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“A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 05:09

Antes de começarem a ler alerto para o facto de que não estou a provocar ninguém. Não é essa a minha intenção, trata-se de uma dúvida que tenho. Por isso começo este tópico por fazer um intróito, de modo a esclarecer desde já algumas posições.


Sigam o meu raciocínio:

O Homem tem uma dimensão intelectual, biológica, emocional, psíquica, social, e teológica (na medida em que coloca a questão de Deus, mesmo que depois negue a sua existência). Entende-se que o sujeito está em desequilibro quando alguma destas dimensões não está a ser correctamente mesurada.

Desta falta de equilíbrio podem advir actos que atentem contra a sua própria integridade ou a integridade de outros, por isso considero o celibato como uma limitação e uma violação da integridade do Homem, neste caso dos padres. Acho também que o celibato faz cada vez menos sentido.

Haverá certamente quem advogue o celibato como uma penitência física e nesse caso algo de bom que se pode oferecer a Deus, por isto mesmo, considero que o celibato deveria ser voluntário. Aliás nos primeiros séculos do Cristianismo esta prática era voluntária. São Paulo, nas suas epístolas, esclarece este assunto. Quem estiver interessado pode procurar no índice remissivo da Bíblia as palavras “Celibato” ou “Matrimónio” há lá muito para ler sobre estas matérias.

Tão pouco considero que um padre por ser casado tenha um pior desempenho das suas funções, antes pelo contrário, o sacramento do matrimónio, possibilita o desenvolvimento da dimensão social através da comunidade que é a família. Em matéria de princípio, a família não é um impedimento à boa prática profissional, antes pelo contrário pode ser inclusivamente um complemento.

Pessoalmente, não acredito que o celibato permaneça obrigatório por muitos mais anos, assim sendo, solicito que se coloquem num futuro, não muito distante e que se imaginem num tempo em que os padres possam casar. Já conseguiram imaginar? Ok, boa! Então que papel pode desenvolver a mulher de um padre?

Esta era uma questão que eu gostaria de colocar ao Padre João Luís. Não sei se há algum padre por aqui, mas gostaria de saber se há espaço para uma mulher na vida de um padre? E nesse caso que papel iria ela exercer?

Eu imagino uma espécie de “primeira-dama da paróquia”, não no sentido malicioso do termo, mas como uma companheira activa, critica e responsável. Não conheço relatos nem histórias das mulheres dos padres Anglicanos ou Ortodoxos mas certamente, têm um papel importante na sua comunidade e na vida familiar.

Mais ainda, ao falar de casamento ocorre-me uma outra etapa da vida a dois, o namoro.
Assim, o padre antes de casar teria de namorar com a sua futura esposa. Certo?

Isto faz confusão?!

Pois, mas é um processo normal. Já pensaram bem nisto? Imaginem a conversa:” ah, aquela é a namorada do padre, olha a roupa que veste?!”
Quem conhece a vida social das paróquias sabe que isto é “tão natural como a sua sede”!!!!!!
Tanto quanto sei, os Ortodoxos casam primeiro e só depois são ordenados. Mas esta prática não me parece muito justa, pois nem todos têm a sorte de encontrar a sua alma gémea até aos 25 anos.

Muito se fala neste fórum dos padres, do seu celibato, dos direitos das mulheres e da sua emancipação, mas esquecemo-nos de que ao ser levantado o celibato outras questões se levantam. È simples não é?! tal como dois e dois são 22.
Vejam! No dia em que o celibato for voluntário, acontece algo muito natural: as pessoas aproximam-se, interessam-se umas pelas outras, apaixonam-se, namoram, casam, vivem em conjunto até que a morte os separe.

Mas ainda há outra questão. Acham que a sociedade está disposta para receber os padres que foram ordenados e que depois se casaram? Como vai a comunidade receber as suas esposas e os seus filhos?

Como será a vida dos filhos de um padre? A este propósito lembro-me de Pearl Buck. Era filha de missionários, nas suas obras deixa entrever algumas coisas sobre essa vivência. A sua biografia refere esse facto e sabe-se que viajava muito com os pais no oriente, por isso mesmo as suas obras referem-se na maioria dos casos a essa área geográfica. Feuerbach, também era filho de um pastor, creio que Luterano. Consta na sua biografia que o pai era um bocado austero, por isso na sua filosofia ele fala tanto de “Temor a Deus”. Alguém conhece mais casos interessantes de filhos de pastores protestantes ou ortodoxos?

