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"A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 14 de October de 2004 11:00
Bom dia
Um dia destes na Livraria Bulhosa vi um livro de título "A verdadeira história de Jesus" de E. P. Sanders.
Vinha pedir-vos a vossa opinião sobre este livro e o seu autor. Obrigada.
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 11:46
Amigos
Não há mesmo ninguém que me possa dar umas luzinhas sobre este livro ou o autor??
Pleeease! :)
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 13:49
Cassima:
Não li o livro que referes, mas, se bem me lembro, Sanders é um dos nomes importantes do chamado “Jesus Seminar”, um grupo que muito contribuiu para o enriquecimento do tratamento da questão do Jesus histórico. Creio que o seu principal contributo está na busca de reconstruir aquilo que seria o judaísmo da época de Jesus e da primeira geração de cristãos.
A única referência em Português directa sobre este livro encontrei-a no «Jornal de Notícias»: «"A verdadeira história de Jesus", de E. P. Sanders, tenta, e bem, responder a uma questão fundamental -o que se pode saber, com rigor histórico, acerca de Jesus. É uma obra aliciante para cristãos e não cristãos. Vale pela fidelidade às fontes que falam de Jesus» ([ jn2.sapo.pt]).
O tema do Jesus histórico é apaixonante, embora muitas vezes complicado. Já foi tratado por uma enorme quantidade de teólogos, desde Bultmann a Schillebeeckx, para citar apenas dois grandes nomes, um protestante, outro católico. Como dizia, este tema é complicado e encontramos facilmente as posições mais díspares. Suspeito que o livro que referes seja bastante sério, possivelmente algo técnico, mas acessível. Tanto quanto pude ver, E.P. Sanders é irlandês, Professor na Duke University (EUA), com vários títulos publicados (ver a sua “Autobiografia intectual” clicando aqui (formato PDF)). Na revista ecuménica “ Theology Today” aparece um artigo, que não tive tempo de ler, mas que indico. Creio que trata sensivelmente o mesmo tema do livro Jesus in Historical Context. Se tiver tempo, lerei o artigo e poderei dizer algo mais.
Podes ver algo mais sobre a questão em:
- [ www.airtonjo.com]
- [ www.airtonjo.com] – uma breve descrição bibliográfica sobre a questão do Jesus histórico
- Dada a imensidão de bibliografia sobre o assunto, para poupar espaço, sugiro, se houver, interesse, uma “googladela”, com palavras-chave como “ Jesus histórico”...
Alef
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 15:57
Alef,
É bastante informação a que arranjaste e estive a dar-lhe uma vista de olhos: parece que vale a pena ler o livro!
A minha intenção era exactamente saber se o livro/autor seriam honestos, no sentido em que desenvolvem o tema sem puxarem a brasa para a sua sardinha - ou seja, as crenças individuais de cada um.
Comecei a ler a autobiografia intelectual e gostei do estilo dele. Tem uma escrita fácil de ler e muito viva!
Fico a dever-te um favor! :)
Bem-hajas
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Maria (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 18:38
Ultimamente li o livro " Jesus Cristo" MIchel Quesnel. Alguém conhece ? Mais ou menos interessante ...
É um livro que aborda esse tema. Vou ler este que o Alef indicou.
Maria
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 23:13
Cassima,
Para além da enorme e útil informação que o Alef já partilhou, resta-me sugerir-te uma pesquisa no Amazon (ou no seu novo motor de pesquisa: A9, por "EP Sanders historic jesus"), pelo original em inglês, e tentares recolher mais informação.
Se não estou em erro, o livro é este: " The Historical Figure of Jesus", EP Sanders. Encontrarás diversos comentários sobre o mesmo. Pelo que pude ver, o livro tem boas revisões. Poderás também encontrar livros em segunda mão a preços convidativos (mas se quiseres comprar, sugiro-te o site da Amazon mas em Inglaterra, tens portes e taxas alfandegárias mais baixas - Amazon.co.uk).
Luis
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 19 de October de 2004 13:55
Obrigada, Luís!
