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Onde estava Deus?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 03 de January de 2005 11:04

Antes de mais quero desejar um bom ano de 2005 para todos os meus "colegas" do forum.

Depois da catástrofe natural que aconteceu à mais de uma semana no sudeste Asiático, à qual por números actualizados de hoje (3.Jan.2005), vai já em 145000 mortos, e que nos deixou a todos perplexos e chocados com tamanha catástrofe, pergunto:
Onde estava Deus para permitir que tal acontecimento natural ocorresse? Porque é que aconteceu logo numa zona do nosso planeta onde existe tanta pobreza e miséria e que portanto o número de mortos é muito maior ?

Peço desculpa a todos desta minha pequena questão, mas ainda não me refiz de tal acontecimento.



«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 03 de January de 2005 18:36

Do caos e da morte duas notas positivas:

Uma solidariedade à escala global. As ONG estão já no terreno com voluntários de todas as nacionalidades e os donativos vão-se multiplicando, numa escala nunca antes vista.
Um impulso colectivo de ajudar as vítimas, a necessidade premente de interajuda , uma espécie de despertar para a interdependência que todos temos uns com os outros e que ultrapassa raças e credos.


As imagens de satélite das ondas a esmagarem a costa lembraram-nos da forma mais intensa a nossa fragilidade face à natureza e de como são ainda incipientes os nossos recursos para a controlar.
A imprevisibilidade e o caos fazem parte da vida e talvez se assista aqui a um despertar de consciências à escala global no sentido de preservar a Natureza de não esgotar os seus recursos e de preservar o ambiente.
O modelo actual de desenvolvimento, o urbanismo desenfreado e a sobrepopulação estão exaurir o nosso planeta.
É bom que nos lembremos disso.

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 03 de January de 2005 20:41

Caro Fernando,

A tua mensagem surpreendeu-me. Não por ser uma questão nova, mas por teres sido tu a colocá-la. Como teu amigo, considero-te um homem de fé. Um crente. E, normalmente, vejo este tipo de questões a serem colocadas pelos menos crentes.

Respondendo à tua questão "Onde estava Deus?", penso que Deus estava onde sempre esteve: no meio do seu povo. Entre os homens e as mulheres. Muito provavelmente, ouvindo as preces dos seus filhos que lhe pedem "venha a nós o vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no Céu". Talvez Deus lhes tenha feito a vontade e, se não foi possível trazer o reino de Deus aos homens e as mulheres, muito provavelmente, levou os homens e as mulheres para o seu reino.

Não fiques a pensar que toda a tragédia no sudoeste asiático não me impressionou, nem me tocou. Sim. Tocou-me muito. Não pelas mortes ou pelo seu número elevado (de entre todas as vítimas, os mortos são os que estão melhor), mas por todos aqueles que têm familiares próximos desaparecidos, amigos, conhecidos. Em especial aqueles que perderam filhos ainda crianças pequenas.

"Onde estava Deus?" perguntas tu. Vendo os movimentos de solidariedade que surgem em todo o mundo, atrevo-me a pensar que talvez Deus estivesse mesmo naquela onda gigante, pois quem, se não Deus, era capaz de nos acordar desta sonolência que acompanha a humanidade nos últimos tempos? Prevêm-se perto de 150.000 mortos e o mundo acordou. Mas quantos já não morreram, em guerras, mesmo em terramotos (há um ano no Irão) e nós nada fizemos? Quantos morrem diariamente à nossa volta depois de terem vivido uma vida com pouca ou nenhuma dignidade humana, e nós, o que fazemos? Se calhar, foi preciso uma onda gigante para nos acordar de um sono não mais pequeno.

Quanto à tua segunda questão, se calhar tinha mesmo que ser naquele lugar para ter o impacto que teve. Ou talvez não. Segundo dizia um especialista, parece que o Oceano Índico e Pacífico são mais propícios a este tipo de tsunami que o Atlântico (embora no terramoto de 1755, Lisboa também tenha tido o seu maremoto).

Espero que este movimentos de solidariedade não fiquem aquém do previsto, como aconteceu no passado.

