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Ser padre hoje
Escrito por: Susete (IP registado)
Data: 11 de January de 2006 22:19

«Ser padre hoje»; segundo cardeal Eusébio Scheid
Arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil)

RIO DE JANEIRO, terça-feira, 10 de janeiro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir artigo do cardeal Eusébio Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro, intitulado «Ser padre hoje». O texto compõe a seção Voz do Pastor do site da arquidiocese do Rio e foi enviado a Zenit esta terça-feira.
* * *

Ser padre hoje

É um dado curioso como hoje muitos falam da vocação sacerdotal, do que é ser padre, expressando opiniões sobre o assunto, embora o desconheçam quase completamente. À medida em que a nossa civilização vai perdendo o senso do sagrado, torna-se mais difícil compreender a pessoa de alguém como o padre, profundamente envolvido com o mistério divino, que implica uma consagração de toda a vida à glória de Deus e ao serviço dos irmãos.

Assim se explica, por exemplo, que alguém possa deixar sua pátria e sua gente para ser missionário do outro lado do mundo. O Brasil se beneficiou grandemente desse ímpeto evangelizador, no começo de sua história, marcada pela presença pioneira de abnegados missionários, como os jesuítas, os franciscanos e membros de outras ordens religiosas, que cristianizaram o nosso país.

Como alguém se torna padre? Eu gostaria de abordar alguns pontos referenciais a esse respeito. Em primeiro lugar, ninguém escolhe tal caminho; é escolhido. Toda vocação é um chamado, ao qual se responde com convicção. Assim também aconteceu comigo. Evidentemente, Jesus, em pessoa, não veio me chamar, como o fez com os Apóstolos. A nós, Ele chama através de circunstâncias. Eu era coroinha desde muito cedo, tocava o sino e cuidava das coisas do redor do altar. Esse hábito de servir na casa do Pai cria, por parte da criança e do jovem, uma expectativa que propicia o acolhimento da vocação, que Deus poderá vir a suscitar.

Para responder ao chamado, o futuro padre conta, sobretudo, com o auxílio da graça de Deus, que irá configurá-lo à Pessoa do Cristo, como continuador de sua missão. Entretanto, a par da docilidade à ação divina, é preciso ter qualidades essenciais, que permitam o exercício do ministério sacerdotal. Essas qualidades abrangem: - dotes naturais, como saúde física e mental, inteligência desperta e viva - e qualidades morais, como integridade de caráter, coragem e perseverança.

A conjugação de todos esses requisitos será avaliada ao longo de um ano, que chamamos de “Propedêutico”, durante o qual o candidato é acompanhado e orientado na sua vocação, enquanto faz a transição da realidade em que vivia, para uma experiência toda voltada ao serviço na Igreja. Isto inclui o aprofundamento da própria espiritualidade, e a preparação para a vida comunitária e para o estudo acadêmico. O Seminário é, verdadeiramente, a sementeira onde se aprimora o crescimento dessa “planta” da vocação.

O elemento que manifesta, desde o início, a autenticidade do chamado é a piedade do candidato: ter gosto pela oração, aprofundando sua fé no diálogo com Deus, de modo a estabelecer com Ele um relacionamento de intimidade. Esse amor às coisas de Deus deve se desenvolver num espírito de adesão filial à Igreja, ao Papa e aos Bispos, como presença sacramental do próprio Cristo no mundo.

A comunhão com Deus leva à comunhão com os irmãos. O seminarista precisa ter espírito comunitário. Saber viver em grupo, em comunidade, não é fácil, mas é um valioso apoio, sobretudo neste mundo, marcado pelo individualismo e pela solidão. Os padres pertencentes a congregações religiosas, vivem, normalmente, em comunidades. Mas é bom que também os padres diocesanos, sempre que possível, residam juntos numa casa paroquial. É um ideal a ser atingido.

É claro que o padre nunca está sozinho, porque serve ao povo. Esta é a outra dimensão comunitária de sua vida, que ele precisa amar com generosidade, para poder realizar um fecundo trabalho pastoral. O seminarista recebe formação nessa área, auxilia em diversas pastorais, para desenvolver espírito de pastor, guia, líder, que saiba conduzir o povo pelos caminhos da fé, da moral e do são humanismo.

O ideal seria que o candidato, o futuro padre, viesse de uma família bem estruturada, que lhe tivesse fornecido toda a segurança emocional e material necessária. Mas isso nem sempre acontece, principalmente, nos dias de hoje. Por isso, tal requisito não é considerado impedimento para um vocacionado, desde que ele reconheça as dificuldades que precisa superar, e encontre apoio numa formação bem orientada. Há candidatos, oriundos de famílias problemáticas, que se tornaram ótimos padres.