Estas são algumas das questões que encontro sempre que se fala do celibato, haverão outras certamente. O que pensam sobre o assunto?

(Por favor, que quem achar disparatado este tópico não me “massacre” muito!!!!! – Obrigada!)

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 08:08

"Não conheço relatos nem histórias das mulheres dos padres Anglicanos ou Ortodoxos mas certamente, têm um papel importante na sua comunidade e na vida familiar".

Pos, é isso mesmo que te falta. O contacto directo e pessoal com situações destas . Para desmistificares a questão.

Há cerca de duas semanas estive num evento Internacional onde convivi de perto com dois padres casados - um era católico de rito grego ( com dois filhos pequeninos) outro era ortodoxo, da Roménia), pai de uma encantadora menina de três anos.
AS famílias não os acompanharam neste evento, mas estiveram sempre presentes , (telefonemas, fotos , histórias) e curiosamente passámos longas horas a conversar sobre a sua vivência enquanto maridos, pais e Padres.
Cheguei à conclusão que as dificuldades que eles enfrentam para concliliar a actividade de Padre com vida famíliar são muito parecidas com aquelas que todos nós enfrentamos quando temos uma actividade profissional muito exigente.

E, segundo percebi, as mulheres dos padres têm uma função importantíssma dentro das paróquias, mesmo em termos de apoio espiritual. SEgundo um dos padres me contou, há situações me que as pessoas até preferem falar com a mulher dele, para desabafar e procur ajuda.


"Como será a vida dos filhos de um padre?" Igualzinha á dos outros meninos.

“A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 13:30

Uma ressalva, quer no rito greco-católico quer na ortodoxia, a questão do casamento processa-se da mesma forma que acontece com os diáconos do rito latino, isto é, se na altura da ordenação estão solteiros, assim permanecerão até ao fim das suas vidas.
Aqui podem consultar uma breve história do celibato.

Realmente em relação a outras denominações protestantes não tenho informações necessárias mas como conheço alguns pastores anglicanos celibatários penso que haverá também um processo de escolha.

A mim não me choca que os padres sejam casados mas penso que a quando da sua ordenação já deveriam estar casados e como dizia S. Paulo que se casem só uma vez.

Em comunhão


Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 13:51

Compreendo o que dizes. Mas não me parece um processo muito justo.
Imagina que um padre, ordenado aos 25 anos, encontra a sua cara-metade aos 35 anos. Que faz ignora os seus sentimentos? Arrisca uma vivência oculta e uma vida paralela, como acontece actualmente? Simplesmente, não me parece correcto. Acho uma limitação à liberdade e humanidade do sujeito.

No casamento entre o príncipe Charles e Camila, que passou na Tv, a esposa do Bispo estava sentada ao lado do marido, na altura reparei que a senhora usava um conjunto violeta a condizer com as vestes do marido.

Achei simpático e atencioso (coisas de mulheres)!!!!!!

Já pensaram que há casais que vivem na solidão. Não se trata só da solidão das mulheres, mas dos maridos também. Tenho pena de alguns homens que se refugiam principalmente, no álcool, para afogar as suas mágoas e solidão. Muitas vezes recorrem a bares de alterno, só para conversar, apesar de muitas vezes acabarem por ter a necessidade de demonstrar a sua virilidade. Conheço algumas histórias de prostituição e de prostitutas e posso dizer-vos que o que mais atrai os homens a esse tipo de bares é o sentimento de solidão. Ou porque vivem sozinhos, ou porque não conseguem falar com as esposas ou por n motivos.

Estou a falar disto porque, diz-me a lógica, que um padre casado será mais atractivo aos homens igualmente casados do que um padre solteiro, na medida em que sendo ambos casados haverá maior identificação e partilha. Isto faz-vos algum sentido?

Homens casados pronunciem-se!!!!!


Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Mónica (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 15:02


Tudo isto e voltamos sempre à mesma questão!

O Celibato dos Padres!

