ordem do velho cardeal inquisidor: "Cristo, vai-te embora e não voltes mais... não voltes... nunca, nunca!"

Perguntar vem do latim percontari, que, por sua vez, terá na sua base contus, vara comprida. Então, perguntar, etimologicamente, quer dizer examinar o fundo de um rio ou de um tanque com um bastão e, por extensão, sondar o interior do homem e da realidade.

Só o homem pergunta e pensa. Um animal com a mão encostada à face ou a face entre as mãos, a cabeça inclinada e absorto, é um homem que pensa: tenta ver o seu interior e o mais fundo de tudo. Nenhum outro animal pensa nem se examina nem examina as consequências dos seus actos nem pergunta. O homem pergunta, e a sua pergunta não tem limites. E é assim que, nesse seu perguntar, pode surgir a questão da transcendência e de Deus. Como escreveu Theodor Adorno, da Escola Crítica de Frankfurt, "o pensamento que se não decapita desemboca na transcendência".

Por tudo isto, é uma surpresa boa encontrar em Vilnius algo típico da Lituânia, talvez porque é um povo que sofreu demasiado: umas pequenas estátuas de Cristo a pensar -- o Cristo pensador.

Pensar vem do latim pensare, com o significado de ponderar, examinar, pesar argumentos e razões. Pensar pode ter também o significado de aplicar o curativo, os remédios necessários. E é assim que, em português, pesar também quer dizer solidariedade com a tristeza de alguém que sofre. Neste quadro, por exemplo, a actual avançada do capitalismo neoliberal, ignorando os desfavorecidos e os pobres, obriga a pensar.




E vocÊs o que acham de tudo isto?

Abraço fraterno

Miguel


Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 20 de March de 2006 08:41

Caridade, Ciência, Cultura, Cristologia,
Talvez 4 "C"s para repensar o ser cristão e católico (4+2) e repensar a constituição da Igreja (4+2+1).
O concílio dos 7 "C"s.


*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 20 de March de 2006 11:36

O artigo do Frei Bento Domingues ainda é mais explícito, quem conseguir obter a versão "digital" que o coloque aqui para reflectirmos e olharmos para os 2 excelentes registos escritos.

«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Um novo concílio?
Escrito por: (IP registado)
Data: 20 de March de 2006 12:53

Não vou negar que me assusta a mudança. Mas de facto, não podemos ter medo de pensar.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 00:06

Erudito, vago e arido. Revela uma insatisfação pessoal e pouco mais.

Já que me pediram a opinião numa analise rapida do texto é esta a minha opinião.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 01:25

E um novo concilio não me parece para já oportuno.

A Igreja tem actualmente meios de consulta que não existiam antes do concilio, nomeadamente os sinodos dos Bispos que se têm realizado com bastante regularidade.

O concilio Vaticano II ainda não me parece ter sido totalmente colocado em pratica e só agora me parece estar a assentar alguma da poeira levantada. A seguir ao concilio existiram exageros, alguns grupos quiseram revolucionar tudo e em muitos assuntos acabaram por deitar fora o bebé junto com a água do banho.

A permanente mudança (se bem que me parece que geralmente mais de forma que de conteudo) levou muitos a um relativismo moral e religioso que por sua vez levou ao arrefecimento e até ao abandono da fé.

Que assuntos debateria um concilio?

O papel da mulher na Igreja e em particular a ordenação das mulheres?
Aspectos teologicos como a relação entre os Bispos e o Papa?
O papel do leigos na Igreja?
A moral sexual (ou seja a licitude ou não do planeamento familiar porque o resto não me parece que exista a possibilidade de alteração)?
A igreja na sociedade ocidental?
O dialogo ecumenico?
O esforço missionario no mundo e em particular a reevangelização da europa e a evangelização da asia?

Uns assuntos parecem-me verdes para debater num concilio e outros parecem-me não precisar dele.

sinceramente o que eu gostava mesmo é que o dialogo ecumenico com os ortodoxos avançasse e depois sim, fosse convocado um concilio de reconciliação com a presença dos bispos ortodoxos (e talvez alguns sectores anglicanos).
Mas os ortodoxos são mais conservadores que os catolicos.