Caro Fernando, como tu e eu sabemos, a nossa vida e muito mais frágil do que geralmente nos apercebemos, e quase nunca temos a noção que antes de ser "nossa", é de Deus.

Utilizando uma ideia da homília do Cardeal Patriarca D. José Policarpo, no Dia Mundial da Paz, a Evangelização será o elemento decisivo na construção da paz e de um mundo melhor.

Um abraço,
Luis

P.S. Estamos a preparar uma notícia com a informação sobre as organizações internacionais que estão a fazer recolha de fundos para ajudar as vítimas. A informação sobre a Cáritas já se encontra disponível.

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Sandra Isabel (IP registado)
Data: 06 de January de 2005 17:36

Caro Fernando,

Como disse o Luís, Deus estava mesmo naquela onda gigante... Foi Ele que fez tudo isto para nos dar um valente abanão... para nos acordar do nosso egoísmo, da nossa mediocridade.
É pena que Deus tenha que ter agido desta forma para nos acordar... mas o nosso sono era tão profundo, que só com um abanão deste tamanho, Deus nos consegui acordar.

Confesso, estava doente desde a véspera de Natal, e só pensava, se não conseguia recuperar a tempo, não conseguia ir fazer a Passagem do Ano como tinha programa... Quando vi estas notícias na televisão, caí em mim, e pensei: “ Que egoísta! Eu preocupada com a minha constipação que não passava, e naquele local, tanta gente que já não ia ter Passagem do Ano, e os sobreviventes, os que mais sofrem, iam passa-la sem alegria, sem família...”
Depois uns dias mais tarde deparei-me com este movimento todo de solidariedade, e compreendi o porque de Deus ter feito tudo isto...
Por isso Fernando, Deus sabe sempre o que faz... às vezes faz-nos sofrer, para bem de outros, neste caso para bem da humanidade.

Um Abraço

Sandra

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 01:15

Eu penso que é preciso ter cuidado com o que se diz ou com o que se defende... Deus não estava certamente naquela onda gigante... não pelo menos como agente deste desastre... que raio de Deus mataria 150 mil pessoas, para dar um abanão????

Deus estava, isso sim, junto dos que morreram, dos que perderam tudo, dos que viram os seus familiares a morrer... e hoje está lá... continua lá... não sei se de forma mais presente do que antes... mas agarda-me pensar, que certamente de forma ainda mais amorosa do que antes, se é que isso é possível... ;-)

Deus sopra também na onda de solidariedade que se gerou... não porque tenha sido esse o objectivo dele e por isso teria enviado o maremoto; mas porque Deus age neste mundo, mesmo nas coisas más e naturais, para as mudar e torná-las boas; para fazer surgir o bem mesmo nas situações de conflito ou de aflição... é essa a potência de Deus...

Abraço

Miguel

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 10:14

Concordo com as palavras do Miguel (rmcf). Iria Deus provocar tantas mortes e devastação apenas para nos sacudir??!!! Que ideia horrível!

Ao ver a dimensão da tragédia dá vontade de perguntar porque é que Deus não a terá evitado ou minorado! Mas provocá-la????!! Não é essa a imagem que tenho de Deus e da mensagem que Jesus nos trouxe.

Cassima

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Sandra Isabel (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 11:34

De certa forma a Cassima tem razão... mas então como vemos as guerras? Os desastres? As nossas doenças?
Deus tem um plano para cada um de nós... Deus estabeleceu a nossa meta... e quando a atingirmos... Chegamos ao fim da nossa estadia na Terra e vamos para um lugar que ninguém conhece mas que todos imaginamos à nossa maneira, limpo de maldade, cheio de amor...
Não terá sido o plano que Deus traçou para aquela gente? Como diz o Luís, os mortos neste momento estão bem melhor que os outros... que nós! Os que morreram, com toda a certeza estão junto do Pai, ajudando a que os que ficaram cá sejam mais humanos, mais amigos uns dos outros, espalhando o amor no coração dos homens!
É duro ver as imagens, é durou ouvir dizer que um filho foi arrancado dos braços da mãe pela força da água.... Mas não é duro ouvir dizer que caiu um míssil, que matou centenas de pessoas? E o que fazemos? Ficamos indiferentes! Não reagimos! Não nos juntamos para ajudar! E porque? Porque nos achamos com a razão! Porque achamos que só com a guerra vai deixar de haver guerras! Puro engano! As pessoas que são vítimas de uma guerra, nunca tem culpa! Mas nós não nos juntamos, não fazemos campanhas de solidariedade... e que culpa eles têm?? Também são países muito pobres!
Espero do fundo do meu coração que esta onda de solidariedade e de consternação, se mantenha não para este caso em particular mas para muitos que todos os dias se passam, e que muitas das vezes nos passam ao lado!
Deus está sempre connosco! Nós às vezes é que ignoramos a sua presença!

