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Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 12 de October de 2004 23:10

Assisto com uma certa incredulidade e perplexidade à campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos da América, e pergunto-me a mim mesmo como é possível uma promiscuidade tão grande entre Religião e Política, ultrapassando os limites do bom senso e da coerência.

Tudo serve para "ilucidar" os eleitores: novenas de oração, livros, filmes promocionais, folhetos informativos, sessões de esclarecimento, etc.

Numa corrida onde se destacam dois candidatos, a Igreja nega a comunhão ao candidato católico, como se fosse possível esquecer-se que isso favorece o ex-governador campeão da pena de morte.

Aquilo que vos pergunto é se na Política tudo se resumo ao aborto, eutanásia, investigação de células embrionárias, clonagem humana e casamentos homossexuais. Tudo na Política se resume à bioética e à família?

Como provavelmente podem depreender das minhas palavras, eu penso que não! Penso que se trata de um discurso redutor e que nos leva a diversas incoerências. Sei que não é um assunto novo, pois já aqui foi discutido. Mas com o aproximar do dia das eleições, as relações emtre a Política e Religião será um tema recorrente.

Alterei a votação da página principal para sabermos a opinião dos que por aqui passam.

Gostava de ouvir os vossos comentários.

Luis Gonzaga


Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 13 de October de 2004 17:13

Infelizmente, alguns dos sectores mais influentes da Igreja Católica dos Estados Unidos estão a ser cada vez mais conotados com a “cartilha Bush”. Chegam ao ponto de se colarem às suas posições militaristas, imperialistas, e opressoras, em cumplicidade com as atrocidades que este regime tem cometido por esse mundo fora, a começar pela tragédia de milhões de pessoas que morrem de fome e de sida, sobretudo na África ao sul do Sahara, sem esquecer o que se está a passar no Iraque e na Palestina. Curiosamente, muitos dos palestinos (e não “palestinianos”, que é uma palavra incorrecta) que morrem às mãos de um regime apoiado monetária e militarmente por Bush, são cristãos. Tristes ironias...

Alef

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 14 de October de 2004 11:50

Caro Alef, se me permite, quer "palestino" quer "palestiniano" estão correctas, como pode confirmar nas seguintes ligações:

[ciberduvidas.sapo.pt]

[ciberduvidas.sapo.pt]

[ciberduvidas.sapo.pt]

Pessoalmente, eu prefiro o "palestiniano", porque mais habitual ao meu ouvido... :)

Cassima


Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de October de 2004 14:18

Cassima:

Creio que já tinha visto isso no Ciberdúvidas e agradeço a referência, mas a forma "palestiniano" impôs-se mais pela via de um estrangeirismo que mais nada. De resto soa demasiado a "Palestinian"... Note-se que a via normal é o Latim, que é "Palestinus, i" e não "*Palestinianus"... Isto mostra que Palestino é a forma correcta, preferível a "palestiniano". De qualquer forma, como em outros tantos casos, a anomalia também passa a norma quando é consagrada pelo uso.

Alef

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 15 de October de 2004 18:20

Alef,

"Curiosamente, muitos dos palestinos (e não “palestinianos”, que é uma palavra incorrecta) que morrem às mãos de um regime apoiado monetária e militarmente por Bush, são cristãos."

Curiosamente, porquê?

Podemos considerar Bush como cristão?

Será cristão alguém que, nos nossos dias, manda presos para a morte?

Não me parece.



João (JMA)

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de October de 2004 20:21

É uma boa questão, mas vamos por aquilo a que poderemos chamar a "pertença assumida" ou "reivindicada". Bush afirma-se cristão e os seus discursos estão cheios de linguagem religiosa. A este propósito, é muito interessante um caderno da colecção "Cristianisme i Justícia" que se chama "El Déu de Bush" ("O Deus de Bush"), assinado por Jaume Botey Vallès. Apesar de a versão impressa ter sido também publicada em espanhol, na Internet parece estar disponível apenas a versão catalã.

Bush considera que tem uma missão de tipo apostólico... Veja-se também o que diz o seguinte artigo, que tem igualmente por título "El dios de Bush".

Alef

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 19:40

Seria redutor querer que o Cristianismo se reduzisse à bioética e à família.
De modo algum isso acontece.

Agora falta a determinação concreta daquilo que será uma política cristã. É verdade que alguns discursos ditos oficiais insistem particularmente nessas matérias em detrimento de outras, o que gera o erro de as tomar como aferidores de Cristianismo. (já noutro tópico falei nos "medidores de catolicismo")

Mas não são essses discursos que determinam a "essência" do Cristianismo: ao contrário é a "essência" do Cristianismo que determina a "bondade" desses discursos.