O trabalho nas diversas Pastorais da Igreja pressupõe o preparo apurado dos candidatos ao sacerdócio. Na Pastoral Familiar, por exemplo, aprende-se como lidar com as famílias e seus problemas. A Pastoral Catequética requer capacidade de diálogo com crianças e jovens, e também com aqueles que as orientam: pais e catequistas. A Pastoral Vocacional exige entusiasmo e acolhimento ao jovem, no discernimento dos rumos de sua vida. A Pastoral para a Caridade Social exerce a dificílima missão de atendimento aos mais carentes. Na Pastoral da Saúde, o jovem seminarista aprende a conhecer a psicologia do enfermo, como falar e rezar com ele. A Pastoral da Criança atua na formação para uma paternidade responsável. A Pastoral da Terceira Idade propicia o intercâmbio entre o entusiasmo da juventude e a sabedoria dos idosos, cujo convívio é espiritualmente enriquecedor.

Entretanto, nenhum trabalho poderia ser bem fundamentado, sem a necessária formação intelectual. O estudo específico para o sacerdócio exige, como requisitos, o Ensino Médio, um ano de Propedêutico e mais sete anos de estudos acadêmicos.

Estes estudos dividem-se em duas etapas, a começar pelo curso universitário de Filosofia, com duração de três anos. A Filosofia é um estudo pouco conhecido hoje, mas imprescindível para nortear a visão do jovem sobre o homem, inserido no mundo e na história, sua linguagem e lógica de pensamento, sua capacidade de transcender a realidade puramente material. A história da cultura filosófica, com as teorias dos mais diversos pensadores, é um retrato da pluralidade contemporânea, com a qual o padre e o bispo têm que se defrontar, no exercício de sua missão. É estudo profundo, complexo e difícil.

Sobre esta base, assenta-se a grande construção espiritual de quatro anos de estudos, na Faculdade de Teologia. Aqui no Rio de Janeiro, os seminaristas diocesanos cursam a Faculdade de Teologia, ligada à PUC, no próprio campus a eles destinado, no Seminário São José. O curso está aberto, também, a religiosos e leigos que se disponham a enfrentar este difícil estudo.

As disciplinas que compõem a Faculdade de Teologia abrangem as bases da nossa fé, sob os enfoques fundamental, sistemático e moral. Além disso, temos o estudo da Sagrada Escritura, do hebraico e do grego, da estruturação da Igreja, a partir da sua fundação por Jesus Cristo, e da sua obra santificadora, na Liturgia e na Espiritualidade.

Os seminaristas também têm a oportunidade de aprender o latim e de se aperfeiçoarem nas línguas modernas, entre as quais a nossa própria língua. Aprendem a arte de falar em público e de usar os meios de comunicação social. Estudam a psicologia humana, como base para ministrar o sacramento da confissão e para o aconselhamento a quem se encontra em dificuldade ou sem rumo na vida.

Esta foi, apenas, uma breve abordagem do que significa a preparação para o sacerdócio. Ser padre exige vocação, generosa resposta ao chamado divino, e muita capacidade de estudar e trabalhar. Antes de criticar ou apresentar pretensas soluções, baseadas no “achismo”, procuremos conhecer o processo para formação de um padre, para podermos avaliar melhor o significado e o objetivo da experiência preparatória pela qual ele passou. Esse conhecimento suscitará, sem dúvida, o desejo de colaborar com ele, colocando-nos em sintonia com o seu trabalho na Igreja, que reverte sempre em nosso benefício e no de toda a Comunidade.


Cardeal D. Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
ZP06011015

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Susete (IP registado)
Data: 17 de January de 2006 21:40

Padres vão reflectir sobre o seu ministério
Bispos preparam encontro nacional de sacerdotes
.
A Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios (CEVM), liderada por D. António Francisco dos Santos, esteve ontem reunida, num encontro alargado em Fátima, “para preparar o próximo Simpósio dedicado ao ministério presbiteral a realizar nos dias 5 a 8 de Setembro de 2006 em Fátima”, disse à Agência ECCLESIA o Pe. Jorge Madureira, Secretário da referida Comissão Episcopal.
Para este encontro da CEVM foram convocados delegados do clero de cada diocese, para se começar a preparar o Simpósio que, segundo o Pe. Jorge Madureira, ainda só “tem um apontamento de tema mas, irá abordar questões relacionadas com o presbitério, e a comunhão sacramental orientada para o serviço da Igreja no mundo”, revelou.
O V Simpósio Nacional do Clero tem por objectivo “a comunhão, o encontro, a partilha de experiências e o reflectir sobre a condição sacerdotal”, disse.


Re: Ser padre hoje
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de January de 2006 23:36

Continuo a achar que um dos problemas não resolvidos do pós-Concílio Vaticano II é precisamente uma (mais) clara teologia do sacerdócio e/ou do papel do sacerdote na Igreja. É necessário investir nesta reflexão. Talvez estes encontros ajudem, mas é necessário fazer algo mais ao nível «estrutural».

Antes, quando os leigos eram «fiéis de segunda», os padres tinham um papel muito claro, protagonista e «plenipotente», claramente distinto do dos leigos, quer a nível social, quer ao nível litúrgico ou ainda, claro, ao nível eclesiológico. Com o «investimento» na participação activa dos leigos na vida da Igreja, parece que muitos padres sentiram as suas competências serem «esvaziadas». Certamente isto também explica em parte muitos dos abandonos do sacerdócio, sobretudo nos anos 70 do século passado.