Abraços

Sandra

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 14:04

"mas então como vemos as guerras? Os desastres? As nossas doenças? "

Eu vejo as guerras como resultado de acções puramente humanas, os desastres como consequências de actos da natureza ou do homem e as doenças como o resultado de um desequilíbrio no nosso corpo provocado por diversos agentes (vírus, bactérias, ...). Em todas estas situações o Homem tem a sua intervençao, quer para fomentar quer para combater. Não concebo uma guerra, um desastre ou uma doença como castigo de Deus. Em todas esses acontecimentos Ele pode-nos ajudar a ultrapassá-los, mas se Deus é Amor, como poderá Ele provocá-los?

Um abraço

Cassima

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 19:22

Eu acho completamente extraordinária a afirmação de que "os mortos estão melhores que nós"...

È uma afirmação chocante e um insulto pra os que morreram e as suas famílias...

Será a morte melhor que a vida?

Então a vida nada vale.....

ESte tipo de discurso não dá mesmo para perceber...

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 19:25

Não acredito que deus utilizasse um maremoto e o aniquilamento de centenas de milhares de pessoas com o propósito de "acordar" quem quer que seja... Seria um deus muito cruel... e os "acordados " com um visão bastante narcisista sobre o mundo....

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 07 de January de 2005 19:26

"Os que morreram, com toda a certeza estão junto do Pai"... Será ???

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 10:57

A proósito das "questões teológicas" levantadas por este horror, um artigo de J.P Coutinho no Expresso desta semana parece-me uma lúcida abordagem.


" Um maremoto na àsia ceifou 150.000 vidas ( provisório) e o mundo mergulhou na dissertação teológica. Onde está deus nas horas de aperto? Que espécie de divindade permite o horror absoluto? Inevitável. as tragédias naturais têm sempre o condão de distribuir diplomas de teologia pelos profissionais do sentimento.
(:::)
É impossível controlar uma natureza incontrolável; mas as 150.000 almas que morreram na àsia, morreram também e sobretudo devido á pobreza , ao isolamento e ao autoritarismo de Estados que mergulharam os respectivos povos numa miséria primordial e fatal."
As notícias mais recentes sobre a forma como as populações no terreno estão abandonadas á sua sorte, as dificuldades quase instransponíveis enfrentadas pelas ONG para fazerem chegar assitência e produtos de primeira necessidade ás pessoas, a falta de inffraestrututras de saúde para a maior parte da população, a par dos mais luxuosos hospitais, onde o ex-libris são as intervenções cirúrgicas estéticas e as cirurgias de mudança de sexo, o turismo sexual de tipo pedofilo apanágio dos destinos turísticos mais afectados.....

"Exagero?
Basta ler. De acordo com a Cruz Vermelha, quando um destasre natural ocorre num país em desenvolvimento, em média, 598 pessoas morreram, quando ocorre num país desenvolvido, a média desce para uns "aceitáveis" 21. "
Detectar, avisar, evacuar - três verbos que exigem dinheiro, transparência política e abertura económica.
Tudo ao contrário do que aconteceu no Ìndico: o maremoto foi detectado no exterior, as autoridades locais foram avisadas, mas a pobreza de meios e a ganância turística impediu a ecvacuação possível".

E termina assim "Deus é um luxo quando os homens são uma miséria."