Mónica

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 15:26

Tony

Gosto do tema:

Conheço uma senhora professora casada com um padre Alglicano. Uma senhora bonita, simpática e creio de boas qualidades. Um dia apresentou-me o marido e disse que era padre (priest). Fiquei curiosa em falar com ela mais vezes:) até que um dia lhe perguntei: fazes alguma coisa dentro da igreja? Ela respondeu que não. Apenas ía à igreja aos domingos com o marido e os filhos. E tu tens bons filhos, perguntei eu? Resposta da mulher do padre. Os nossos filhos foram abençoados.


Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 16:07

Tony


Gostavas de ser a Primeira-Dama da Paróquia? :)

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 18:53

Cara Tony,

gostava de ser tão optimista quanto tu, mas é me díficil. Não consigo vislumbrar o fim do celibato e dos votos de castidade entre sacerdotes e religiosos, pelo menos num futuro próximo. Embora te deva dizer que compreendo os votos de castidade entre os religiosos. O acto de ser religioso e a vida monacal ou conventual, não se compadece com uma noção de familia que existe em sociedade fora daquelas paredes. É dificil conceber a educação de um filho por um pai que por exemplo optou por realizar um voto de silencio... Como has-de concordar que dificilmente esse frade ou freira, encontraria uma esposa ou esposo, disposto a esse tipo de vida... Eu não concordo com a opção de vida monacal ou conventual, pelo menos os/as de clausura... A fé deve ser vivida com a comunidade e à vista de todos... no entanto são opções...

MAs vens falar de um tema que me é caro... É dificil dar-te uma opinião. Porque em meu entender ambos os lados têm razão. Passo a explicar...

Eu compreendo os receios da Igreja-instituição. Se sem o voto do celibato já se torna díficil gerir a vida pessoal dos seus empregados, mais dificil se torna se um dia essa obrigatoriedade cair em desuso... O mais certo é que alguns anos mais tarde virá mais em força do que nunca para tentar meter na ordem alguns sacerdotes mais namoriscadeiros... (risos) Porque no fundo foi isso que aconteceu.

Quando no século IV d.C. o celibato foi introduzido obrigatoriamente deveu-se ao nível acentuado de luxuria e deboche sexual levado a cabo pelos bispos e padres da Igreja na altura. Foi uma medida do tipo de cortar o mal pela raiz. E desde então a Igreja-instituição tem vivido refem desse tempo. E depois ainda existe outros problemas:

a) o que fazer se um padre, ou a mulher deste, se decidir divorciar...?

b) e se um padre cometer o pecado do adulterio...? é mais grave que infrigir a regra ou o voto do celibato...

c) e o que fazer no caso dos padres homossexuais...? devem ficar solteiros? celibatarios? ou viver o seu amor em união de facto...?

d) e um padre seria livre de casar por amor com quem quiser...? se antes da ordenação ja tivesse casado tudo bem, mas se não...? com quem poderia ele casar...? nãoa chas que a Igreja gostaria de ter a sua opinião sobre o assunto...?

Mais uma vez a Igreja-instituição defende-se cortando o mal pela raiz. Ninguem casa e pronto. Se houver alguns ligeiros desvios, são corregidos quando acontecerem... discretamente... Muitos padres continuam a ter afilhados muito parecidos com os padrinhos... (risos)

Contudo, como já escrevi anteriormente ter um padre celibatario é ter um homem castrado ao nível emocional, o que nalguns casos é como ter uma bomba relogio nas mãos! Ter um padre celibatário somente serve para desligar este ao máximo das suas ligações à sua dimensão fisica. Mas a Igreja-instituição esquecesse que os padres são homens que tentam viver o exemplo de Jesus, mas que não são Jesus... Para além de que não está provado ou desmentido o facto de se Jesus era ou não casado. Contudo para a minha vivencia de fé esse é um facto pouco importante. No entanto, se Jesus fosse um rabi judaico, que provavelmente seria, o mais certo é que tivesse seguido a tradição e se tivesse casado antes de assumir a sua vida publica.

Desviar um padre da sua dimensão humana é um erro, pois está a cortar-lhe o contacto com a realidade social, que muitos desconhecem. O facto de entrarem para os seminários com muito pouca ou nenhuma experiencia de vida também não os ajuda na sua missão pastoral... Cria "gaps" entre a vida do pastor e a vida das suas ovelhas.

