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Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 11 de October de 2002 08:11

Há exactamente 40 anos o Papa João XXIII abria as janelas de uma Igreja que teimava em transformar-se num castelo afastado da realidade do mundo, caída no formalismo, assustada com o modernismo, minada pelo espírito de desconfiança (o medo do Santo Ofício)...

Quando nada o faria esperar eis que um papa velho e bonacheirão faz o impensável e convoca um concílio, contra as muitas vozes dissonantes...

É curioso que os que nascemos já bem depois do Concílio nem notamos como a Igreja pós-Conciliar, sendo a mesma, é "outra". É por vezes visitando websites dos tradicionalistas e sedevacantistas que me dou conta da "revolução copernicana" que aconteceu com o Concílio. Não que se tenha feito uma "Igreja nova", mas que se renovou muito a Igreja que tínhamos; não tanto porque se trouxe novidade, mas porque se renovou muito do que estava adormecido na bruma do tempo. Não foi só a mudança do latim para o vernáculo que marcou este Concílio, mas também a nova consciencialização dos leigos como membros activos na Igreja, o realçar da colegialidade dos bispos, a abertura clara ao Ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, a atenção às igrejas locais, etc., etc.

Há certamente muito a fazer. Numa altura em que muitos reclamam um novo Concílio, para discutir temas tão importantes como a pastoral familiar e sexual, o celibato e a ordenação das mulheres, importa dizer também: ainda falta cumprir o Vaticano II... O apostolado dos leigos ainda anda coxo, as liturgias ainda são descaracterizadas, as conferências episcopais mal sabem qual é realmente o seu papel, os padres ainda não perceberam exactamente a sua identidade...

Quantos católicos no nosso país sabem o que foi o Concílio Vaticano II? Dos que já ouviram falar, quantos sabem o que é/foi? Dos que sabem do que se trata, quantos já leram algum documento?

E já passaram 40 anos...

Shalom!
Alef

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 11 de October de 2002 16:27

Assisti ontem a uma conferência na Universidade Católica designada "Concílio actual ou ultrapassado"que foi excelente.

O Dr. Carlos Moreira Azevedo explicou o tema com uma grande clareza e de forma muitissimo interessante.

(Que diferença dos habituais discursos de outros Professores Universitários monocórdicos e estilo Vallium!)

Aliás merece um grande aplauso esta iniciativa da UCP de um conjunto de 9 conferências sobre o tema "Vaticano II: 40 anos depois - 1962-2002".

Aconselho os interessados no tema a não faltarem à próxima a realizar no próximo dia 04 de Novembro com a designação "As fontes bíblicas nos documentos" (documentos do Vaticano II, entenda-se) em que será orador o Dr. Robson Cruz.

Os interessados poderão ver o programa em www.ucp.pt/ft

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de October de 2002 17:27


Eu queria ir a essa conferência mas não consegui comparecer...

Será que podes fazer um resumo alargado, João? :o)

Alguém sabe se existe na Internet algum resumo daquilo que foi exposto, as conclusões, etc.? Seria muito bom ler com alguma profundidade o que foi dito...

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 12:20


João,

O orador da conferência tinha como suporte um texto escrito dividido em dez temas. Eventualmente a FT poderá vir a publicá-lo – seria uma óptima ideia.

Tentei fazer algo semelhante a um resumo alargado, mas como não tirei notas, verifiquei que o que estava a escrever tinha a ver com a minha interpretação do que ouvira e não objectivamente com o que fôra dito, pelo que só agora passo a responder, e pelo exposto que aceitem este meu texto com reservas – pois a alternativa era não poder responder.

Apenas posso salientar algumas ideias sem ordenamento e MUITO SUBJECTIVAS, do que foi dito:
a) tentativa de agrupar as reacções ao Concílio – como foi a recepção do Concílio pelos diversos grupos:
dos que não o receberam (lefebvre e similares),
dos que o receberam mas numa perspectiva de saudosismo e tentaram travá-lo ou que regredisse,
dos que o receberam plenamente
dos que o consideraram positivo mas ainda insuficiente
b) “congelamento” de algumas ideias conciliares;
c) insuficiente conhecimento pela Igreja dos resultados do Concílio e dos seus documentos;
d) insuficiente resposta da participação dos leigos na vida da Igreja;
e) “clericalização” de muitos dos leigos activos;
f) afastamento voluntário de muitos leigos que consideraram que o processo não avançou o suficiente;
g) ainda não foram aproveitadas todas as potencialidades do Concílio;
h) o Concílio representou ainda uma atitude Eurocêntrica tendo sido dominado por correntes renovadoras principalmente europeias, que contrastam com a actual falta de dinamismo da Europa nesta matéria e com o fortíssimo dinamismo das Igrejas Sul Americanas e Africanas;
i) o Concílio representa uma actualização para o momento em que foi realizado;
j) o Concílio é ainda hoje fonte (quase) inesgotável de elementos de renovação para a Igreja de hoje.