Entretanto já fui comprar o livro. Como está exposto, embrulhado em plástico, não se manuseia tão bem para ler os dados que se fornecem sobre o livro e o autor. Na contracapa vem uma opinião de D. Januário Torgal Ferreira.
É pesado... Vou ter de o ler devagarinho... :)
Abraços
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 19 de October de 2004 21:30
Cassima,
Fiquei apenas com uma dúvida: se o título original é "The historical figure of Jesus", creio que a tradução portuguesa não é feliz: "A verdadeira história de Jesus".
Espero que o resto da tradução não seja do mesmo nível.
Luis
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 21 de October de 2004 09:52
Pois é Luís
O título original é mesmo "The historical figure of Jesus"! Na realidade, como dizes, o título em português não foi feliz, o que não é de admirar. Vem na senda de muitos outros. Só para exemplo (e completamente fora da área da religião...):
- O primeiro livro da "Saga das Ilhas brilhantes" de Juliet Marillier tem como título em português "O filho de Thor". O título original é "Wolfskin". E tudo isto só para o ligar à 1º trilogia da autora (Sevenwaters) em que os títulos eram todos "Filho de qualquer coisa"
- O filme "Indiana Jones and the Last Crusade" em português chamou-se "Indiana Jones e a Grande cruzada" e entre 'última' e 'grande' há uma diferença substancial... :)
- O filme "The 13th warrior" em português chamou-se "O último viking" e o 'viking' em questão nem era o último nem mesmo era viking... :))
E mais procurando, mais se encontravam... Como vês, faz parte de uma velha tradição editorial portuguesa! ;-)
Abraços
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Maria (IP registado)
Data: 22 de October de 2004 18:04
Já comprei o livro e ando a ler , é muito bom. Devia ser obrigatorioa nas escolas , assim era mais facil para as pessoas distinguirem entre o que foi feito pelo homem ( a tradição ) e aquilo que na realidade Jesus fez e ensinou.
Um livro muito bem escrito, de muito boa qualidade, se todos os cristãos se limitassem ao essencial ninguém discutia , a tradiação já não é o que era , só a Igreja é que teima em mantê-la. Será bom manter a tradição?
O tempo dirá . Tudo o que for do Homem desaparecerá , tudo o que for de Deus permanecerá.
Maria
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 25 de October de 2004 21:55
Ficamos a aguardar os vossos comentários sobre o livro.
Luis
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 24 de January de 2005 16:55
Ainda não acabei o livro :(.
Mas aí vão dois artigos que falam dele. Deveriam ser três, já que um deles, o de hoje, é uma resposta a outro do Público. Contudo não consegui aceder a essa edição... Já não está online, só em arquivo e não tenho utilizador.
Mas se alguém puder, de alguma forma, obter o artigo do Vasco Pulido Valente, ficava o conjunto mais completo.
Cassima
DN edição de 24 Jan 2005
[ dn.sapo.pt]
Cristo, a História e a polémica
Ojoão
césar
das neves
professor Vasco Pulido Valente comentou recentemente ("Um Mau Sintoma", Público, 14 de Janeiro) um texto meu ("A Falsa História", DN, 3 de Janeiro). Não costumo entrar em polémicas, pois acho que a imprensa não é assunto de si própria. Faço uma excepção pela importância do tema, a pessoa de Cristo.
Além disso, para um colunista obscuro, ser citado pelo professor Pulido Valente é sempre um facto memorável, mesmo se recorrente. Sobretudo quando elogia. O termo "ultramontano" refere-se apenas à fidelidade ao papa, que vive para lá (ultra) dos Alpes (montes). Conto a obediência filial a João Paulo II e ao meu bispo D. José, em união com ele, entre os meus poucos motivos de glória.
O aspecto em debate é a semelhança que tracei entre um romance, O Código da Vinci de Dan Brown, e uma obra científica, A Verdadeira História de Jesus de E. P. Sanders. Terá o meu texto, apesar de admitir a diferença entre os volumes, feito uma ofensa ao compará-los? Talvez. Mas não maior que a do professor, ao assemelhar-me a "uma paróquia do Minho em 1868" (ofensa à paróquia, claro!).