Deus é um luxo dos ricos .


Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 17:18

A propósito... Um artigo de Frei Bento Domingues.

Alef


A Voz do Silêncio e da Solidariedade


1. Alexandra Prado Coelho falou com crentes de cinco religiões acerca da tragédia da Ásia. Nenhum dos interrogados atribuiu o maremoto a um castigo divino (cf. PÚBLICO, 5/1/2005).

Ainda bem. O silêncio e a solidariedade, perante uma catástrofe de tal dimensão, são as únicas atitudes que respeitam a transcendência de Deus e a dignidade dos seres humanos.

Até há poucos anos, os mestres do egoísmo, solidamente instalados numa confortável apologia da finitude, defendiam que gozar a vida no máximo dos seus prazeres era o único sentido que a existência humana podia ter. Para este culto da finitude bem sucedida bastava a imersão na corrente da vida de uma natureza generosa. Qualquer alusão a um mundo de infelicidade ou a sinais do sagrado, a interrogações de pendor metafísico ou religioso eram restos de superstições condenadas a desaparecer.

Acontecimentos inesperados obrigam-nos a parar e a escutar a voz do silêncio. É preciso ir mais longe e mais fundo do que as solidariedades pontuais, por mais urgentes e indispensáveis que elas sejam. A catástrofe não foi um castigo de Deus, mas pode ter sido o castigo da falta de preparação e equipamentos para escutar os sinais da natureza (cf. Costas Synolakis, PÚBLICO, 2/2/2005).

2. Não se ganha nada em instrumentalizar ou em esquecer a religião. A explosiva situação actual exige novo discernimento.

Conta Frédéric Lenoir, director de "Le Monde dos Religions", que nos finais dos anos 80 do século XX, quando começou a trabalhar no meio editorial e na imprensa, o fenómeno religioso não interessava ninguém. Hoje, de múltiplas formas, a religião invadiu os "media". O século XXI está a configurar-se sob a influência crescente do "facto religioso" com duas expressões de carácter muito diferente: uma resulta do abrupto despertar identitário e a outra situa-se no âmbito da busca de sentido.

O despertar identitário atinge as dimensões do planeta. Nasce no confronto de culturas, de novos conflitos políticos e económicos que mobilizam a religião como emblema e bandeira de um povo, de uma nação ou de uma civilização.

A procura de um sentido para a vida desenvolve-se sobretudo no Ocidente secularizado. Os indivíduos ultramodernos instalados na finitude e consolados de iguarias terrestres foram sempre uma minoria. Os outros viviam das promessas da ciência e da política embarcadas na ideologia do progresso. Nem todos conseguem iludir as perguntas sobre a origem, o sofrimento e a morte. As grandes tradições sapienciais, religiosas, místicas e esotéricas são, de novo, revisitadas e interrogadas. A linguagem mítica, simbólica e ritual retomou o seu fascínio.

F. Lenoir observa, com argúcia, que o despertar religioso, nas suas duas vertentes - a identitária e a espiritual -, evoca a dupla etimologia da palavra religião: recolher e religar. O ser humano é um animal religioso porque tem o olhar voltado para o "céu" e questiona o enigma da sua existência. Recolhe-se no silêncio para escutar e acolher os seus apelos. Mas também é religioso quando procura ligar-se aos seus semelhantes através de um laço sagrado suspenso de uma transcendência.

A dupla dimensão do fenómeno religioso - a vertical e a horizontal - existe desde a aurora dos tempos. A religião foi um dos principais fermentos do nascimento e do desenvolvimento das civilizações. Produziu realidades sublimes: a compaixão activa dos santos e dos místicos, as obras de misericórdia, as mais sublimes expressões artísticas, valores éticos universais e até o brotar das ciências. Mas na sua versão endurecida e pervertida alimentou e legitimou guerras e massacres.

O próprio extremismo religioso revela-se em duas vertentes. O veneno injectado na dimensão vertical é o fanatismo dogmático ou o irracional delirante. É a patologia da certeza que pode levar os indivíduos e as sociedades a todas as loucuras em nome da fé.