Salienta-se a coragem do Papa João XXIII em avançar com o Concílio contra as muitas forças conservadoras que o desaconselhavam, o grande momento que foi o Concílio e a sua imensa importância para a Igreja de hoje, o avanço significativo e o impulso que o mesmo deu à Igreja, as suas ideias ecuménicas.

Em suma:
O Concílio foi importantíssimo: uma tremenda evolução na Igreja
Ainda não se encontra aplicado na totalidade
Nestes 40 anos que passaram já foram levantadas questões suficientemente importantes para um novo Concílio.

Mais uma vez relê as minhas advertências supra ...

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 15:27

Obrigaodo JMA pelo teu relato.

Todavia, fico com uma dúvida: Se os presentes na conferência concordaram que o Concílio Vaticano II ainda não está totalmente aplicado (na minha opinião ainda nem a meio vamos...) como é que se justifica um novo Concílio?

Luis

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 16:54

Luís,

É igualmente minha opinião que ainda não houve uma aplicação de uma boa parte das ideias conciliares e o orador disse-o expressamente - o termo "congelamento" aplicado a algumas ideias conciliares é dele.

Foi também pacífico que o Concílio constitui fonte para a renovação / actualização da Igreja.

Porém, a realidade da Igreja e do mundo alterou-se muito nestes 40 anos.

Aliás uma expressão utilizada foi que é muito bom que os documentos - quaisquer documentos - tenham datas.

Ora, os documentos conciliares, nalguma medida ( e apenas nalguma medida) reflectem o momento em que foram escritos.

Apenas dois aspectos como exemplo:
1 - Como saberás melhor que eu existem teologias diversas consoante a sociedade de onde emanam. O Concílio foi baseado particularmente na teologia "europeia" se assim a podemos chamar.
O que contrasta com a actual realidade.
2 - Outra questão que é possível um avanço mais significativo: o Ecumenismo (a proposta dos diversos patriarcados, por exemplo).

A questão da necessidade de um novo Concílio não foi defendida, mas sim levantada para reflexão.

Eu, com o que ouvi, concluí pela necessidade de um novo Concílio. Outros terão concluído diferentemente.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 16:59

Uma nota:

É errado chamar ao Concílio "Vaticano Segundo".
Deve chamar-se "Segundo Concílio do Vaticano".
A primeira designação é um erro de tradução do latim.
(é inútil tentarem discutir comigo esta questão porque não percebo nada de latim).
Também aprendi isto na Conferência.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 17:31

Sim, compreendo esta nota, embora também não perceba nada de latim. Mas Vaticano há apenas um. Logo, a existir um segundo Concílio no Vaticano, será mais correcto dizer "Segundo Concílio do Vaticano". Ao falar de um "Vaticano segundo" pode entender-se que existem dois Vaticanos.

Mas penso que de uma forma geral as pessoas entendem quando se fala em Vaticano II.

Luis

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 17:42

Sim, concordo contigo no que diz respeito à evolução do mundo e da sociedade nos últimos 40 anos. E consequentemente a Igreja foi-se alterando.

Sem querer fazer futurologia, talvez quando houver vontade de ambas as partes e houver condições de terminar com esta cisão das duas Igrejas irmãs, o Papa (seja ele qual for), convoque o próximo Concílio e, queira Deus, que consiga ser plenamente um Concílio Ecuménico. Onde a Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa Grega voltassem a ser uma e a única Igreja de Cristo. Talvez com este passo, algumas das Igreja Cristãs separadas no tempo da Reforma pudessem talvez voltar ao seio da Igreja de Cristo.