Costuma ser cliché dizer nestas alturas que: "ah tá bem, mas um padre casado ficaria mais afastado da sua comunidade e da sua missão..." (citação literal, muito mesmo...) Vamos separar as aguas. UM padre se fosse casado teria de saber separar a sua vida profissional da sua vida pessoal, como fazem tantos outros profissionais e até mesmo sacerdotes. Obrigava mais dele, é verdade... Tinha de se dividir entre a sua familia e a sua comunidade. Mas por exemplo numa paroquia de 10000 pessoas ou mais um só padre também não consegue ajudar toda a gente... Três ou quatro, já ajudavam mais...

Mas eu acho que o problema das vocações não se resolve tanto pelo fim ou não do celibato. Pelo menos aos 18 anos não se tem uma noçao de celibato, nem de eterno... com o decorrer da idade talvez, mas nessas idades não... Muita gente atira-nos areia para os olhos dizendo que o celibato afasta os rapazes novos dos seminários, mas na minha opinião e pela minha experiencia, o que afasta os rapazes do seminário é a ortodoxia e conservadorismo da Igreja-instituição, que a torna desactualizada e fora da realidade da nossa sociedade.

Agora, e respondendo mais concretamente ao teu tópico, acho que se um padre fosse casado, não fazia sentido que a vocação fosse só de um dos membros do casal. Não quero com isto dizer que a esposa deveria ser ordenada ou uma freira, mas deveria ter também uma vocação, deveria ter a sua vida também ela dirigida para o próximo. Penso que assim seria mais facil para o casal viver a sua vida sem problemas de maior, pois como todos reconhecem a vida de padre obriga a muita disponiblidade por parte deste. MAs desde que ambos casassem por Amor e se amassem, a vida profissional de ambos não seria um incomodo, mas a sua superação mais uma prova de Amor entre eles.

Quanto à reacção da sociedade não sei, mas falando por mim eu perfiro ver um padre casado e com filhos, do que um padre com dois ou três "afilhados"... (entenda-se a palavra afilhado no seu sentido mais literal...)

Um abraço a todos

Miguel Dias

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 19:21

Miguel D Escreveu:

Contudo, como já escrevi anteriormente ter um padre celibatario é ter um homem castrado ao nível emocional



Aonde escreveu isso?!



Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 19:47

Camilo

devo confessar que estou surpreso... não o fazia seguidor tão atento daquilo que escrevo. Mas confesso que pessoalmente gostei de saber que existe uma pessoa pelo menos que segue as minhas participações. Acredite que eu também tenho muito gosto em ler as suas e a de todos os outros participantes neste forum.

Quanto à citação, devo dizer que já escrevi sobre isso, posso é não ter usado as mesmas palavras... se calhar não fui tão duro como neste tópico, mas o sentido é o mesmo... Acho que se calhar me emocionei a escrever aqui... mas o assunto se calhar tocou-me mais pessoalmente ;o)

remeto-o para o tópico sobre o "abuso de crianças"

Re: Abuso de crianças
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 18 de Outubro de 2005 02:44

(...)
Desculpa, mas não concordo. A vocação ao sacerdocio está para além disso. Agora poderia concordar contigo se tu me dissesses que um celibato forçado pode provocar nalgumas pessoas essas incapacidades de relacionamento. Até porque a maior parte dos seminaristas entra no seminário muito jovem, nunca tendo uma experiencia efectiva de contactos e de experiencia de ligação com o sexo oposto (ou o mesmo sexo) ou com a vida em sociedade. Este sim talvez seja um dos principais problemas: A falta de experiencia de vida.


acredite Camilo que escrevi isto em resposta à católica praticante com o mesmo sentido que escrevi aqui, "que um padre celibatário é um homem castrado emocionalmente". As minhas palavras podem ser diferentes, mas o sentido é o mesmo. Claro que a generalização é sempre perigosa, mas rara é a excepção...

Um abraço

Miguel Dias

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 22:22

Miguel D, também acha que Jesus e S. Paulo eram «emocionalmente castrados»?