Quando às vezes se diz que os sacerdotes servem apenas para o que lhes está reservado -- a presidência da Eucaristia e a administração do sacramento da Reconciliação --, não se estará a «empurrar» o sacerdote para uma posição algo «sacramentalista», que está em «queda» acentuada?

Por outro lado, a falta de padres faz com que os que estão «no activo» andem constantemente de paróquia em paróquia, a presidir a Eucaristias para diferentes comunidades, numa contínua correria... Este activismo «sacramental» não acaba por acentuar a crise, fazendo dos padres uma espécie de funcionários-bombeiros hiper-activos e sem tempo para se preparar cuidadosamente?

O problema tem várias frentes e não é fácil. O activismo, a solidão, a falta de tempo para tarefas essenciais (como a preparação das homilias, que em Portugal é massivamente descurada), alguma superficialidade teológica e espiritual, tudo isto são problemas sérios, que põem também em causa o futuro ao nível de novas vocações.

Mas este não é um problema «dos» padres. É um problema de toda a Igreja, onde também os leigos têm responsabilidade. Uns e outros têm que aprender a ajudar-se mutuamente a viver a sua vocação e missão.

Alef

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 11:09

Ser «padre» foi sempre um problema.

1º) Ser «padre» no tempo de Jesus : «Os Escribas e Fariseus».eram «Mestres» «padres» (ou abades = pais)e «Doutores».

2º) Por isso, hoje, no nosso tempo, ser «padre ou abade»(=pai) também tem os seus riscos: Ver Mat. 23,3.9

3º) Mas há sempre um «padre» eterno e santo , o único, em quem sempre podemos confiar.
====
João cap 17,11
«Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!»
Mat 23,9
«E, na terra, a ninguém chameis 'Pai', porque um só é o vosso 'Pai': aquele que está no Céu.»

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.




Editado 2 vezes. Última edição em 18/01/2006 11:17 por Manuel Pires.

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Confessionário (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 16:47

Eu sou padre...
Não concordo com o que diz o Alef no que toca ao Concílio. Mas discordo muito mais com outras frases por aqui ditas!...
O Concílio dá bases mestras para aquilo que deveria ser um padre. O problema reside no facto de nós, padres, não querermos essa mudança, adaptação, conversão.
Por outro lado, serve melhor as nossas necessidades um modelo de padre antigo: sermos centro da paróquia e não Cristo; vivermos sós, isolados dos problemas e das pessoas, em meditação profunda; Monólogo de fé...
Mais, a formação nos seminários peca por ser demasiado académica... e não formar para o modelo de "Pastor". E depois, como se isso não bastasse, olhamos para os seminaristas... e parecem o "resto", os que sobraram. Trabalho com jovens e encontro todos os dias rapazes excelentes que não querem. Tb, como as coisas estão, quem pode querer?!
Exagero um pouco. Mas espero que dê para espicaçar acomodados!!!

Re: Ser padre hoje
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 17:40

Quero saudar a presença de um Padre aqui no Forum!!
Bem vindo ( um blogue muito interessante..) !
Espero que continue por aqui....mesmo sem Confissões.... ;))

Fiquei com muitas dúvidas osbre este tema ... por um lado ao Alef refere a falta de formação teológica da muitos novos Padres, o que me parece fácil de cosntatar, por outro lado, este novo forista afirma que formação no SEminário é muito teórica e não prepara os jovens para serem Pastores..

Qual o significado de ser Pastor , no mundo de hoje?

Tem sentido esta expressão? Seremos nós, os leigos, um rebanho?
Com ovelhas negras e tudo? ;0(

E formação teórica exigente parece-me fundamental...


Aliás, do que tenho observado, quanto maior a formação teológica , quanto maior a solidez do conhecimento e a vivência espiritual, quanto maior a serenidade,e a humildade , menor é a rigidez doutrinária...

mas.. a formação com a vida , será quese pode obter num modelo de formação como o que existe actualmente em certos seminários?

Será que é mesmo verdadade que os melhores não vão para Padres, mas apenas "o resto.."?



Porque é que em alguns sectores da Igreja só mesmo os melhores ( a nata) é que vai para Padre?

Quando se faz essa escolha ( iniciar o SEminário) já deveriam ser pessoas adultas, amadurecidas, com um percurso profissional , social e amoroso e completamente integradas na sociedade...








Re: Ser padre hoje
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 17:54

Meu caro padre:

Bem-vindo a este fórum e aqui vai uma palavra de apreço pelo seu Confessionário, do qual sou penitente há já muito tempo. «Assustou-me» ver o mesmo fechado durante meses... Felizmente, renasceu pelo Natal. «Gloria in excelsis»...

Fico contente em vê-lo participar neste tópico. Mas confesso que não percebi muito bem em que é que não concorda comigo, pelo que não lhe posso responder. Quer dar uma ajudinha?

Quanto ao resto, parece-me um contributo importante, até pelo aspecto «auto-crítico». Refere ainda uma questão interessante, a do «academicismo» dos Seminários e falta de uma preparação mais pastoral. Talvez seja verdade, não tenho a certeza.