Isto digo eu que pouco ou nada percebo de teologia.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 08:31

Tanto quanto me parece é urgente que a Igreja tenha o rosto da Caridade e faça a síntese entre Ciência e Fé e Cultura e Fé e adopte uma Cristologia que não soe a histórias da Carochinha (por soar a histórias da Carochinha, muitos sentem que bem podem passar sem o tal Cristo das histórias da Carochinha ou do lobo mau). O ideal seria certamente um Concílio de todos os cristãos.
Fiquei grato de ter tomado conhecimento recentemente de que um dos 1ºs actos do Concílio II do Vaticano foi apear o Papa da cadeira em que era transportado, qual magnate da estupidez humana. Quanto mais não fosse, este gesto já teria valido todo o Concílio; é que há na Igreja Católica Romana quem continue a querer ser transpotado às costas dos simplórios.
Uma síntese visível entre poder e serviço é urgente na Igreja de Cristo (quando se diz urgente, poderá significar na Igreja Católica Romana que deverá ocorrer no próximo milénio... paciência). A Igreja Católica Romana foi rotundamente ultrapassada humana, histórica, filosofica, teológica e culturalmente pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e precisa globalmente de acertar o passo. É para isso que servem os concílios. O ideal seria um concílio de todos os cristãos, para acertar o passo com a Caridade, a Ciência e a Cultura, pois que para salvar a Humanidade não chegam os Dogmas. Um concílio torna-se necessário para reflectir, por exemplo, no sacerdócio universal dos fiéis, conforme os escritos de S. Pedro (já lá vão dois milénios). E se não se começar já a pensar num novo concílio teremos de esperar talvez 3 milénios para que a ideia surja.

*=?.0

Re: Um novo concílio?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 14:15

Estou inteiramente de acordo com o interesse de um novo Concílio.

É certo que existe ainda muito do 2º Concílio do Vaticano para colocar em prática.

Mas, como muito bem refere o Camilo :o)) , será tempo de discutir o papel da mulher na Igreja e em particular a ordenação das mulheres.

Como a questão da ordenação de homens casados;

Como a questão do celibato dos padres;

E muito particularmente qual a futura organização da Igreja com vista à reunificação das Igrejas Cristãs.

Aliás o falecido Ratzinger (R.I.P. +), quando do 2º Concílio do Vaticano apresentou sugestões a respeito desta última questão.

E quando me respondem que as sensibilidades actuais da Igreja não aconselham semelhante discussão volto a repetir o comentário de um dos meus teólogos favoritos, Yves Congar, quanto ao tabu que era a questão ecuménica no 2º Concílio do Vaticano: que os bispos se tinham convertido ao ecumenismo em minutos, maxime numas horas.

É que o Espírito Santo vela pela Igreja, nunca o esqueçamos.

Ah, e sopra onde quer, não onde nos parece mais conveniente.

João (JMA)

Re: Um novo concílio?
Escrito por: (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 14:38

O Concílio Vaticano II também apareceu numa altura em que muitos não o queriam. Achavam-no inapropriado. Foi, de certa forma, imposto por João XXIII.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 16:00

Concordo com o que foi inteiramente dito pelo João (JMA) bem como pelo Albino O M Soares, destaco uma frase muito importante que ele escreveu "E se não se começar já a pensar num novo concílio teremos de esperar talvez 3 milénios para que a ideia surja.".

Já agora, ninguém tem a versão digital do texto do Frei Bento Domingues, do público deste domingo passado? é que ele fala exactamente sobre estas coisas.


«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 16:33

francamente não sei o que será o "Cristo das histórias da Carochinha" e que defeitos tem a Cristologia actual que deam ser corrigidos num concilio.

Um concilio com todos os cristãos? não me parece possivel nem sequer desejavel na medida em que muitos grupos nem sequer têm episcopado.

O papel das mulheres na igreja tem de ser debatido no seio do dialogo ecumenico porque os ortodoxos, grande esperança do dialogo ecumenico, são nesse e noutros aspectos, muito mais conservadores que a Igreja Catolica.
Avançar nesse campo com a oposição deles pode atrasar decadas o dialogo ecumenico.