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 22:35

Quanto a Jesus Cristo e a S. Paulo, não me posso referir directamente pois não os conheci pessoalmente e não quero incorrer em imprecisões. Contudo, devo dizer-lhe que nada nas Sagradas Escrituras referencia que Jesus era celibatário. Antes que me refute digo-lhe que também não tem nada que não diga que não era. A verdade é que os Evangelhos são omissos quanto a este assunto.

Se me pedir para lhe traçar um perfil psicologico de S. Paulo terei imenso gosto em aceitar esse desafio, não só aqui, mas mesmo a nível profissional.

Não misture as coisas, nem meta palavras na minha boca. Estamos a falar de coisas diferentes. Se nesse periodo Jesus e Paulo seguissem o voto de castidade este não lhes teria sido obrigado, mas professaram-no de boa vontade, pois na época este não era obrigatório. O que eu disse foi que um voto celibatário obrigatório e compulsivo, castra emocionalmente um homem. Existem pessoas que são celibatárias por opção. Não é normal, mas existem. Existe uma diferença entre uma opção voluntária e uma opção compulsiva.

Não sei se o esclareci na totalidade, mas sinta-se à vontade para me voltar a questionar caso eu não o tenha feito.

Um abraço

Miguel Dias

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 22:58

Onde é que eu pus palavras na sua boca? Se as tivesse posto não teria feito uma pergunta, mas sim uma afirmação, não acha?

De qualquer forma a minha pergunta segue um raciocínio que a mim me parece lógico, decorrente da sua afirmação.

Não se pronuncia sobre Jesus e S. Paulo porque não os conheceu pessoalmente? Isso quer dizer que conhece todos os padres pessoalmente para dizer que são castrados emocionalmente?

Penso que o Miguel esquece alguns pequenos (mas importantes) pormenores: a Igreja não obriga ninguém a ser padre, ninguém é obrigado a ser padre e o ser padre não é a escolha de uma profissão.

Ao ler o que escreve sobre o celibato e sobre a (suposta) "violência" a que um padre é submetido ao ser celibatário, lembro-me das palavras de Jesus:


«Com efeito, há eunucos que nasceram assim, desde o ventre materno. E há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!» (Mt 19, 10-12, o destaque é meu)



Editado 1 vezes. Última edição em 19/10/2005 23:07 por Aristarco.

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 23:39

Se bem compreendo, a posição da Igreja neste assunto é funcional, não teológica. Assim sendo, é uma simples regra, que deve ser seguida mas que não me choca se for quebrada: tomando como exemplo um padre que tenha filhos de uma mulher, o mais natural não é permitir e incentivar que esse padre se case com a dita? Claro que isso seria abrir precedentes, mas não vejo como por isso podemos apoiar situações objectivamente injustas, apenas para salvaguardar a face noutras. A Igreja tem de ser coerente, sem dúvida, mas possivelmente essa coerência passa mais pela admissão dos erros de alguns padres do que pela irredutibilidade no cumprimento de uma regra.

Em geral, penso que seria interessante abrir-se a possibilidade de ordenação a padres casados, possivelmente mais como excepção do que como regra.

Quanto à citação que o Aristarco faz, confesso que não conheço o contexto da mesma. É para interpretar literalmente? Qual o significado exacto de eunucos no devido contexto?


Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 23:41

Devo dizer que tem toda a razão. Concordo consigo quando diz: «a Igreja não obriga ninguém a ser padre, ninguém é obrigado a ser padre e o ser padre não é a escolha de uma profissão.»

Contudo, um padre não é um homem...? não é um ser humano...? não sente...?

é uma maquina..? é algum ser despojado de sentimentos...? Que eu saiba a Igreja-instituição não castra ninguem, por isso não tem eunucos no seu seio... Eu não tenho a certeza mas acho que esta é uma das citações biblicas mais usadas neste forum...

No entanto existe um lapso na sua citação, que gostava de saber se é intencional... Refere Mt 19, 10-12 mas não cita correctamente. Tendo em conta algumas diferenças podem ter a ver com texto ser de diferentes edições, outra não o é. No fundo só cita o versiculo 12 e não os versiculos 10 a 12.

