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Re: Fé e mito...
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 16 de June de 2005 00:06

Caro Miguel (Rmcf),

Nem por acaso, o livro que ando a ler 101 Questions and Answers on the Bible, de Raymond E. Brown, fala precisamente nisso «Q. 23. Surely scandalizes people to hear that not everything told us in the bible happened literally.» (p. 32). O autor cita o caso dos reis Magos para ilustrar que embora haja razões sérias para duvidar da historicidade literal do relato dos reis Magos em S. Mateus, ele considera errado, pedagógica e teologicamente, alguém afirmar peremptoriamente que tal não aconteceu. Mas não significa que tenha que se insistir na interpretação literalista da Bíblia. O importante é transmitir a mensagem do texto. Decerto que o autor não tinha a intenção de relatar historicamente a existência de três reis magos, mas de que os gentios vieram adorar Deus, mesmo recorrendo às escrituras hebraicas para saber exactamente onde ia nascer o Rei dos Judeus.

No caso de Moisés, mais importante do que saber se existiu ou não existiu, é compreender o que o relato do Êxodo nos diz. O facto de Moisés não existir não vai abalar a minha fé, nem a interpretação que faço do texto sagrado. Pensemos por exemplo nas parábolas de Jesus: existiu o filho pródigo? Seria necessário existir para compreendermos aquilo que Jesus Cristo nos quis dizer com essa e outras parábolas?

Porém, não concordo com Régis Debray quando diz que "a Bíblia é uma mentira". Isto pode dar um título bombástico e abertura de alguns telejornais, mas decerto que desviará a atenção do que é importante.

Assusta-me a reacção daqueles para quem o avanço dos estudos bíblicos, só é válido depois de validado pelo Vaticano, e se apontem logo razões daVincianas para o efeito. O Código Da Vinci teve alguns méritos e deméritos. Um deles foi o de apagar, ainda mais, o papel de Maria Madalena. Ouvi noutro dia numa homília algo que para mim foi novidade: segundo aquele sacerdote, Maria Madalena já não foi a primeira testemunha da ressurreição de Jesus Cristo! Aliás, fez questão de vincar que tinha sido S. Pedro a primeira testemunha. Como se não bastasse, para se referir ao facto de Jesus aparecer a primeira vez, referiu-se «às mulheres», não citando o nome de Maria Madalena, não fosse isso ser a prova de que as teses de Dan Brown estavam, de facto, correctas!?!

Só vejo uma solução isto: incentivar fortemente a leitura frequente da Bíblia. Espero que depois do ano do Terço e do ano da Eucarístia, proclamados por João Paulo II, agora Bento XVI proclame o ano da Bíblia, aproveitando o quadragésimo aniversário da Constituição Apostólica Dei Verbum.

Luis Gonzaga

Re: Fé e mito...
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 16 de June de 2005 00:58