Editado 1 vezes. Última edição em 21/03/2006 23:31 por camilo.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 16:43

Camilo, com todo o respeito no seguimento da tua frase "A Igreja tem actualmente meios de consulta que não existiam antes do concilio, nomeadamente os sinodos dos Bispos que se têm realizado com bastante regularidade", publiquei no tópico Ecos do Sínodo, um artigo que me parece bastante elucidativo daquilo que pelos vistos a maioria dos bispos que representam o sínodo pensam. Será que é isso que a maioria dos católicos pensa?

«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Um novo concílio?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 21 de March de 2006 17:02

A IGREJA FACE À MUDANÇA
Frei Bento Domingues, o.P (in Público de 19 de Março de 2006)

Fala-se da democratização da Igreja. O prof. Ratzinger, enquanto jovem teólogo, não era nada alérgico à ideia. Depois, esqueceu-se

1.Decorrem, em Leiria, as Jornadas de Universitários Católicos (17-19 de Março) com o tema Redescobrir a cidadania - contributos para a mudança. No seio dessa vasta problemática, coube-me participar num debate mais circunscrito, precisamente, sobre A Igreja face à mudança: desafios para o dia de hoje.
Sei que há pessoas para quem não vale a pena gastar tempo com desafios perdidos à partida: a Igreja é, por natureza, conservadora, imobilista. Dizem que está blindada com dogmas, doutrinas, estruturas e costumes contra a mudança. Está sempre a repetir que tem de guardar o "depósito da fé", de manter a tradição e os rituais que a transmitem. Dá a imagem de uma indústria de conservas.
Não faltam exemplos. Na Igreja católica romana, a ordenação de homens casados está proibida. Alguns até sabem que é uma decisão disciplinar sem qualquer base bíblica ou dogmática: os apóstolos eram casados, nas Igrejas de rito oriental, ligadas a Roma, há padres casados, a disciplina do celibato é tardia e pode ser alterada. O celibato opcional é um belo carisma que se dá mal com o regime de imposição. Mas os anos passam e esta reivindicação, de tão repetida e sem sucesso, acaba por adormecer cansada.
A ordenação de mulheres, celibatárias ou casadas, continua um assunto mal arrumado. Também não é por razões de tipo dogmático que se recusa esta hipótese. É, no entanto, uma posição "irreformável", categoria teológica da preferência do cardeal Ratzinger...
Diz-se que as mulheres não estavam na Última Ceia. É mais fácil encontrar argumentos em favor da sua participação do que da sua ausência. Não se tratava, afinal, de uma ceia pascal, isto é, de uma ceia de tipo familiar? O destaque dado, nas narrativas evangélicas, aos Doze Apóstolos obedece a outra lógica. Aliás, se esse argumento fosse tomado a sério, as mulheres também não poderiam ir à missa! Creio, por isso, que o cardeal Ratzinger fez bem em retirar do campo dogmático a impossibilidade da ordenação das mulheres para ficar, apenas, numa posição "irreformável". No estado actual das mentalidades eclesiásticas, não se vê bem como poderia dizer outra coisa.
Fala-se da democratização da Igreja. O prof. Ratzinger, enquanto jovem teólogo, não era nada alérgico à ideia. Depois, esqueceu-se. Não deve haver muita gente que gostasse de ver a Igreja transformada no que são hoje as democracias. Elas também precisam de uma profunda mudança para serem democráticas. A Igreja está mal quando é menos do que uma democracia. Tem de ser muito mais. Pertence-lhe, por natureza, ser um sinal e um instrumento de fraternidade no mundo.
Nos anos 60, o Vaticano II convidou a Igreja a repensar todas as questões relacionadas com a sexualidade e contracepção. A Humanae Vitae de Paulo VI, árvore de maus frutos, tinha carácter provisório. Passou a doutrina intocável, sabendo-se que o não é. Resultado: a Igreja institucional ficou sem grande autoridade para se pronunciar sobre estes temas. As controversas posições no campo da bioética precisam de mais investigação.