« 10 Os discipulos disseram-lhe: se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se! 11 Respondeu Jesus: Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. 12 Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferencia dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do reino do céu. Quem puder compreender, compreenda.» Mt 19, 10-12

(nos versiculos anteriores Jesus esteve a falar sobre o matrimonio, o divorcio e o adulterio).

Como é obvio existem diferenças consuante a tradução e a edição, mas esta é a citação completa.

Jesus não incita à castidade, mas oferece um novo caminho facultativo ao matrimónio: a castidade. Mas o próprio avisa que nem todos são capazes de a atingir. É deste ponto que nasce as duas vias traçadas pela Igreja-instituição para o homem: o sacramento do matrimónio e o sacramento da ordenação. Agora, nenhum dos caminhos é desvalorizado, nem nenhum dos dois é preferencial para atingir o reino dos ceus. São dois caminhos, que se bem percorridos permitem atingir o reino.

Contudo, esta passagem é problematica ao nível interpretativo. Durante muito tempo, os eunucos e as mulheres estereis, não eram bem vistas pela sociedade judaica. A mulher esteril porque não poderia dar à luz o messias e o eunuco porque não podia ter filhos e não era natural ser castrado. Os filhos eram e ainda são considerados como uma benção de Deus para o povo judaico. É possível observar uma alteração desta forma de pensar antes da vinda de Jesus. (cf. Sb 13-15; Is 56, 3-5; contra Gn 16, 1-4; Dt 23, 2) E devemos ter ainda presente que nesses tempos eunuco não representava só os castrados, mas também os impotentes (cf. Mt 19, 12: «Há eunucos que nasceram assim do seio materno»). Não está a sugerir uma interpretação literal, pois não...? É perigoso porque essa linha de pensamento pode levar-nos a pensar que Jesus incita à castração... (Mt 19, 12: «há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do reino do céu»).

Portanto a mensagem de Jesus torna-se mais "revolucionária" se olharmos para o contexto social em que Ele a fez. Ao dizer que os que seguissem o caminho de não ter filhos e de não seguir o matrimónio, tambem se encontravam no caminho para Deus. Lembro-lhe que os eunucos não podiam assistir nem fazer parte da assembleia do Senhor (Dt 23, 2).

Assim não descontextualizando esta citação e lendo o que a antecede e o que a segue podemos interpretar que Jesus nos está a apresentar mais um caminho para chegarmos ao reino. Se hoje depois de 1600 anos de tradição celibataria o celibato ainda nos faz confusão, como não terá sido no tempo de Jesus, onde este era inclusivamente mal visto... Mas repito, mais um caminho e não o único caminho...

Um abraço

Miguel Dias

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: (IP registado)
Data: 19 de October de 2005 23:57

Obrigado pela contextualização, Miguel!

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 20 de October de 2005 00:29

Gostaria de acrescentar o seguinte:

1) Não concordo com a expressão «o celibato como uma limitação e uma violação da integridade do Homem», por diversas razões. i) porque conheço muitos padres para quem o celibato não é nenhuma limitação e é algo vivido como parte integrante da sua escolha de vida; ii) porque também muitos outros homens (religiosos) e mulheres (religiosas) o vivem de forma perfeitamente normal; iii) e porque mesmo os não celibatários (por exemplo, homens e mulheres casados) tem períodos de celibato (ausência em viagem, problema de saúde, gravidez de risco, etc...) e nem por isso há uma violação da integridade.

2) Muitas vezes, ao se querer acabar com a "obrigação" dos padres não poderem casar, quase que se obrigam todos a serem casados...

3) Concordo com a ordenação de homens casados. Ainda há duas semanas fui a um casamento celebrado por padre católico casado. Já não sei se concordo com o casamento de padres...

4) O papel da mulher de um padre pode variar conforme a situação. Quando conheci o Pe. Alexandre Bonito (ortodoxo), perguntei-lhe como era ser padre e ser casado, ao que me respondeu que não conseguia imaginar ser padre sem ser casado. No caso deles, a mulher é que se preocupa com as questões de organização da paróquia enquanto o padre se encarrega do acompanhamento pastoral da comunidade. Diga-se de passagem e falo por experiência própria, as mulheres são muito mais organizadas que nós homens.