O absurdo da posição de alguns sectores da Igreja americana é que só vêem para um lado: falam das posições do Kerry quanto ao aborto, falando de posições pró-vida, mas "esquecem" as mortes diárias provocadas pelas guerras feitas ou alimentadas por ele.

É um discurso farisaico (no pior sentido do termo): vê só o que quer ver e está "sentado" numa lógica de poder. Consequentemente afasta-se do Evangelho.

Falando agora pela positiva, já chamei a atenção para um documento que delineia muitos dos pontos de uma política cristã:
Responsabilidade Solidária pelo Bem Comum, mais conhecido pelos Sete Pecados Sociais:
"a) os egoísmos individualistas, pessoais e grupais, sem perspectiva do bem comum mais global;
b) o consumismo, fruto de um modelo de desenvolvimento, fomentado pelos próprios mecanismos da economia, que gera clivagens entre ricos e pobres e gera insensibilidade a valores espirituais;
c) a corrupção, verdadeira estrutura de pecado social, que se exprime em formas perversas, violadoras da dignidade humana e da consciência moral pelo bem comum;
d) a desarmonia do sistema fiscal, que sobrecarrega um grupo, e pode facilitar a irresponsabilidade no cumprimento das justas obrigações;
e) a irresponsabilidade na estrada, com as consequências dramáticas de mortes e feridos, que são atentado ao direito à vida, à integridade física e psicológica, ao bem-estar dos cidadãos e à solidariedade;
f) a exagerada comercialização do fenómeno desportivo, que tem conduzido à perda progressiva do sentido do “jogo” como autêntica actividade lúdica, e a falta de transparência nos negócios que envolvem muitos sectores e profissionais dalgumas áreas do desporto;
g) a exclusão social, gerada pela pobreza, pelo desemprego, pela falta de habitação, pela desigualdade no acesso à saúde e à educação, pelas doenças crónicas, e que atinge particularmente as famílias mais carenciadas, as crianças e as pessoas idosas, e determinados grupos sociais."

A luta contra estes pecados configura um exemplo de política cristã.



João (JMA)

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de October de 2004 23:20

Caros amigos,

Concordo com aquilo que disseram. Pergunto, e talvez aqui o Pe. João Luis me possa ajudar, como é possível a Igreja Católica norte-americana estar a participar desta forma na campanha eleitoral?

Luis

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 20 de October de 2004 16:04

«E la nave va...»

Alef

John Kerry Fala do Seu Catolicismo mas É Ameaçado de Excomunhão



O candidato democrata à Casa Branca vem aumentando aumenta o volume das referências à religião, competindo com o mais pio dos presidentes dos Estados Unidos dos últimos anos. Mas a Igreja Católica está dividida por causa do apoio de Kerry ao aborto; alguns bispos querem excomungá-lo. Por Pedro Ribeiro, Nova Iorque

John Kerry é católico e não se envergonha disso. Pelo contrário, o candidato democrata à Presidência dos EUA fala cada vez mais em campanha da sua religião: "Tal como milhões de americanos, sou guiado pela minha fé. Andei na catequese quando era miúdo, ia à igreja todos os dias, duas vezes aos domingos, fui menino de coro. Levei o meu rosário para o campo de batalha [no Vietname], a fé ajudou-me a atravessar [a guerra]."

O democrata partilha a fé católica com mais de um quinto dos americanos (a maior parte do país é protestante, mas o catolicismo é a confissão mais numerosa). Mas a relação de Kerry com certos sectores da Igreja é complicada; ontem foi divulgada uma carta de um grupo com ligações ao Vaticano apoiando a sua excomunhão.

Segundo o "Catholic World News", Marc Balestrieri, um advogado ligado a um grupo conservador da Califórnia, recebeu uma missiva de Basil Cole, um consultor ligado a um conselho doutrinário do Vaticano. Na carta defende-se que os políticos que favorecem o aborto devem ser excomungados.

Kerry explica frequentemente a sua convicção pessoal de que o aborto é errado, mas acrescenta que o Estado não deve banir o direito das mulheres a abortar. O democrata promete que não permitirá limitações ao direito ao aborto nos EUA.

"O senador Kerry e todos os políticos católicos 'pro-choice', que se intitulam católicos mas violam flagrantemente a lei católica ao professar uma heresia, devem rejeitar publicamente a defesa do aborto pelo bem das suas almas", declarou Balestrieri. O advogado diz mesmo: "Eles foram excomungados."