O veneno injectado na dimensão horizontal é o comunitarismo racista, a patologia da identidade colectiva.

A mistura das duas doenças resultou na caça às bruxas, na Inquisição, nas guerras de religião, no assassinato de Itzhak Rabin, no 11 de Setembro e na Guerra do Iraque.

Perante as ameaças que elas representam, alguns observadores e intelectuais europeus são levados a confundir as religiões com as suas deformações e acabam por ampliar aquilo que pretendem combater. Frédéric Lenoir tem razão: não se poderá vencer o extremismo religioso sem reconhecer o valor positivo e civilizador das religiões, aceitando a sua diversidade. Mas é igualmente preciso ir à raiz dos males que explicam o sucesso actual da instrumentalização terrorista e política do fenómeno religioso: as desigualdades Norte-Sul, as dimensões monstruosas da miséria e da injustiça, o desprezo das identidades.

São precisos mais de três minutos de silêncio para escutar a voz misteriosa da natureza, dos homens e de Deus. O ser humano é o único animal capaz de compaixão, de solidariedade e de conversão. O encontro ecuménico de Taizé - um dos maiores acontecimentos europeus aberto ao mundo realizado em Lisboa - revelou no longo silêncio, no canto, no diálogo de povos que ainda recentemente se guerreavam, que onde aumenta o perigo, pode crescer a salvação. Hoje - na festa do Baptismo de Cristo - o céu proclama o seu amor pela terra (cf. Evangelho de Mateus, 3,13-17).

Por FREI BENTO DOMINGUES, O.P.
«Público», Domingo, 09 de Janeiro de 2005

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 21:40

Caro Miguel (rmcf),

Concordo com o que dizes. Deus não criou aquela onda, matando milhares de homens, mulheres e crianças, independemente do propósito que se considere. Todavia, Deus esteve (e está) próximo das vítimas, dos que morreram, e dos que hoje lutam pela sobrevivência.
Deus está também presente naqueles que, na medida das suas possibilidades, têm contribuido para a onda de solidariedade.

A imagem que tentei transmitir é que, uma onda tão solidária a nível mundial como eu não tenho memória, só poderia ter origem num chamamento de Deus. Não acredito num Deus mítico que castiga o homem, qualquer que seja a razão.

Luis

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 21:53

Cara Catolicapraticante,

Quando escrevi que de entre todas as vítimas, os mortos são os que estão melhor, escrevi-o porque acredito que quando morrer, se Deus assim entender, irei ter com o Criador, e, que nessa altura sentirei a felicidade e amor total. Por esse motivo, não vejo a morte como um fim, como o aniquilamento como algo de mau ou errado.

A morte é uma etapa necessária da minha vida, e da vida de todos. Não é um fim. É um até já. Tento sempre lembrar-me que a minha vida, antes de ser minha é de Deus, e por esse motivo, é Ele que decidiu quando ela começou, e quando ela há-de terminar.

Perguntas "Será a morte melhor que a vida?". Não. Não creio, mas tenho a certeza que a vida para além da morte será melhor que esta vida que agora vivemos.

Luis

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 11 de January de 2005 09:04

O mal está presente na natureza, no nosso pensamento, nas nossas acções.
Mas Deus quer que combatamos o mal com o bem...
Deus está onde se cumprem os seus mandamentos e a sua vontade...
Porque é que o mal e a violência fazem parte do processo existencial e coexistem com tanta beleza e harmonia presentes por toda a parte?
Poderemos então dizer que o bem é uma força maior que todos os males que nos afligem, porque se não fosse assim o cosmos não seria possível.

*=?.0

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 11 de January de 2005 10:26

Ontem deparei-me na minha leitura semanal de um dos meus blogs favoritos, a resposta que mais se aproxima daquilo que é o meu pensamento e interpretação que faço dos factos ocorridos no sudeste Asiático. De seguida vou transcrever literalmente o escrito pelo seu autor e que deixo aqui à vossa consideração, está muito bom, parabéns e obrigado ao seu autor pois conseguiu transmitir precisamente o que penso.