2. Por estas e outras razões, há católicos que desejam um novo concílio ecuménico. O Vaticano II (1962-65), através dos movimentos - bíblico, litúrgico, teológico, pastoral, operário, ecuménico, missionário, social, de renovação da arte sacra, etc. -, foi preparado, no meio de muitas condenações e sofrimentos, e acabou por ser convocado pelo gesto profético de João XXIII. Constituiu urna mudança cultural, teológica e pastoral fantástica. Nenhuma instituição religiosa ou política foi tão longe sem se destruir.
Lembremos que começou a descentrar a Igreja para Jesus de Nazaré - na sua prática, mensagem e presença, testemunhadas no Novo Testamento -, para as outras Igrejas cristãs (diálogo ecuménico ), para as religiões não cristãs (diálogo inter-religioso) e para o mundo contemporâneo a compreender e a evangelizar em diálogo.
Mas o Vaticano II era, apenas, um programa. A sua realização foi, como não podia deixar de ser, muito controversa. Entretanto, o mundo não parou à espera da Igreja. Os termos da relação com as outras Igrejas cristãs, religiões e mundo contemporâneo já não são os mesmos de há 40 anos.
Como sintetizou Anselmo Borges: "O novo paradigma é pós-industrial, pois caminhamos cada vez mais para uma sociedade do conhecimento, da informação, da comunicação e da prestação de serviços. Isto implica, por exemplo, um novo conceito de trabalho. Também se torna claro que o trabalho será cada vez mais um bem escasso, que precisa de ser partilhado, com todas as consequências. Torna-se igualmente urgente apostar na cultura, no quadro de um diálogo verdadeiramente multicultural. Não basta incidir na tecnologia, esquecendo a formação cultural, artística, também para que as pessoas possam viver em realização humana autêntica, plena. O novo paradigma é inevitavelmente pós- patriarcal. A emancipação feminina é uma das maiores revoluções da segunda metade do século XX, cujas consequências, na família, na compreensão da sexualidade, na relação entre os sexos, na sociedade em geral, incluindo a economia, estão ainda em curso." (1)

3. Importa, por estas e outras razões, começar já a preparar um novo concílio ecuménico. E não há que ter medo das mudanças (2). A autêntica tradição da Igreja é uma tradição de inovação. Os textos do Novo Testamento não podem ser mais claros: "Ninguém faz remendo de pano novo em roupa velha; porque a peça nova repuxa o vestido velho e o rasgão aumenta. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho estoura os odres e tanto o vinho como os odres ficam inutilizados. Mas vinho novo em odres novos!" (Mc 2, 21-22).
Jesus surge em luta contra todas as instituições religiosas, sociais, económicas e políticas que oprimem o ser humano: "O sábado é para o homem e não o homem para o sábado." Não aceita nada como fatal. Nem a morte. Difundiu um espírito que "faz novas todas as coisas" (Ap 21, 5).
Mas não há, aqui, o elogio da mudança pela mudança: "Para melhor, está bem, está bem / para pior já basta assim"...

(1) DN, 12 de Março de 2006.
(2) Andrea Riccardi, Deus não Teme. A Força do Evangelho Num Mundo em Mudança, Lisboa, Paulos, 2004.


«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 08:47

camilo Escreveu:
-------------------------------------------------------
> francamente não sei o que será o "Cristo das
> histórias da Carochinha"

A fé tem sempre como suporte a Ciência. E Ciência é a consciência que se tem da realidade. É bem claro que, na revelação, Deus não viola esta consciência. Hoje temos uma consciência expandida sobre a realidade das coisas e há portanto concepções nascidas na idade da mitologia, que terão de ser reinterpretadas por meios mais científicos, incluindo obviamente a ciência bíblica. Não há dois Deuses: um dos cientistas e outro dos homens comuns. Por exemplo: que base factual ou testemunhal há para se dizer que todas as coisas foram feitas por Jesus Cristo? Penso que é preciso reinterpretar o silêncio de Jesus Cristo- não escreveu nada, a si mesmo chamava-se Filho do Homem e quando foi levado à Cruz apenas disse que tinha vindo ao mundo para dar testemuho da verdade... Talvez a verdade de um Deus se se faz presente a todos os que o procuram, independentemente da sua filiação religiosa.
Quanto ao concílio dos 7 "C"s aqui deixo mais uma sugestão:
1 de Concílio
2 de Cristianismo
3 de Caridade
4 de Ciência
5 de Cultura
6 de Confissão
7 de Comunhão.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 09:24

Todas as coisas foram feitas por Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Negar que todas as coisas foram feitas por Jesus Cristo equivale a negar que Jesus Cristo seja verdadeiro Deus.