Além de Kerry, Balestrieri aponta baterias contra outros políticos americanos célebres: Ted Kennedy (senador do Massachusetts), Mario Cuomo (ex-governador de Nova Iorque), Tom Harkin (senador do Iowa) e Susan Collins (senadora do Maine, republicana).

Há meses, o arcebispo de Denver, Charles J. Caput, disse que os católicos que votem em políticos pró-aborto não têm direito à comunhão. O prelado do Colorado não aconselhou directamente ao voto em Bush, mas a sua mensagem é clara. Além do aborto, a posição de Kerry sobre o casamento "gay" (é contra, mas opõe-se a uma proibição constitucional) também o coloca em oposição à doutrina católica nos EUA.

Kerry não comentou estes ataques. Mas, na recta final da campanha, tem chamado mais a atenção para a sua fé. Ainda na quarta-feira, numa igreja negra no Ohio, citou um hino religioso ("Amazing Grace") num dos seus discursos; mais tarde, comentando a crise de Darfur, recorreu a uma passagem da Bíblia.

Evitar que os republicanos monopolizem a fé

O Presidente George W. Bush é baptista (como o seu antecessor, Bill Clinton), e dedica grande ênfase ao papel da religião na sua vida. No último debate televisivo com Kerry, o republicano mencionou Deus 14 vezes.

O Partido Republicano está a fazer um grande esforço para captar o "voto cristão", através de contactos junto de igrejas evangélicas. Em alguns casos, com tácticas duvidosas: em zonas rurais da Virginia Ocidental, os republicanos mandaram por correio propaganda avisando que, se os democratas ganhassem, iriam "proibir a Bíblia".

Existe uma percepção de que os americanos mais religiosos votam republicano - e, com efeito, vários estudos mostram uma correlação entre o número de vezes que um indivíduo vai à igreja e a probabilidade de ele votar republicano. Mas há vários grupos activistas católicos que discordam da doutrina do Vaticano sobre o aborto; e nestas eleições apareceram grupos católicos e de outras fés cristãs em campanha pelos democratas.

Esses grupos, e a nova abertura de Kerry sobre religião, podem representar uma inflexão no Partido Democrata, para impedir que os republicanos "monopolizem" a temática da fé. "A linguagem dos republicanos tornou-se tão carregada de referências a valores, e abertamente religiosa, que muitos democratas reagiram a ela sem perceber que davam a impressão de estar a criticar a religião em geral", disse ao PÚBLICO Amy Sullivan, especialista na relação entre religião e política da Universidade de Princeton.

"A maior parte dos democratas evitou o assunto ou assumiu uma posição anti-religiosa, quando queriam apenas opor-se a um grupo específico" de cristãos ultraconservadores, diz Sullivan.

A verdadeira influência da religião no eleitorado é contudo dúbia. Um estudo recente da Universidade de Akron diz que só um grupo religioso, os protestantes evangélicos, decide sobre os candidatos com base em temas "morais" como o aborto ou o casamento "gay"; os crentes de outras fés decidem-se segundo temas "seculares", como a economia ou a política externa.

«Público», Quarta-feira, 20 de Outubro de 2004

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 25 de October de 2008 18:43

Quatro anos depois, a posição da Igreja norte-americana é significativamente mais discreta no apoio aos candidatos presidenciais. Para isso, muito contribuiram os últimos quatro anos da era George W. Bush, em particular, o actual estado económico e social das famílias norte-americanas.

Ainda assim, há sempre quem continue a defender, o que na minha opinião, é indefensável: No que toca à escolha de um presidente ou de um primeiro-ministro não pode ser EXCLUSIVAMENTE a sua posição sobre o aborto que conte.

Todavia, é isso que continua a ser defendido: [integratedlife.catholicexchange.com]

Obrigado,
Luís Gonzaga

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 28 de October de 2008 16:41

Uma questão, que tem que ver com este tópico e com uma notícia que li hoje:

Aparentemente, muitos católicos votaram (votarão) em candidatos olhando, não para a religião deles, mas para a posição que têm relativamente ao aborto, entre outros temas.

Ora a pena de morte é também condenada pela Igreja. Bush foi governante de um estado "campeão" em execuções. Ou seja, relativamente a assuntos que são contra os ensinamentos (e remetendo-me para as últimas eleições) Bush defendia um deles (pena de morte), Kerry defendia outro (aborto).

Assim, houve católicos que deram mais peso ao aborto que à pena de morte. Ou então não acham que esta última seja errada... Ou não saibam que é condenada pela Igreja...