Digo que não tenho a certeza pelo seguinte: em vários candidatos ao sacerdócio que faziam essa crítica aparecia às vezes outro problema: aparentemente queriam simplesmente umas quantas «soluções pastorais» e «fugiam» a tudo quanto fosse reflexão teológica mais séria. Ora, isso também me parece algo preocupante. Quando se tem apenas umas «dicas pastorais» funciona-se bem durante uns tempos, mas depois começa a notar-se a falta de coluna vertebral, não há reflexão. Substitui-se a teologia e a espiritualidade pela ideologia... Ao conservadorismo teórico de «outros» tempos, substitui-se um certo conservadorismo prático de querer repetir sempre as mesmas receitas que «deram resultado» antes. Às vezes fico com a impressão de que os padres de «sucesso» dos anos 70 continuam com as mesmas «receitas», tão datadas... É algo inevitável? Estarei a exagerar?

Como fugir ao perigo dos dois exageros?

Alef

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 18:30

Sejam bem-vindos todos os padres de Portugal e do mundo inteiro:) que bom um padre participar.
Volte mais vezes:)))que saudades eu tinha de ver por aqui um padre a participar.

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 18:50

Eu nunca fui «padre», nem «pastor» nem «chefe». ...
-----
Mas nunca é demais meditar nas palavras de Jesus ao "padre" Nicodemos, que transcrevo para destacar:

João cap 3

Diálogo com Nicodemos

«1 Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos, um chefe dos judeus. 2 Veio ter com Jesus de noite e disse-lhe: «Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele.» 3 Em resposta, Jesus declarou-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus.» 4 Perguntou-lhe Nicodemos: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?»
5 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. 6 Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito. 7 Não te admires por Eu te ter dito: 'Vós tendes de nascer do Alto.' 8 O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.»
9 Nicodemos interveio e disse-lhe: «Como pode ser isso?» 10 Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? 11 Em verdade, em verdade te digo: nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. 12 Se vos falei das coisas da terra e não credes, como é que haveis de crer quando vos falar das coisas do Céu? 13 Pois ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. 14 Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, 15a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna.
16 Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. 17 De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. 18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. 19 E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. 20 De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. 21 Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»


Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 19:22

Caro Manuel:

Parece-me que te prendes demasiado ao nome «padre», como o fazem certos protestantes, sobretudo nos países onde se usa a mesma palavra para o padre e o pai...

Se levarmos o texto à letra, notaremos que Jesus diz que não se chame «pai» a ninguém. Ora, ninguém significa mesmo ninguém. Será que o problema está propriamente no nome, na palavra usada, ou algo mais?

Mas, noto uma coisa curiosa: na tradução da Difusora Bíblia falta a palavra «vosso», que não é uma palavra sem importância e está no texto grego. Talvez seja mais correcto traduzir: «Não chameis a ninguém vosso pai, porque um só é o vosso Pai». Consultei outras traduções (KJV, NAB, NAS, NKJ, FBJ, VUL, ARA e BJE) e nenhuma delas omite o «vosso». Pode tratar-se de uma gralha.

Isto levanta outras questões: enquanto chamamos ao pai biológico realmente «nosso pai», fazemos o mesmo quando tratamos alguém por «padre», «abade» ou «papa»? Não me parece.

Mas podemos prescindir do nome e continuar a tratar do assunto to tópico, usando, em vez de «padre», o substantivo «sacerdote». E serão sempre bem-vindas as tuas reflexões.

Alef

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 22:38

Caros amigos,

É uma enorme honra e alegria termos entre nós a presença do Confessionário, e respectivo confessor, mais famoso da Internet :-) Aproveito desde já para te dar as boas vindas e desejar que continues por cá a partilhar connosco sempre que tiveres oportunidade.

A minha opinião sobre os padres em geral não é a melhor, embora conheça alguns exemplos extraordinários e é nestes que tento pensar para não ser tão crítico.

Aquilo que vou aqui escrever é a percepção que eu tenho e daqueles que conheço. Não são certamente a maioria e não quero entrar em generalizações.

O que me entristece mais nos padres de hoje é a sua falta de formação: são poucos os que conseguem responder a três ou quatro questões mais difíceis de Teologia ou de Doutrina, já para não falar de Bíblia... Quantos padres têm capacidade para orientar e dinamizar os grupos bíblicos da sua Paróquia? Se falarmos de espiritualidade, fico com a sensação que para a maioria dos padres (sobretudo os novos) é que a espiritualidade se resume ao terço e a meia dúzia de novenas. E quantos dos padres que conhecemos vivem uma paz de espírito contagiante daquelas que só a sua simples presença se sente que algo mais está presente? Muitos dos que conheço são "stressadinhos" e cheios de afazeres que nos perguntamos se terão tempo para Ele (pois para nós, já vimos que não têm...).

Uma coisa que me tem perturbado em alguns padres novos que vou contactando é a sua falta de moderação. Muitos deles não sabem ouvir. Não se esforçam por compreender. Apressam-se a ouvir para responder, para corrigir, às vezes, para julgar.