Desculpa a brincadeira Luis, mas parece mais util ler uma história dos Irmãos Grimm,tipo Branca de Neve.
É que daqui a nada, ninguem na Biblia sabe o que é verdadeiro e o que é figurado, o que parabolico etc.
Aliás a propria Biblia contradiz-te Luis. Na epistola de São Pedro, o autor sagrado diz que nenhuma parte da biblia é de interpretação particular, porque nao foi escrita particularmente. Cabe á Igreja - para quem a Bilblia foi escrita - inspirada pelo Espirito Santo, interpretar rectamente a Sagrada Escritura. Não se trata de ter a chancela do vaticano. Trata-se do reconhecimento da Igreja do que é a verdade.
A Igreja Ortodoxa não tem dogmas, não precisa deles. Porque na liturgia bimilenar se proclama aquilo que toda a Igreja acredita. Qualquer Ortdoxo sabe que Nossa Senhora está no Ceu. Cantam-no na Liturgia diariamente. Não precisam de um dogma. A Igreja toda proclama a verdade revelada.
Longe vao os anos 70 em que a teologia biblica, inspirada pelo protestantismo alemao, e pelos metodos histórico-criticos, vieram por em questão a historicidade da biblia. Um dos maiores erros - que rapidamente foi ultrapassado pela exegese catolica - foi o de confundir ciencia com história. Na realidade a Biblia não é um conjunto de livros de Ciencias, nem procura sê-lo. Quanto á questão histórica a coisa muda de figura.
O JMA cita a Epistola aos Hebreus. Mas na dita epistola, em lado nenhum diz ser Paulo o seu autor. A tradição atribuiu a Paulo pelo estilo, e porque não vinha assinada. Diferente acontece com outras epistolas.
Durante muito tempo pensou-se que o Pentateuco teria sido escrito por Moisés. Em lado nenhun tal vinha escrito, mas pensou-se. Hoje sabemos que não o foi. Daí a afirmar que Moisés não existiu...... vai uma imensa distancia......
Ninguém o pode afirmar, principalmente uma Escola Biblica. Compete à História, nomeadamente á Arqueologia indagar tal coisa.
É um erro, e foi aqui dito, afirmar que Abrão Isaac e Jacob não existiram. Ninguem pode provar tal coisa. Os Patriarcas podem mesmo ter existido, e o mais provavel mesmo foi terem existido.
è muitissimo perigoso cada qual começar agora neste forum - por exemplo - a dizer o que é metafórico/alegorico, o que é literal, sob risco de criarmos uma religião intimista, subjectiva á minha maneira. É a antitese do ser -se catolico - isto é universal.
Nunca foi esse o sentir da Igreja, nem o é hoje.
Concordo com essa danbrownisação..... é que está na moda inventar-se coisas o mais estrombólicas possiveis.
Há pessoas que só acreditam e aceitam aquilo que vá contra o que a Igreja diz, basta ver o Mario da Lixa etc. O Leitmotiv é ser do contra.

Re: Fé e mito...
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 16 de June de 2005 06:45

"Longe vao os anos 70 em que a teologia biblica, inspirada pelo protestantismo alemao, e pelos metodos histórico-criticos, vieram por em questão a historicidade da biblia. Um dos maiores erros - que rapidamente foi ultrapassado pela exegese catolica - foi o de confundir ciencia com história. Na realidade a Biblia não é um conjunto de livros de Ciencias, nem procura sê-lo. Quanto á questão histórica a coisa muda de figura."

1 - A História não é uma ciência?
Apenas as ciências experimentais ou as ditas ciências exactas como a física, a química e a matemática ou a biologia são conhecimnto científico? As Ciências Humanas não são conhecimento científico, com metodologias específicas de investigação e construção de um corpo teórico sistematizado de conhecimentos?

2 - Mesmo que se tenha esta concepção da História como não Ciência , porque não se baseia em dados experimentais repetíveis em laboratório, a Arqueologia, a Paleontologia, a Antropopaleontologia, a Geologia, por exemplo são ciências puras, no sentido de utilizarem metodologias experimentais para construirem um corpo sistematizado de conhecimentos e que hoje recorrem á Física, à Bioquímica, á Biologia, à Química, à Informática, à Genética e até à Medicina Forense.
Compreender a origem da vida na terra e a evolução das espécies não é pura especulação religiosa ou filosófica - é conhecimento científico.

3 -- A questão das provas.

Existem os factos históricos.
Eventos que sabemos que sucederam porque existem provas físicas e materiais da sua existência (e não pura especulação filosófica /metafísica) como relatos documentais de toda a espécie, fontes que podem ser cruzadas e mesmo artefactos, objectos que experimentalmente podem ser e investigados no sentido de obter verdades históricas.
Por exemplo, sabemos que o faraó Tutankamon existiu, que D. Dinis foi rei de portugal, temos a certeza absoluta da existência de Júlio César...

Já sobre a existência de Ulisses ou outras personagens resultantes de narrativas épicas/mitológicas, não podemos afirmar científicamente a sua existência enquanto facto histórico.

E até podemos concluir, que, não havendo provas materiais da sua existência não correspondem a um facto histórico mas a um mito.


Ou seja, as provas, não servem para demosntrar que um determinado facto histórico / personagem históricamente situada não existiram.

O raciocínio é precisamente o contrário - presume-se a sua inexistência até prova factual , cientificamente válida que o demonstre.