Luís Gonzaga

P.S. Não resisto a uma pequena dose de humor: Não sei quem é a "primeira-dama" da paróquia. Do Paroquias.org a primeira-dama é a Susete e a segunda-dama a Madalena :-)

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 20 de October de 2005 01:10

Gostava de esclarecer uma coisa:

o que começou por ser um fio solto já se encontra neste momento como um grande novelo. [u]Eu não generalizei a todos os padres, nem quis condenar o celibato, fazendo dele todos os problemas que existem na Igreja.[/u]

o que eu escrevi foi: «Contudo, como já escrevi anteriormente ter um padre celibatario é ter um homem castrado ao nível emocional, o que [i]nalguns casos é como ter uma bomba relogio nas mãos!»[/i] (citação)

e depois o que eu escrevi foi: «A vocação ao sacerdocio está para além disso. Agora poderia concordar contigo se tu me dissesses que um celibato forçado pode provocar nalgumas pessoas essas incapacidades de relacionamento. Até porque a maior parte dos seminaristas entra no seminário muito jovem, nunca tendo uma experiencia efectiva de contactos e de experiencia de ligação com o sexo oposto (ou o mesmo sexo) ou com a vida em sociedade. Este sim talvez seja um dos principais problemas: A falta de experiencia de vida.» (citação)

Tive sempre o cuidado de não generalizar, pois conheço muitos padres, mas não todos. Luis conheço padres que admiro muito e que convivem de forma maravilhosa com o seu celibato. Mas também te posso dizer que conheço alguns e algumas (padres, reliogiosos e religiosas) que se encontram limitados emocionalmente, e uma das primeiras causas para essa debilitação emocional foi o celibato "forçado". E entenda-se que forçado não é coagido. Eu posso sentir vocação para servir o senhor e ser seu servidor e ao mesmo tempo a necessidade emocional de criar uma familia, ter filhos, amar um(a) homem/mulher... Contudo, estes dois sentimentos não deviam ser incompativeis.

Quanto ao facto de se um padre ja devia estar casado no momento da sua ordenação ou não, não sei. Não consigo perceber a diferença entre as duas situações, ou porque é que implicam uma diferenciação.

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 20 de October de 2005 02:33

varia coisas:

1 - Creio não ser correcto dizer que o celibato foi introduzido obrigatoriamente no seculo IV. Sei que o tema foi discutido no concilio de Trento e que o beato Frei Bartolomeu dos martires queria uma excepção para os padres da região do barroso. Alguem que conheça bem a historia da igreja que esclareça este ponto.

2 - interpretar a passagem em que Jesus diz que há homens que se fazem eunucos, ou seja que se mantem celibatarios e castos, por amor do Reino dos Ceus apenas como um reabilitar dos eunucos e impotentes parece um erro crasso. É antes um elogio da dedicação total ao Reino de Deus, na linha do conselho que Jesus dá ao jovem rico, deixa tudo e segue-me. Na sequencia desse episodio Jesus diz "todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome receberá 100 vezes mais e por herança a vida eterna"
Aqui Jesus apela ao desapego dos bens materiais, da nossa terra, da nossa familia, de tudo para o seguir.
Creio que o celibato que era um elemento estranho ao pensamento tradicional judaico mas depois dos elogios que Jesus faz ao celibato rapidamente se tornou popular entre os cristãos. Não creio que Jesus fizesse esses elogios nem que o celibato se tornasse popular se Jesus Cristo não fosse ele proprio um celibatario totalmente dedicado ao anuncio do Evangelho. Nem que S. Paulo elogiasse o celibato se Jesus tivesse sido casado. Francamente parece-me um disparate colossal tal hipotese.

3 - o celibato tambem pode ser proveitoso nalguem que tenha realmente vocação para tal mas tambem pode ser empobrecedor se entrarem para a vida religiosa sem verdadeira vocação para tal, algumas vezes por pressão dos pais. Existe no entanto algo que agrava os riscos do celibato, é que o modelo para o qual ele foi pensado creio que era em grande parte para a vida em comum de varios padres na qual a solidão não era problema relevante. Nem todos os padres têm vocação para monges.

4 - Li tambem que os protestante tambem têm dificuldades em encontrar vocações e aí não se coloca o problema do celibato nem da ortodoxia e conservadorismo.