Mas com isto não faço o discurso do coitadinho ou do bota-abaixo. Acho que há padres com imenso potencial. Basta quererem e o Espírito Santo estará sempre por perto para os ajudar. Precisamos de padres que caminhem connosco. Caminhar com... é essa a imagem que me lembro quando penso em "pastor". Pastor é alguém que caminha connosco, que nos ouve, que fala connosco, que tem tempo para nós.

Tempo. Quantas vezes vamos tentar falar com um padre e ele diz que não tem tempo? Serei só eu? Infelizmente acho que não. Se um padre não tem tempo para me ouvir, para eu lhe partilhar o que me vai na alma, como poderá caminhar comigo? Que caminhada podemos fazer juntos?

Por isso defendo vivamente que os padres evitem ao máximo as tarefas administrativas das Paróquias, as deleguem em quem bem entenderem, mas que se dediquem àquilo que é a sua vocação e missão.

Costumo dizer que cada Paróquia tem o Prior que merece. Noutro dia, alguém ficou chateado por eu dizer isto (pois achava que merecia melhor Prior). Pensei para comigo: se calhar o Prior também merecia melhores leigos :-) Posso estar enganado mas penso que os leigos de uma Paróquia também ajudam o padre a caminhar e a crescer na sua vocação. Por vezes o padre também precisa de ser ouvido, mesmo que não seja em confissão. Acho que hoje os leigos exigem demasiado dos padres e não poucas vezes exigem aquilo que eles leigos deveriam fazer.

Um abraço,
Luís

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Confessionário (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 23:13

Agradeço os elogios a todos.
Como o Luís afirmava, eu padre, não tenho muito tempo. Para ter tempo para acompanhar não se tem tempo para participar em muitos fóruns ou espaços como estes. Venho aqui quase de fugida. O meu ministério tem outras obrigações que não a de estar sempre agarrado ao computador. Embora passe por esta máquina muito tempo. Trabalho nas organizações e reflexões. Até para o meu espaçozito do "confessionário" tenho as minhas dificuldades. Tenho vindo de vez em quando ler à pressa. Hoje deu-me para isto... e já começo a arrepender-me (hihi... por causa do que me obriga).
Vou tentar responder ou dizer simplesmente algumas coisas.
Alef, não concordo muito que o post-concílio tenha uma dívida para com a teolgia do sacerdócio. O problema é interno. Nós, padres ( e com a ajuda ou falta dela, de muitos leigos) é que não queremos chegar lá. Torna-se mais fácil continuar na senda de sempre!
Outra situação é a da formação. Claramente, amigo, a formação dos seminários, e quanto mais para o litoral ou cidades grandes, se transformou em algo muito científico. O padre não precisa de ser doutor. Precisa de ser pastor. um doutor sabe muitas coisas, mas não conduz, não guia, não apascenta, não cuida do rebanho. Eu sei que se pode confundir esta linguagem com o facilitismo das pastorais. Não. Tudo radica, começa e acaba no Evangelho. Devíamos ir aí beber, à fonte, e não às teologias. Claro que devemos saber dar respostas. Mas a mim o que me perguntam não é o que diz o autor tal, o teólogo tal, o que diz a dogmática, porquê o dogma disto ou daquilo, mas como resolver este problema, como viver melhor, como ter fé, como amar, como perdoar. Isto é que me perguntam. e é isto que eu devo saber responder. Quem quiser saber o que diz a liturgia que leia um livro de liturgia. Nós precisamos é de Cristo nas nossas vidas.
Também não quero com isto dizer que só isso conta. Pelo contrário. Um bom padre tem de passar muito tempo a reflectir, a preparar-se (sobretudo as tais homilias), mas para evangelizar. Não para mostrar que sabe.
O resto não vai muito contra as minhas ideias. Já me estou a alongar. quando começo é assim. bolazeee.
Vou deixar para outra hora outras considerações....
abraços

Re: Ser padre hoje
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 18 de January de 2006 23:38

Bem-vindo Sr. Padre, volte sempre, as suas reflexões foram extraordinárias. É bom ter por aqui um padre que fale assim.

Obrigada por isso

Re: Ser padre hoje
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 02:04

Caro Conessionário,

é com alegria que te vejo pelo forum... Também eu ando de fugida...

1. Não sei com franqueza se entendo o que dizes quando falas da preferência pela pastoral do que pela teologia... e que um padre não precisa de ser doutor. É claro que brincas certamente com as palavras com a referência implícita aos 'doutores'... ou não? Talvez esteja enganado, mas francamente pareceu-me... De facto, concordo contigo: um padre não precisa de ser um doutor, se entenderes por doutor um tipo que apenas pensa no seu estudo e que passa a vida a ler sem se interessar pela actividade dita pastoral... um tipo que não conduz, não guia, não apascenta, não cuida do rebanho. No fundo um sacerdote é-o para os outros e não para si próprio e para o seu próprio conhecimento. De acordo.