A Verdadeira História é "um estudo erudito e escrupuloso de um académico reconhecido", como diz o professor. Mas querem saber como foi construída essa "verdadeira história"? Sanders explica "Duvidamos daquilo que é demasiado compatível com a perspectiva dos Evangelhos e consideramos credível aquilo que é contrário às suas preferências" (p.128).
Ou seja, não sabemos, mas inventamos da forma mais oposta à Igreja. É como uma biografia de Eusébio feita para contradizer os benfiquistas. Este é o "método rigoroso".
Além disso, quando Sanders afirma "É possível que João tenha cometido o mesmo erro que os investigadores cristãos modernos" (p.353), revela bem a sua arrogância intelectual. Ao longo dos séculos estão todos errados, menos ele!
Não admira portanto que os resultados sejam abstrusos. Segundo o autor, Jesus não fazia milagres (p.186), "não era um pregador de arrependimento" (p.288), "não existe qualquer certeza de que Jesus se considerasse a si próprio como portador do título de Messias" (p.302) e "a ressurreição não faz parte da história do Jesus histórico" (p.344). Estes disparates, entre tantos outros, são baseados "cientificamente" em afirmações tão "eruditas e escrupulosas" como "Podemos pressupor que Jesus defendia perspectivas que se distinguiam completa ou parcialmente das dos evangelistas e que estes sobrepuseram, por vezes, a sua teologia à teologia de Jesus" (p.131). Debaixo da capa científica, Sanders insere convicções pessoais. Sendo esta alegadamente a "verdadeira história", os padres partem de aldrabices.
O livro de E. P. Sanders contém preciosas informações sociológicas, etnológicas, antropológicas e históricas, que são muito informativas e interessantes. Mas os dados objectivos vêm inevitavelmente misturados com hipóteses conjecturais, disfarçando estas por aqueles. Por isso mesmo é que o livro é perigoso, ao juntar investigação cuidada com componentes de ficção, ao nível de "romande de aeroporto". As elucubrações de Sanders, feitas a partir de elementos sólidos, não são a verdadeira história, por muito que o afirme. Aliás, ele é o primeiro a zurzir outros autores que fizeram o que ele faz, ao inventarem, por exemplo, que "não existiam sinagogas na Palestina" (p.134). Em breve alguém fará o mesmo às teses de Sanders.
Confiados na aura científica, estes estudos, cheios de incertezas e construções hipotéticas, são depois relatados como certezas definitivas. Como é que o professor Pulido Valente sabe que "João (não confundir com o apóstolo) nunca viu ou ouviu Jesus, nem nenhum dos discípulos que o acompanharam"? Falou com ele? Teve uma revelação? Ou simplesmente acreditou numa entre várias hipóteses elaboradas milénios após os factos e que muitos analistas contestam? Talvez tenha usado o mesmo método "científico" que lhe permite dizer, sem nunca ter falado comigo, que eu não admito "crítica, contradição, inteligência ou liberdade".
Editado 1 vezes. Última edição em 24/01/2005 16:57 por Cassima.
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 24 de January de 2005 16:59
DN edição de 3 Jan 2005
[ dn.sapo.pt]
A falsa História
joão césar
das neves
Professor universitário
Dois dos livros mais oferecidos neste Natal foram O Código da Vinci de Dan Brown (Bertrand, 2004) e A Verdadeira História de Jesus de E. P. Sanders (Notícias, 2004). Nas suas diferenças, incluem uma oculta característica curiosa a própria base de raciocínio destrói-lhes a veracidade.
Ambos partem do princípio de que os Evangelhos são falsos. A razão, que repetem sucessivamente, é que os textos bíblicos foram escritos por fiéis várias décadas após os acontecimentos, o que lhes retira credibilidade. Mas eles, escrevendo dois mil anos mais tarde com base em crenças modernas, é que julgam relatar com segurança «a verdadeira História» do que aconteceu. Seria ridículo, se não fosse triste, pois os dois, mas sobretudo o teólogo Sanders, têm pretensões científicas.