Cassima

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 16 de November de 2008 01:42

Embora a polaridade esquerda-direita da Europa não corresponda exactamente ao bipartidismo americano (republicanos e democratas), na verdade vê-se que muitos católicos com forte sensibilidade social tendem a estar politicamente mais próximos de políticas sociais mais à esquerda que, no entando, apoiam o aborto. E, ao que sei, Obama defende o aborto (quase?) sem limites, incluindo essa aberração americana que é o «partial birth abortion»! [Para saber o que é, veja-se algum dos resultados do Google aqui.]

É verdade que o outro candidato (e sobretudo a sua «vice») se opõem ao aborto, mas defendem a pena de morte.

Normalmente, alguns sectores da Igreja Católica (e não só da Igreja Católica) sublinham sobretudo a posição relativa ao aborto, o que irrita alguns católicos que não vão muito com os partidos mais à direita, acusando alguns líderes religiosos de quererem manipular os fiéis para obterem resultados políticos. Embora, como lembrava o Luís, a força do «voto religioso» ou «pro-life» não se tenha notado tanto (em boa parte pelo desencanto com a política do presidente cessante e do seu partido), na Internet ainda se encontram muitos testemunhos do «voto religioso» contra Obama ou por McCain. Apenas dois exemplos significativos:

a) «Traditionalist Catholics Plan Election Prayers» (link encontrado via «Vida de Cadela», com a «suavidade» conhecida da Bluesmile nestes temas…);

b) «Padre quer que votantes de Obama se abstenham da comunhão».

Ou seja, como aqui já foi dito, se se enfatiza que o candidato mais à esquerda é a favor do aborto, por que não dizer também que o candidato mais à direita defende a pena de morte, sendo que ambos são condenados pela Igreja.

Isto é verdade, mas não explica tudo, porque a Igreja tem tido uma posição muito mais contundente na questão do aborto que na questão da pena de morte. Recorde-se que o princípio teórico da pena de morte, na lógica da legítima defesa de uma sociedade, se considera válido, muito embora se diga que os casos em que se justifica a pena de morte «são muito raros, se não praticamente inexistentes» (Cat. Igr. Cat., nº 2267). Mas tenha-se em conta que esta restrição praticamente total não aparecia na edição de 1993. Portanto, temos que ter em conta que esta «história» ainda é muito recente…

A questão é complicada porque há muitos líderes religiosos que põem a questão do aborto como «critério absoluto» na eleição de um candidato.

Há um texto do Cardeal Ratzinger que creio tocar esta questão, mas não me lembro onde o tenho… Tentarei encontrá-lo.

No caso português há também algo de problemático que já foi referido noutros tópicos sobre o aborto: há partidos mais «abortistas» que outros, mas nenhum dos partidos com representação na Assembleia da República defende integralmente a posição da Igreja relativamente ao aborto. Isto não significa, a meu ver, que nesse caso seja indiferente votar em qualquer um deles, porque há «graus». Mas é importante ter em conta. O caso da vizinha Espanha é semelhante: a Espanha tem uma lei do aborto bastante aberta e nas últimas eleições o Partido Popular disse que lhe parecia bem a lei tal como está. Pois bem, à Conferência Episcopal Espanhola só faltou dizer numa nota que todos os católicos tinham que votar no Partido Popular. Na verdade, não se cingia ao tema do aborto, mas os outros temas eram uma claríssima «colagem» ao programa do citado partido, o que causou fortes crispações dentro de certos sectores católicos.

Por outro lado, e sem querer entrar na questão do aborto, há um ponto que, se bem me lembro, o «Blogue do Não» tratou, que é a do paradoxo de a esquerda política se «colar» à defesa do aborto em nome da defesa da parte débil, a mulher. Mas, então a parte mais débil e vítima não é o abortado? Há defesa possível do mais fraco no caso do «partial birth abortion»? [Na verdade, um truque «jurídico» para matar impunemente sem dó nem piedade uma criança que está a nascer.] Ou seja, não seria muito mais coerente com uma política de esquerda humanista a defesa do mais fraco, aquele que é abortado, sendo que no aborto também a mulher que aborta acaba por ser vítima?

De qualquer forma, e voltando ao tema, a mistura política-religião continua a ser muito delicada, às vezes chega a ser perigosa.