Por outro lado, e referindo-me apenas à Igreja Católica, de facto continua muito "europeia" e muito centrada no Vaticano. Temos de ter em conta que hoje em dia, já não é na Europa onde se encontram o maior número de católicos, mas sim na América Latina. A manter este peso europeu na prática e vivência da Igreja, penso que se tem cada vez mais uma maior distância entre a Igreja e a maioria dos católicos (os povos da América Latina).

Luis

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 18:48


Interessante foi ainda o facto de não se ter propositadamente respondido à questão colocada no título da conferência - Concílio actual ou ultrapassado.

Uma imagem apresentada foi a de que uns o ultrapassaram por um lado, outros o ultrapassaram por outro, outros por cima, outros ainda por baixo, mas poucos lhe alcançaram o cerne.

É uma imagem cómica mas que descreve uma situação lamentável.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 19:31


Lamentável...

Bem, todas as renovações levam o seu tempo a efectivarem-se. Mas é extremamente difícil que resultem quando o discurso é ambíguo e mais ainda quando não existe um esforço claro de que a mensagem chegue bem a todos.

Ora, à altura do Vaticano II (ficaria melhor II Vaticano? mas em mais nenhuma citação de concílios se escreve assim, portanto...), os leigos, para além de muitos serem iletrados senão mesmo analfabetos, também não estavam de modo algum atentos aos discursos pontifícios. Com uma mudança tão grande e uma tal incapacidade de a acompanhar fidedignamente, não admira que a situação que herdamos hoje seja a que se vê!

Existe uma grande necessidade de reevangelização, agora que a Igreja já tem os meios para fazer chegar claramente a mensagem a todos, além de conhecer o impacto de todas aquelas reformas profundas, dirigindo melhor o discurso.

João, agradeço a tua colaboração; foi mais que suficiente! ;o)

Mas já agora: a "única" Igreja de Cristo, embora todas estejam mais ou menos unidas entre si por fazerem parte do corpo místico, é aquela que "preside à caridade" (Sto. Inácio de Antioquia, séc. II), a Igreja de Roma e as comunidades locais unidas a ela. Falando de plenitude eclesial, ela não existe verdadeiramente se à cabeça da comunidade não estiver aquele que estava à cabeça do primeiro colégio apostólico, S. Pedro. Tal é o desígnio eterno de Deus.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 19:35


Já agora, aquela "ambiguidade" deveu-se em grande parte à definição da infalibilidade papal e aos cuidados de articulação entre essa definição e os esforços ecuménicos...

Aconselho este artigo que explica esta doutrina essencial e tão específica para toda a Cristandade:

[www.lepanto.org.br]

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 20:01

Ai, ai, ai... Cuidado com o site da Lepanto: muita política de extrema direita mascarada de religião...

Depois poderei explicar, mas agora não parece vir a propósito.

Alef

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 20:11


:o)

Eu sei, Alef! Estava para fazer um reparo a esse respeito, mas não achei necessário, se o leitor se restringir à leitura do referido artigo.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 23:27

Uma questão que me causa alguma estranheza é para onde terão ido os movimentos europeus de leigos que dinamizaram muitas das questões na altura do Concílio e que o acolheram entusiásticamente.

Cansaram-se? Desmotivaram-se? Ou estou enganado e estão activos sem que eu os identifique?

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Ana paula (IP registado)
Data: 23 de October de 2002 11:41

Muitos desses movimentos foram "apagados" por uma atitude retrógrada que caracteroizou a Igreja nas tas últimas décadas.
Basta ver como é a Catequese de hoje...

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Ana paula (IP registado)
Data: 23 de October de 2002 12:06

Quanto á política de extrema direita tem estado sempre presente nalguns discursos, de forma insidiosa ou expressa.

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 23 de October de 2002 12:42

Ana Paula,

Não estou de acordo que a Igreja tenha tido nas últimas décadas uma atitude retrógrada.

Pelo contrário, demonstrou uma enorme capacidade de regeneração com o Concílio e desde o Concílio.

O facto de haver muito por fazer na aplicação das ideias conciliares, não impede que muito mais, quantitativa ou qualitativamente tenha sido feito. O Alef dá na mensagem inicial um panorama do muito que já foi realizado.

Aliás o facto de estarmos neste fórum a debater esta e outras matérias tem tudo a ver com a abertura provocada pelo Concílio.

Foi a todos os níveis notável que uma estrutura que mexe com mais de um bilião de seres humanos, tenha cortado com o imobilismo e se tenha regenerado. Conhece outra com esta dimensão que o tenha feito?