O que não dizem é que neste campo essa abordagem pouco ou nada tem a ver com a solidez da Física ou até da História.
Eles não conseguem provas científicas, em qualquer dos sentidos, das palavras «provas» e «científicas». Existe investigação séria e factos prováveis, mas depois combinados em especulações e construções hipotéticas que, mesmo quando escoradas em argumentos respeitáveis, não têm qualquer garantia da certeza de outros ramos intelectuais.
Nesta disciplina o trabalho de cada investigador é construir uma teoria para compatibilizar os dados disponíveis da forma mais plausível. Nas lacunas ou contradições, esquecem uns, empolam outros. Por isso há tantas. Se a sua doutrina convencer os colegas, a tese ganha chancela de «resultado científico». Mas no tribunal da História, como nos outros, a principal fonte válida é a afirmação das testemunhas. «Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro» (Jo 19, 35). Desprezando isso, para mais a milénios de distância, perde-se a verdade e entra-se na ficção.
Estas teorias sofisticadas têm fatalmente de ser quase só fantasia.
Isso vê-se bem quando é descoberto um novo elemento objectivo, normalmente em escavações arqueológicas, e vários «resultados científicos» voam em estilhas, mostrando que as suas certezas seguras tinham mais de certezas que de seguras.
A data dos Evangelhos, por exemplo, ainda há pouco considerada muito tardia, tem vindo a ser aproximada do tempo de Jesus à força de achados da arqueologia.
Além disso, a questão aqui não é histórica. O que nos interessa na personagem de Jesus é saber se fez milagres, se ressuscitou dos mortos, se é filho de Deus. Qual a escavação, análise textual ou experiência laboratorial que permite a certeza quanto a isto? A ciência, por definição, não entra nestes campos, como na determinação do melhor bolo-rei ou do vencedor das eleições. Aduzir resultados científicos nestas matérias é arrogância tonta.
Os dois livros são pois manifestos religiosos sob capa objectiva.
O Código da Vinci não esconde crenças gnóstico-esotéricas.
A Verdadeira História oculta uma fé cientifista. A hipótese de partida é que há um Jesus histórico, que não interessa se é Deus ou ressucitou. A sua «verdadeira História» é mundana e separável de questões espirituais e sectárias. Pode separar-se Mozart da sua música? O Marx histórico não é revolucionário?
Isto, além de ser mera convicção de fé materialista (onde está a prova?), mostra uma tacanhez de espírito nada científica. Estar fechado a outras possibilidades foi sempre o maior obstáculo à descoberta da verdade.
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 24 de January de 2005 18:32
Obrigado Cassima, tinha acabado de ler este artigo do Prof. João César das Neves, que considero muito lúcido. Como vês, Sanders "puxa bem a brasa à sua sardinha", uma teoria histórica desvirtuada de qualquer valor real quando se reporta ao que "entende" sobre o significado da "figura de Cristo". É precisamente essa perspectiva vincada sobre o baixo impacto que quer ver projectada dessa "figura de Cristo" no mundo actual que o faz passar do rigor e especulação arqueológica ao preconceito, suposição licenciosa e negligência.
No entanto, é um bom contributo contra as crendices que polulam por aí, do tipo "Jesus nunca existiu", "Jesus casou com Maria Madalena", "Jesus andou pela Índia na sua juventude e fugiu para lá sem ter nunca morrido numa cruz", etc... Mas, de facto, é uma análise tacanha perante a inegável grandeza que é, historicamente falando, esta "personagem", o Senhor Jesus.
Maria, devias olhar com maior rigor para a história da Igreja antes de fazeres esse tipo de considerações. Um crente facilmente considerará nela que a maior riqueza é a pureza dessa transmissão autêntica da Revelação de Deus em Jesus Cristo, preservada nas comunidades que possuíam reconhecida autoridade para ensinar. Sim, é bom manter a Tradição, e bastaria pensar no tempo que ela tem perdurado e em aturar o estudo de tudo aquilo pelo qual a Igreja passou para entender que vai permanecer perpetuamente, para a maior glória de Deus.