"
Deus e o tsunami

Em tempos de catástrofe como os que vivemos, a pergunta pelo seu sentido é inevitável. Não tanto com o jeito provocador ou intelectualmente desonesto com que foi colocada por alguns ateus da blogosfera, mas sobretudo como interpelação. Como é possível a catástrofe se Deus é bondade? Que omnipotência é a deste Deus que assiste à morte de inocentes? São questões que sempre foram colocadas ao longo das gerações. Quando soube pela primeira vez da tragédia, lembrei-me da "Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya" de Jorge de Sena:

(…) Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
– mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhe foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".

A sensibilidade faz com que a própria fé vacile: como é possível tanta destruição? Também eu, quando olho este horror "hesito por momentos". Neste caso nem se coloca a questão de saber se "serão ou não em vão" – numa catástrofe natural todo o sofrimento é vão. Daí que a questão do sentido seja ainda mais difícil de responder. Encontramos sentido no sofrimento que é escolhido por compaixão; encontramos sentido no sofrimento que custa a luta por causas. Não encontramos sentido no sofrimento involuntário de inocentes. O mistério prevalece. Mas falemos dele.
A História tem um sentido? Os crentes acreditam que sim. Acreditam que "tanta dor, tanta angústia, um dia / não hão-de ser em vão". E acreditam que esse sentido não é ditado pelos capricho de nenhuma divindade, mas que é construído pelas pessoas. O Deus dos cristãos não é o relojoeiro universal ou o artista de marionetas. É um Deus que dá toda a liberdade às suas criaturas, inclusive a liberdade de fazer o mal. Se isto vale para as pessoas, para a natureza aplica-se o mesmo princípio: Deus não intervém directamente. Se fossemos panteístas acreditaríamos que a natureza é Deus e portanto era Ele (ou Ela) mesmo responsável pelo maremoto que aconteceu no Sudeste Asiático. Para os cristãos a Criação não se confunde com o Criador.
O quer dizer então a afirmação da omnipotência de Deus? Ou a célebre expressão de que Deus é "O Senhor da História"? Há tempos, andávamos nós a discutir a omnipotência de Deus e publiquei um excerto roubado ao João Bérnard da Costa: «Os acontecimentos são-nos incompreensíveis porque queremos julgá-los imediatamente, antes de lhes conhecermos todos os prolongamentos e consequências. Mas para Deus não há o "imediatamente" (...). Há o tempo todo, todo o passado, todo o presente, todo o futuro. E é isso que é terrível. "O mais terrível do mundo".»
O Timóteo respondeu-me a dizer que não acreditava em nenhum "Deus de longo prazo" e explicou mais tarde que não acredita na omnipotência de Deus. Ou pelo menos que não acredita nela como é normalmente entendida. A minha única divergência é a seguinte: para Deus não há prazo. "Há o tempo todo, todo o passado, todo o presente, todo o futuro". Eu acredito que nesse tempo todo há um horizonte de esperança que começa no nosso mundo. Esse horizonte de esperança não se impõe como uma tirania da felicidade. Não impede o sofrimento, nem mesmo aquele sofrimento para o qual não encontramos sentido. E isso é verdadeiramente terrível, como a catástrofe no Índico nos mostra. Porém, é simultaneamente o que funda a nossa autonomia – a resposta de Deus ao sofrimento humano não é manietar a liberdade ou violar as leis físicas.
Talvez a acção de Jesus nos possa ajudar a compreender um pouco melhor: «[Em] Jesus Cristo (…) a luta contra o sistema social não é feita com todos os exércitos celestes, pondo tudo na ordem a partir de cima. Jesus age como um ser humano, por sinal filho de um carpinteiro de Nazaré, um dos pobres do tempo. Não fazia parte dos senhores religiosos nem dos senhores da economia. Só poderia ter agido como ser humano marginal. Como é que um marginal pode lutar contra a situação? Gritando, como Jesus fez, e juntando-se às vítimas. O que resulta daí? Aquele que grita com as vítimas e que se faz vítima com elas, é vitimado até ao