Sobre a Bíblia é possível fazer a mesma análise,
Por exmplo, há provas da existencia de Póncio Pilatos ( facto histórico) e muitos indícios que permitem afirmara a existencia de Jesus de Nazaré ( facto histórico) ou de Caifás.
Já quanto a Abrão Isaac e Jacob ou Moisés não há provas da sua existencia.

Em termos de facto histórico, estão no mesmo patamar que o Hércules, Eneias, Sísifo ou Prometeu.

4 - Obviamente que a Bíblia não é um conjunto de livros de ciências .
Mas também não é um conjunto de livros de história....quando muito será um conjunto de livros de estórias... que pode ser objecto de análise histórica, como todas as fontes documentais cronologicamente situadas.

Re: Fé e mito...
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 16 de June de 2005 23:51

Caro Pe. João Luis,

Vamos por partes.

1. Os Reis Magos. Há umas semanas atrás falava com um colega de trabalho sobre religião, a fé cristã e a Bíblia. Ele não acredita em Deus. Não lhe chamaria ateu (porque não nega a existência de um Deus, mas parece-me que nunca se preocupou sequer sobre o assunto). Um dos exemplos que ele me apontou porque não acredita na Bíblia foi exactamente o episódio dos Reis Magos. Ele dizia-me «... quem é que vai acreditar que três indíviduos fazem não sei quantos kilometros de camelo, seguindo uma estrela no céu para dar uns presentes a um bebé, que não conhecem de lado nenhum. E que raio de presentes levavam: ouro, incenso, mirra???».

O que lhe respondi era que não lhe podia provar que os Reis Magos de FACTO existiram. Nem era esse o objectivo do autor bíblico. O importante é a mensagem que se retira desse episódio, que nem é de todo central da Sagrada Escritura.

2. Adão e Eva. Há umas décadas atrás, as pessoas foram ensinadas que Adão e Eva existiram como seres humanos. Claro. A ciência evoluiu e começa a considerar a hipótese da poligenese. Os estudos bíblicos também evoluiram e descobriu-se que afinal, se calhar, Adão e Eva, não existiram de FACTO. Pergunto: para uma pessoa que acredita e jura a pés juntos, pois assim lhe foi ensinada que Adão e Eva existiram, depois constata que de facto não existiram, que credibilidade vai dar ao resto que lhe ensinaram? Não começará a por tudo em causa? A minha resposta é que não façamos um cavalo de batalha daquilo que é acessório, e tentemos compreender o que o autor nos diz, para além do que está lá escrito.

3. «a interpretação que faço do texto sagrado». Acusas-me de estar em contradição com a doutrina da Igreja por eu procurar entender e dar significado ao texto sagrado. Pergunto-te então em que consiste a segunda etapa da Lectio Divina, a Meditatio?

4. «Cabe à Igreja [...] inspirada pelo Espirito Santo, interpretar rectamente a Sagrada Escritura.» Pergunto-te: não faço também eu (e tu, e todos os demais) parte dessa Igreja? Ou estarás a referir-te apenas ao Magistério, ou à hierarquia da Igreja?

Agora, outra questão ainda mais complicada :-) Se eu quiser saber a recta interpretação da Sagrada Escritura, pela Igreja, por exemplo, sobre episódio dos Reis Magos (Mt 2,1-12), onde o poderei encontrar? Poderei utilizar o The New Jerome Biblical Commentary (que tem o respectivo Nihil Obstat e Impimatur)?

5. Moisés existiu? Eu penso que sim. Acredito que sim. Alguém cujo nome aparece 719 vezes no Antigo Testamento e 79 no Novo Testamento, terá decerto existido. Ia dizer que seria até o nome do Antigo Testamento mais comum em toda a Bíblia, mas uma pesquisa mais apurada, diz-me que David (960) é mais utilizado, mas por pouco...