Alef

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: help-me (IP registado)
Data: 22 de November de 2008 20:23

Citação:
Alef
(...)
Por outro lado, e sem querer entrar na questão do aborto, há um ponto que, se bem me lembro, o «Blogue do Não» tratou, que é a do paradoxo de a esquerda política se «colar» à defesa do aborto em nome da defesa da parte débil, a mulher. Mas, então a parte mais débil e vítima não é o abortado? Há defesa possível do mais fraco no caso do «partial birth abortion»? [Na verdade, um truque «jurídico» para matar impunemente sem dó nem piedade uma criança que está a nascer.] Ou seja, não seria muito mais coerente com uma política de esquerda humanista a defesa do mais fraco, aquele que é abortado, sendo que no aborto também a mulher que aborta acaba por ser vítima?

Alef

Falta aqui um outro dado da equação: o pai.
Os partidos de esquerda assumem-se como progressistas. Daí o seu ênfase nos "direitos da mulher". Isto no pressuposto da sua igualdade com o homem.
No entanto, no meio de tanta "igualdade", esquecem-se que o homem é tão progenitor quanto a mulher, negando-lhe qualquer direito sobre o "controle" da sua própria prole (como se o proletariado fosse um resultado exclusivo da biologia feminina...).

A questão acaba por redundar num suposto "direito ao corpo", considerando-se o nascituro como uma mera excrescência do corpo feminino (daí o total alheamento relativamente à posição do pai e a relativização da questão do direito do nascituro à vida).
Assim, o progressismo de esquerda acaba por resultar numa exacerbação dos direitos dos já nascidos e numa deificação do respectivo corpo. Só assim se pode compreender que seja a mulher e o seu respectivo corpo (e não tb o nascituro e o pai) o cerne da posição sustentada por aquela corrente política e ideológica.

Mas se a referida posição se pode justificar nos termos e pelos pressupostos de que parte, já não prima pela coerência em matéria de "progresso" nem em matéria de solidariedade social (defesa dos mais fracos).
Progresso é usar anticoncepcionais qd não se quer procriar e não matar a procriação; educar os ignorantes e não decidir sobre uma vida que foi fruto de um erro (entendendo que este foi a falta de prevenção e não propriamente a cópula).
O elo mais fraco da cadeia (progenitores/nascituro) é, sem dúvida o nascituro. Para além de indefeso, é ele o único isento de culpa. Pelo que, qualquer solução que não passe pela sua defesa nunca poderá convincente e coerentemente afirmar-se como expressão de um princípio de protecção aos mais fracos.
O "progressismo" centra-se na ideia da fraqueza da mulher em relação ao homem (o que é, aliás, muito duvidoso), esquecendo-se da fraqueza do nascituro relativamente aos progenitores (inclusive em relação à mãe!).

Cumprimentos

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: teixeira (IP registado)
Data: 25 de November de 2008 03:22

Muitos alegam questões religiosas com o pretexto de opções políticas .

Relativamente a Obama,as críticas "religiosas" à sua eleição escondem sentimentos racistas.
Vejam este panfleto da KU Klux Klan sobre o assunto, onde a questão do aborto é levantada.

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 25 de November de 2008 10:23

Esqueçamos o Ku Klux Klan, porque são inqualificáveis e não há argumentos que lhes valham.

Agora dizer que "Relativamente a Obama,as críticas "religiosas" à sua eleição escondem sentimentos racistas", desculpa-me, mas é um disparate. Pode-se dizer sim, que há sentimentos racistas que são disfarçados como críticas religiosas. É a mesma coisa que dizer que eu, ao criticar algumas políticas de Israel, sou anti-semita. É preciso saber separar as águas.

Eu votaria Obama se fosse dos EUA. Mas criticaria sempre, como critiquei, a ligação dele à igreja a que pertenceu e ao pastor que a dirigia. Foi preciso candidatar-se a presidente dos EUA para se desligar de ambos. E atenção! Não é a relação de amizade que acho inaceitável. É a relação que manteve com ele como guia espiritual.

Isso faz de mim racista?! Não o creio. Faria as mesmas criticas a qualquer outra pessoa nas mesmas condições. Ou por ser mulato não pode ser criticado?

Cassima



Editado 1 vezes. Última edição em 25/11/2008 10:24 por Cassima.

Re: Quando a Religião e a Política se cruzam... o que faz a diferença?
Escrito por: teixeira (IP registado)
Data: 25 de November de 2008 20:49

A diferença é essa - criticas mas votavas nele.
Se fosses racista nunca votarias quaisquer que fossem as suas ideias.Claro que arranjarias uns pretextos filosóficos, religiosos ou económicos para justificar o tema.

Repara que os "fundamentos" religiosos da KKK para não votar em Obama são iguaizinhos aos dos tradicionalistas ditos católicos.



Editado 2 vezes. Última edição em 25/11/2008 20:55 por teixeira.



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