extremo. A conclusão, na cruz é a conclusão dessa opção pelos marginais, por parte do próprio Jesus Cristo. Ora Jesus Cristo, o filho de Deus, é o próprio Deus, o que significa que esta opção pelos marginais é uma opção do próprio Deus. É Deus que, na linha do Antigo Testamento, se faz pobre com o pobre, até ao ponto de ser sofredor com os sofredores, até ao ponto de sofrer o máximo do sofrimento. Por isso se diz que Ele assumiu as consequências da injustiça humana. Note-se que a solidariedade para com as vítimas não significa que agora sejamos todos vítimas: até Deus é vítima, mas tudo continua na mesma. Esta opção por se fazer vítima com as vítimas é altamente denunciadora da situação, orienta-se no sentido de a superar. É aqui que se manifesta o máximo do amor de Deus e da opção pelos pobres no Novo Testamento: um Deus que se permite ser vitimado pelas suas próprias criaturas.» (João Duque)
O desfecho deste Deus que se deixou vitimar é sobejamente conhecido. Mas vale a pena lembrá-lo, nas palavras de Bento Domingues: «Jesus nada tinha a ver com a morte, com a separação entre os seres humanos. Deus ressuscitou-O. É a vingança de Deus. Ele não perde memória das vítimas de desumanidade.» A Sua resposta ao sofrimento e à injustiça foi mostrar-nos que eles não terão a última palavra, dinamizando-nos para vivermos mais de acordo com o projecto de Amor.
Onde fica então a omnipotência da intervenção divina? Fica nos gestos de todos os que são solidários e são capazes de compaixão. A acção de Deus ou do Bem na história é a nossa acção iluminada pelo Seu projecto de salvação: «Temos toda a responsabilidade uns pelos outros, e como tal não devemos ter um minuto de descanso! Simultaneamente devemos admitir que, fazendo o máximo, não somos nós que fazemos. Deus não intervém directamente na realidade. A Sua intervenção na realidade é a nossa intervenção, na consciência de que a transformação não é obra do ser humano. Quando nos reconhecemos inúteis no que fazemos, nunca nos consideraremos de senhores da nossa acção, senhores do mundo.» (João Duque)
Recentemente o Timóteo publicou uma frase de João César das Neves que resume bem esta ideia e me parece ser a forma correcta de encarar a intervenção divina: "Sem a fé do homem, o Deus omnipotente fica inoperante." Acredito que neste momento Deus sofre com todos os que choram na Indonésia, em Sumatra, no Sri Lanka, na Tailândia, na Índia, nas Maldivas, na Malásia, na Birmânia, no Bangladesh, na Somália, na Tanzânia e no Quénia. Sofre na Sua omnimpotência. A resposta do crente não é "insondáveis são os caminhos de Deus", como se Ele tivesse toda a responsabilidade pela História. A responsabilidade última pela nossa História é de cada um de nós. E para dizer isso mesmo, acabo com a continuação do poema com que comecei:

(…)
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram. "

Zé Filipe ([terradaalegria.blogspot.com])

«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 13 de January de 2005 23:30

Sugiro a quem interesse este tema que agende o próximo dia 24 pelas 21H30.
"Afinal onde está Deus" - visão franciscana da recente catástrofe e da universal resposta solidária.
Com o Pe Joaquim Carreira das Neves, o Pe Manuel da Costa Freitas e o Pe Vitor Melícias.
No Centro Cultural Franciscano.

João (JMA)

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: trento (IP registado)
Data: 14 de January de 2005 11:03

Eu tenho sempre o mesmo problema, sou de Aveiro o que impossibilita a minha ida para tão interessante debate, que pena.
É o mal de se viver fora da Lisboa :(

Fico a aguardar comentários de quem por lá passar ... façam esse serviço público, por favor.

«Que a paz esteja convosco»
Fernando Cassola Marques

Re: Onde estava Deus?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 14 de January de 2005 12:12

Vamos ver se algum deles escreve a intervenção, como o fez o Pe. Carreira das Neves quanto à do "Código da Vinci".

Mais uma vez, farei de "crava"...

João (JMA)

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