2. Naturalmente, estou absolutamente de acordo quanto ao padre dever ser pastor. CONTUDO isso é já uma interpretaçao teológica quanto ao papel do padre, à sua configuração a Cristo e ao seu munus particular. Isso não é só intuição nem decorre necessariamente da leitura da 'fonte'... A mim assusta-me sempre essa ideia de que devemos ir beber ao Evangelho sem nos preocuparmos com Teologias e até, para muitos, prescindindo delas... NÃO PERCEBO, meu caro e fico assustado com essa recusa da teologia: não há reflexão séria sobre o Evangelho que não seja teológica; é a teologia bíblica que, antes de mais, permite hoje ultrapassar leituras meramente literalistas do Evangelho...

3. Percebo o que dizes quanto aos problemas que colocas. A maioria das pessoas está-se mais ou menos nas tintas quanto às reflexões do próprio Evangelho que vão muito além da letra. Mas É OBRIGAÇÃO do sacerdote levá-los também a ir mais além... como diz a Catolicapraticante, eu também estou convicto de que uma fé esclarecida é quase sempre (não direi sempre...) uma fé mais adulta e por isso mais cristã. Isso não implica um esquecimento da pastoral: leva a um enquadramento da pastoral que não se limita apenas a uma mera solidariedade humana (do tipo tratar de lares ou de jardins de infância, muitíssimo meritórios, muito importantes , 100% a favor, mas que não se podem esgotar apenas nisso), a um mero 'posto de conselhos' ou a um qualquer ensinamento ingénuo e escolar da doutrina mais básica. A teologia permite abrir horizontes de reflexão e levá-los aos outros... Enquadrar a vida do sacerdote e permitir-lhe uma reflexão mais profunda da sua própria espiritualidade. S. Paulo percebeu isso desde muito cedo... Outros apóstolos também... os próprios evangelistas...

4. Discordo que haja uma insistência especial dos seminários na teologia em detrimento da pastoral. Desde muito cedo, os seminaristas passam todos os fins de semana em paróquias e a semana a estudar. É normal: estão em formação dupla. Mesmo depois de se licenciarem, todos ou quase ficam uns meses sem serem ordenados diáconos, para aprofundar a sua experiência pastoral. De resto, vivem sempre em conjunto nos seminários e têm orientadores espirituais e responsáveis pelos seminários que é suposto, entre outras coisas, fornecerem a dimensão mais pastoral da formação sacerdotal ao longo de pelo menos 5 anos... Não acho MESMO NADA que seja pouco. Pelo contrário: se comparares com quaisquer outros estudantes universitários, pelo menos nos últimos anos, os seminaristas ficam com os fins de semana completamente cortados para poderem estudar, precisamente porque estão nas paróquias, onde é suposto assumirem pequenas responsabilidades pastorais. Mesmo depois de ordenados diáconos, a formação que continuam a ter é sobretudo pastoral e não teológica e são normalmente uns 6 meses a 1 ano o que ainda os separam da ordenação sacerdotal.

5. Assusta-me um pouco essa tua ideia e peço que não me entendas mal (se eu o fiz, peço desculpa): hoje há claramente da parte de muitos padres mais jovens e de muitos seminaristas um ataque completo à teologia tal como ela é ministrada nas Universidades: preferem na prática um curso em que se limite a ensinar a doutrina do catecismo e muito pouco de reflexão teológica. Já por aqui passou quem defendeu que sempre escreveu nos testes da Universidade o que os profs. queriam ouvir e depois continuou a seguir o que ele próprio achava sem qualquer interesse por uma qualquer reflexão teológica séria e eclesial. Como ele, sei que hoje esta é voz corrente:a teologia não serve para nada, é um bando de teorias e de reflexões inúteis que muitas vezes mais parecem heréticas do que 'doutrinárias', e que (e cito o que já me deitaram em cara) 'é preciso ter muita fé, muita preseverança para passar por um curso de Teologia sem perder a vocação e a própria fé', como se a reflexão teológica impedisse a fé e a mutilasse!!! Este é um tema que me preocupa de sobremaneira... muito mesmo... e, não fora ser um homem de fé, era eu que a perdia ;-))... pelo menos a fé no futuro...

Abraço fraterno

Miguel

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 02:20

Caro Miguel:

Apreciei bastante o teu comentário! Creio que resume bastante bem vários sentires de tópicos anteriores.

Em todo o caso, gostaria de reiterar uma ideia que já escrevi antes: deveria haver uma maior consciencialização entre/com os leigos de que «ser padre» não é simplesmente uma coisa «dele», mas algo que implica a comunidade toda. Sei que nalguns sítios, fora de Portugal, pelo menos, as paróquias onde um seminarista colabora e vai recebendo responsabilidades têm algum sentido de responsabilidade em relação a esse mesmo seminarista. Por um lado, a paróquia também terá uma palavra a dizer na hora de decidir ordenar o seminarista; por outro, o seminarista está ali também para ajudar e aprender com as pessoas. Há, assim, uma certa simbiose saudável, parece-me. Mas depois acontece muitas vezes que a padre ordenado já não se diz nada... E talvez eles apreciassem também ser ajudados...