Para terminar, e aproveitando a "onda" de perguntas difíceis (não exclusiviamente para o Pe. João Luis): Rute existiu? e Job?
Aceito respostas do tipo "E isso é importante?" :-)

Um abraço,
Luis Gonzaga

Re: Fé e mito...
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 17 de June de 2005 00:18

Luis....
1 . Ao referir-me à Igreja, refiro-me à Igreja toda - daí a minha referencia aos Ortodoxos. Não é a hierarquia, do mesmo modo que não sou eu. Do mesmo modo que não é a Ecole Biblique. É a Igreja toda, da qual eu faço parte, e tu tambem.
Nãos e trata de Nihill Obstat. Trata-se daquilo que a Igreja toda acredita. Há materias que são do ambito da opinião, outras da verdade revelada.O que me preocupa é o clima de suspeita, inconcebivel na Igreja, em que tudo o que o magistério diz é para por em causa. O magisterio da Igreja é visto como um impecilho, uma tontisse do vaticano, que é apenas uma opinião - a do vaticano. Quando o Decano do Colégio Cardinalicio Josef Cardinal Ratzinger, na Missa Pro Eligendo Pontifice falava do maior problema do mundo contemporâneo que é o relativismo, referia-se a esta questão mesma. O que o Magisterio diz, em nome de toda a igreja não coincide com o que os catolicos pensam. Este é um erro imenso.
O magistério quando diz algo, é depois de ouvir muita gente, estudado muito, rezado muito, e quando parece haver certeza fala.
Não se pode na Igreja fazer esse tipo de dicotomias - o Magistério e a Igreja.
2. Não te acuso de nada - na Lectio divina sabes tão bem quanto eu, a meditacio não se refere à interpretação histórica daquilo que me parece ser o texto. No tema que refereres dos Reis Magos, - ou melhor dos magos vindos do oriente - mal vai o caso quando na meditacio me ponho à procura de razões para provar a sua exitencia real e a sua vinda autentica. Deixa de ser Meditacio e passa a ser trabalho de Arqueologia, investigar possibilidades de descobrir as suas ossadas - a tradição diz que estão enterrados em Colónia na Catedral. Este Agosto, quando lá estiver com o Papa, conto investigar o ADN das ossadas....
3. Rute e Job a existirem.... seria importante?????
Bom, quanto a Rute não sei, quanto a Job, a Igreja (aquela velha retrograda) pensa que não existiu como pessoa real.....
Contudo há uns anos conheci um Brasileiro chamado Job....e tenho uma Rute catequista na minha paroquia. O que prova que existem mesmo.

Re: Fé e mito...
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 17 de June de 2005 00:31

Certo, mas nesse caso, onde posso encontrar o que a Igreja, no seu todo, interpreta em determinado texto Bíblico? (a pergunta não tem rasteira...) Pergunto, porque, se por exemplo, falo com alguém, vamos supor uma Testemunha de Jeová, que me diz que determinada passagem quer dizer X. Eu penso que é Y, e, na dúvida, quero confrontar com o que me diz a Igreja. Onde posso procurar? Poderei utilizar um comentário bíblico que tenha a aprovação da Igreja (como é o caso do NJBC)?

Luis

Re: Fé e mito...
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 17 de June de 2005 00:54

Conforme já aqui foi dito, o monolitismo é proprio das seitas.....Não existe nenhuma versão oficial.......
Há uns meses um senhor perguntou-me se existia um dicionário de pecados.....Claro que não.
Contudo se ajudar, as notas e introduções da Biblia dos capuchinhos está muito boa, e claro as da Biblia de Jerusalem.

A Bíblia: Fé e mito...
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 15 de May de 2006 13:20

Ora se a Bíblia é um mito, quer dizer que Cristo que citava a Biblia (o chamado Antigo Testamento) também é um mito.
Se Cristo é um mito, todo o cristianismo é um mito.

Qual é a minha linha de orientação.
As Sagradas Escrituras (A.T.) têm credibilidade para mim porque também tiveram credibilidade para Cristo. Cristo credencia o chamado A.T.
Por sua vez as escrituras credenciam o cristianismo, na medida em que esse cristianismo é fiel às mesmas.
Também sei que houve glosas acrescentadas em algumas partes, mas a crítica tem-nas detectado. Portanto não devemos ser cegos, mas também não devemos ser cépticos.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

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