...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 24 de January de 2005 20:17
Cassima,
Desconheço qual a formação teológica de ambos, Prof. Pulido Valente e Prof. João César das Neves, para ler os seus textos como mais do que meras opiniões, de habituais colunáveis dos nossos jornais.
Sobre O Código Da Vinci a questão muda um pouco de figuras. Temos um artigo do Professor de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, Pe. Joaquim Carreira das Neves.
Luis
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de January de 2005 23:26
Já tinha lido os dois textos do João César das Neves e só a falta de tempo me impediu de lhe escrever pessoalmente, para lhe manifestar a minha completa discordância pelo seu texto. De resto, li-o a alguém que está a estudar Sanders, que ficou espantado com tamanha falta de rigor.
Não conheço suficientemente o Prof. César das Neves, mas ouvi várias coisas interessantes dele, pelo que estes textos me surpreenderam. Parece-me claro que nunca estudou Cristologia. Fico com a impressão que se deixou levar por uma pequena ratoeira, o título em português...
Enfim, «interdum etiam bonus dormitat Homerus».
Alef
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 25 de January de 2005 13:24
Na realidade, não faço a mínima ideia das posições religiosas do Vasco Pulido Valente. Não gosto de o ler, é sarcástico de mais para o meu gosto! Por isso, não dei conta do artigo dele de 14 de Janeiro!
Quanto ao João César das Neves também não sei qual é a formação religiosa dele, mas conheci-o aqui há uns anos, quando encontrei numa livraria um livro chamado "Parábolas sobre Jesus". Nunca antes tinha ouvido falar dele. Achei o título tão sugestivo que comprei o livro. Gostei muito e, por isso, fiquei com ele debaixo do olho, se é que se pode dizer assim. :) Comprei ainda os "Contos de Natal". Voltei a gostar muito de o ler! Mas quando li as "Crónicas do Céu", já não gostei tanto. Exprimia algumas posições com as quais não concordo. E o livro que escreveu sobre Fátima ("O século de Fátima"), ainda não o acabei de ler, porque não gostei muito.
As crónicas que escreve no DN vou tentando segui-las desde que li as "Parábolas sobre Jesus".
Relativamente à "Verdadeira História de Jesus", não posso comentar a posição dele, porque, como já disse, ainda não acabei o livro. Aliás, por motivos vários, interrompi a leitura no início e só agora a retomei. Talvez mais tarde possa compreender porque é que ele escreveu isso.
Já agora, Alef, o Homero está a dormir??? :))
O que significa «interdum etiam bonus dormitat Homerus»?
Um abraço
Cassima
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 25 de January de 2005 14:04
Cassima:
A frase é originalmente de Horácio ( Ars Poetica: «quandoque bonus dormitat Homerus» e teve depois muitas pequenas variações. Significa: «às vezes até o bom Homero cabeceia» (com sono, já se vê). As poesias de Homero estão feitas com uma contagem exemplar de sílabas longas e breves (hexâmetros, ou seis pés), de modo análogo (só análogo) que vemos nos nossos alexandrinos (aqui contam as tónicas na sexta e duodécima sílaba). Acontece que às vezes os textos homéricos têm pequenos erros. Coisa fácil: só a Odisseia tem um total de 12.000 versos hexâmetros! Neste caso aplica-se literalmente o «quandoque bonus dormitat Homerus», mas tem também um segundo sentido, mais amplo: de vez em quando até o sábio se engana. Pode ser uma forma "condescendente" de aceitar uma "argolada" de alguém que em geral nos merece crédito...
Alef
PS.: Um "link" sobre o verso épico (clicar).
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 04 de February de 2005 10:00
O prof Cesar das Neves fala do que não sabe.
Em primeiro lugar, para ele não deve existir história: "Mas eles, escrevendo dois mil anos mais tarde com base em crenças modernas, é que julgam relatar com segurança «a verdadeira História» do que aconteceu. Seria ridículo, se não fosse triste, pois os dois, mas sobretudo o teólogo Sanders, têm pretensões científicas."
Não podemos fazer história. Está proibido pelo "magister" Cesar das Neves...