Alef

Re: Ser padre hoje
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 02:21

Só mais uma coisa: para mim, não é uma questão de quantidade de tempo, mas de método... A reflexão deveria ser mais em torno não do tempo dedicado à teologia ou à pastoral, mas do método para ambas... Pergunto-me se a formação pastoral dos sacerdotes é bem feita (bem como a teológica, que pelos vistos...). Em termos de tempo penso que é suficiente, não é preciso mais tempo; em termos de qualidade... aí acho francamente que deixa muito a desejar... Pessoalmente acho que, com excepções honrosas claro, de pessoas, de formadores e de dioceses, ela é francamente e de forma global muito fraca...

Mas por agora, a cama chama...

Abraço fraterno,

Miguel


Re: Ser padre hoje
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 10:12

Caro "Alef"

Na verdade, o problema não está na palavra "pai", (ou "padre") mas no uso que se lhe dá.
Jesus reservava uma palavra com esse significado com uso exclusivo ao «Pai Celestial».
Os cristãos do 1º século também.
Jesus aconselhou os seus discípulos a seguir o seu exemplo.
Com certeza que, tanto Jesus como seus discípulos, usavam uma outra palavra com um sentido globalista (abrangente) nos outros casos.
A nossa língua (felizmente) é muito rica, neste caso.
Temos várias palavras que aplicamos com sentido restrito (com o significado de "pai").
Por exemplo «papa» que é reservado (em português) a uma só pessoa, além de ser aplicada, a outras pessoas por analogia.
Temos o título de «Cardeal Patriarca» para um pequeno grupo.
Depois temos «abade» (que vem de «Abba»-em aramaico, a língua que falava Jesus), que já é aplicada a um núcleo um pouquinho maior, mas ainda com um profundo significado de enaltecimento.
Depois vem «padre» que em grego e latim era "pater", mas que em português ainda mantém um carácter bastante discriminatório, pois é como que um privilégio de certas pessoas de uma classe clerical e dominante.

Eu estou estupefacto, com o uso de esses títulos com esse significado grandiloco, quando Jesus aconselhou os seus discípulos a não o fazerem! Seria isso por desconhecimento total dessas pessoas que usam esses títulos acerca das palavras de Jesus ou porquê?! O facto é que aconteceu! Ora isso desvaloriza em muito a credencial apresentada pelas pessoas que usam esse títulos e ao mesmo tempo se apresentam como que institucionalizados por Jesus.
Há aqui um sinal evidente de que essa credencial que apresentam é falsa!

Jesus disse acautelai-vos dos falsos profetas!

Ora é necessário estar vigilante para não sermos enganados por pessoas por maior que seja proclamada, aos quatro ventos, a sua respeitabilidade.

Quanto à palavra «vosso» eu acho que o "Alef" ter lembrado essa omissão é muito pertinente. Essa palavra é muito importante, porque o que interessa não é o uso das palavras «pai», «padre», «abade», «abbá», «abá», «papa» (e outros sinónimos) em relação aos outros, mas sim de os considerarmos nossos pais, padres, abades, abbás, abás ou papas. Eles são-no, apenas de quem os considerarem como tal e de quem ostenta presunçosamente esses títulos.

É bom esclarecer o significado original das palavras, assim como procurar identificar a possível malícia e intenção das pessoas que as ostentam para engrandecimento pessoal, quer no ponto de vista individual como no ponto de vista de classe.

Apesar de as palavras perderem o seu valor original, ao ser diluido com o tempo, é necessário identificar os erros cometidos. Eu não estou a acusar ninguém, apenas os actos incorrectos vindos da cegueira humana.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 10:44

Caro Manuel:

Parece-me que não nos podemos agarrar simplesmente à letra de Mateus 23:9 («Não chameis a ninguém vosso pai, porque um só é o vosso Pai»), como se isso implicasse necessariamente banir as palavras «padre», «abade», «papa» e outras.

Porque, se fosse assim, então teríamos importantes contradições no Novo Testamento. Ora veja-se:

[li]1 Cor 4:14-15:
«Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a meus filhos muito queridos. Na verdade, ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, porque fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho.»

[li]2 Cor 12:14:
«Eis que estou pronto a ir ter convosco pela terceira vez, mas não vos serei pesado, porque não procuro as vossas coisas mas a vós mesmos. Não compete aos filhos entesourar para os pais, mas sim aos pais para os filhos

[li]Fl 2:22:
«Mas as provas dadas por ele [Timóteo], vós as conheceis: como um filho para com o pai, entregou-se comigo a servir o Evangelho.»

[li]Fil 1:10:
«Peço-te pelo meu filho, que gerei na prisão: Onésimo».

[li]1 Cor 4:17:
«Foi por isso que vos enviei Timóteo, meu filho muito querido e fiel no Senhor; ele vos recordará as minhas normas de conduta em Cristo, tais como as ensino por toda a parte, em todas as igrejas.»

[li]1 Tm 1:2:
«a Timóteo, verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor.»

[li]1 Tm 1:18:
«Esta é a recomendação que te confio, meu filho Timóteo, de acordo com o que predisseram algumas profecias a teu respeito: apoiado nelas, combate o bom combate»

S. João usa umas nove vezes a palavra «filhinhos» e também se refere àqueles a quem fala como «filhos».

Etc…

Alef

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 13:13

Caro "Alef"

Não vejo qualquer contradição em nenhuma das passagens que invocou.