O que é inaceitável para um cristão e só deturpando muito a Bíblia se consegue sustentar.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 09:40

quanto ao que a maioria do que os catolicos pensa lembro 2 coisas:

1 - O conciliarismo foi uma doutrina já rejeitada, o concilio não impoem nada ao Papa sem a concordancia deste.

2 - A Igreja não é uma democracia. Jesus Cristo deixou a Igreja ao cuidado de Pedro e dos Apostolos, não a deixou a autogovernar-se por meio de eleições democraticas. A maioria não é necessariamente dotada de razão. A seu tempo a grande maioria dos cristãos apoiou as mais dispares coisas, aliás a maioria dos cristãos apoia coisas diferentes aqui na India e nos USA. A sensibilidade europeia é diferente da sul americana.

3 - Num eventual concilio estarão presentes bispos. Bispos que já se reunem regularmente nos sinodos. Não estarão presentes, a não ser como convidados sem direito a voto, padres e leigos.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 10:10

Ao ler o que escreveu o Camilo, parece-me de fcato uma urgência esta transformação interna da Igreja, nem que seja sob a forma de um novo Concílio.

Alguns sectores minoritários da ICar sentem-se acossados e refugiam-se num sectarismo ortodoxo e hiperconservador. Temem perder-se e perder identidade - temem ser absorvidos e esmagados pelas drásticas transformações sociais que estamos a viver...

Ora se há algo de extraordinário na Igreja é a sua capacidade de transformação e adaptação. Nenhuma instituição sobrevive dois mil anos se não tiver uma capacidade radical de mudar.


O grande problema que a Igreja enfrenta hoje é que estamos no centro de rupturas paradigmáticas e as transformações que se vivem são muito mais rápidas e estruturais do que em qualquer outro período da história humana.
Os últimos qurenta anos equivalem a séculos de história noutras fases do desenvolvimento humano.

Um homem novo está a emergir, tão rapidamente que há como que uma dificuldade colectiva em compreender o processo de que estamos a ser actores.


E , ao contrário do que pensam os conservadores ortodoxos, nas suas várias roupagens,( latinistas, ritualistas, dogmáticos, alérgicos á presença de mulheres, etc, etc) uma atitude de fechamento, de revivalismo erudito , de pietismo novecentista ou o acantonamento em posições doutrinárias inflexíveis ( e ainda por cima teologicamente frágeis) só terá como consequência directa um maior isolamento da Igreja, ou mesmo o seu um completo esvaziamento.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 10:20

"(...)Fala-se da democratização da Igreja. O prof. Ratzinger, enquanto jovem teólogo, não era nada alérgico à ideia. Depois, esqueceu-se. Não deve haver muita gente que gostasse de ver a Igreja transformada no que são hoje as democracias. Elas também precisam de uma profunda mudança para serem democráticas. A Igreja está mal quando é menos do que uma democracia. Tem de ser muito mais. Pertence-lhe, por natureza, ser um sinal e um instrumento de fraternidade no mundo". - Frei Bento Domingues in Publico
(sublinhados feitos por mim)

Relativamente à democracia, considero que não podemos nem devemos ser tão resistentes a novas mudanças na maneira de gerir a Igreja, pelo menos devemos estar abertos à reflexão (como nos pede a teologia).

Pelos contactos que vou mantendo no meu dia-a-dia com vários agentes da pastoral a nível nacional, acho sinceramente que os católicos de base (leigos e padres) pedem claramente uma profunda renovação no seio da Igreja, chamemos-lhe concilio, sínodo, conferência, debate, etc. mas o mais importante é que algo tem de mudar nesta Igreja que se está a tornar fechada sobre si mesma.



«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Um novo concílio?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 10:20

Este texto do [ablasfemia.blogspot.com] tem uma análise brilhante do momento que vivemos:

A ILUSÃO DA INFELICIDADE - o "Factor Deus" e outros milenarismos

(…) As naturais angústias presentes num momento de mudança de Era, de transição, em que o passado mitificado, seguro e feliz, tende a assumir tonalidades enternecedoras e saudosas, enquanto que, ao contrário, o presente parece incerto e ameaçador e o futuro é sempre pintado com as cores mais sombrias.