5 - o estar casado e com filhos não impede ninguem de evangelizar. Ser padre não é a unica forma de servir a Deus. Que o diga o Luis Gonzava.
Estamos num tempo de vocações leigas e muitas das actividades que hoje são feitas por padres podem ser assumidas por leigos.

6 - Há o problema economico. Se actualmente muitos padres são criticados, nem sempre injustamente, por apreciarem demasiado o dinheiro se forem casados e com filhos podem estar seguros que ficarão muito mais preocupados com aquilo que ganham ou deixam de ganhar.

7 - Existe um risco acrescido de aparecem padres sem fé que apenas procuram um empregozito que lhes proporcione algum conforto. Padres que são padres porque o pai o era, assim como existem sapateiros que são sapateiros porque o pai o era. Este é um grande risco. Entre os anglicanos e anglicanos tem surgido polemicas ocasionais porque um bispo expulsa um pastor que declara publicamente que é ateu.

8 - No caso do padre ser casado a familia deste não é a representando do bispo. Apenas o padre o é. Logo o papel da mulher e dos filhos não me pareça que deva ser excessivamente relevante. Até porque o padre pode ser exemplar e a mulher e os filhos não o serem.

em jeito de conclusão parece-me que regra geral os padres deviam viver em comunidade e não isolados como actualmente. O abolimento da obrigatoriedade do celibato talvez devesse ser acompanhada de uma alteração do processo de escolha dos padres. Em lugar de ser apenas e só a voluntarização de um jovem geralmente aceite pelo bispo poderiam ser escolhidos entre os adultos que mostrassem mais vocação, disponibilidade e capacidade. Estes homens podiam ser depois apoiados enquanto estudavam teologia. É uma hipotese. Não sou contra o fim do celibato obrigatorio dos padres mas tambem lhe vejo alguns riscos.

Havia ainda mais pontos a considerar

Re: “A primeira-dama da paróquia”
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 20 de October de 2005 04:23

Desde já agradeço as vossas respostas.

Respondendo a algumas questões:

Ana – não se trata de gostar ou deixar de gostar, trata-se de estar preparado para lidar com a situação. Eu tenho a mania de que sou “uma mente aberta”, mas confesso que este assunto me faz confusão, pois também eu tenho resistências à mudança! E foi exactamente por isto que coloquei este tópico. Por um lado, para analisar de outro ângulo, não só as minhas, mas também as resistências à mudança de outras pessoas.

È simples de compreender. Repara muitas vezes em conversas entre amigos, sobre este tema, verifico que há muita gente a achar injusto, violento, “uma daquelas coisas em que a Igreja tem de evoluir….é medieval” ou então “uma hipocrisia”. O problema é que quando confrontados com a realidade têm dificuldade de se colocar em situações hipotéticas, mas passíveis de serem realizadas.

Não estamos também nós aqui a correr esse risco?! Até que ponto cada um de nós está preparado para estas mudanças.

Fala-se muito de padres, celibato, liberdades, direitos das mulheres, mas quase sempre em abstracção, o que por si só é redutor. Projectarmo-nos no tempo e no espaço imaginando determinadas vivências dá-nos uma dimensão bem mais real. Por isso o meu repto foi no sentido de explorar as consequências daquilo que muitas vezes defendemos aqui no fórum.

Espero que tenham gostado!!!!!!


Miguel D

Neste tópico, refiro-me sempre ao celibato obrigatório a que os presbíteros diocesanos estão obrigados, em caso algum coloco a questão do celibato religioso. Pois essa prática religiosa é uma opção que deve ser respeitada.

Aqui coloco outra questão que gostaria de ver explicada. Qual é diferença entre religiosos e não religiosos quando na prática estão obrigados aos mesmos princípios de obediência, pobreza e castidade?

Já agora aprofundo este ponto que alguém levantou…(mais uma dúvida!!!)…, porque é que a sociedade aceita com mais facilidade os votos de castidade na ordenação religiosa do que na ordenação presbitéria? Na prática só durante os primeiros 400 anos de Cristianismo é que se verificou o casamento de padres. Passados tantos anos porque há tanta dificuldade em aceitar a situação?

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