Se me permite a sugestão, e caso tenha possibilidade disso, acompanhe as conferências sobre o "Segundo Concílio" do Vaticano (nunca mais me habituo a escrever desta maneira) na Universidade Católica. A próxima é dia 04 de Novembro, pelas 18H00, no edifício da biblioteca sobre "As fontes bíblicas nos documentos" (do Concílio).

Acredite que vale a pena.

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 23 de October de 2002 16:53


João, penso que esses movimentos de renovamento, criados até antes do Vaticano II (deixa lá, podes continuar a escrever assim como forma abreviada!) permanecem hoje naqueles verdadeiramente retrógrados (opinião subjectiva...) que continuam a bater o pé em questões relativas a um sacerdócio mais inclusivo. Faz sentido, porque continuam a ter razões para protestar e que certamente já faziam parte dos seus planos antes do Vaticano II. Entretanto, fundiram-se movimentos antigos noutros, criaram-se outros com uma missão específica mas vão todos na mesma linha de reivindicações, a saber: um sacerdócio aberto tanto a homens casados como a mulheres, como a homossexuais (e também bissexuais e transsexuais); uma renovação e actualização da forma como se encara a sexualidade (admitir condutas homossexuais, bissexuais e transsexuais como normais); uma remodelação da forma como se encara o matrimónio e passar a encarar a solubilidade do mesmo (divórcio) como normal e não motivo para privação dos sacramentos; uma maior democratização da influência dos leigos na tomada de decisão na Igreja (precisamente para promover o que já citei); entre outros assuntos menores. Alguns querem até retirar grande parte da importância ao Papa, reduzindo o seu ministério a um serviço simbólico.

Ou seja, são consciências liberalizadoras que de católico têm muito pouco... Senão, dariam mais importância, compreensão e prestariam mais obediência às justas decisões do Magistério. Quando provam não o fazer desde já, então também não o farão mesmo que conquistem os seus objectivos São ideologias que vêm muito mascaradas de "amigas do povo" e vão conquistando adeptos em iniciativas muitas vezes populistas e mediáticas. Até porque ouvir um padre a dizer que é contra todo o tipo de privações (invocando muitas vezes o nome de Deus para tal - mas que Evangelho é que eles andam a ler...?) certamente que conquista adeptos entre o povo.

Em Portugal, é comum ouvir vozes a protestar contra Fátima. Mas infelizmente também é comum exagerarem completamente nas suas críticas e estenderem-nas a domínios muito pouco legítimos nem verdadeiros. É comum os argumentos que apresentam serem preconceituosos, apontando a Igreja como "pouco democrática", "hipócrita" e "retrógrada".

Por exemplo, temos cá um Pe. Salvador Cabral e um Pe. Mário de Oliveira, que são bem conhecidos pela sua actividade editorial e literária. Padecem contudo de um radicalismo que usa tantas e repetidas vezes de argumentações falsas para "pôr a Igreja a mexer". Exageram-se e adulteram-se conteúdos relativos a assuntos morais como se fosse mesmo o que eles dizem o que é afirmado pela Igreja, invocando tantas e tantas vezes a teoria de que ainda estamos a viver os preconceitos de séculos passados. Tudo preconceitos da parte DELES, que não se preocuparam em ler atentamente o que a Igreja nos diz realmente sobre, por exemplo, a sexualidade! :o) D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo emérito de Braga, parece-me também ser um homem tão liberal quanto pode... E como eles há tantos outros... Fazem parte da "old-school", frustrada com anos de luta interna por uma "renovação" muito mais abrangente do que a que nos trouxe o Vaticano II.

Penso que estes grupos são não só contraproducentes nas suas tentativas de liberalização sacramental, mas também obstáculos à unidade ecuménica (que curiosamente tanto promovem) e à correcta edificação do povo de Deus, que deve ser confirmado na fé. Ou seja, fazem a Igreja arrastar-se e transmitem uma imagem de que ela está dividida internamente, que não sabe muito bem em que é que acredita, o que é falso. Tal só se verifica pela falta de amor, entendimento e obediência. Assim, penso que sejam eles os verdadeiros retrógrados, até porque continuam a lutar por batalhas perdidas que não se lutam como eles o fazem. Até porque, como muitos deles já fizeram, isso só os levará, afinal, a serem excomungados devido à formação de comunidades apóstatas e até ordenações não autorizadas...