1º Nem Paulo nem João, usam o título de «pais», «padres» etc. ....
2º Eles apenas falam da sua afeição como que de um bom pai para um filho.

Paulo até se considerava como uma como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. ....

João chama mesmo «pais» aos mais antigos na fé, mas isso, apenas significa de «anciãos» em contraste com "filhos" e «filhinhos" que significa "juniores" ou "noviços".
Não há aqui um uso destinado a uma «classe» privilegiada de pessoas.

Eles, também, não estavam a comparar-se com o «Pai» celestial, nem a colocar-se no lugar dele.

Mas se por acaso estivessem a fazer isso, como que presunçosamente, o facto de estar relatado nas escrituras não significa que esse comportamento não seria de reprovar.
As escrituras fazem o relato não só de coisas que Deus aprova como de outras que são reprováveis.
Por exemplo, Salomão mandou matar o seu irmão Adonias, porque teve medo que o tramasse tirando-lhe a coroa. Adonias era então o mais velho.
As escrituras não dizem sequer se isso foi ou não reprovável. Apenas relatam o acontecimento.
Isso aconteceu pelo facto de ter pedido a intercessão da mãe de Salomão para obter a mão de uma mulher bonita que estava na coorte de Salomão.
De certeza que eu não fiquei bem impressionado com esse acto extremista do «grande sábio» Salomão.


Contudo eu penso que os primeiros discípulos de Jesus cumpriram escrupulosamente a recomendação de Jesus contida em Mat. 23,9. Quando falavam aramaico faziam-se entender perfeitamente porque só usavam a palavra "Abbá" com o significado que Jesus lhe dava quando se referiam ao Pai Celeste. Os escribas e fariseus não.

Quando falavam "grego", com certeza que as pessoas entendiam o significado pelo contexto e pelo uso.

Agora, e desde há já muitos séculos fala-se de «padres», «abades», «Cardeais patriarcas», «papas», etc., não apenas com um significado generalista, mas com o mesmo significado que era usado pela presunção dos escribas e fariseus.

Este significado está a perder o seu valor original, mas foi muito vincado durante muito tempo. Agora a classe do clero é vista com muita desconfiança generalizada e o que resta é apenas a manutenção de uma tradição: está a tornar-se cada vez mais como que uma relíquia do passado. Mas esta tendência para a humilhação não é produto da humildade do clero. Isso é pelo facto de não poderem controlar as coisas como faziam num passado ainda bem recente.

Para mim é um aviso e uma marca bem evidentes que mancha as credenciais que persistem em nos exibir, tal como a apresentação de uma carta de condução viciada.

Acho que é altura de darem a mão à palmatória.

O falecido Karol Wojtila teve um gesto bonito quando pediu perdão pelo facto de a "ICAR" ter pecado contra Judeus e Árabes, mas isso foi apenas um gesto bonito, que poderia ser o começo de uma total conversão semelhante a um terramoto de grau nove.
Por isso, parece-me que isso foi mais um golpe de mestre, semelhante a uma flor bonita que acabou de nascer e murchou logo, com a secura do deserto, queimada pelo calor abrasador do sol, sacudida pela força do vento, e faminta de nutrientes, água e terra suculenta e profunda.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Ser padre hoje
Escrito por: Confessionário (IP registado)
Data: 19 de January de 2006 15:38

E aí vai uma resposta rapidita, que o tempo urge.
Continuo a pensar que nos Seminários se devem formar pastores. Mas não aceito que os padres sejam ignorantes ou que se resumam a saber umas cositas doutrinárias. Mais, afirmo que na reflexão se faz luz. Eu passo muito tempo a reflectir. Repara, rmcf, que gostei imenso de estudar filosofia e estudar dogmática e estudar grandes teólogos (um deles Ratzinger). Só não queria que a insistência maior dos seminários fosse a formação teológica e científica como tal. Reparem , hoje encontram-se facilemente seminaristas com boa formação teológica que são um fracasso em termos pastorais e humanos. Podem ter altas notas e não saber resolver um problema com uma paróquia. Reitero, no entanto, que a formação intelectual dos padres é necessária. Muito. Cada vez mais há pessoas que não se contentam com uma ordem "porque sim". Querem saber porquê. Mas aí vamos buscar o Evangelho e todas as exegeses, e todas as verdades que se podem estudar nele, e etc...
Ahh, a história dos fins de semana e afins é boa, mas longe da óptima. Eu já tive estagiários comigo. Sei o que afirmo. Nem todos os sacerdotes são bons orientadores de estágio. Hei, que não me considero mais que ninguém. Mas quando alguns se preocupa em ter seminaristas estagiários para solucionar o problema das Celebrações da Palavra!!!
E, amigo rmcf, não brincava com a palavra doutor. "Um só é vosso mestre". Podemos saber muito, ser inclusive os melhores padres do mundo, que se não soubermos ser como o mestre, de nada vale a nossa consagração!

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