Depois a história não interessa: "Além disso, a questão aqui não é histórica. O que nos interessa na personagem de Jesus é saber se fez milagres, se ressuscitou dos mortos, se é filho de Deus."
É à conta de disparates deste calibre que pululam aí as seitas e que são escritos livros como o "Código da Vinci". Porque alguns "pensantes" acham que não se deve investigar nada. Está tudo bem como está.
E quando aparecem escritos alucinados como os dos Templários refugiam-se no "isso é tudo disparate". Mas sem dizerem porquê. Também como o poderiam dizer se não sabem?
Para não analisar os dados históricos subjacentes ao Evangelho o melhor é nem sequer pensar. Será que foi escrito por um "professor"???
Depois demonstra o maior desconhecimento dos critérios de crítica histórica: "Sanders explica "Duvidamos daquilo que é demasiado compatível com a perspectiva dos Evangelhos e consideramos credível aquilo que é contrário às suas preferências" (p.128)."
O "prof" se não sabe do assunto, pergunte a quem sabe. Outro "prof" da sua Universidade por exemplo. Evitava disparates deste calibre.
Uma das formas de se encontrar a veracidade histórica do que se encontra relatado nos Evangelhos é precisamente a de considerar em princípio como verdade histórica tudo aquilo que seria visto como estranho à mentalidade judaica da época, onde os apóstolos se encontravam inseridos. O caso da samaritana, o fariseu e o publicano, a mulher adúltera, o sábado para o homem, etc.
"a ressurreição não faz parte da história do Jesus histórico" - claro que a ressureição não faz parte da História, disciplina científica, mas da História da Salvação, questão teológica.
Quando contrapomos o Jesus histórico ao Cristo da Fé (e a obra de Sanders é apenas ao 1º que se refere), a História da Salvação encontra-se neste segundo.
E é uma distinção corrente na Teologia.
O sapateiro não devia ir além da chinela.
João (JMA)
Re: "A verdadeira história de Jesus"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de June de 2005 16:10
Já tenho o livro e espero lê-lo... Depois enviarei uma apreciação ao prof. César das Neves. ;-)
Vi há pouco na net uma pequena apreciação, bastante «entusiasmada»... Pode ser útil aferi-la com o que diz o prof. César das Neves e, naturalmente, com a leitura que cada um pode fazer. Aqui fica o texto, retirado daqui.
Alef
Citação:A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JESUS
Um livro de extraordinário interesse onde se conta, segundo o autor, E.P. Sanders, a história de "um judeu do século I, que viveu numa parte bastante insignificante do Império Romano", e que da sua leitura se é capaz de perceber com rigor histórico a vida de Jesus, o Cristo, independentemente da Fé.
Com o título original "The Historical Figure of Jesus", que não está totalmente conseguido na tradução para o português, relata a investigação sobre o Jesus histórico, de quem pouco se sabe, de tal maneira que nos conduz ao Cristo da Fé.
A investigação realizada por Sanders é séria, e nos seus dezassete capítulos e dois apêndices desperta no leitor a curiosidade crescente de saber mais sobre este Cristo Ressurecto (e a ressurreição continua a ser mistério, mas firme naquilo em que acreditamos), que há mais de dois mil anos se apresentou como um libertador da mulher e do homem na sua totalidade pelo amor.
Este livro dirigido a crentes e a não crentes vem colocar a investigação bíblica, na senda de "A interpretação Bíblica na Igreja", da Comissão Pontifícia Bíblica, e é sem dúvida um excelente contributo para o conhecimento de Jesus e para que o enigma, como Anselmo Borges refere no livro, entre o Jesus da história e o Cristo da Fé, seja entendível como Jesus Cristo. Afinal, é saber com rigor histórico mais sobre a vida de Jesus Cristo.
O rigor e a honestidade do autor, já saudado por toda a crítica, é bem a sintonia, que este livro editado pela Editorial Notícias, saído em Setembro, já conheça a 3.ª Edição.
Com 364 páginas, de fácil leitura, pode ser adquirido em qualquer livraria.
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