Contudo, apraz-me ver que da minha geração para trás os jovens tendem a ter uma visão mais consciente e elucidada em relação a todas estas questões. Acolhem da Igreja uma autenticidade e firmeza que já não vêm em lado nenhum, compreendendo que é algo de muito especial e único. É dessa visível autenticidade, que vêm tão criticada por todos, que lhes vem o sentimento de devoção, de entendimento de que Deus é a resposta plena para tudo quanto são e querem ser, nada havendo de mais verdadeiro. Enternecidos por este "bom combate", decidem, não sem reticências e incapacidades, fazer parte dele. Ainda que possam achar algo diferente sobre, por exemplo, a ordenação de mulheres, respeitam tal decisão porque vem do Papa, a quem tanto amam. E é este amor que falta a todos os tão veementemente e intolerantemente vociferam contra a Igreja.

Entretanto, houve muitos que ficaram satisfeitos com as conclusões do Concílio e ainda que pudessem ter uma visão diferente em certos assuntos, empenharam-se eclesialmente na prossecução do reavivamento suscitado por ele. Não foi necessário formar "movimentos" para tal, mas foram criados secretariados e deu-se a integração dos serviços necessários. Daqui também podemos ver quem é que realmente quer mudanças para puderem trabalhar mais e quem apenas quer "liberalização" para exigir menos à sua consciência e tornar-se popular entre os homens. De facto, estes que tanto acusam a "hipocrisia" da Igreja são usados mediaticamente para serem eles os verdadeiros mentirosos e hipócritas (não sempre, mas frequentemente...).

Penso que este é um retrato bastante justo desta situação pós-conciliar que vivemos e estou seguro que o que falta não é um novo Concílio, mas uma renovada capacidade de todos e cada um dos católicos de se deixarem tocar espiritualmente pelo chamamento ao serviço. Para isso é necessário uma recuperação e divulgação das riquezas espirituais e filosóficas de pessoas como as dos Padres da Igreja e personalidades tão marcantes quanto Sto. Inácio de Loiola, Sta. Teresa de Ávila, Sta. Teresa do Menino Jesus, S. João da Cruz, S. Francisco de Sales, Sta. Catarina de Sena, Thomas Merton, Henri Nouwen, John Henry Newman, G.K. Chesterton, John Main, Laurence Freeman e tantos, tantos outros...

Se nos preocupássemos tão somente em amar a Deus e servir os outros em Igreja, tantas controvérsias terminariam, de um dia para o outro...

Já agora, confirmem a insensatez e completa rebeldia (e falsidade) do que estes polemicistas dizem:

[planeta.clix.pt]

Vejam só isto, por exemplo:

« Esta palavra faz parte do Editorial do Jornal Fraternizar n.º 147, relativo ao trimestre Outubro/Dezembro 2002. Nesta edição, o Destaque vai para a "santinha de Balasar", a quem certos clérigos quiseram fazer santa à força! Simplesmente horripilante! E nas páginas centrais, incluímos, como Documento, uma reflexão desmitificadora sobre o Natal, com o título: Natal: as mentiras das Igrejas! Vejam só este resumo a abrir: "Ao obrigá-lo a nascer e a morrer todos os anos, as Igrejas fizeram de Jesus, filho de Maria e de José, uma espécie de clone do mítico deus-mor dos cultos politeístas do Paganismo". Boa leitura. E não deixem de reagir. »

E ainda vêm estas pessoas dizer que "amam a Igreja"... Vejam lá é se ganham juízo, digo eu... É que já caiem no absurdo do ridículo. :o(

João

Re: Vaticano II: uma lufada de ar fresco na Igreja, há exactamente 40 anos!
Escrito por: Ana paula (IP registado)
Data: 23 de October de 2002 19:01

A questão da Igreja ser retrógrada talvez não seja correcta. A Igreja é que sempre teve alguma dificuldade de se adaptar á realidade, á mudança. Ora o mundo mudou mais nos últimos cinquenta anos do que nos dois séculos anteriores... E os desafios que hoje se colocam à humanidade exigem da igreja uma renovação. è preciso abrir as janelas da Igreja, deixar entrar um ar fresco... Clarificar as questões que, como afirma frei bento Domingues, contribuem para descredibilizar a Igreja e afastar as pessoas do ideário evengélico.

ana

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