Tudo isso confluiu e transbordou num fim de século, numa tardo-modernidade deveras complicada e plena de paradoxos:

- Proliferação de seitas caracterizadas por uma incoerência generalizada, apenas unidas pelo leit-motiv do "contra".

- Regresso do sobrenatural e do místico, o Rumor dos Anjos, na expressão de Peter Berger, que volta a ser oficialmente assumido inclusivamente os seus traços mais anti-modernos.

- O recrudescimento de movimentos religiosos fundamentalistas nas várias Igrejas cristãs

- A exacerbação de ilogicidades de timbre mágico, a cultura dos extraterrestres, a histeria dos OVNIS;

- A escatologia ambiental, as múltiplas organizações dos amigos das baleias e das focas-bébé, visão do ambiente como uma entidade quase espiritualizada, intocável e imudável;

- A exaltação de aspectos mediúnicos e astrológicos, a repristinação de teses milenaristas, a visão do homem como um agressor compulsivo, um vírus à solta pelo mundo.

Gerou-se um clima de contestação utópica e sistemática com três aspectos principais:

1. A desconfiança genérica pelos adquiridos do final da modernidade;
2. O ódio à Ciência;
3. O enraizamento das teses anti-globalização.

Este quadro gerou o paradoxo mais palpável da nossa contemporaneidade: a ilusão de infelicidade.
Está espalhada por todo o lado - cultura popular e sectores alargados da intelectualidade, pensamento dominado pelos fundamentalistas das várias crenças e religiões - a falácia que assegura que a humanidade nunca viveu tempos tão difíceis. Por mais que a realidade desminta este absurdo, ainda que seja patente a constatação de que o homem vive actualmente com uma qualidade que não tem comparação (em nenhuma dimensão existencial) com qualquer outra época desde que a humanidade existe.

Curiosamente, uniram-se nestas conclusões algumas inquietações da mais variada origem: desde os conservadores mais retintos que contestam qualquer sombra de mudança, que julgam o mundo fatalmente desabado na decadência moral mais vil e propõem, alegremente, o regresso célere ao que afiançam ser a "boa e velha ordem"; até aos que continuam enfermos com o delírio da "sociedade sem classes" e, irresistivelmente, ainda se emocionam com os acordes da "Internacional".
No fundo, ambas as perspectivas são tonalidades de uma mesma melodia que advoga o regresso a um passado sempre mitificado, irrealmente perfeito [corrigido] e logicamente impossível. Mas seria um grave erro desconsiderar a influência que ambos os movimentos desfrutam no pensamento contemporâneo. Por irracional que possa parecer.

Re: Um novo concílio?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 22 de March de 2006 10:46

camilo Escreveu:
-------------------------------------------------------
> Todas as coisas foram feitas por Deus. Jesus
> Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Negar
> que todas as coisas foram feitas por Jesus Cristo
> equivale a negar que Jesus Cristo seja verdadeiro
> Deus.
>
> O que é inaceitável para um cristão e só
> deturpando muito a Bíblia se consegue sustentar.
>
A realidade é o que é e não o que imaginamos e para a conhecermos temos que ir ao seu encontro. O problema é que o cristianismo está cheio de platonismo e aristotelismo e de toda a estrutura do pensamento mitológico. Hoje temos uma ciência sólida e portanto a Fé também deve ser sólida e compreensível. Acreditar que Jesus tem uma origem divina, uma genética divina portanto, que é Filho Unigénito de Deus, ou que foi constituido Filho de Deus, que nele está presente a causa primordial, não me obriga a avançar para afirmações pouco consubstanciáveis. Há uma coisa que é clara: Jesus Cristo não era astrónomo, pois se o fossem teria dado noções básicas aos seus discípulos, para evitar que andassem a perseguir o Galileu por dizer que a Lua tem montanhas, ou que a Terra se move à volta do Sol, ou que o Sol é uma estrela como as outras. E não será que a Boa-Nova consiste em reconhecer que em cada pessoa está presente esta causa primordial de Deus que, em cada um, de causa divina se torna causa humana? Sobre Jesus Cristo, a Bíblia apresenta-nos uma diversidade inesperada de perspectivas. Talvez seja isto que Deus quer: a diversidade. Mas há uma coisa que me parece certa: Jesus Cristo não era ateu.



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